30 setembro 2006

Mais sobre Golfinhos e o Dr. Manger.

Artigo do "The Guardian", prosseguindo no tema.

Quem é o tolo?

Ninguém ficou mais ultrajada do que Helen Pidd quando um cientista sul-africano anunciou que os golfinhos são estúpidos. Será que passar um dia com Puck, Flo e Roxanne esclareceria as coisas de um jeito ou do outro?
Helen Pidd
Segunda-feira, 11 de setembro de 2006
Guardian

Quantos peixinhos dourados idosos que você conhece, poderiam executar um passo de dança na água até Kylie? Esta é a questão com a qual venho lutando, no momento em que uma golfinho "nariz-de-garrafa" chamado Puck, com 41 anos de idade, desliza para trás através de sua piscina com 6m de profundidade, com seu corpo ereto, sua cauda fazendo ondas regulares ao rítmo de "Can't Get You Out Of My Head".

Existe algo claramente especial acerca de Puck e não é só o fato de que ela – em termos de golfinhos – deveria estar aposentada há muito tempo. Entretanto, de acordo com observações controversas, feitas no mês passado por um neurocientista sul-africano, Puck e seus pares são menos avançados do que peixinhos dourados.

Para qualquer um que tenha crescido grudado a Flipper na televisão (o tema do filme, em inglês, dizia, alegremente "ninguém que você conheça/ é mais esperto do que ele), essa é uma afirmação difícil de engolir. Mas, algumas vezes em sua vida, você tem que aceitar que dogmas que você longamente acarinhou – seja acreditar em Papai Noel, fórmulas de juventude eterna, amor eterno ou qualquer outra coisa – podem ter sido apenas uma enorme mentira. Então eu voltei ao delfinário no Boudewijn Seapark em Bruges, para investigar. Com o auxílio de Puck, Roxanne, Flo, Yolta e outros mamíferos supostamente debilóides, eu estava determinada a encontrar a verdade. (Por que Bélgica e não Grã-Bretanha? Desde 1993 é ilegal manter golfinhos cativos neste país).

Os treinadores em Boudewijn, junto com muitos do mundo dos que amam os golfinhos, estavam profundamente indiferentes às afirmações de Paul Manger, um professor de neurociência de 40 anos, na Universidade de Witwatersrand em Johannesburg. Em um volumoso artigo científico, publicado anteriormente este ano na Biological Reviews da Cambridge Philosophical Society, Manger apresentou a hipótese de que «não existe base neurológical para as freqüentemente afirmadas altas capacidades intelectuais dos cetáceos». Em outras palavras, a despeito de seus enormes cérebros, os cetáceos (baleias, golfinhos e botos), são profundamente burros.

Esta afirmativa bateu de frente com quase tudo o que foi publicado sobre os mamíferos, recentemente, e - na verdade - sempre. O que explica porque as pessoas são tão sensíveis acerca disto. «Ninguém com que eu tenha falado no campo científico leva as afirmações de Manger neste paper a sério», responde atravessado a expert Lori Marino, conferencista sênior em neurociência e biologia comportamental na Universidade Emory, Atlanta.

O golfinho deve, em parte, sua reputação como uma "caixa para um cérebro" por causa de algo que os cientistas gostam de complicar, chamando de quociente de encefalização, que diz que a quantidade relativa de cérebro por unidade de tamanho de corpo, pode ser usada como um indício direto da inteligência de uma espécie. Em português claro, isso significa: cérebro grande + corpo não muito grande = animal inteligente. Os seres humanos modernos possuem o mais alto grau de encefalização entre os mamíferos, já que nossos cérebros são sete vezes maiores do que seria de se esperar pelo tamanho de nosso corpo, mas os golfinhos não ficam muito atrás.

A anedota mais antiga que sustenta a suposta super-inteligência dos cetáceos é, provavelmente, a lenda de Arion, o maior tocador de lira de seu tempo (circa 600 AC). Quando atirado pela amurada de seu navio por vilões, esse cara – assim diz a lenda – foi salvo por um golfinho que foi atraído pela singularidade de seu canto agudo.

Mas existem evidências mais recentes. Em maio - por exemplo - pesquisadores da Universidade de St Andrews relataram que golfinhos "nariz-de-garrafa" empregam "assovios-assinaturas" para se identificarem entre si, da mesma forma que os humanos usam nomes. Um outro grupo que estudou golfinhos na Austrália ocidental em 2005, notou que alguns golfinhos usavam ferramentas – pedaços de esponja do mar enrolados e fixados a seus narizes, para impedir que seus narizes ficassem dolorosamente arranhados contra o coral, enquanto pesacavam. Aí aparecem os golfinhos Irrawaddy no rio Ayeyarwady em Mianmar (antiga Burma) que ajudam os pescadores locais a encurralar os peixes para suas redes.

Talvez o melhor de tudo: um grupo de pesquisadores supostamente ensinaram recentemente golfinhos a "cantar" o tema musical de "Batman". Eu fiquei particularmente cética a respeito desta última, até que cheguei à Bélgica. Em uma das atrações principais do espetáculo ao vivo (duas vezes ao dia) em Boudewijn, uma garota sortuda da audiência é sorteada na audiência e ensinada a como "reger" os golfinhos em um espetáculo particularmente delicioso. Ela o faz girando ambas as mãos como se estivesse abrindo potes, o que parece fazer com que os golfinhos mantenham o rítmo enquanto "cantam" (ok! guincham).

Este giro das mãos não é a única linguagem simbólica que os mamíferos parecem compreender. Com os necessários gestos dos pulsos dos treinadores, eles abrem as bocas, como se fossem rir, balançam a cabeça de um lado para o outro (meu favorito pessoal, junto com a parte que eles jogam futebol com suas caudas), sopram bolhas de ar parecidas com anéis de fumaça na água. Manger diria que isto é um indicativo de condicionamento estímulo-resposta – isto é, pode ser ensinado por um bom treinador e não é, de modo algum, um sinal de comportamento altamente inteligente. Embora isso possa ser verdade – os golfinhos certamente são encorajados pela promessa de comida tirada de baldes brilhantemente coloridos, bem como os apitos de alta freqüência que os treinadores usam em seus pescoços – não há como negar uma coisa: é realmente muito, muito legal.

Mas voltemos às novas afirmações. Na grande possibilidade que você não se interesse em chafurdar através das 46 páginas de Manger, aqui está uma sinopse para idiotas dos pontos chave. Golfinhos têm cérebros maiores do que a média – alguns com mais de 8 kg – mas isto não tem coisa alguma a ver com o brilhantismo neurológico de um Stephen Hawking. Pelo contrário, o cérebro do golfinho não é feito para processamento de informações complexas, mas é projetado mais com a finalidade de contrabalançar as mudanças térmicas a que um mamífero de sangue quente está sujeito em um mundo de águas frias. E, finalmente, o comentário que realmente acaba com o lobby a favor dos golfinhos: embora existam muitos indícios anedóticos que apoiem a idéia de que os golfinhos são excepcionalmente inteligentes, ninguém comprovou isso conclusivamente.

«Se você põe um animal em uma caixa, mesmo um rato de laboratório ou uma cobaia, e a primeira coisa que ele quer fazer é sair de dentro dela»., diz Manger em entrevistas para divulgar seu artigo. «Se você nãp puser uma tampa em cima do aquário, um peixinho dourado eventualmente vai pular para fora, para aumentar o ambiente em que vive. Mas um golfinho jamais o fará».

Em fico pensando nisso, enquanto fico sentada nos lugares vazios do delfinário, após o espetáculo ao vivo, e dois golfinhos nadam diligentemente em uma pequena piscina de espera, enquanto seus colegas no tanque principal praticam duplos mortais com o treinador. Eu sei que o par selecionado pode saltar a distância necessária: eu os vi fazer isso no espetáculo, mais cedo. Mas, tal como crianças obedientes, eles só entram na piscina principal quando as portas subaquáticas são abertas.

Então, a observação de Manger pode ser correta, mas será que ela realmente nos diz qualquer coisa útil? Não, de acordo com Lori Marino, conferencista sênior em neurociência e biologia comportamental na Universidade Emory. Ela estudou golfinhos por 15 anos e é uma das maiores críticas de Manger. «Esse estudo com peixinhos dourados de que ele está falando, nunca foi publicado», diz ela. «Ele foi apresentado em uma reunião em 2000 e nunca passou pela "revisão-por-pares", e eu estava lá, e haviam tantas incorreções nele que eu nem sei por onde começar».

Marino afirma que, embora seja verdade que os golfinhos tenham problemas em saltar sobre redes de pesca de atum, por exemplo, isso não diz nada sobre sua falta de inteligência. «É a mesma coisa que humanos presos em um edifício em chamas: eles entram em pânico. Golfinhos, tal como humanos, ficam estressados com muita facilidade – na verdade, eles podem morrer de estresse – e, quando entram em pânico, eles não conseguem pensar direito».

Mas, de acordo com Manger, Marino e seus colegas com dúvidas, são tão crédulos que nem conseguem considerar uma nova afirmação arrojada como a sua. «As pessoas simplesmente não querem acreditar nisso», disse Manger em uma entrevista ao Guardian. «É uma reação como um reflexo de uma pancada no joelho. Eu acho que é "engraçadinho" que as pessoas fiquem tão perturbadas com isso».

Nem todos enxergam esse lado "engraçadinho". Golfinhos, com seus alegres "sorrisos" e imressionante repertório de truques e emoções, são universalmente amados – cerca de 77.000 pessoas aparentemente pertencem à Sociedade pela Conservação das Baleias e Golfinhos em todo o mundo – e desprezá-las é heresia. Manger foi até acusado de levar os golfinhos a uma extinção prematura. Um expert em golfinhos sul-africano, Nan Rice, que trabalhou por 35 anos com o Grupo de Ação e Proteção aos Golfinhos em Cape Town, diz que a pesquisa de Manger pode levar à exploração dos animais – e sua possível extinção. «Se você diz às pessoas que os golfinhos não são inteligentes, elas começarão a explorá-los e não restarão muitos deles».

Deixando de lado se os comentários de Manger são perigosos ou não, um grande problema na discussão da neurologia dos golfinhos é o fato de que, por causa das leis que protegem os mamíferos marinhos, nenhuma experiência invasiva do cérebro dos cetáceos foi feita. Diferentemente de - por exemplo - ratos, você não pode simplesmente captuara um golfinho e escavucar seu cérebro e fazer experiências com eles vivos. Similarmente, por questões de praticidade, bem como de ética, a grande maioria das experiências com golfinhos foi realizada com golfinhos nascidos em cativeiro. E quem sabe o quão representativos, esses animais que nunca viram águas abertas, podem ser, realmente, da espécie como um todo?

O outro principal problema é definir o que nós chamamos de inteligência. Não existe um processo confiável, universalmente aceito, para medí-la em seres humanos. Um teste Mensa? Esses testes de múltipla escolha nas revistas femininas?

Não obstante, ao contrário das afirmações de Manger, existem verdadeiramente um grande número de experiências que parecem indicar que os glfinhos não são apenas criaturas bonitinhas. Um dos mais interessantes diz respeito ao auto-reconhecimento e vem de Diana Reiss da Universidade de Columbia, em parceria com Marino. Em um artigo de 2001, elas mostraram que os golfinhos podem se reconhecer em um espelho – uma habilidade que se pensava ser apenas de humanos e macacos. As cientistas expuseram dois golfinhos "nariz-de-garrafa" a superfícies refletivas, após marcar os golfinhos com tinta preta, aplicando um corante a base de água ou não marcando-os. A equipe previa que, se os golfinhos – que tinham experiências anteriores com espelhos – reconhecessem seus reflexos, eles mostrariam novas respostas sociais; eles levariam mais tempo na frente do espelho quando marcados; e eles iriram mais rápido para os espelhos quando marcados ou falsamente marcados. A experiência revelou que todas as previsões estavam corretas. Além disso, os animais escolhiam a melhor superfície refletiva para ver suas marcas.

«Eu vi isso ser feito», diz Johan Cottyn, treinador chefe em Boudewijn. Seu colega, Piet de Laender, aprova entusiasticamente. «Golfinhos percebem que estão olhando para si próprios. Isso não funciona com cães. Digamos que você ponha uma marca na cabeça de um cachorro e o ponha na frente4 de um espelho; eles pensarão "oh, olha lá um cachorro com uma mancha na cabeça; vou lá dizer olá". Um golfinho ficariam e inspecionaria sua nova aparência». Isto não nos diz apenas que os golfinhos são vaidosos: istomostra que eles têm consciência de si próprios como indivíduos, o que requer um alto nível de habilidade cognitiva.

Tanto quanto apontar a capacidade dos golfinhos em aprender rapidamente e entender linguagens complicadas – tais como comandos (o que também é verdadeiro para os grandes primatas), Cottyn ficou mais impressionado ainda com a facilidade que ele e sua equipe tiveram em fazer com que os golfinhos aceitassem intervenções médicas sem fazer confusão. «Um deles tinha um problema nos rins, o que significava que tinha que tomar uma injeçãqo diária. Embora fosse realmente doloroso para ela, porque a agulha tinha que atravessar sua camada de gordura, ela parecia entender que, para sobreviver, ela tinha que levar a picada, e se apresentava para isso automaticamente todos os dias».

Cottyn fala de como os golfinhos de Boudewijn podem se comunicar com os humanos aém daquilo que tenham sido explicitamente ensinados. «Uma vez, quando uma das golfinhos estava parindo, o bebe ficou preso a meio caminho. Nós viemos ver o que estava acontecendo e a mãe esfregou seu ventre para nos mostrar onde estava o problema». diz ele.

Numerosos estudos também lançaram luz sobre a racionalidade dos golfinhos, alto grau de sociabilidade, percepção social e funções cognitivas.

Mas de Laender não tem tempo param todo este debate e especialmente para qualquer um quem tente antropomorfizar os golfinhos. «Eles não são humanos e tentar julgá-los pelos padrões humanos de inteligência é inútil», diz ele. «No fim das contas é pura perda de tempo tentar dizer definitivamente se golfinhos são inteligentes ou não, e qualquer um que disser que tem a resposta está falando babaquice».

Guardian Unlimited © Guardian Newspapers Limited 2006


Bom... Já abrindo uma concessão ao Caio de Gaia, este artigo é muito mais emotivamente do que cientificamente carregado. E tem tanta relevância para uma real avaliação do trabalho do Dr. Manger, quanto a reportagem que eu abordei inicialmente.

Apenas apresenta uma série de outros pesquisadores que acham que o cartapácio do Dr. Manger não tem o significado revolucionário que ele próprio se atribui.

Por falar nisso, meu cachorro sabia muito bem se reconhecer em um espelho. E ficava reparando quando se colocava uma fita em seu "topete". Portanto, o Sr. de Laender falou "bullshit", também. Talvez ele não conheça cachorros tão bem como golfinhos.

28 setembro 2006

Physics News Update n° 794

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 794, de 26 de setembro de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update

PULSAÇÕES ACÚSTICAS HIPERSÔNICAS NAS FREQÜÊNCIAS DE 200 GHz, foram produzidas no mesmo tipo de cavidade de ressonância de semicondutores em múltiplas camadas usado em fotônica. Físicos do Insititute des Nanosciences (França) e nos Centro Atomico de Bariloche e no Instituto Balseiro (Argentina) geraram pulsos de som de alta freqüência em um material sólido feito de camadas GaAs (Arseniato de Gálio) e AlAs (Arseniato de Alumínio). Pode-se descrever o som, excitado por um laser de femtosegundo, como sendo um curto pulso de ondas ou partículas equivalentes a fónons. sendo excitado pela pulsação através da pilha de camadas. Esses fónons são refletidos em ambas as extremidades do dispositivo, chamado de nanocavidade, por outras camadas com uma impedânica acústica muito diferente, que agem como espelhos. A impedância acústica é o análogo acústico do índice de refração para a luz. Bernard Jusserand, diz que ele e seus colegas esperam alcançar a escala acústica dos Terahertz. O comprimento de onda para estes "sons" é de somente alguns nanômetros de comprimento. Eles acreditam que um novo ramo, a nanofonia, foi inaugurado e que as propriedades acústicas dos nanodispositivos semicondutores vão se tornar mais proeminentes. Fónons da faixa de THz e, mais especificamente as relatadas nanocavidades, podem, por exemplo, ser usados para modular o fluxo de cargas ou luz em altas freqüências e pequenos espaços. O som na faixa de THz pode, também, participar no desenvolvimento de poderosos "lasers acústicos" ou em novas formas de tomografia para fazer imagens do interior de sólidos opacos (Huynh et al., Physical Review Letters, 15 de setembro de 2006)

UNIVERSO ELIPSÓIDE. Uma nova interpretação dos dados registrados pela Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) sugere que o universo – ao menos a sua parte observável – não é esfericamente simétrica, mas tem uma forma mais parecida com um elipsóide. Os dados da WMAP serviram para confirmar alguns dos mais importântes parâmetros da ciência, tais como a idade do universo desde o Big Bang (13,7 bilhões de anos), a época quando os primeiros átomos foram formados (380.000 anos depois do Big Bang) e todas as frações de toda a energia disponível sob as formas de matéria comum, matéria escura e energia escura. Uma estranheza remanescente dos resultados da WMAP, entretanto, se relaciona com a maneira pela qual as partes do céu contribuem para o quadro geral das microondas cósmicas; pedaços do céu menores do que um grau de arco, da ordem de um grau ou de dezenas de graus, parecem estar contribuindo com a radiação nos níveis esperados. Somente na escala mais ampla possível, a da ordem de todo o próprio céu (termo técninco: o momento quadripolo) parecfe estar contibuindo com menos do que devia. Agora, Leonardo Campanelli da Universidade de Ferrara e seus colegas Paolo Cea e Luigi Tedesco na Universitdade de Bari (ambas na Itália), estudaram o que acontece com a anomalia quadripolar se for feita a suposição de que o envoltório de onde vêm as microondas que atingem a Terra, é um elipsóide e não uma esfera. Este envoltório é chamado de "superfície do último espalhamento", uma vez que corresponde ao momento da história quando os fótons cessaram, em geral, de se espalhar das partículas carregadas, assim que tudo se tornou suficientemente "frio" para que muitas das partículas se agregassem em átomos neutros. Se o envoltório de microondas é um elipsóide com uma excentricidade (não-esfericidade) de cerca de 1%, então o quadrípolo do WMAP é exatamente como deveria ser.
Esta é a primeira vez que é sugerido um universo não-esférico, mas esta é a primeira vez que a idéia é aplicada aos dados "no estado da arte" do WMAP. Historicamente, um universo elipsóide seria um lindo paralelo à descoberta de Johannes Kepler de que as órbitas planetárias eram elipses e não círculos. Este reajustamento no pensamento astronômico foi tão revolucionário quanto o modelo heliocêntrico de Copérnico, e auxiliou Newton e outros a chegar à idéia da lei do inverso do quadrado [da distância] para a atração gravitacional. O que pode ter tornado o universo, como um todo, a ser elipsoidal? Campanelli, Cea e Tedesco dizem que um um campo magnético uniforme pervasivo ao cosmo, ou um defeito na tessitura do espaço-tempo, podem ter causado uma excentricidade nã-zero.(Campanelli, Cea, Tedesco, Physical Review Letters, 29 de setembro de 2006 )

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

25 setembro 2006

Em qual país é esta eleição?

Esse é título do artigo, publicado originalmente no "Estadão", reproduzido no "Jornal da Ciência" da SBPC. Dou um destaque aos parágrafos introdutórios do artigo:
É inquietante observar que, a poucos dias das eleições para presidente da República, governos dos Estados, parlamentos federais e estaduais, as mal chamadas questões ambientais - as que dizem respeito ao meio físico, concreto, em que vivemos - continuam, como nos pleitos anteriores, tão distantes das discussões que se travam que se pode, no final das contas,perguntar: mas em que país se disputam essas eleições? Será em Plutão, que acaba de ser rebaixado, nem planeta mais é?

Muitas vezes tem sido citado aqui o pensamento do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, segundo quem os problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie humana são as mudanças climáticas em curso e a insustentabilidade dos padrões mundiais de produção e consumo. Se é assim, essas questões deveriam estar no centro das discussões sobre o futuro do País. Mas não estão.


E o que será que surpreende o Sr. Washington Novais? As questões ambientais deveriam estar no cerne dos Programas de Governo dos candidatos, mas dificilmente, serão preocupações imediatas para os eleitores em 1º de outubro.

Questões um pouquinho mais imediatas, tais como desemprego, falência da segurança pública, escândalos de malversação dos parcos recursos públicos, certamente serão preocupações mais agudas para os eleitores.

A preocupação é em eleger um governo com um mínimo de competência para gerir questões básicas de administração pública. Se conseguirmos este mínimo, poderemos passar a cobrar preocupações de nível mais elevado, tais como a conservação do meio-ambiente e a exploração racional dos recursos naturais.

Em um país que há gente morrendo de fome, morrendo na porta dos hospitais públicos, saindo pela porta da escola tão ignorante quanto quando entrou, morrendo estupidamente com balas perdidas, a conservação do meio-abiente até que está razoavelmente bem encaminhada, com a legislação já existente.

Quem parece estar saindo da órbita de Plutão e se dirigindo à Nuvem de Oort é o Sr. Washington Novais. Uma coisa eu posso responder à pergunta dele: certamente não é nos EUA!...

24 setembro 2006

O milagre da ressurreição

Eu ia traduzir uma notícia do The Times intitulada "Death squad policemen 'killed hundreds' in revenge attacks" (Esquadrões da Morte de Policiais "mataram centenas" em ataques de vingança"), acerca dos supostos "inocentes" que a polícia matou quando o PCC lançou sua onda de terror em SP. Mas se um repórter inglês tem a cara-de-pau de falar de polícia assassina (ou já esqueceram Jean Charles de Menezes?), que mata inocentes por histeria, e um jornal que se pretende respeitável publica isto na primeira página da edição de domingo, isso só exibe bem o nível de burrice e provincianismo ao qual chegaram os britânicos. Quem quizer, leia o original: o link está aí em cima.

Prefiro o artigo do The Observer que trata de uma nova descoberta sobre células tronco. Lá vai:

Cientistas transformam células mortas em tecidos vivos

Descoberta pode significar novos tratamentos para os males de Alzheimer e Parkinson mas, em vez de diminuir a oposição, é mais provável que levante novos dilemas éticos

Antony Barnett e Robin McKie
Domingo 24 de setembro de 2006
The Observer

Cientistas que trabalham em um laboratório britânico conseguiram uma das realizações mais controversiais jamais obtidas no campo da ciência das células-tronco, tomando células de embriões mortos e transformando-as em tecidos vivos.
A técnica pode ser usada em breve para criar tratamentos para pacientes que sofrem de doenças tais como os males de Alzheimer e de Parkinson. dizem os pesquisadores. A realização foi saudada por vários cientistas e experts em ética, porque poderia desbordar a oposição às experiências com células-tronco.
«Isso deveria evitar a oposição às experiências com células-tronco porque não será mais necessário usar embriões vivos em todas as experiências», disse o Professor Miodrag Stojkovic, o pesquisador que realizou as experiências no Centro de Biologia de Células-Tronco na Universidade de Newcastle, no ano passado.
Mas outros experts avisaram na noite passada que o uso de células de embriões mortos pode levar a mais dilemas éticos, não menos. «Como saber se um embrião está morto?», disse Eric Meslin, diretor do Centro de Bio-ética da Universidade de Indiana.
Células-tronco extraídas de embriões são valorizadas pelos cientistas porque são capazes de se transformar em qualquer tipo de célula ou tecido no corpo. Ao menos elas poderiam ser usadas no tratamento de doenças cardíacas e diabetes e outras doenças, argumentam os pesquisadores.
Mas a tecnologia envolve a criação e a destruição de embriões vivos para a extração das células-tronco. Usualmente, esses embriões são criados em clínicas de fertilidade, quando casais recorrem a elas para fertilização in vitro.
Entretanto, o trabalho de Stojkovic sugere que o uso de embriões vivos pode ser evitado; em lugar disso, os cientistas odem usar aqueles dos embriões que morreram naturalmente, durante o processo de fertilização in vitro. Isso significaria, também, que muitos embriões a mais ficariam disponíveis para a pesquisa e o eventual tratamento das doenças, acelerando os avanços na ciência de ponta.
As experiências de Stojkovic foram realizadas quando ele esteve trabalhando para o Centro de Biologia de Células-Tronco em Newcastle, no ano passado. Em um paper, publicado na semana passada no website do jornal Stem Cells, Stojkovic revela que ele e seus colegas usaram 13 embriões, criados para fertilização in vitro. Todos os 13 pararam de se desenvolver poucos dias após a concepção. «Eles estavam em um estágio muito inicial de desenvolvimento», disse Stojkovic, atualmente chefe da Sintocell, um centro de pesquisas médicas na Sérvia.
A equipe esperou por 24 horas para verificar que os embriões não estavam mais se dividindo, antes de começar suas experiências. «Todos eles estavam destinados a serem embriões gorados», disse Sotjkovic. «Em outras palavras, eles estavam mortos. [Porém] eles tinham a capacidade de se desenvolver em qualquer tipo diferente de célula que você pensar, inclusive células de rim, de fígado e de pele».
«Eu acho que isso é um desenvolvimento muito importante, embora células-tronco criadas dessa forma, não devessem ser encaradas como uma alternativa às criadas a partir de embriôes vivos. Elas deveriam ser vistas como uma fonte alternativa».
Nesta última noite os militantes pelo "direito-à-vida" pediram cautela. «Em teoria, se um embrião for obtido eticamente e uma célula-tronco pode ser obtida após esse embrião ter morrido naturalmente, então isso removerá todas as objeções, porque não haverá a destruição de um organismo vivo», disse Josephine Quintavalle, da "Comentários sobre Ética Reprodutiva", um grupo de ativistas católicos. «Nós não temos objeções ao uso de tecidos e órgãos doados em outras áreas da medicina».
Mas Quintavalle alertou que o caso para o uso de células de embriões mortos não foi provado. «A questão crítica é como se sabe se um embrião está morto ou não».
George Daley, do Instituto de Células-Tronco de Harvard, disse que a abordagem do paper levanta preocupações científicas. «Se havia algo errado com o embrião, que fez ele gorar, não haveria algo errado com essas células? Nós não sabemos».
Entretanto, o trabalho de Stojkovic recebeu forte apoio de Donald Landry, no Centro Médico da Univesidade de Colúmbia em Nova York, que o chamou de uma importante contribuição para o campo. «Não importa o como você se sinta quanto à "pessoalidade" de embriões, se o embrião estiver morto, a questão da "pessoalidade" está resolvida», disse Landry.
«Isto, então, reduz a ética da geração de células-tronco de embriões humanos à ética de - por exemplo- doação de órgãos. Então, agora você estará dizendo, na verdade: "Podemos retirar células vivas de embriões mortos da mesma forma que tiramos órgãos vivos de pacientes mortos?»


Eu vou acrescentar que mesmo a maioria dos embriões gerados para fertilização in vitromesmo aqueles que não morrem – acabam sendo "descartados". Ou seja, morrem, sem que pessoa alguma se proveite disso, sem que uma "personalidade" venha a habitar aquele "corpo em perspectiva".

Eu duvido e faço pouco de que histéricos defensores do "direito-à-vida" como essa tal Quintavalle pensem da mesma forma ao dar de cara com uma barata... Mas a gente sempre pode esperar o embrião apodrecer e não servir para mais nada, para aplacar os pruridos éticos de Quintavalle, Meslin, et al. Enquanto isso, os pacientes com Alzheimer e Parkinson esperam esses idiotas morram, junto com suas objeções (e, se existe Justiça Divina, de um desses males degenerativos...)

Da mesma forma que os vegetarianos se esquecem que plantas também são seres vivos. Mas a capacidade humana de ser hipócrita consigo mesmo parece inesgotável...

20 setembro 2006

Physics News Update nº 793


O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 793, de 20 de setembro de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update

FURACÕES MAIS FORTES LIGADOS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Um novo estudo dos dados climáticos sugere que o aquecimento global está fazendo com que o Oceano Atlântico gere furacões mais mortíferos. Os furacões se tornaram mais fortes nas recentes décadas, aparentemente em correlação com o aumento das temperaturas atmosféricas. Na verdade, James Elsner da Universidade do Estado da Flórida, em Tallahassee, relata no Geophysical Research Letters que existe, de fato, uma clara relação de causa e efeito. Menos de três semanas depois do Furacão Katrina, um estudo publicado na Science mostrou que, embora o número de ciclones tropicais não tenha aumentado entre 1970 e 2004, sua intensidade subiu: furacões das categorias 4 e 5 se tornaram 50% mais freqüentes na segunda metade deste período do que na primeira ((Webster et al., Science, 16 de setembro de 2005, http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/309/5742/1844 ).
O mesmo período viu uma elevação nas temperaturas atmosféricas globais – largamente atribuídas à acumulação de gases de efeito estufa, tais como o CO2 – e às temperaturas da superfície do mar no Atlântico, onde nascem os furacões. Alguns climatologistas acreditam que o aquecimento (atmosférico) global está causando a elevação da temperatura dos oceanos e que essas temperaturas maiores da superfície dos oceanos podem, por sua vez, aumentar a força dos furacões. Porém outros atribuiram a crescente fúria da natureza a um ciclo de longa duração de flutuações na temperatura dos mares, chamada Oscilação Multidecádica do Atlântico. As opiniões também variaram acerca de se uma atmosfera mais quente pode tornar os oceanos mais quentes, e sobre a extensão na qual a temperatura dos mares contribui para a intensidade dos furacões. Elsner usou um elaborado processo estatístico (criado pelo Prêmio Nobel de Economia, Clive Granger) para responder à primeira dessas duas questões. Ele examinou os picos da temeperatura atmosférica global (utilizando dados coletados por satélites e bases no solo pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e os comparou às mudanças sazonais na temepratura média da superfície do mar para toda a parte do Atlântico no Hemisfério Norte com base nos dados da Administração Nacional da Atmosfera e Oceanos). Sua análise demonstrou que os picos na temperatura atmosférica costumam aparecer logo antes dos picos de temperatura oceânica na temporada de furacões, o que sugere que os primeiros causam os segundos. O aquecimento global pode estar mesmo causando furacões mais fortes (Geophysical Research Letters, 23 de agosto de 2006)

EFEITO DE HALL QUÂNTICO (SPIN), À TEMPERATURA AMBIENTE. Uma nova experiência realizada por David Awschalom e seus colegas na Universidade da Califórinia (Santa Barbara), com a colaboração da Universidade Penn State, dispara um feixe de elétrons através uma amostra de ZnSe (Seleneto de Zinco), um semicondutor não magnético, e segrega os elétrons de uma forma pela qual aqueles cujos spins apontam para cima são desviados para a esquerda, enquanto os com spin que aponta para baixo são defletidos para a direita. Eles também demonstraram que podiam polarizar os elétrons (orientar seus spins) usando apenas campos elétricos a temperatura ambiente, também, uma grande vantagem para os projetados circuitos spintrônicos que formariam uma nova classe de eletrônica, na qual tanto a carga como o spin forneceriam os meios para armazenar e processar dados. Estranhamente, os novos resultados de Awschalom – que mostram uma corrente de spin até a temperatura ambiente – não foi realizada com GaAs (Arseniato de Gálio), no qual a maioria das observações do efeito de Hall Quântico tem sido observado, mas em ZnSe, que não deveria ser tão eficiente em polarizar eletricamente os spins. Awschalom diz que a evidência que o efeito de Hall Quântico é forte, até em um material onde deveria ser fraco, vai aumentar ainda mais as controvérsias que circulam sobre o efeito de Hall Quântico. A nova experiência é um equivalente, em termos de spin, ao efeito de Hall convencional, conhecido desde o século XIX. No velho efeito de Hall, os elétrons em movimento ao longo de um condutor submetido à força de um campo elétrico aplicado, caso expostos a um campo magnético verticalmente orientado, deveriam ser ligeiramente defletidos para um dos lados do condutor. Dois anos atrás, os físicos mostraram que um tipo de efeito de Hall poderia ser usado para defletir spins (para ser mais exato, elétrons polarizados com spin para cima ou para baixo), de forma tal que, mesmo quando não ocorresse um acúmulo de carga elétrica na extremidade do condutor, ocorreria um acúmulo de spins (ver Physics Today, Fevereiro de 2005). Em outra experiência recente Awschalom e seus colegas mostraram que os spins não somente se acumulariam; eles poderiam ser enviados por um condutor e constituir uma corrente polarizada, onde seriam para um circuito de transistores spintrônicos o mesmo que uma corrente comum é para a eletrônica normal. (Dois artigos na Physical Review Letters: Sih et al., na edição de 1 de setembro e Stern et al. na de 22 de setembro de 2006)

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

19 setembro 2006

Internet, Academia e Ética


Minha abordagem inicial sobre o tema foi - necessariamente - superficial. Afinal, "não vá o sapateiro além das sandálias". Eu não sou acadêmico, nem cientista. Nesta "Roda", eu represento o leigo que quer aprender. O curioso que é bombardeado por informações diversas, cuja qualidade não sabe avaliar. Em uma palavra: o ignorante.

Só que "ignorante" não quer dizer "tolo". "Ignorante" é aquele que não sabe, porque não aprendeu (ou porque lhe ensinaram errado). A "ignorância" é mal curável. Já a desonestidade, a arrogância e a tolice, não são.

A Internet é uma formidável ferramenta para o rápido intercâmbio de idéias, para obtenção de dados necessários a uma pesquisa, para a troca de informações e discussão de temas. Infelizmente, certas idéias ficariam melhor restritas, os dados podem ser levianamente usados, certas informações são incovenientes e certos temas não deveriam sequer ser abordados.

Fazer o que? Voltar à Idade Média e restringir o conhecimento a uns poucos "escolhidos"? E qual será o critério para a seleção desses "escolhidos"?

O Daniel criticou o "moto" dos defensores do livre porte de armas nos EUA (National Rifle Association, se não me engano), mas é uma verdade. "Armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas". O mesmo pode ser dito de automóveis. Aliás, qualquer coisa pode ser bem ou mal utilizada (por má-fé, imperícia, imprudência ou negligência).

Mas não deixa de ser sintomático que as Ditaduras escancaradas que ainda existem neste mundo sejam os maiores opositores da Internet. Isso torna o pesadelo de "1984" de Orwell impraticável, porque o "Big Brother" não controla mais a "verdade". A opinião pública não é mais necessariamente "a opinião que se publica".

Eu freqüentemente praguejo que "Graham Bell" deveria ter inventado a torradeira, porque o telefone é uma fonte de incríveis aporrinhações, principalmente depois que inventaram a praga do "telemaketing".

Orkuts, MSNs, Paltalks e coisas assim são - por si só - uma ferramenta de grande utilidade. Não reside nelas a culpa em serem mal utilizadas. A futilidade das pessoas e a preocupação de "espertinhos" (como o que Kinismós menciona) de se mostrarem "mais matreiros" que os "otários comuns", não servem como desculpa para condenar a Internet, nem na Academia, nem em local algum.

"Abusus non tolit usus!" E, se a maior parte das pessoas que tem acesso à Net o faz para propósitos levianos, maldosos ou simplesmente imbecís, o problema está nessas pessoas.

Da mesma forma que o prelo de Gutenberg revolucionou o mundo, permitindo que o saber se popularizasse, a Internet está fazendo desabar as fronteiras políticas, permitindo que a informação percole todas as camadas da sociedade.

Ainda é muito cedo para se emitir juizos sobre seus efeitos globais. Da mesma forma que a palavra impressa pôs fim à Idade das Trevas, também permitiu a divulgação de "Mein Kampf".

Os malucos e megalômanos (como eu) são um preço a pagar. Só que a liberdade não tem preço que possa ser estimado como excessivo.


16 setembro 2006

Roda de Ciência: Internet na Academia


Considerando-se que eu nasci na metade do século passado (no tempo em que, para se fazer uma ligação telefônica entre o Rio de Janeiro e Niterói, se passava um bom tempo esperando a telefonista completar a ligação) e que o assunto momentoso da scif-i da época era a humanidade sendo dominada pelos "cérebros eletrônicos", o assunto para mim tem um sabor nostálgico.

Eu ainda me lembro do sentimento de "maravilhoso" que me ocorreu, ao visitar o CNEN e descobrir que a entidade tinha acesso aos Bancos de Teses (ainda em processo de montagem, em âmbito mundial) e perceber o potencial de disseminação do saber: o acesso instantâneo a todas as fontes de referência!

Eu ainda não tinha um computador pessoal, mas já me maravilhava com a simples possibilidade da existência da "Information Highway" (como o governo americano tentou batizar a Internet). A "Aldeia Global", prevista por MacLuhan, parecia cada vez mais real.

Para quem dependia do "snail mail" (também conhecido como "Correio") para se corresponder com parentes e amigos distantes, tudo parecia um sonho...

Só que, como tudo no mundo, a Internet acabou por apresentar um lado positivo e um negativo. Não vou entrar no mérito da quantidade de cretinices e falsas informações, lixo, "spam", virus e outras chatices menos votadas, que existem. Tudo isso é um pequeno preço a pagar pelos ArXives e outras facilidades.

Mas uma das primeiras coisas que eu aprendi, ao ingressar no "mundo cibernético", foi que os computadores tinham uma característica semelhante aos automóveis: a maior parte dos defeitos se originavam no "burrinho" (a peça que fica entre o assento e o volante...) E que um dos piores defeitos era a possibilidade do anonimato e da falsa identidade. Basta ver quanta idiotice e desinformação circula por aí (NB: "desinformação" é um jargão militar. Significa uma informação deliberadamente falsa ou meia-verdade distorcida para esconder uma realidade inconveniente).

Também não vou entrar no mérito das teses e pesquisas feitas com "copy & paste". O degas aqui já faturou muito $$$ prestando "assessoria" para montagem de teses e monografias para incompetentes. Isso é a segunda profissão mais antiga do mundo...

Eu acabo de ler o livro "O Senhor deve estar brincando, Sr. Feynman" e, guardadas as devidas proporções, é gratificante perceber que um físico com Prêmio Nobel fez constatações muito parecidas com as minhas. Mas isto vai ser assunto para outros artigos do "Chi vó, non pó".

Eu só quero deixar uma "agulhada" final: por que será que os Acadêmicos só se importam com os efeitos da Internet na Academia? Até agora, eu não vi pessoa alguma se referindo ao que a, tão propalada, "Inclusão Digital" pode trazer de bom ou mau ao ensino fundamental e médio...

Gente!... A ciência tem que sair da Torre de Marfim, senão os fundamentalistas religiosos vão ganhar!... E teremos outra "Idade Média", combinada com o pesadelo de "1984"...

Por favor enderece seus comentários para aqui

13 setembro 2006

Physics News Update nº 792


O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 792, de 13 de setembro de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update

ACELERAÇÃO DE PARTÍCULAS POR EMISSÃO ESTIMULADA DE RADIAÇÃO (PARTICLE ACCELERATION BY STIMULATED EMISSION OF RADIATION, ou, simplesmente PASER), uma espécie de similar com partículas do processo laser, foi demonstrado, pela primeira vez, por uma equipe de físicos do Instituto de Tecnologia Technion-Israel, usando as instalações do Laboratório Nacional de Brookhaven. Em um laser comum, os fótons que atravessam um meio ativo (um corpo de átomos excitados), estimulam os átomos, através de colisões, a liberar sua energia na forma de mais fótons emitidos; este processo coerente se acumula em si próprio até que um grande pulso de intensa luz sai da cavidade na qual a amplificação ocorre. Na nova experiência de prova de princípio do PASER, o meio ativo consiste de um vapor de CO2 e, em lugar de liberar a energia na forma de fótons estimulados, os átomos transferem sua energia para um feixe de elétrons. Os elétrons estimulam os átomos a cederem sua energia extra através de colisões. A energia dos elétrons é amplificada de maneira coerente; ou seja, os eletrons são diretamente acelerados por uma direta e coordenada transferência quântica de energia. Embora ocorram milhões de colisões para cada elétron, nenhum calor é gerado. A energia transferida vai para uma movimentação amplificada dos elétrons. Seria o caso de dizer que este é o caso de uma transferência de energia tipo laser que resulta em aceleração de elétrons.
Deve-se dizer que os elétrons começam com uma energia de 45 milhões de elétron-volts (MeV) e absorveram somente uma modesta energia de cerca de 200 mil elétron-volts (keV). Os elétrons, inicialmente acelerados em um acelerador convencional, foram também expostos a um laser de CO2 e também enviados através de um dispositivo "agitador" de magnetos; estas ações servem para seccionar um grande monte de elétrons em micro-montes separados, que são escalonados e modulados em energia, a fim de se adaptarem melhor ao processo de ressonância PASER na cavidade de ressonância cheia de CO2 por um pouco mais de tempo (ver figuras em http://www.aip.org/png/2006/268.htm).
A capacidade de acelerar elétrons com energia acumulada em átomos/moléculas individuais, um processo agora demonstrado com o PASER, apresenta novas oportunidades, uma vez que os elétrons acelerados podem se provar siginficantemente "mais frios" (eles são mais colimados em velocidade), do que em outros processos de aceleração envisados, o que, por sua vez, permite a geração de raios-X de alta qualidade, que são uma ferramenta essencial na nano-ciência (Banna, Berezovsky, Schachter, Physical Review Letters, artigo em fase de publicação)

A MAQUININHA DE EINSTEIN. Albert Einstein era o teórico por excelência, tendo produzido emplicações matemáticas do espaço e do tempo, gravidade, átomos e fenômenos quânticos. Entretanto, Einstein tinha seu lado "experimental", também. Ele foi criado em um lar onde "engenhocas" estavam por toda a parte (seu pai era proprietário de uma fábrica de instrumentos elétricos) e ele trabalhou em um escritório de patentes, onde um desfile de projetos detalhados de engenharia passavam sob suas vistas, todo o dia. Na verdade, ele construíu diversos dispositivos práticos e registrou diversas patentes próprias. Uma das criações de Einstein, que ele chamava de sua "Maschinchen" ("maquininha"), se destinava a medir voltagens da ordem de 0,0005 volts. Este tipo de precisão é, atualmente, fácil de obter, mas não era possível em 1907, quando Einstein desenvolveu uma geringonça que registrava a carga induzida em uma placa metálica próxima e, então, armazenada em um acumulador especial; o efeito do pequeno sinal de voltagem podia ser, então, multiplicado. Sabe-se que existem três versões desta máquina e que ao menos uma dessas versões foi usada em uma experiência realizada por Walter Gerlach (que viria, mais tarde a particupar da descoberta, junto com Stern, do spin do elétron). Agora, dois cientistas da Universidade de Ghent, na Bélgica, realizaram simulações em computador para mostrar como a "Maschinichen" funcionava. Danny Segers diz que ele e Jos Uyttenhove estão construindo uma réplica para melhor explorar a engenhosidade de Einstein. (American Journal of Physics, agosto de 2006)


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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

12 setembro 2006

Physics News Update nº 791


O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 791, de 6 de setembro de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi Physics News Update

ANTENAS ÓPTICAS DE LASER representam uma abordagem relativamente nova para contornar o velho problema do limite de difração óptica que caracteriza a óptica convencional, mais exatamente a incapacidade de uma lente em focalizar a luz para efeitos de obtenção de imagens em uma definição melhor do que metade do comprimento de onda da luz utilizada. Da mesma forma que uma antena de telhado captura ondas de rádio da magnitude de metros e as transforma (cortesia de um circuito de ajustagem) em sinais muito menores em extensão física, assim a atena óptica converte luz visível em um feixe iluminante com um poder de resolução bem melhor. Por exemplo, uma luz de 800 nm pode produzir imagens com uma resolução espacial de, no máximo, cerca de 400 nm. Um novo dispositivo, construído pelos grupos de Ken Crozier e Federico Capasso em Harvard, que produz pontos iluminados tão pequenos quanto 40 nm, usando luz de 800 nm, é a primeira antena óptica totalmente integrada (laser e aparelho de focalização em uma única plataforma) e o primeiro a provar (medindo diretamente as intensidades de luz) a estreiteza do ponto de luz focalizado. Seu método combina duas técnicas comprovadas – plasmônica, na qual as ondas de luz que atingem uma superfície metálica, criam plasmons que são uma espécie de perturbação eletromagnética ( ver maiores detalhes em http://www.aip.org/pnu/2006/split/770-1.html ) – com um comprimento de onda menor do que a luz inserida; e a microscopia de campo próximo, na qual o limite de difração é evitado pela colocação da amostra muito próxima ao dispostivo de captura de imagens. No dispositivo de Harvard a antena consiste de duas tiras de ouro (130 m de comprimento por 50 nm de largura) separadas por um intervalo de 30 nm. A luz que incide sobre as faixas de ouro (que repousa diretamente na faceta de um diodo laser comercial comum), excita um grande campo elétrico no intervalo. Uma amostra colocada logo abaixo deste intervalo "vê" a coisa como um pulso de luz de 30 nm de largura (embora neste estágio do trabalho o foco seja mais parecido com um retângulo de 40 x 100 nm). Em diversas formas de microscopia sutil, a potência e, algumas vezes, fraca, mas aqui, com o funcionamento em pulsos, a antena pode gerar uma robusta intensidade de pico de mais de 1 gigawatt por cm². (Para comparar as imagens gravadas com um microscópio de força, um microscópio eletrônico e a nova antena de laser, veja http://www.aip.org/png/2006/266.htm ). Crozier diz que focos do tamanho de 20 nm devem ser possíveis e que aplicações para a sua antena de laser podem encontradas em áreas como armazenagem óptica de dados (onde 3 terabytes de dados podem ser gravadas em um CD), imagens químicas de resolução espacial e microscopia óptica de campo próximo ("near-field scanning optical" = NSOM). (Cubukcu et al., Applied Physics Letters, 28 de agosto de 2006; website do laboratório em www.deas.harvard.edu/crozier; ver também http://www.aip.org/pnu/2004/split/701-1.html)

MÚSCULOS ARTIFICIAIS PARA MONITORES COLORIDOS REALÍSTICOS. Redes de difração ajustáveis, feitas de pequenos músculos artificiais, podem proporcionar cores mais realísticas para TVs colocridas e monitores de computadores, mostram os físicos do ETH de Zurique na edição de 1º de setembro de Optic Letters. Em telas comuns, tais como telas de TV e LCDs de tela plana ou telas de plasma, cada pixel é composto de três elementos emissores de luz, um de cada cor fundamental: vermelho, verde e azul. As cores fundamentais em cadapixel são fixas e somente sua intensidade pode ser modificada – ajustando a luminosidade dos elementos coloridos – para criar as diferentes cores compostas. Desta forma, as telas existentes podem reporduzir a maior parte das cores visíveis, mas não todas. Por exemplo, as telas existentes não reproduzem fielmente o tons de azul que se pode ver no céu ou nos mares, diz Manuel Aschwanden. Aschwanden e seu colega Andreas Stemmer verificaram que se pode suplantar tais limitações modificando as próprias cores fundamentais, não somente sua luminosidade, por meio do uso de uma rede ajustável de difração. Em seu dispositivo, a luz branca atinge uma membrana de 100 microns de largura, feita de membrana de músculo artificial revestida de ouro, moldada em um formato que lembra cortinas pregueadas de janelas. O músculo artificial é feito de um polímero que se contrai quando se aplica uma voltagem. Quando a lus branca atinge uma rede de difração, as luzes brancas se espalham em diferentes ângulos. "É como se você apontasse um CD diretamente para a luz do Sol e o girasse", diz Aschwanden. Tal como as trihas microscópicas na superfície de um CD, as ranhuras no músculo artificial dividem a luz branca em um arco-iris de cores. Mas, ao invés de girar a superfície para obter as diferentes cores, a equipe do ETH ajusta o ângulo de difração aplicando diferentes voltagens ao músculo artificial. à medida em que a membrana se estica ou se contrai, a luz incidente "vê" as ranhuras mais ou menos espaçadas. Todo os ângulos de reflexão são mudados, de maneira que todo o espectro de comprimentos de onda é girado como um todo. A cor desejada pode ser extarída por um orifício. Como o orifício fica fixo, diferentes partes do espectro passarão por ele. Para obter cores compostas, cada pixel usaria duas ou mais redes de difração. Com o uso desse método, uma tela poderia produzir toda a faixa de cores perceptíveis pelo olho humano. diz Aschwanden. Redes giratórias de difração são utilizadas rotineiramente em aplicações tais como comunicações por fibra óptica e projetores de vídeo, mas as tecnologias existentes são baseadas em materiais piezoelétricos rígidos, não em músculos artificiais, o que limita sua capacidade de contração-expansão a menos de 1%. Em contraste, músculos artificiais podem mudar seus comprimentos em grandes proporções. A obtenção de uma completa faixa de cores necessita de uma fonte de luz realmente branca, para começar – em lugar de uma mera combinação de verde, vermelho e azul que parecem brancos para os olhos humanos. Para este propósito, a tecnologia poderia explorar uma nova geração de LEDs brancos desenvolvidos recentemente, diz Aschwanden (ver PNU nº 772, http://www.aip.org/pnu/2006/split/772-3.html). )




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