14 agosto 2008

Mudança de Endereço:

Bom, Pessoal...

Este Blog mudou de endereço. Continua com o mesmo nome, mas, agora, foi para o portal Lablogratórios. (Estou colando um selinho na barra lateral).

De agora em diante, você pode ler aqui: Chi vó, non pó.

O Blog continua ativo (enquanto o Blogger permitir...) e eu continuo recebendo as notificações de comentários.

Se você tem um link (ou um feed), por favor, atualize o endereço.

Espero você por lá.

Wilkins em Português (do Brasil)

Os papéis, razões e restrições dos Blogs de Ciências


Por John S. Wilkins
Do Departamento de Filosofia, Universidade de Queensland, Brisbane, Austrália
O Blog de John ("Evolving Thoughts", parte do Seed Magazine um grupo de blogueiros coletivamente conhecidos como Sciencebloggers (ou Sciblings). Todos os links estavam ativos até 16 de maio de 2008.

Nestes últimos anos, escrever em blogues (no original em inglês: blogging = "web logging") se tornou um importante movimento social, o que levou diversos cientistas a criarem blogues sobre ciências. Os blogues são um meio de expressão pública altamente idiossincrático, pessoal e efêmero, e, mesmo assim, eles têm contribuído para a divulgação das ciências, tanto quanto, se não mais do que, qualquer outra mídia sobre ciências. Portanto, é necessária a compreensão deste fenômeno.

Introdução

Um blogue é, fundamentalmente, uma página da web continuamente atualizada, cujas postagens ("posts") indicam data, hora e, se vários autores contribuem para o Blog, identificam o autor do texto específico (ver Figura 1). Cada postagem pode ser comentada pelos leitores e os comentários podem variar desde pequenas observações jocosas, até bem elaboradas contra-argumentações ou contribuições (e tudo o mais entre esses dois extremos). Os blogues, usualmente, são temáticos e a grande maioria deles se transformou em diários pessoais organizados em torno destes temas. Muitos são focalizados em assuntos específicos, tais como política, religião ou assuntos científicos. Blogues de ciências são aqueles cujo foco é a divulgação científica.


Figura 1. O ciclo de vida dos blogues. As fontes incluem outros blogues, serviços de notícias, artigos em periódicos, mídia popular e o conhecimento pessoal do blogueiro. No caso dos blogues de ciências, os posts geralmente comentam novidades relacionadas com ciências, ou (mais raramente) outras postagens recentes. Algumas vezes, cientistas pesquisadores publicam postagens sobre suas próprias pesquisas, seja sobre pesquisas cientíicas, seja dobre pesquisas sobre ciências (por exemplo: filosofia, história e psicologia das ciências). A influência mútua da política e das ciências são um assunto freqüente, por exemplo, aa campanha Science Debate 08 que visa exibir as opiniões e as políticas para as áreas de ciências dos candidatos à Presidência dos EUA. Os blogues podem ser deletados quando seus editores se desinteressarem em mantê-los, mas o habitual é que os arquivos permaneçam disponíveis, pelo tempo em que os sites de hospedagem permitirem. No entanto, há um exemplo de um blogue sobre Filosofia da Biologia que era mantido pela Universidade da Flórida que foi deletado quando foi desativado, e, agora, foi "seqüestrado" por um aproveitador que o usa para vender mercadorias.


Muitos blogueiros de ciências são estudantes de pós-graduação, mas alguns são professores e pesquisadores ativos. Até agora, não está bem claro como as comunidades científica e educacional enxergam os blogues. Alguns pós-graduandos e pesquisadores em início de carreira têm se queixado que seus orientadores e supervisores lhes dizem para parar de blogar e se concentrar em trabalho "de verdade", enquanto outros apresentam "rascunhos" de trabalhos, mais tarde publicados, em seus blogues e tiram vantagem de uma audiência bem-informada e entusiástica para críticas e sugestões. Por vezes, os internautas visitantes oferecem referências às quais o autor não teria encontrado de outra forma. especialmente em assuntos multidisciplinares. No presente artigo, eu argumento que também existem diversas outras razões para que os cientistas entrem na blogsfera (Destaque 1).

Destaque 1. Como começar um blog
Existem sites de hospedagem de blogs, tanto comerciais como gratuitos. Dos gratuitos, Blogger é o mais popular. Para iniciar um Blog o usuário faz acessa o site, filia-se e inventa um nome para o blogue. Os artigos podem ser escritos tanto com o navegador, como com uma ferramenta para blogagem. Eu aconselho que só experts em técnicas para a Internet criem seus blogues fora dos serviços de hospedagem de blogues existentes.
Que habilidades um blogueiro necessita para passar sua mensagem? Basicamente nada mais do que é necessário para dar aulas, embora seja fundamental que o blogueiro suponha que seus leitores sejam completamente leigos.Para alguns, a experiência em comunicação científica é fundamental, mas, como autores como E. O. Wilson mostram, um cientista pode ser um excelente comunicador sem qualquer treinamento específico. Assim sendo, qualquer um pode ser um "blogueiro científico".
Entretanto, um artigo de blog não deve ser escrito como uma palestra ou uma publicação científica. Ele tem que ser atraente, até mesmo divertido, assim como expressar uma opinião. Embora existam blogues de grupos, este é um meio pessoal e a "voz" do blogueiro, sua personalidade e obsessões, têm que ficar evidentes. Um excelente exemplo é o do blog de Moselio Schaechter Small Things Considered, que exibe "questões talmúdicas" tais como "Por que os protistas não se tornaram multicelulares?" E, para alcançar grandes audiências, a controvérsia é essencial.
Qual é a maneira mais eficiente para se tornar popular? Existe uma discussão em curso sobre uma técnica de comunicação popular de ciência, conhecida como "framing", ou seja, que a apresentação da ciência deve ser ajustada ("tailored") à audiência. O argumento se baseia na teoria da comunicação e na maneira como os conservadores nos Estados Unidos distorceram a ciência para seus próprios propósitos. Enquanto que os propositores do framing acreditam que se deve combater fogo com fogo, outros argumentam que se deve apresentar a ciência como ela nos parece em nossa opinião profissional, sem preocupação especial para com os leitores. Em meu ponto de vista, este debate decorre da diferença de opinião sobre para que serve blogar sobre ciência e sobre comunicação em geral. Na minha opinião, não se pode compensar a má educação científica através da mídia popular; no máximo, se pode esperar causar inspiração e contestar. E é claro que não se deve usar um tom acima do nível de compreensão da audiência. Mas eu sou um ferrenho otimista neste assunto — se você desafiar a audiência popular, ela freqüentemente vai responder à altura. Muitos entusiastas por ciências se recordam de terem sido igualmente desafiados pelos melhores comunicadores de sua juventude. De forma que eu acho que não se deve "podar" a mensagem, quando ela é relevante.


Audiência e razões

Ao que parece, existem diversas razões para que as pessoas escrevam Blogs sobre ciências, cada uma delas, em minha opinião, suficiente como justificativa. Uma é a óbvia preocupação com a comunicação científica. Em comparação com as maneiras usuais de comunicação científica (por exemplo, revistas, jornais e televisão), os blogues são muito mais íntimos e interativos. Eles fornecem um rápido e atualizado panorama das notícias em ciências e não se fundamentam apenas em press-releases, que podem ser terrivelmente enganosos, mas no conhecimento pessoal e na expertise do blogueiro. Publicações que, de outra forma, poderiam ser perdidas, podem ser descritas e mesmo comentadas em poucos dias. Alguns periódicos até mesmo enviam notificações a blogueiros para se assegurarem que suas publicações sejam lidas e comentadas.

A blogagem é, também, uma maneira de desmitificar a ciência. Ao contrário de leis e salsichas, o público deveria ver a ciência durante sua fabricação, porém o público leigo geralmente carece dos recursos para interpretar o que vê e é aí que os blogueiros de ciências desempenham um papel crucial. Blogueiros com um conhecimento mais profundo do tópico ou de ciência em geral, podem colocar os estudos em um contexto de trabalhos anteriores, corrigindo ou evitando, dessa forma, os mitos e a compartimentação do jornalismo científico. Além disso, os leitores podem comentar imediatamente, tornando possíveis as devidas correções. Assim, em contraste com as revistas de ciências e as colunas na grande mídia, mostra que a ciência e a medicina não estão sempre a um passo de uma nova importante descoberta ou aplicação imediata. Blogueiros de ciências podem também discutir política científica (tanto a política entre os próprios cientistas, quanto o papel da grande política sobre a ciência), assuntos que não são freqüentemente abordados pelas publicações de popularização da ciência. Ocasionalmente, grandes discussões sobre política científica ocorrem por intermédio de blogues, tal como na ocasião em que Jerry Coyne atacou Olivia Judson , através do Blog The Loom de Carl Zimmer, a respeito dos "monstros otimistas" (nota do tradutor: no original "Hopeful Monster") (Destaque 2).

Destaque 2. A controvérsia sobre o "Monstro Otimísta"
Em um Blog do The New York Times, uma matéria publicada em 15 de janeiro de 2088, por Olivia Judson, intitulada "O Monstro está de volta e ele está otimísta" ("The Monster is back, and it's hopeful"), ela ressuscitou o "Monstro Otimísta de Goldschmidt". Mencionando genes reguladores que podem causar grandes efeitos na morfologia e no fenótipo em geral, no fim do processo, Judson propôs que várias mutações ocorreriam em um único passo radical, sem quaisquer etapas intermediárias. Imediatamente, a comunidade de blogues científicos saltou sobre o tema. No Blog The Loom de Carl Zimmerman, o biólogo Jerry Coyne atacou a idéia em uma postagem: Monstros sem esperanças - um artigo (a convite) do Dr. Jerry Coyne, chamando o artigo dela de "impreciso e irresponsável". Ele e outros (por exemplo, John Hawks Anthropology Weblog) imediatamente rejeitaram essa equação de "evolução aos saltos" com biologia evolutiva do desenvolvimento (nota do tradutor: no original em inglês: "evo-devo") Como observou um geneticista no Blog Gene Expression, "[É] interessante que Coyne, um contribuidor sério ao estudo acadêmico da evolução, tenha sujado suas mãos e se dirigido ao público de forma tão direta, para corrigir aquilo que ele julgou uma má prática jornalistica". (nota do tradutor: o link fornecido no artigo não funciona e uma busca no Blog "Gene Expression", nos arquivos de janeiro de 2008, mostrou apenas um artigo do autor sobre Olivia Judson, em termos bem diferentes desta citação).
A crescente atividade de cientistas de ponta na Internet em geral e na blogsfera em particular, indica que uma nova maneira de debater ciências está surgindo, uma que pode, na verdade, ser mais imediata, porém menos "oficial" do que, digamos, cartas para a New York Review of Books, onde os debates entre Gould, Dennet e outros em 1997 aconteceram [4], ou nas páginas de Cladistics ou da Science. A natureza efêmera de tais debates pode tornar a tarefa dos historiadores da ciência mais difícil.


Blogues relacionados com ecologia e evolução são freqüentemente criados para combater a oposição a essas ciências no discurso público, especialmente após o, assim chamado, "Contrato com a América" de Newt Gingrich, de motivação fortemente política, que usa de subterfúgios para minar a confiança do público nas descobertas e teorias da várias ciências (detalhes de uma atitude mais genericamente anti-científica no Ocidente podem ser encontrados na referência [1]). Os blogues são usados pelos cientistas profissionais e pelos que apoiam a ciência para fazer frente a essa oposição. Exemplos disto incluem o Blog "Real Climate" e o Blog de Phil Plait "Bad Astronomy".

Entretanto, para se tornar uma grande presença na blogsfera, não se pode manter o foco em ciência o tempo todo. Por exemplo, um professor de biologia do desenvolvimento do Minnesota, Paul Z. Meyers, bloga a respeito de religião e política no "Pharyngula" e estes tópicos atraem a maior parte de seus mais de 300.000 visitantes semanais. No meio desses posts populistas, seus posts de ciência, usualmente sobre biologia do desenvolvimento, são obras de arte. Em contraste, como um filósofo de biologia. meu blogue atrai uns meros 10.000 visitantes por semana. Ainda assim, o famoso filósofo Paul Griffiths uma vez observou que esta é uma audiência marcante para um filósofo de biologia, de forma que "sucesso" é uma coisa relativa. Em todo caso, o propósito dos blogues de ciências não é competir com as vacas sagradas da política ou blogueiros de cultura popular.

Os benefícios dos Blogues

Blogar também traz benefícios pessoais aos blogueiros. Um blogue que represente uma comunidade científica ou uma subdisciplina, se torna, ele próprio, uma comunidade. Através dos canais privados dos fóruns de discussão, contatos pessoais e comentários, um pesquisador isolado pode se tornar parte de uma rede social maior. Ocasionalmente, isso resulta em conferências, tais como a Conferência de Blogs Científicos da Carolina do Norte, que já foi realizada duas vezes. E blogueiros de ciências podem até encontrar empregos através dos seus blogues. Ao menos três membros da comunidade da Seed Magazine Science Blogs, relataram que lhes ofereceram empregos ou promoções em parte devido a seus blogs de ciências.

Os blogues também permitem que os comentaristas a divisão entre culturas, entre as ciências exatas e humanas, que foi inicialmente identificada pelo pesquisador e romancista C. P. Snow na década de 1960. Na terminologia da Internet, um "amalgama" das duas culturas se torna possível, onde temas culturais e científicos podem ser tratados em conjunto. Outras características da bolgsfera são a advocacia por políticas como o "acesso livre" ("open acess") e organizações de vigilância científica. Um exemplo particularmente bom desta última é o Blog NASAWatch que constantemente critica e relata, o comportamento da NASA e foi responsável por vários debates sobre políticas, por exemplo, aquele sobre a configuração do Crew Launch Vehicle.

Se um blogue não for deletado quando se tornar ativo (aliás, uma prática largamente recomendada), ele pode fornecer um bom registro de debates e questões em voga em um determinado momento. Historiadores e outros pesquisadores de meta-ciências, tais como filósofos e psicólogos de ciência, podem encontrar uma grande quantidade de material para investigação, mas somente se o puderem localizar (vide figura 1).

O custo dos Blogs

Existem também os aspectos negativos na blogsfera. Normalmente faltam controle de qualidade, cuidado com o texto e editoração, e alguns blogues que se anunciam como tendo base científica, são apenas apologias de pseudo-ciência e charlatanismo médico, especialmente quando os assuntos têm uma grande carga política (por exemplo, anti-aquecimento global, anti-vacinação, criacionismo, homeopatia e por aí afora [nota do tradutor: o Conselho Federal de Medicina do Brasil não considera a homeopatia "peseudo-ciência", nem o tradutor...]). Muitos blogues também funcionam como "vanity publishing", isto é, pontos de auto-divulgação para idéias cujos autores não são capazes de vê-las aprovadas por revisão por pares. Os blogues são vítimas das mesmas falhas dos websites em geral, sendo muito da "informação" falsa ou parcial. Por exemplo, se alguém pesquisar no "Google" sobr "evolução", a maior parte dos links encontrados serão de sites criacionistas como o Discovery Institute.

Uma das maneiras de filtrar o conteúdo é usar um agregador de feeds. Agregadores são links que permitem a um "leitor de notícias" ("newsreader"), ou seja, um programa que relaciona os títulos e extratos das postagens de um Blogue, destacar novas postagens, assim que publicadas (ver figura 1). Alguns agregadores de blogs, tais como o Postgenomic, extraem informações sobre publicações revisadas por pares em blogues, e freqüentemente restringem suas fontes àqueles blogues que versam usualmente sobre ciência. Uma recente proposta, à qual eu estive marginalmente associado, é ter um um feed do tipo opt-in, onde os próprios blogueiros inserem um gráfico e um link para ResearchBlogging (originalmente conhecido como Bloggers for Peer-Reviewed Research Reporting). Embora o blogueiro tenha que designar postagens que sejam baseados em pesquisa revisada por pares, os administradores avaliam os links e se asseguram que eles são legítimos. Este é um serviço não-comercial, realizado por voluntários (em particular por David Munger, um blogueiro médico que publica em Cognitive Daily).

Alguns artigos de blogues de ciências acabam, de uma forma mais tradicional, em antologias publicadas. Há um número cada vez maior dessas antologias, freqüentemente publicadas como "print on demand" ("impresso a pedido")(por exemplo, a série Open Laboratory). Essas antologias são, de maneira igualmente freqüente, avaliadas e editoradas por editores voluntários (por exemplo, [2] e [3]) e, desta forma, traçam um equilíbrio entre a leitura agradável e confiabilidade do conteúdo.

Uma outra questão reside nos custos econômicos e benefícios auferidos pelos blogueiros. Diferentemente de jornalistas, os blogueiros são freqüentemente tratados como seus próprios editores e, assim, são passíveis de ações jurídicas. Assim, a despeito de terem obtido algum sucesso em terem os privilégios dados aos jornalistas estendidos a eles, os blogueiros podem ser forçados a revelarem suas fontes de informações confidenciais (N.T: não é assim na Lei Brasileira). Além disto, parece não haver qualquer fonte óbvia de remuneração, a não ser alguns pequenos ganhos com anúncios. Um jornalista e blogueiro de ciências, Chris Mooney, sugeriu a sindicalização (N.T: o link apontado no artigo está desativado).

Conclusão

Concluindo, os blogues continuam sendo uma forma de comunicação individualista, algumas vezes anarquista e anti-convencional. Existem jóias entre o cascalho, mas o cascalho é em maior número. Os sites que continuarem a fornecer relatórios interessantes, tendem a sobreviver, mas, no final, cabe a cada leitor encontrar os blogues que mais gosta e confia. As comunidades acadêmicas de educação e pesquisa científica precisam encarar os blogues como algo mais do que um hobby casual, na medida em que o cerne vai além do alcance de sua ciência. Eles são um meio eficaz para os cientistas desfazerem os mal-entendidos, deliberados ou não, da cultura popular. Não somente estudantes de pós-graduação, mas também profissionais em posições acadêmicas mais elevadas, precisam se engajar nesta atividade para assegurar que sua ciência e a ciência de outros chegue aos olhos do público (por exemplo, ver o blogue de Massimo Pigliucci: rationallyspeaking.org). Desta forma, podemos assegurar que a qualidade da ciência que é levada ao público é alta, enquanto que as personalidades dos cientistas ativos humanizam a ciência.

Referências

1. Mooney, C. (2005) The Republican War on Science, Basic Books.
2. Wilkins, J. S. (2007) The demarcation problem... again, em The Open Laboratory: The Best Writings in Science Blogs 2006 (Zivkovic, B. ed.), pp. 269-274, Lulu.
3. Wilkins. J. S. (2008) Ancestors, em The Open Laboratory: The Best Writings in Science Blogs 2007 (Cartwright, R. A. ed.) Coturnix
4. Gould, S. J. (1997) Darwinian Fundamentalism. New York Review of Books, 12 de juho, pp. 34-37.

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Esta tradução foi expressamente autorizada pelos editores do original em inglês, graças à gentil intervenção de seu autor.

12 agosto 2008

Mais más notícias sobre a Calota Polar Norte

E, quando você pensa que as coisas já vão mal, aparece uma notícia de que é pior ainda do que se pensava...

O The Observer de de domingo passado (10/08/2008) publicou uma que me deixou arrepiado... O Derretimento do Ártico está se acelerando (matéria assinada por Robin McKie, Editor de Ciências).

O subtítulo é assustador: “Cientistas alertam que o Polo Norte pode ficar sem gelo em apenas cinco anos, em lugar de 60”.

O caso é que as imagens de satélite estão mostrando um fenômeno que, até agora, não tinha entrado nos cômputos: as camadas de gelo começaram a se desintegrar “dramaticamente” (é o termo empregado no original) porque tempestades sobre o Mar de Beaufort no Alaska começaram a sugar correntes de ar quente para o Ártico. Um dos resultados possíveis é que a diminuição da Calota Polar Norte supere a do ano passado.

“É uma corrida cabeça-com-cabeça entre 2007 e este ano, na questão de perda de gelo”, declarou Mark Serreze, do US National Snow and Ice Data Centre em Boulder, Colorado.“Nós pensávamos que a Calota Polar do Ártico poderia se recuperar, depois do recorde do ano passado – e, realmente, até o mês passado o quadro não parecia muito ruim. A Calota estava significativamente abaixo do normal, mas, pelo menos, estava maior do que no ano passado”.

“Mas as tempestades no Mar de Beaufort iniciaram um processo de grande derretimento de gelo e, agora, parece que vai ser uma diferença mínima entre se 2007 ou 2008 vai ser o recordista na menor Calota Polar. Só vamos ficar sabendo quando a Calota chegar ao ponto crítico, nos meados de setembro”.


Nem precisa dizer que isso terá enormes impactos sobre o meio ambiente... O editor começa por mencionar as tempestades que devem varrer a Grã-Bretanha, mas prossegue falando das espécies, tais como ursos polares e focas que se servem do gelo para repousar durante suas caçadas. Ele observa que diversas faixas costeiras deixarão de estar protegidas pelo gelo e sofrerão erosão (que, segundo ele, já está acontecendo no Alaska).

E o tom se tona ainda mais sombrio, quando ele lembra que, sem a Calota de gelo sobre o mar para servir de reforço, o gelo “terrestre” – que inclui as geleiras – pode mergulhar no oceano e elevar o nível dos mares, ameaçando muitas áreas de baixa altitude, tais como Bangladesh e vários arquipélagos do Pacífico. E, ainda lembra: “Sem a camada reflexiva de gelo no Ártico, menos radiação solar vai ser mandada de volta ao espaço, o que deve acelerar o processo de aquecimento global”.

A maior preocupação, diz o editor, é o temor que as águas liberadas pela Calota em derretimento, causem alterações na Corrente do Golfo, enquanto que um Ártico sem gelo durante o verão dê novas oportunidades para a exploração de petróleo e gás – e as conseqüentes disputas sobre soberania sobre as novas áreas de prospecção.

O que realmente perturba os cientistas, entretanto, é sua incapacidade de prever precisamente o que está acontecendo no Ártico, a parte do mundo mais vulnerável aos efeitos do aquecimento global. “Quando fizemos os primeiros modelos informáticos dos efeitos das mudanças climáticas, nós pesávamos que a Calota Polar Norte fosse durar até 2070”, declarou o Professor Peter Wadhams da Universidade de Cambridge. “Agora ficou claro que nós não tínhamos entendido o quão fina essa calota tinha ficado – porque a Calota do Ártico está desaparecendo cada vez mais rápido. A cada poucos anos temos que rever nossas estimativas para baixo. Agora, os modelos mais detalhados sugerem que a Calota do Ártico no verão só vai durar mais uns poucos anos – e, pelo que vimos acontecer na semana passada, eu acho que eles provavelmente estão corretos”.

O principal desses estudos sobre a Calota Polar foi realizado a alguns meses atrás pelo Professor Wieslaw Maslowski da Naval Postgraduate School em Monterey, Califórnia. Usando os supercomputadores da marinha americana, esta equipe fez uma previsão que indica que, por volta de 2013 não haverá mais gelo no Ártico – pouco mais do que uns restos em ilhas próximas da Groenlândia e do Canadá – entre meados de julho e meados de setembro.


Maslowski enfatiza que ficou claro que o gelo não está conseguindo se recuperar durante o inverno e teme que a Calota Polar desapareça em cinco anos, com todas as conseqüências que isto acarreta. E Serreze acrescenta que o gelo está derretendo mais depressa do que os cientistas conseguem atualizar seus modelos informáticos, para entender o que está acontecendo.

Parece que todas as previsões sobre o aquecimento global eram demasiadamente otimistas e que o filme "O Dia Depois de Amanhã" não era tão pessimista assim... (Eu só não acredito no happy-ending mostrado, com os sobreviventes do Hemisfério Norte sendo alegremente acolhidos pelos países da Zona Equatorial... De onde vão tirar comida para esse povo todo?...)


11 agosto 2008

"Sputnik" um virus que contamina virus

Notícia espetacular que eu achei no Le Figaro:

«Sputnik», o virus que causa doenças em outros vírus (Por Jean-Michel Bader — 08/08/2008)

Uma esquipe francesa descobriu o primeiro vírus capaz de atacar seus “primos” oito vezes maiores do que ele.

Os pesquisadores franceses da Universidade de Marselha “mataram dois coelhos com uma só cajadada”. Não só descobriram uma nova cepa de vírus gigantes, como descobriram que eles carregam, dentro de si, um outro vírus minúsculo, ambos até agora desconhecidos. O mais incrível é que este vírus-anão, batizado de "Sputnik", tem a capacidade de infectar o vírus grande, batizado de "Mama", a ponto de impedir sua reprodução.

O Mama pertence à classe dos Mimivírus, descobertos em 2003 na mesma universidade pela equipe de Jean-Michel Claverie e Didier Raoult. Quanto ao Sputnik, já se conhecia desde 1915 virus capazes de atacar bactérias, os chamados bacteriófagos (objetos dos Prêmios Nobel de Medicina de 1969 e 1980). Mas esta é a primeira vez que se encontra um “virófago”.

Parasita “obrigatório”

No artigo publicado na Nature, Bernard La Scola, pesquisador do laboratório marselhês, conta como ele e seus colegas “deram à luz” a seu “bebe”: depois de inocular certas amebas, os biólogos constaram que os animais unicelulares foram rapidamente infectados por uma nova cepa de Mimivirus, que eles batizaram de Mama.

Estes têm necessidade de criar, dentro de uma ameba, o que os biólogos chamam uma “usina de virus”, para se multiplicarem. E é nesta “usina” que o “Sputnik” entra como um bom pirata.

Quando observou, pela primeira vez ao microscópio eletrônico, a atividade dentro da “usina” e viu essas pequenas partículas nos virus em formação, Bernard La Scola acreditou que eram apenas fragmentos de ácidos nucleicos (ADN ou ARN), ditos “satélites” (daí o nome “Sputnik”), comumente associados a todos os vírus. Porém, observando mais atentamente, o pesquisador percebeu que se tratava de um verdadeiro vírus, incapaz de se reproduzir sozinho, mas dotado de 21 genes. O “Sputnik” é um verdadeiro “parasita obrigatório” no vírus gigante Mama.

Tal descoberta coloca duas perguntas: o “Sputnik” é um novo sistema de transferência de genes de uma espécie de vírus para outra? É algo razoável, já que três de seus genes descendem de vírus gigantes e um outro dos Archæa (micróbios intermediários entre os eucariotas e as bactérias). O “Sputnik”, portanto, surrupiou material genético daqui e de lá, e poderia fazer o mesmo com outras espécies. A outra questão é sobre o status dos vírus: vivos ou não? Jean-Michel Claverie declara, no artigo da Nature que “não resta dúvida de que se trata de um organismo vivo”, a respeito do Mama. “O fato dele poder ficar "doente" é prova suficiente”. Já Bernard La Scola pondera: “É verdade que, deixados à própria sorte, as partículas virais são incapazes de se reproduzir. Mas a questão é um pouco mais evolutiva: deve-se encarar o vírus como um ser que passa por diversas etapas, um pouco como os insetos: de uma larva, a uma ninfa e, daí, a uma borboleta”.



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Hmmm... fica aqui minha sugestão para os Geeks: que tal desenvolver um “Sputnik” para vírus de computador?... Em lugar de apagar um arquivo contaminado (algo assim como amputar uma mão por causa de um fungo na unha), que tal “contaminar o próprio vírus”?... Seria possível?...

Atualizando em 12/08/2008: Leia mais a respeito (com informações que não constam aqui, no "Xis-xis" da Isis Nóbile Diniz.


09 agosto 2008

Resolvido o problema de armazenagem da energia solar?

Notícia veiculada pelo EurekAlert (que quase me passou despercebida), de uma pesquisa promissora do MIT.

Massachusetts Institute of Technology

“Importante descoberta” do MIT promete desencadear uma revolução solar

  • Cientistas imitam a essência do sistema de armazenagem de energia das plantas
  • CAMBRIDGE, Mass. — Em um salto revolucionário que pode transformar a energia solar de uma fonte de energia marginal, de butique, em uma fonte principal de energia, os pesquisadores do MIT superaram uma das principais barreiras no uso em larga escala da energia solar: a armazenagem da energia para utilização quando o Sol não estiver brilhando.

    Até agora, a energia solar era uma fonte apenas diurna, porque armazenar a energia solar excedente para uso posterior era proibitivamente caro e grosseiramente ineficiente. Com o que foi anunciado hoje [31/07], os pesquisadores do MIT acertaram em um processo simples, barato e altamente eficiente para armazenar a enegia solar.

    Necessitando de nada mais do que materiais naturais, não-tóxicos e abundantes, esta descoberta pode ser a chave para a mais potente e livre de carbono fonte de energia de todas: o Sol. “Este é o nirvana do qual vínhamos falando por anos”, disse Daniel Nocera, o Henry Dreyfus Professor of Energy do MIT e principal autor do artigo que descreve o trabalho na edição de 31 de julho da Science. “ A energia solar sempre foi uma solução limitada, remota. Agora podemos pensar seriamente na energia solar como ilimitada e para breve”.

    Inspirados pela fotossíntese realizada pelas plantas, Nocera e Matthew Kanan, um colega pós-doutorado no laboratório de Nocera, desenvolveram um processo sem precedentes que permite que a energia solar seja usada para dividir a água em hidrogênio e oxigênio gasosos. Posteriormente, o oxigênio e o hidrogênio podem ser recombinados dentro de uma célula de combustível, criando eletricidade (livre de carbono) para alimentar sua casa ou seu carro elétrico, de dia ou de noite.

    O componente chave do processo de Nocera e Kanan é um novo catalizador que produz oxigênio gasoso a partir da água; outro catalizador produz o valioso hidrogênio gasoso. O novo catalizador consiste de cobalto metálico, fosfato e um eletrodo, imerso em água. Quando a eletricidade – produzida por uma célula fotovoltáica, uma turbina eólica ou qualquer outra fonte – atravessa o eletrodo, o cobalto e o fosfato formam uma fina película no eletrodo e se produz oxigênio gasoso.

    Combinado com outro catalizador, tal como a platina, que pode produzir hidrogênio gasoso a partir da água, o sistema pode produzir a reação de divisão da água que ocorre durante a fotossíntese.

    O novo catalizador funciona à temperatura ambiente, em água com pH neutro e é bem fácil de preparar, diz Nocera. “Por isso sabemos que vai funcionar. Porque é tão fácil de implementar”, declarou ele.

    UM “SALTO GIGANTESCO”

    A luz solar tem o maior potencial de todas as fontes de energia para resolver os problemas de energia do mundo, argumentou Nocera. Em uma hora, a luz solar que atinge a Terra é suficiente para prover a energia necessária para um ano.

    James Barber, um dos principais estudiosos da fotossíntese, que não esteve envolvido nesta pesquisa, chamou a a descoberta de Nocera e Kanan de “um salto gigantesco” para a geração de energia limpa, livre de carbono, em larga escala.

    “Esta é uma importante descoberta com enormes implicações para a prosperidade futura da humanidade”, afirmou Barber, o Professor “Ernst Chain” de Bioquímica no Imperial College de Londres. “A importância da descoberta deles não pode ser superestimada, uma vez que ela abre as portas para o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de energia, reduzindo, assim, nossa dependência de combustíveis fósseis e contribui para a solução do problema das mudanças climáticas globais”.

    “SOMENTE O COMEÇO”

    Os eletrolisadores atualmente disponíveis, que separam a água com eletricidade e são de uso freqüente na indústria, não são adequados para a fotossíntese artificial, porque eles são muito caros e requerem um ambiente extremamente básico [N.T: em oposição a "ácido"] que não é benigno e que tem muito pouco a ver com as condições em que se processa a fotossíntese.

    Mais trabalho de engenharia precisa ser realizado para integrar esta nova descoberta científica nos sistemas fotovoltaicos existentes, porém Nocera disse estar confiante em que tais sistemas se tornarão uma realidade.

    “Isto é apenas o começo”", declarou Nocera, o principal investigador do Solar Revolution Project (Projeto Revolução Solar), patrocinado pela Chesonis Family Foundation, e co-Diretor do Eni-MIT Solar Frontiers Center. “A comunidade científica vai realmente correr atrás disso”.

    Nocera espera que, dentro de dez anos, as pessoas possam energizar suas casas durante a luz do dia com células fotovoltaicas, ao mesmo tempo que usam a energia solar excedente para produzir hidrogênio e oxigênio para energizar suas próprias células combustíveis domésticas. A energia elétrica distribuída por fios a partir de uma fonte central pode ser uma coisa do passado.

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    O projeto é parte da MIT Energy Initiative, um programa projetado para ajudar a transformar o sistema global de produção de energia para atender as demandas do futuro e ajudar a construir uma ponte para esse futuro por meio da melhoria dos atuais sistemas de produção de energia. O diretor do MITEI, Ernest Moniz, Professor Cecil and Ida Green de Física e Sistema de Engenharia, observou que “esta descoberta no laboratório de Nocera demonstra que os melhoramentos necessários para a transformação de nosso sistema de produção de energia para um com base em recursos renováveis, vai depender grandemente de pesquisa científica básica de ponta”.

    O sucesso do laboratório de Nocera demonstra o impacto de uma mistura de fundos de financiamento – governos, filantropia e indústria. Este projeto foi financiado pela National Science Foundation e pela Chesonis Family Foundation, que doou ao MIT US$10 milhões no início do ano para lançar o Solar Revolution Project, com a meta de possibilitar a disseminação em larga escala de energia solar, dentro de dez anos.


    Nota para os fãs de sci-fi: Robert A. Heinlein sugeria a existência de coisa parecida no seu romance Friday. A exemplo dos braços mecânicos articulados que são popularmente conhecidos como Waldos, poderiam chamar essas células combustíveis de Shipstones...



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    08 agosto 2008

    Na Inglaterra, ser "verde", não é mais "fashion"

    Notícia do The Times de ontem, revela que, nos atuais tempos “bicudos”, ser “verde” está fora de moda. Suddenly being green is not cool any more (De repente, ser verde não é mais bacana), é o título do artigo de Alice Thomson. O subtítulo é um pouco menos sombrio: À medida em que as restrições de crédito mordem o bolso, as políticas ambientais vão sendo atiradas à sarjeta. Porém, estranhamente, estamos nos saindo melhor para salvar o planeta.

    Em resumo, o velho debate entre os que defendem “vamos gastar um pouco mais, mas ter uma comida menos tóxica e agredir menos o meio ambiente” e os tradicionalistas que argumentam que isso não passa de “frescura de alta classe média”, está sendo ganho pelos últimos, não porque tenham demonstrado que têm razão, ou, pelo menos, tenham demonstrado que a preocupação com o meio ambiente é baseada em exageros. O problema está no bolso do cidadão (sempre a parte mais sensível de sua anatomia...)

    A um ano atrás, pesquisas mostravam que 15% dos entrevistados colocavam a conservação do meio ambiente entre suas principais preocupações. No mês passado, esse número caiu para 10%.

    De acordo com Andrew Cooper, diretor da firma de pesquisa Populus: “Existe uma correlação direta entre como as pessoas percebem a situação econômica e a importância que dão ao meio ambiente. Quando os tempos estão duros, as pessoas se importam em pagar mais para apaziguar suas consciências.” Isto significa que menos pessoas estão comprando comidas “orgânicas”, quando podem pagar mais barato pela comum. E, com todos os preços dos alimentos subindo, o mercado para alimentos “orgânicos” está sofrendo, também, com as restrições de crédito. A demanda por esses produtos, que tinha crescido 70% de 2002 a 2007, agora está estagnada, de acordo com a consultoria Organic Monitor.


    Até nos discursos dos políticos a conservação do meio ambiente está perdendo espaço. Quando a bicicleta do líder do Partido Conservador, David Cameron, foi roubada, o noticiário e os comentários não foram acerca de como ele era “verde” em usar uma bicicleta para ir ao trabalho; a ênfase foi posta no fato de que a sociedade britânica anda tão degenerada que não respeita nem a bicicleta de um VIP.

    Gordon Brown também parou de discursar sobre seus painéis solares e do compostador na Escócia, e está tentando se dissociar das taxas municipais de lixo - muito embora essas tenham sido resultantes de planos do governo central para criar taxas para aterros sanitários


    Os políticos não estão mais falando em multas para quem não fizer coleta seletiva de lixo para reciclagem; ao contrário, estão falando de incentivos fiscais para quem aderir.

    E não é só o aperto econômico que está mudando a opinião das pessoas. Muitos estão cansados de “causas verdes” que acabam causando mais inconveniências do que benefícios. As pessoas não querem um monte de geradores eólicos ao longo das paisagens da Inglaterra, quando as usinas nucleares podem fazer mais pela redução da emissão de gases de efeito estufa [Nota remissiva: o Caio de Gaia já mencionou, neste post, que esses monstrengos eólicos não são as maravilhas que se costuma dizer]. Da mesma forma, os recentes efeitos sobre os preços dos alimentos causados pela onda de produção de biocombustíveis, não ajudaram muito. E sempre existe a questão dos impostos embutidos para financiar a conservação do meio ambiente: na verdade, estão estudando uma redução nos impostos sobre combustíveis a base de petróleo, cujo preço está afetando, principalmente, o preço das passagens aéreas.

    Paradoxalmente, aponta a articulista, os britânicos estão adotando comportamentos que beneficiam o meio ambiente. Menos gente está comprando novos eletrodomésticos da “linha branca”. Menos comida tem sido jogada fora. As vendas de água mineral engarrafada cairam. As pessoas estão economizando, fazendo mini-hortas em seus quintais, estão deixando o aquecimento central desligado por mais alguns meses e dispensando um segundo carro para a família, em lugar de comprar um veículo elétrico. E, em lugar de “compensar a emissão de CO2” de suas viagens de férias, simplesmente não estão viajando.

    E o artigo termina com a seguinte afirmação: “É a crise econômica que tornou a moda verde não-atraente - mas ela pode acabar se mostrando mais eficaz do que qualquer outra coisa para salvar o planeta”.



    07 agosto 2008

    Physics News Update n° 868

    PHYSICS NEWS UPDATE
    O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 868, de 07 de agosto de 2008, por Phillip F. Schewe, James Dawson e Jason S. Bardi.

    DA VINCI DECODIFICADO

    As camadas das pinturas dos velhos mestres pode, agora, ser mapeada de maneira não-invasiva. A beleza de uma pintura — seu design, seu tema e cores — é a primeira coisa que causa impacto em quem visita um museu. Porém os historiadores da arte querem saber mais do que se pode ver na superfície. Eles querem saber da estratigrafia. Este é o termo científico para a sucessão de camadas que compõem toda uma pintura — inclusive a camada preparatória diretamente sobre a madeira bruta ou tela, um esboço por debaixo, as camadas de tinta existentes por cima e uma possível camada de verniz.

    Um novo método de imageamento, tomado por empréstimo daquele da ressonância magnética utilizada nos hospitais, agora permite que este estudo detalhado das camadas profundas nas pinturas seja feito de maneira não-invasiva.

    Por que escarafunchar? Por que não ficar na superfície e apreciar a obra de arte pelo que ela é? Porque a decodificação das propriedades dos materiais nas camadas pode estabelecer coisas tais como a idade, a origem e a autenticidade da obra. Por isso, da mesma forma que os geólogos estudam a história das eras passadas da Terra, examinando os extratos em um talude, os curadores têm que sondar as camadas mais profundas de uma pintura, removendo uma pequena amostra, a fim de inspecionar suas camadas, usando microscópios que empregam um feixe de elétrons ou de luz visível.

    Será que se pode estudar uma pintura sem esburacar pequenos pedaços da obra de arte? Sim, mediante o emprego de outras técnicas, tais como banhar a superfície da tela com raios-x e observar a luz fluorescente refletida. No entanto, essas técnicas geralmente permitem apenas um mapeamento pouco profundo das camadas do corpo da pintura.

    A nova técnica de perfilagem, cujos pioneiros são um grupo de cientistas italianos e alemães, utiliza a ressonância magnética nuclear (nuclear magnetic resonance = NMR), a base do escaneamento da ressonância magnética médica. O processo de NMR funciona em um nível microscópico. Primeiramente, um poderoso magneto ajuda a direcionar todos os átomos de hidrogênio em uma amostra na mesma direção — algo como fazer um milhar de soldados se voltarem para uma bandeira e baterem continência ao mesmo tempo. Então os átomos são expostos a um inofensivo banho de ondas de rádio. Essas ondas obrigam os átomos de hidrogênio a pivotar em seus lugares, como se estivessem fazendo um exercício. Eventualmente, os átomos (ou, mais exatamente, os prótons no núcleo do átomo) reemitem uma onda de rádio.

    São essas ondas de rádio emitidas que são detectadas por um sensor nas proximidades. Com o auxílio de um computador, a informação trazida pelas ondas pode ser transformada em um mapa interno das cercanias dos átomos de hidrogênio. No caso do imageamento médico, os átomos de hidrogênio são usualmente encontrados nas moléculas de água existentes no corpo. Pela sutil análise do mapa resultante, um médico pode localizar a posição de um tumor, uma vez que o seu conteúdo de água é ligeiramente diferente dos tecidos saudáveis a seu redor.

    No estudo de uma pintura, em comparação, as mesmas técnicas se aplicam na obtenção de informações sobre os agentes aglutinantes usados nas camadas pintadas. A história sabe que esses aglutinantes consistiam de coisas tais como gemas de ovos ou óleos. Conhecer a natureza do agente aglutinante, freqüentemente é o suficiente para distinguir entre uma velha obra de um mestre e uma falsificação artificialmente “envelhecida”.

    Uma dos pesquisadores, Federica Presciutti, uma química da Universidade de Perugia, diz que a espessura das camadas na pintura, mesmo na camada mais funda, pode ser estabelecida. E, embora a idade das camadas não possa ser estabelecida com absoluta certeza, é possível dizer quais camadas são mais antigas do que as outras. O processo todo é não-invasivo. Além disso, o magneto usado na nova abordagem é unilateral. Diferentemente dos enormes magnetos usados na ressonância magnética nos hospitais (que, usualmente, envolvem o corpo do paciente, ou, pelo menos, todo um membro), o escâner pode ser levado até bem perto de ― porém sem encostar em ― a pintura. (Veja a foto anexa do dispositivo sendo usado para estudar a pintura “A Madona com a Criança” de Gentile da Fabriano, 1411). [Nota do tradutor: o boletim veio sem o link para a tal foto. Em breve, quando o boletim estiver no site da AIP, eu copio e colo]

    O funcionamento do novo escâner de pinturas foi relatado na edição de 21 de julho de Applied Physics Letters.

    A ACÚSTICA DOS URSOS POLARES

    Os cientistas estão estudando a audição dos ursos polares, enquanto o ambiente acústico no Ártico vai se modificando. Na medida em que o aquecimento global derrete o gelo do Ártico e aumentam as pressões para a exploração de petróleo, os cientistas se preocupam que o aumento de barulho possa interferir com a reprodução dos ursos polares.

    Na tundra congelada da borda Norte do Arctic National Wildlife Refuge no Alaska, os solitários ursos polares vivem em um mundo que é tanto extremamente frio, como estranhamente silencioso. Nada do murmúrio das folhas agitadas pela brisa. Nenhum inseto zumbe no ar abaixo de zero. O único som é o sopro da neve varrida pelos ventos e, quando os ventos se acalmam, é um dos lugares mais silenciosos do mundo.

    Muitos anos atrás, a bióloga Anne Bowles, que trabalha em San Diego, se perguntou o que poderia acontecer se as calotas de gelo sempre menores e a exploração e perfuração de novos poços de petróleo mudassem a natureza do silencioso “ambiente acústico” dos ursos polares. O impacto do aumento de barulho sobre a maneira com que os ursos polares caçam e seus outros comportamentos pouco conhecidos eram uma preocupação, disse ela. Porém a questão mais crucial era se um aumento no barulho afetaria os hábitos de acasalamento e perturbaria as fêmeas de urso polar em suas tocas. Prudhoe Bay, no Alaska, onde Bowles está focalizando seu trabalho, é uma área onde as fêmeas de urso polar costumam estabelecer suas tocas. Elas levam cinco ou seis meses nas tocas, antes de saírem na primavera, normalmente com um ou dois filhotes.

    Que tipo de barulho poderia ser um problema para os ursos? O barulho das atividades humanas poderia molestar os ursos em campo aberto, mas não as fêmeas em suas tocas? Deveria haver um limite de barulho permitido nas vizinhanças dos ursos e qual tipo de barulho, exatamente, seria um problema? “Se você quer diminuir o barulho, primeiro tem que saber o que os ursos podem ouvir”, disse Bowles. “Este é o primeiro passo. É a primeira matéria de "ecologia perturbativa"”.
    Assim, Bowles do Instituto Hubbs de Pesquisa do Mar em San Diego, se dispôs a testar a audição dos ursos polares. Dado ao ambiente hostil e aos ursos igualmente hostis, tentar realizar testes de audição nos ursos era claramente impraticável, disse ela. Os ursos polares são provavelmente os maiores carnívoros terrestres, com os machos chegando a pesar 700 kg. Embora as fêmeas sejam muito menores, elas ainda chegam aos 250 kg. E eles são animais espertos, perigosos e imprevisíveis, segundo Bowles.

    Bowles começou seus testes de audição no zoológico de San Diego, com duas fêmeas de urso polar, criadas em cativeiro. Para os testes, as ursas foram treinadas a apertar com o focinho um botão (uma "estação"), colocado dentro de uma jaula. Uma nota de uma certa freqüência tocava e, quando a ursa ouvia, movia seu focinho para outra "estação" e era recompensada com comida, relata Bowles.

    Antes de começar os testes, as jaulas tinham que ser isoladas contra sons vindos do lado de fora com espessas mantas tecidas com chumbo. Mesmo com o pesado isolamento, no ambiente urbano de San Diego era impossível tornar a jaula silenciosa o suficiente para realizar testes com freqüências extremamente baixas, que poderiam ser uma faixa crítica para a audição dos ursos polares.

    “Sons de baixa freqüência são um sinal de poderio e tamanho, de forma que os grandes carnívoros rosnam e resmungam em baixas freqüências para manter seus territórios, se defender e ameaçar”, escreveu recentemente Bowles em um artigo para a Organização Internacional para Ursos Polares que financia parte de seu trabalho. “Sons de baixa freqüência são também importantes porque se propagam por longas distâncias, de forma que animais que percorrem longos caminhos, tais como baleias e elefantes, freqüentemente os usam para se comunicar”. Ela igualmente observou que, normalmente, existe mais barulho ambiental em baixas freqüências, inclusive o barulho produzido por “maquinários feitos por humanos”.

    Bowles realizou 4.000 testes de audição, primeiro no zoológico de San Diego e, depois, com dois ursos polares no SeaWorld San Diego. Os limiares de audição foram medidos para 19 freqüências diferentes e os resultados sugerem que a audição nos ursos polares é realmente direcionada para as baixas freqüências. Quão baixas permanece incerto, disse ela, porque foi impossível tornar as instalações dos testes silenciosas o suficiente para realizar testes abaixo do 14 kHz (seres humanos normalmente ouvem até 20 kHz).

    “Tanto quanto foi possível medir, eles podem ouvir isso”, declarou Bowles. “Eles ouvem reqüências mais baixas do que os gatos conseguem”. Inversamente, ela também observou que eles não ouvem bem altas freqüências, sendo sua sensibilidade a notas altas muito menor do que a de cães e gatos.

    A sensibilidade a sons de baixa freqüência, aparentemente em detrimento das altas freqüências, pode ser apenas um resultado do tamanho, argumenta Bowles. Ursos polares são grandes, tal como as estruturas em seus ouvidos. Em outros mamíferos grandes, tais como cavalos e vacas, o limite superior de quais freqüências os animais podem ouvir, parece ser baseado no tamanho. “Pode ser meramente uma questão de escala”, diz Bowles. Mas a deficiência na audição de altas freqüências pode ser uma questão de adaptação, porque os ursos polares comem principalmente focas, não pequenos roedores que têm guinchos de alta freqüência. Bowles declarou que gostaria de realizar um estudo comparativo com os ursos pardos e negros, que têm base em terra e comem pequenos mamíferos, para ver se a audição desses é sintonizada para freqüências mais altas do que as dos ursos polares.

    A preocupação com os ursos polares, diz ela, é que, na medida em que o gelo Ártico derrete, os usos vão se mover para o interior do continente e encontrar a civilização humana, que é barulhenta. “Tal como é com os humanos, há barulhos que se pode e que não se pode suportar, e nós não sabemos quais são esses para os ursos. Nosso trabalho é descobrir o que eles podem tolerar e o que estamos buscando não é uma situação de lucro mútuo, mas de tolerância mútua entre homens e ursos”.

    Existe uma enorme pressão política para que a indústria de petróleo possa explorar essas áreas, diz ela, e com as atividades petrolíferas, chegam mais pessoas e aumenta o uso de terras para lazer. Pela experiência que teve na região, Bowles afirmou que os trabalhadores da indústria petrolífera estão tratando bem os ursos e outros animais selvagens. “Você não acreditaria no cuidado que esses caras têm com a vida selvagem”, disse ela. “Eu gostaria que as pessoas nas cidades se comportassem assim”.

    Após três anos testando ursos em San Diego, Bowles e sua colaboradora, Megan Owen, uma pesquisadora do setor de Conservação e Pesquisa para Espécies Ameaçadas no zoológico, estão escrevendo diversas publicações científicas, inclusive uma para a Sociedade de Acústica da América, acerca de seus resultados e em busca do que elas esperam que seja a próxima fase de suas pesquisas.

    Bowles espera ir, em dezembro ou janeiro, até Prudhoe Bay e construir uma toca de urso polar, e, então, medir o barulho vindo de fora, a partir do lado de dentro. “Precisamos criar uma toca conforme as especificações dos ursos e mantê-la acessível o suficiente para podermos ter veículos nas proximidades, de forma a podermos medir os sons”, declarou ela. “Nós temos que obter informações sobre o que é possível ouvir de dentro da toca, quanto barulho entra na toca. Se eles não puderem ouvir, então isso não é um problema, mas nós temos que realizar essas medições”.

    Não vai ter um urso de verdade dentro da toca, porque, como Bowles observou diversas vezes, são animais muito perigosos. Até as ursas de San Diego que cresceram com pessoas em volta, permaneciam carnívoras imprevisíveis. “Na maior parte do tempo elas são gentis e ficam contentes em lhe ver e saber que você lhes trouxe comida”, disse Bowles das ursas. “Aí chega o dia em que você é a comida. Eles são predadores muito oportunistas”.

    Para ver as imagens que acompanham esta história, por favor vá para: http://www.aip.org/isns/reports/2008/028.html

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    PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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    Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

    Macaco, olha seu rabo!...

    Uma notícia do Le Figaro me chamou a atenção: "Metade das espécies de primatas correm grave perigo" (veja aqui o original em francês). E a causa?... Outra espécie de primata (uma que chama a si própria de Sapiens...) Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, 48% das espécies estão ameaçadas de extinção em um prazo que vai de médio a curto.

    Um estudo que reuniu dados coletados por diversos cientistas, divulgado no 22° Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia (realizada em Edimburgo, Escócia), com dados de recenseamento coletados desde 1966, mostra que, das 634 espécies estudadas, 303 estão na “Lista Vermelha”: 15% classificadas como “vulneráveis”, 22% “em perigo” e 11% “em grave perigo de extinção”.

    Diversas ações humanas põem nossos “primos” em perigo: a destruição de seus habitats (por incêndios, desmatamento e ampliação das áreas urbanas) e, por incrível que pareça, a caça. Não só se come os macacos, como ainda servem como animais “domésticos” e como fonte de “medicamentos” na medicina tradicional do Oriente (notadamente a chinesa).

    A situação é mais grave na Ásia, onde 71% das espécies estão na “lista vermelha”. Cinco países apresentam situações tidas como catastróficas: 90% das espécies do Cambodja, 86% no Vietnam, 84% na Indonésia, 83% no Laos e 79% na China.

    Pelas mesmas causas, o México e a Guatemala aparecem a seguir (67% das espécies na “lista vermelha”). As Américas, em geral, têm uma média de 40% de espécies ameaçadas.

    Até na África a coisa não vai bem... 37% das espécies (chimpanzés, bonobos, colobos...) estão nos “grupos de risco”, dos quais 43% em Madagascar, o santuário dos lêmures...

    Mas existem boas notícias, também... Desde 2000, os primatologistas descobriram 53 espécies de primatas, até então desconhecidas, principalmente em Madagascar. A descoberta de uma grande população de gorilas (cerca de 125.000) em regiões remotas do Congo, foi relatada por pesquisadores americanos. E uma para nos diminuir o “complexo de inferioridade tupiniquim”: o mico leão preto (Leontopithecus chrysopygus) do Brasil, está se recuperando, graças aos esforços de nossos conservacionistas.



    06 agosto 2008

    Vivendo e aprendendo...

    Esse incidente com a tradução do artigo do Wilkins me abriu os olhos para muitas coisas. Eu costumo pegar o texto original, copiar, colar aqui no editor do Blogger e ir traduzindo "ao correr da pena".

    Várias vezes eu mudo para a aba "Editar HTML" para trocar uma fonte, mudar a apresentação de um link, e coisinhas bobas assim... Mas, a idéia principal é me manter o mais próximo do texto original quanto possível, para ficar bem claro que o texto não é meu...

    Burrice!...

    Depois do incidente com o Wilkins, eu, imediatamente, mandei um email para a responsável pelas autorizações do The Guardian, por conta do "Petróleo Extraído de Algas", argumentando que eu achava mais honesto traduzir "verbis" um texto, colocando um link para o original (dando, portanto, o justo crédito ao autor e ao editor), do que reescrever o texto com minhas próprias palavras (tipo: "o autor diz que"), copiando aqui e ali um excerto na base do "blockquote". E acrescentava que, se fosse pedir permissão a cada tradução, quando e se essa permissão fosse recebida, o assunto estaria com jeito de café de anteontem... Nesse mail, eu mandei o link para o Blog e meu perfil de Blogger.

    Estou esperando resposta até agora... Só falta eles me ameaçarem de processo, também...

    Então, gente, eu vou deixar de ser "honesto"... Vou passar a fazer exatamente o que eu disse: vou colocar o link para o artigo original e reescrever o texto. Uma parte ou outra que eu julgar relevante, dou um "blockquote".

    Afinal, fazer citações não é proibido... Nem excertos, quando se identifica a fonte.

    Só vou continuar traduzindo fontes como o Physics News Update e EurekAlert que só pedem a identificação da fonte. O resto, vai continuar sendo traduzido, mas do meu jeito (a Silvia tinha me repreendido porque achou minha tradução do Wilkins muito "literal"...)

    Pois é, Silvia! Você estava coberta de razão!... Eu não recebo um tostão furado para fazer divulgação dos editores e autores dos originais, nem pelo serviço de tradução (e olha que eu já vivi disso...) e ainda recebo ameaças!...

    Pois agora vai ser do meu jeito!

    Novo tema de dicussão para o Roda de Ciência


    Para quem também acompanha as discussões no "Roda de Ciência" (olha o selinho aí na barra lateral), eu peço que ajude a escolher o tema para o próximo período (agosto/setembro). É só clicar aqui, votar e pronto!

    Quem tiver sugestões para temas que gostaria de ver discutidos lá, pode deixar um "comentário" lá (até como "anônimo").

    Para quem ainda tem alguma dúvida sobre a capacitação dos contribuidores do "Roda de Ciência", eu sugiro uma"visitinha" ao dito cujo e uma consulta aos "Blogs Participantes". (Como não podia deixar de ser, o único "furreca" sou eu...)

    02 agosto 2008

    Petróleo extraído de algas

    “Petróleo extraído de Algas”, uma promessa de um combustível “climate friendly”

    Por Alok Jha, correspondente de tecnologias “verdes”
    Quinta-feira, 31 de julho de 2008

    Green crude

    Um novo começo... o website da companhia Sapphire Energy faz promoção do “petróleo-verde” feito de algas


    Um combustível líquido feito de plantas que é quimicamente idêntico ao petróleo cru, mas que não contribui para as alterações climáticas quando é queimado, ou, diferentemente dos outros bio-combustíveis, não precisa de terras agricultáveis para ser produzido, parece ser bom demais para ser verdade. Porém uma compahia em San Diego afirma que produziu exatamente isto — uma versão sustentável de petróleo que ela chama de “green crude” (literalmente “cru verde”).

    A Sapphire Energy utiliza organismos unicelulares, tais como algas, para produzir uma mistura química da qual é possível extrair combustíveis para carros ou aviões. Quando é queimado, o combustível libera na atmosfera apenas o dióxido de carbono absorvido pelas algas durante seu crescimento, o que torna o processo inteiro neutro em termos de Carbono.

    Grandes investidores já estão abrindo seus talões de cheques: a Sapphire já levantou um total de US$50 milhões em capital de risco nas últimas semanas, a maior quantia já levantada por uma companhia de biotecnologia de algas, inclusive um significativo investimento do Wellcome Trust da Grã-Bretanha.

    Algas são vistas por muitos experts como uma fonte promissora de combustível verde no futuro: variando de organismos unicelulares até grandes plantas marinhas, elas são a forma de vida vegetal mais abundante do mundo e, através da fotossíntese, elas são extremamente eficientes no uso da energia solar e do dióxido de carbono do ar para fazer materiais orgânicos tais como açúcares, proteínas e, sob as novas condições, petróleo.

    Yusuf Chisti da Universidade Massey na Nova Zelândia estima que as algas possam produzir quase 100.000 litros de biodiesel por ano por hectare de terra, comparados aos 6.000 litros por hectare do óleo de palmeira, atualmente o biocombustível mais produtivo.

    O dinheiro para a Sapphire começou a chegar em avalanches depois que a companhia atingiu sua mais significativa marca até agora, refinar gasolina de alta octanagem a partir de seu “green crude”. “A gasolina resultante é completamente compatível com a atual infraestrutura, o que significa que não serão necessárias quaisquer modificações nos automóveis dos consumidores”, declarou um porta-voz da Sapphire.

    Uma vantagem adicional é que a gasolina deles não tem contaminantes tais como enxofre, nitrogênio e benzeno, contidos no petróleo cru comum, e a companhia acredita que o custo de seus combustíveis será comparável ao dos combustíveis fósseis vendidos no mercado.

    Muitas companhias de biotecnologia por todo o mundo estão trabalhando no uso de algas para produzir etanol ou biodiesel que possa substituir os tradicionais combustíveis usados nos transportes, enquanto se evita os problemas causados pelos biocombustíveis tirados da agricultura, tais como a diminuição da área para o plantio de alimentos. Um porta-voz da Sapphire declarou que, com o uso de algas, não existiria a necessidade de usar o valioso terreno agricultável para o crescimento do insumo básico. “De fato, o processo utiliza área não arável e água não-potável, e produz de 10 a 100 vezes mais energia por hectare do que os biocombustíveis agrícolas”.

    O que diferencia a Sapphire de outras companhias que pesquisam algas, é que ela não almeja produzir biocombustíveis normais, tais como etanol ou biodiesel. Em lugar disto, eles se inspiram na maneira como o petróleo cru foi criado em primeiro lugar, milhões de anos atrás.

    “Naquela época, quando as algas eram responsáveis pela criação de hidrocarbonetos de cadeias longas, tais como o diesel e as frações mais pesadas, a biomassa simplesmente ficou enterrada e foi comprimida na forma de petróleo cru”, diz Steven Skill, um pesquisador sobre o emprego de algas na fabricação de substâncias químicas orgânicas no Plymouth Marine Laboratory e que está familiarizado com o trabalho da Sapphire. “Algas sintetizam esses hidrocarbonetos de cadeias longas dentro das células”.

    A Sapphire não revela detalhes dos tipos de algas que está empregando, porém Skill acha que ela provavelmente está usando cianobactérias geneticamente modificadas, que costumam ser chamadas de algas azuis. Esses organismos podem crescer rapidamente (algumas eflorescências podem dobrar sua massa em apenas uma hora), funcionar em altas temperaturas e algumas cepas podem até fixar o nitrogênio do ar para criar seus próprios fertilizantes.

    “A Sapphire declara que pode desenvolver o que ela quiser na cepa de algas com a qual está trabalhando agora”, declara Skill. O novo passo, diz ele, depende do desenvolvimento dos sistemas de engenharia e cultivo, para fazer as algas crescerem em escala economicamente viável.

    Produção Comercial

    John Loughhead, diretor executivo do Centro de Pesquisa de Energia da Grã-Bretanha declarou que a pesquisa com algas é uma parte crucial do trabalho no desenvolvimento de fontes de energia verdes no futuro. “Eu diria que é uma idéia muito sensata, mas a questão é: eles são capazes de fazer qualquer coisa prática de maneira eficiente? A questão chave é com qual eficiência esse processo funciona”.

    Ele aduziu: “Eles também têm o principal problema quando se lida com as fontes renováveis clássicas: o fato de que você está lidando com a fonte básica de energia, o Sol, que é bastante difusa, de forma que o máximo que se obtém é em torno de 0,5 KW por metro quadrado. Serão necessárias grandes, vastas áreas de cultivo”.

    Algas podem ser facilmente cultivadas em cisternas abertas, mas isto resultaria em eflorescências de densidade muito baixa e, portanto, uma maneira ineficiente para produzir grandes quantidades de combustível. Skill declarou que a Sapphire precisa melhorias na tecnologia chamada foto-bio-reatores para cobrir a distância até a produção em escala comercial.

    Foto-bio-reatores são vasos fechados que fornecem muita luz e condições cuidadosamente ajustadas para o crescimento intensivo de microorganismos. Várias equipes, por todo o mundo, estão testando projetos para cultivar algas, mas, até agora, nenhuma conseguiu um resultado comercializável.

    Igualmente crucial para tornar o “green crude” comercialmente viável é o uso dos resíduos de produção além do petróleo extraído das algas. “Provavelmente se pode transformar 40% do peso das algas em petróleo e se fica com 60% de outras substâncias, e aí há muitos componentes valiosos em termos de substâncias químicas alimentícias”.

    Esses ingredientes extra, que incluem gorduras, açúcares e proteínas, podem ser usados para rações animais ou mesmo como substitutos para outros produtos derivados de petróleo, usados em tudo, desde cosméticos, até plásticos.

    A Sapphire declarou que espera entrar em produção comercial de “green crude” dentro de três a cinco anos. Geoffrey Love, encarregado do capital de risco no Wellcome Trust, declarou que o investimento foi feito com isto em mente. “Já existia uma forte equipe de ciências e gerenciamento”,

    “Eles já estabeleceram marcas de progresso ao provar que podem fazer não apenas biodiesel, o que muitas outras companhias por aí podem fazer, mas (também) o próprio petróleo cru”.

    Ele acrescentou que o Fundo Caritativo Biomédico realizou suas próprias diligências científicas, antes de fazer o investimento, e que o apoio de outro grupo de invetimento, como o qual o Trust já trabalhou freqüentemente, o Arch Ventures, ajudou em sua própria decisão.

    Doug Parr, cientista chefe do Greenpeace-UK, declarou: “Nós precisamos encontrar urgentemente maneiras de mandar a economia baseada em combustíveis fósseis para a história. As algas são promissoras, mas para para saber exatamente o que essa tecnologia pode oferecer, nós precisaríamos de muito mais informações a nossa disposição. O requisito crucial é que o produto final possa ser fornecido em grandes quantidades e de maneira sustentável, senão estaremos saltando do fogo para a frigideira ”.



    guardian.co.uk © Guardian News and Media Limited 2008

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    Pronto, Maria Guimarães e Carlos Hotta... Eu não aguentei e traduzi... (Agradeço as correções que se fizerem necessárias)

    01 agosto 2008

    Mais um pouquinho sobre "Bad Science Blogging"

    Uma reportagem do The Guardian de hoje, 1 de agosto, fala da fome na Etiópia. Lá está acontecendo o nosso velho conhecido fenômeno da "seca verde": as chuvas chegaram tarde demais...

    Um dado particularmente sinistro é:

    O World Food Programme (WFP) calculou que o preço do milho, na Etiópia, aumentou 100% e o trigo, 40% desde o fim do ano passado, e os preços tendem a subir mais ainda.


    Junte isto com a constatação nos Editoriais do New York Times, também de hoje, sob o título "Colheitando dinheiro em um Mundo Faminto, de que:

    Mais de um quinto da safra americana de milho está, agora, destinada ao etanol. Para encurtar a história: a era da comida barata, tal como a era da gasolina barata, pode estar quase no fim.


    E, aí, você percebe todo o cinismo arrogante por trás da afirmativa: "pode deixar o ar condicionado ligado..."

    Claro que pode! Seu "rastro de carbono" não aumenta grande coisa... e se meia dúzia de etíopes morrem de fome para encher o tanque de sua SUV, melhor ainda: menos impostos para o governo americano para financiar a alimentação dessa "gentalha"...

    E esta pústula do Tierney ainda posa como "jornalista de ciências"... E o pior: tem gente que vai ler essas "pérolas" e vai acreditar... Afinal, "deu no New York Times"...


    Mas, hem?...

    Notícia da BBC-Brasil: Pescadores japoneses fazem campanha para proteger os atuns.

    Muito bem!... (Mas como é que ficam mesmo as baleias e os tubarões?...)

    31 julho 2008

    O que a EPA REALMENTE DIZ!...

    Questões Acerca de Sua Comunidade: Sacos para compras: Papel, Plástico, ou...?

    Você sabia que sacolas plásticas para compras consumem, em sua fabricação 40% a menos de energia e geram 80% menos lixo sólido do que sacolas de papel? Você sabia que as sacolas de plástico podem levar 1.000 anos para se decompor, enquanto que as sacolas de papel levam cerca de um mês? O debate acerca do que é melhor para o meio ambiente, sacolas de papel ou de plástico, tem uma longa história e é freqüentemente reaceso cada vez que vamos a um mercado e ouvimos a pergunta familiar [nota do tradutor: "familiar" para os americanos, talvez...]: Papel ou plástico? Muitos de nós não conseguimos resolver esta questão, mas existe uma alternativa — leia abaixo:

    Parece haver prós e contras em ambos os lados do debate. Para as sacolas de papel, o ciclo de vida consiste dos seguintes estágios: corte da madeira, transformação em polpa, daí em papel, manufatura da sacola, uso do produto e tratamento do lixo. Para as sacolas plásticas (de Polietileno), os passos são: extração do petróleo ou gás natural, manufatura do etileno, polimerização do etileno, manufatura da sacola, uso do produto e tratamento do lixo. Em todos esses passos, há um gasto de energia e geração de lixo.

    Alguns outros fatos acerca desses dois produtos podem nos auxiliar a responder a esta questão antiga:

    • As sacolas plásticas foram introduzidas em 1977 e, atualmente, são quatro em cada cinco das sacolas usadas nos mercados [nota do tradutor: lá nos EUA].

    • Sacolas de papel geram 70% mais poluentes do ar e 50 vezes mais poluentes de água do que as sacolas de plástico.

    • Sacolas de papel são feitas a partir de madeira (árvores) que são um recurso renovável. A maior parte das sacolas de plástico é feita de polietileno, que é feito de petróleo crú e gás natural, recursos não renováveis.

    • 2000 sacolas de plástico pesam 30 libras, 2000 sacolas de plástico pesam 280 libras. As primeiras ocupam um espaço bem maior nos aterros sanitários.

    • É necessário 91% menos energia para reciclar uma libra de plástico do que uma libra de papel. Gasta-se quatro vezes mais energia para manufaturar uma sacola de papel do que uma sacola de plástico. A energia (em BTUs): Sacolas plásticas: 594 BTU; Sacolas de papel: 2511 BTU.

    • Papel é aceito na maior parte dos programas de reciclagem, enquanto que a taxa de reciclagem de plésticos é muito baixa. Pesquisas feitas em 2000 mostram que 20% dos sacos de papel eram reciclados, enquanto que apenas 1% das sacolas de plástico eram recicladas.

    • Pesquisas correntes mostram que o papel, nos atuais aterros sanitários, não se decompõe ou dissolve de maneira muito mais rápida do que o plástico. Na verdade, nada se decompõe totalmente nos atuais aterros sanitários, devido à falta de água, luz, oxigênio e outros elementos importantes necessários para o processo de decomposição se completar.

    • A incineração pode diminuir a quantidade de sacolas de papel e plástico. Entretanto, a incineração causa poluição do ar e cria cinzas que têm que ser jogadas em aterros sanitários.

    Então, qual é a melhor solução: papel ou plástico? NENHUM DOS DOIS! Procure adquirir sacolas reutilizáveis ou reutilizar suas sacolas de papel ou plástico no mercado. Reutilizar uma sacola, por uma vez só que seja, tem um grande impacto. Uma sacola resistente, reutilizável, que possa ser usada até 11 vezes, terá um impacto ambiental menor do que 11 sacolas de plásticos descartável.

    • Somente na Cidade de Nova York, menos uma sacola de compras por pessoa por ano, reduziria cinco milhões de libras de lixo e reduziria os custos em US$250.000 em tratamento de lixo.

    • Quando uma tonelada de sacolas de papel é reutilizada ou reciclada, se economiza três metros cúbicos de espaço em aterro sanitário e se salva a vida de 13 a 17 árvores! Em 1997, 955.000 toneladas de sacolas de papel foram usadas nos Estados Unidos.

    • Quando uma tonelada de sacolas de plástico é reutilizada ou reciclada, a energia equivalente a 11 barrís de petróleo é economizada.

    Muitos mercados [nota do tradutor: nos EUA...] vendem, agora, resistentes bolsas de pano para compras. Alguns desses mercados até dão descontos (por exemplo, cinco cents por sacola) se você trouxer suas própria sacola. Portanto, guarde uma pilha de sacolas reutilizáveis em sua dispensa, ou, se você costuma ir de carro ao mercado, simplesmente guarde-as na mala do carro.



    ******************************************

    Agora, comparem com o "não se preocupe" do artigo anterior e vejam se não é canalhice pura e simples afirmar que "não faz diferença"...

    29 julho 2008

    Bad science blogging!....

    Não... Eu não estou falando da coluna semanal do Ben Goldacre no The Guardian... Eu estou falando das colunas do New York Times, especialmente de uma pletora de asneiras publicadas por John Tierney, na edição de hoje (29/07) sob o título "Dez coisas para você riscar de sua lista de preocupações" ("Ten things to Scratch From your worry list").

    Entre as "pérolas", eu destaco duas que são de um cinismo e uma falta de "semancol" impressionantes:

    2. O ar-condicionado "matador do planeta" de seu carro. Não importa o quanto você esteja preocupado com o seu rastro-de-carbono, você não tem que derreter de suar na rodovia para a praia. Depois de realizar testes [de consumo] a 65 mph, os "experts" da "edmunds.com" relatam que o arrasto aerodinâmico causado por dirigir com as janelas abertas cancela toda a economia de combustível que você faz, desligando seu ar-condicionado.

    (...)

    5. As sacolas plásticas do mal. Acreditem na Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA): sacolas de papel não são melhores para o meio ambiente do que sacolas de plástico. Se mostra qualquer coisa, os indícios sobre o ciclo de vida favorecem as sacolas de plástico. Elas requerem muito menos energia - e emissões de gases de efeito-estufa - para serem manufaturadas, distribuídas e recicladas. Elas geram menos poluição do ar e das águas. E ocupam menos espaço em aterros sanitários.


    Brilhante, não é?...

    O primeiro problema não são os "pantagruéis-da-goela-seca", conhecidos como SUV ("Sports Utility Vehicles"), tão queridinhos dos americanos... É o ar-condicionado... Numa porcaria de veículo que faz menos de dez km/litro (e o estudo foi feito em uma média de velocidade de cerca de 100 km/h - não em um engarrafamento daqueles onde o motor funciona somente para manter o ar-condicionado ligado), fingir que o "vilão" é o ar-condicionado só pode ser mau-caratismo...

    E, no segundo caso, para começo de conversa eu duvi-de-ó-dó dos dados da EPA. (Não seria a primeira vez que uma Agência Reguladora americana mentiria descaradamente, neste governo de mentirosos que está no poder nos EUA...). Ainda mais quando o dado se baseia no "ciclo de vida" de uma bendita sacola... O papel é uma solução porca, mas, pelo menos, é muito mais biodegradável do que o plástico. A "reciclagem" mencionada insinua que todas as benditas sacolas (sejam de papel ou plástico) são recicladas... Estão querendo tampar o Sol com uma peneira furada... E o que realmente quer dizer "ocupam menos lugar nos aterros sanitários"?... Eu realmente gostaria de poder analisar detalhadamente esta "pesquisa" da EPA, porque simplesmente não consigo acreditar em uma única palavra do que o Tierney diz que eles dizem...

    E um canalha desses ganha muitos milhares de dólares para escrever essas sandices em um dos jornais mais prestigiosos do mundo!...

    Resta saber de quem...


    28 julho 2008

    Physics News Update n° 867

    INSIDE SCIENCE RESEARCH — PHYSICS NEWS UPDATE
    O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 867, de 28 de julho de 2008 por Phillip F. Schewe, James Dawson e Martha Heil.
    PHYSICS NEWS UPDATE

    PARA NOSSOS LEITORES: [O Boletim] PHYSICS NEWS UPDATE é preparado pela Divisão de Relações com a Mídia e o Governo do Instituto Americano de Física. Desde sua fundação, há 18 anos, o PNU visava fornecer aos divulgadores de ciências notícias em primeira mão de periódicos e conferências de física. O PNU acaba de juntar forças com outro serviço noticioso da AIP, o Inside Science News Service (ISNS = "Serviço de Notícias Por Dentro da Ciência"). Os relatórios do ISNS são distribuídos para jornais, para repórteres que não cobrem habitualmente a área de ciência e para jornalistas de ciências. O PNU agora se trasnformou no "Por dentro da Pesquisa Científica — Atualização das Notícias de Física", a seção de pesquisas desse serviço noticioso mais amplo da AIP. Esperamos que os leitores do PNU apreciem este esforço para manter a física no noticiário, por meio de reportagens mais adequadas a uma audiência mais ampla, um passo dado para contrabalançar a crescente escassez de repórteres de ciências e de seções de ciências nos jornais. Alguns dos itens aqui apresentados serão mais longos do que eram anteriormente e darão uma base de informações ("background") mais genérico. Nós convidamos os leitores a comentarem este desenvolvimento evolutivo no seguinte endereço: insidescience@aip.org

    O MATERIAL MAIS FORTE DO MUNDO.

    Grafeno, uma película bidimensional feita de puro Carbono, é 200 vezes mais forte do que o aço.

    Uma nova experiência na Universidade Columbia na Cidade de Nova York mediu diretamente, pela primeira vez, a resistência do Carbono bidimensional e descobriu que ele é incrivelmente forte. Películas de Carbono com apenas um átomo de espessura podem ser usadas para fabricar materiais compostos ultra-leves.

    O estudo do Carbono é um exemplo da relação simbiótica entre a ciência e a engenharia. Cientistas e engenheiros vêm trabalhando em conjunto por séculos para encher este nosso mundo material com dispositivos assombrosos, de aviões a microscópios, de bombas atômicas a liquidificadores.

    Geralmente os cientistas sondam as estruturas interiores da natureza, mais ainda ao nível microscópico, enquanto os engenheiros pegam os novos conhecimentos e os convertem em inovativos produtos sofisticados que caracterizam nossa sociedade nano-tecnológica.

    O Carbono, é claro, é um dos mais importantes elementos tanto para coisas vivas como para as inanimadas. Em suas milhares de combinações químicas ele fornece a estrutura básica para nosso corpo e todas as proteínas e processos químicos que tornam a vida possível. Carbono em sua forma pura é mais raro, mas ainda é notável. O Carbono tridimensional bruto pode aparecer na forma de Grafite que consiste de camadas fracamente ligadas de átomos de carbono (o que torna a Grafite uma excelente substância para fabricar lápis e lubrificantes), ou como diamante, uma rede mais elaboradamente ligada de Carbono que tem uma dureza inigualável.

    Nas últimas décadas, os cientistas descobriram carbonos com outras estruturas dimensionais. Por exemplo, as "buckyballs" são moléculas na forma de uma bola de futebol e contém 60 átomos. Esta molécula quase perfeitamente redonda, cujo nome oficial é "buckministerfullerene (hoje reduzido para "fulereno"), é, praticamente, uma forma de Carbono com zero dimensões; ou seja, lembra muito um ponto. A descoberta dessa molécula de Carbono-60 deu a três químicos o Prêmio Nobel, mas ainda não levou a qualquer aplicação prática.

    Aí foram descobertos os tubos de Carbono uni-dimensionais. Esses tubos, com apenas alguns nanômetros (bilhonésimos de metro) de largura, mas com mícrons (milhonésimos de metro) de comprimento, têm propriedades elétricas, ópticas, térmicas e mecânicas muito interessantes. Engenheiros e cientistas estão trabalhando em conjunto para transfromar os nano-tubos de Carbono em elementos úteis para micro-circuitos, tanto pelas propriedades elétricas ajustáveis dos tubos (eles podem ser condutores, tais como um metal, ou semicondutores, dependendo do modo como são fabricados), ou porque eles podem ser capazes de dissipar o calor em pontos quentes de microchips.

    Ainda mais recentemente, a uns poucos anos atrás, foram descobertas as películas de Carbono com apenas um átomo de espessura. Novamente, cientistas e engenheiros estão trabalhando em conjunto para explorar novos materiais e explorar as propriedades deste novo e maravilhoso material, que é chamado de Grafeno. Os nano-tubos de Carbono são, na verdade, apenas uma versão tubular de Grafeno.

    Nesta nova experiência em Columbia, o engenheiro mecânico James Hone e seus colegas Changgu Lee, Xiaoding Wei e Jeffrey W. Kysar, esticaram uma folha utra-pura e ultra-fina de Grafeno por cima de um orifício perfurado em um suporte plano de Silício. Então eles abixaram uma agulha com ponta de diamante. A agulha é parte de um sensor chamado de microscópio de força atômica (atomic force microscope, ou AFM), o qual, enquanto passado por cima de uma amostra microscópica, ajusta sua posição para manter uma tensão constante. Os pequenos movimentos da sonda podem ser convertidos em um mapa da própria amostra. Ou o movimento da sonda pode ser usado para medir a força exercida entre a sonda e a amostra.

    Neste caso, a ponta da sonda empurra para baixo a folha de Grafeno e mede a força de reação. (Veja na ilustração como isso se parece no nível atômico: http://www.aip.org/png/2008/304.htm). A sonda mede a resistência do material, a força necessária para fazê-lo quebrar.(A figura mostra um gráfico das resistências de diversos materiais junto a suas densidades, ou seja, massa por volume).

    Materiais orgânicos (os que contém Carbono) tais como madeira e polímeros, freqüentemente têm uma densidade pequena e uma pequena resistência. Metais têm uma resistência maior, porém materiais compostos, tais como epoxi, têm a mesma resistência, porém um peso muito menor. É por isso que eles são utilizados na lataria de veículos e em coletes à prova de balas. Neste mesmo gráfico, o Grafeno foge inteiramente aos padrões, apresentando uma densidade de nível médio, mas com uma resistência recorde. Os novos resultados foram relatados na edição da semana passada da revista Science.

    O Dr. Hone diz que suas novas medições servirão para reforçar as teorias formuladas pelos físicos em seus trabalhos. O resultado da corrente sinergia entre os cientistas e os engenheiros pode resultar em materiais ainda mais fortes ainda por descobrir.

    O MUNDO EM CHAMAS.

    Todo verão, centenas de incêndios florestais queimam milhões de acres (nota do tradutor: medida de área com cerca de 4.047 m² ou pouco mais que 0,4 hectares) através dos Estados Unidos. O vento de Santa Ana espalha o fogo através do Sul da Califórnia e os incêndios florestais enchem os céus do Oeste dos EUA com fumaça. A NASA virou seus olhos "high-tech" para os incêndios em um novo website, colocado no ar na semana passada, chamado Fire and Smoke.

    Este site, com suas impressionantes imagens do mundo em chamas, é uma combinação interativa de imagens de satélites da NASA, aeronaves e outras ferramentas de pesquisa. As imagens são tão boas e os incêndios tão difundidos, que a Terra começa a se parecer com algo saido de uma superprodução cienmatográfica de ficção-científica sobre o fim-do-mundo.

    Se pode observar as plumas de fumaça dos incêndios da Califórnia se espalharem por centenas de quilômetros, ou mudar para uma imagem da NASA do Monóxido de Carbono que estes incêndios estão gerando. Há imagens de incêndios na Grécia, queimadas de biomassa na América do Sul e partículas atmosféricas dos incêndios no Alaska. Existe até um link para um site do Centro Espacial Goddard que mostra todos os incêndios dos anos passados em uma globo terrestre giratório.

    APAGUEM AS LUZES PARA OS PÁSSAROS.

    Pássaros, tal com os insetos, são atraídos pela luz à noite e, se eles ficarem desorientados, vão voar em círculos em torno de edifícios altos, freqüentemente acabando por se chocar com os edifícios ou caindo exaustos no chão. Este fenômeno ainda não é bem entendido pelos cientistas, porém um pesquisador no Bell Museum em Minneapolis, em conjunto com o Departamento de Recursos Naturais de Minnesota, está capitaneando um programa para desligar as luzes para proteger pássaros migratórios. Os participantes dos programas que incluem proprietários, administradores e companhias donas de 32 prédios em Minneapolis, St. Paul, Bloomington e Rochester, vão diminuir as luzes dos edifícios durante as estações de migração dos pássaros no outono e na primavera. Programas similares estão sendo realizados em Toronto, New York e Chicago.

    Acrescentar as cidades do Minnesota é importante, diz o ornitologista do Bell Museum Bob Zink, porque elas estão localizadas ao longo da Rota Aérea do Rio Mississippi, uma importante rota de migração para os pássaros.

    Além de diminuir as luzes nas noites nas rotas de migração, os pesquisadores estão também tentando estabelecer por que os pássaros costumam esbarrar mais em alguns edifícios do que em outros. Em Minneapolis, 67 % das mortes de pássaros foram causadas por apenas dois dos arranha-céus da cidade.

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    PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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    Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

    27 julho 2008

    Pantanal e outras áreas úmidas

    Quando o assunto é preservação ambiental, geralmente todos pensam imediatamente na Amazônia. E se esquecem de outra área tão ou mais importante: o Pantanal.

    Nesta sexta feira, 25 de julho, encerrou-se a 8ª INTECOL, Conferência Internacional de Áreas Úmidas, realizada em Cuiabá, sob os auspícios da UFMT e do Centro de Pesquisa do Pantanal. Uma das preocupações dos 28 países participantes é o avanço das fronteiras agrícolas sobre áreas úmidas que vão desde o Pantanal aos manguezais e deltas de rios.

    O evento mereceu destaque no EurekAlert, na notícia "Rising energy, food prices major threats to wetlands as farmers eye new areas for crops" ("Crescentes preços de energia e alimentos são grandes ameaças para as áreas alagadas, na medida em que os agricultores procuram novas áreas de plantio").

    Desta 8ª INTECOL saiu a "Carta de Cuiabá", que é um documento digno de nota.

    Eu que vivi por cinco anos na área do Pantanal (quando servi na Base Fluvial de Ladário, MS) conheço razoavelmente bem a região e sei o quanto ela já sofreu apenas com uma pecuária rudimentar (a atividade, assim chamada, "plantar boi"...) e a caça e pesca desregulamentadas. Na hora em que o tão decantado "agronegócio" resolver avançar sobre a região (como os americanos fizeram com os "Everglades" da Flórida), vai ser mais uma catástrofe ambiental.

    E não dá para confiar muito em um governo (federal) que acha que uma termoelétrica a carvão não vai produzir grandes problemas ambientais (vejam esta matéria do Ciência e Idéias). Muito menos em tipos como o Governador Blairo Maggi...

    Começo a achar que a Isis tem razão quando diz que Desenvolvimento sustentável não existe...

    17 julho 2008

    Mãos à obra contra a apnéia do sono

    Não sei por que até hoje eu não tinha colocado na barra lateral um dos meus sites preferidos. o "Annals of Improbable Research". Como diz o subtítulo: "feito para você ler, rir... e depois pensar".

    A notícia que eu vou traduzir, me chamou a atenção porque eu sofro de apnéia do sono e, caso a notícia estranha se prove de algum fundamento, vale bem a pena prosseguir nos estudos:

    Abordagem tipo "mãos à obra" para os distúrbios de sono nos machos.

    16 de julho de 2008

    Este relatório foi submetido a nós por um professor do MIT que exigiu anonimidade.


    Eu gostaria de relatar uma descoberta feita por minha colega do sexo feminino (aqui identificada como “F”) que trabalha comigo (”M”). Eu sou homem.

    M ronca. Suas enormes e espasmódicas ondas sonoras até mesmo pessoas em outros dormitórios. O ronco é um efeito colateral da apnéia do sono, uma disfunção caracterizada por pausas na respiração de quem dorme.

    M parava de respirar por intervalos de tempo tão grandes que F ficava disposta a chamar uma ambulância. Entre os roncos e o medo de acordar ao lado de um cadáver, F dormia muito pouco.

    Ela tentou chacoalhar M, o que servia apenas para acordá-lo e irritá-lo. Ela tentou fazer cócegas em suas costelas e sovacos, mas de nada adiantou. Os roncos e a apnéia continuavam e o sono permanecia impossível.

    Então, em um momento de inspiração, ela recorreu ao "nexus" de M. Ela fez cócegas em seus testículos. Sucesso! Seguiu-se um suave e abençoado silêncio. O ronco cessou, ou a apnéia do sono desapareceu, vez após outra e sem falhas. F descobriu um tratamento confiável, do tipo "mãos à obra" para o tratamento dos distúrbios do sono dos machos.


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    E pensar que existem tantas senhoras que reclamam tanto dos roncos de seus maridos, como do salutar e agradável hábito de coçar o saco...