27 abril 2006

Physics News Update n° 775


PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 775 de 26 de abril de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein, e Davide Castelvecchi

À PROCURA DE UMA BRECHA NO UNIVERSO, na forma de um campo muito fraco, percolando o Cosmos, um que exerça uma força sobre o spin do elétron, que seria o equivalente ao fim da invariância de Lorentz. A invariância de Lorentz é a proposição que declara que as leis da física são as mesmas para um observador em repouso sobre a Terra, ou para um que sofra um rotação de qualquer ângulo, ou ainda que esteja se deslocando a uma velocidade constante com relação ao observador em repouso. Um ingrediente importante na Teoria da Relatividade Especial, a invariância de Lorentz foi confirmada por diversos experimentos. Um novo experimento foi realizado na Universidade de Washington procurou por um tal campo anômalo e não conseguiu encontrá-lo, sequer em uma escala de energia da ordem de 10-21 eV. Este é o experimento de maior acurácia já conduzido até agora (100 vezes mais preciso que o anteiror) sobre efeitos que poderiam violar a invariância de Lorentz, envolvendo elétrons. O trabalho de Washington, relatado, nesta semana, no encontro de Abril da Sociedade Americana de Física (APS) em Dallas por Claire Cramer, faz parte de uma corrente bateria de testes, realizado com uma aparelhagem, flexível e sofisticada, de balança de torção. No caso presente, monta-se um pêndulo com blocos cujo magnetismo se origina tanto do movimento orbital de um elétron em torno do núcleo, como do spin intrínseco do próprio elétron. Mediante a cuidadosa escolha e disposição dos blocos, pode-se criar um dispositivo que tenha magnetização nula, mas ainda tenha um spin eletrônico total diferente de zero. Cramer se refere a essa condição como um "dipolo de spin", análogo ao caso de um dipolo elétrico, um objeto com carga total zero, mas que, por causa de uma assimetria na disposição das cargas positiva e negativa, tem um campo elétrico definido. A existência de uma força com uma direção preferencial, violando a invariância de Lorentz, relacionada ao spin do elétron, teria aparecido na forma de um pequeno desvio na rotação do pêndulo. Conclusão: qualquer campo quase-magnético dessa natureza terá que ter uma intensidade menor do que um femtogauss. Na reunião da APS, Eric Adelberger, chefe do grupo de Washington, fez um sumário de outros esforços em andamento em seu departamento, tais como a procura por indícios da existência de outras dimensões extra, na forma de divergências com a gravidade newtoniana (por exemplo, da razão inversa do quadrado da distância) em uma escala de dezenas de microns. De fato, ele declarou que alguma coisa estranha está acontecendo na escala de cerca de 70 microns, mas admitiu que a explicação mais provável seja uma imprecisão intrínseca do experimento.

PLASMA DE QUARKS-GLUONS —: TERÁ SIDO OBSERVADO? Barbara Jacak da Universidade Stony Brook é membro da equipe PHENIX, uma das quatro que compõem a colaboração que estuda a colisão em altas energias de núcleos de Ouro no Colisor Relativístico de Íons Pesados (RHIC) de Brookhaven. Durante uma palestra, na reunião da APS desta semana, Jacak argumentou que os novos dados experimentais fornecem indícios de que, nas colisões, os núcleos de Ouro, inclusive seus complementos de nêutrons e prótons, e todos os quarks e gluons que os constituem, são derretidos em um verdadeiro plasma de quarks e gluons. Este plasma possui a maior densidade de energia de qualquer substância produzida em um laboratório – até 15 GeV/cm³ (correção publicada no PNU n° 776: 15 GeV por fentômetro cúbico; não por centímetro cúbico). Na Reunião de Abril da APS do ano passado, todas as equipes do RHIC unanimemente concordaram que, nas colisões, era criado um peculiar líquido de quarks. Peculiar e inesperado: em lugar de um gás de quarks com interações fracas, a bola de fogo, decorrente da colisão de frente de dois núcleos, resultava em um líquido de quarks com interações fortes (http://www.aip.org/pnu/2005/split/728-1.html ). Mas isso não é a mesma coisa que afirmar que o fluido fosse um verdadeiro plasma. Para ser um plasma, os quarks deveriam ficar fora de seus costumeiros grupos de dois ou três; dois quarks (um par quark-antiquark) compõem um méson, enquanto que os agrupamentos de três quarks são chamados de bárions. Mésons e bárions são coletivamente chamados de hádrons. Uma das propriedades observadas dos hádrons é que eles têm "cor neutra" (tal como os átomos comuns são eletromagneticamente neutros), sendo a "cor" o nome-de-fantasia para o equivalente, em termos de força nuclear forte, da carga eletromagnética. Por exemplo, um próton normalmente consistiria de quarks de cores vermelho, azul e verde que (em termos de cores) somam zero. E, tal como um plasma elétrico é um no qual as partículas possuem cargas [eletromagnéticas], um plasma nuclear seria um no qual as partículas tivessem "cores". Na Reunião de Abril do ano passado, foi apresentada a observação de que o material formava um líquido. De acordo com Jacak, estudos posteriores, ao longo deste último ano, forneceram – ao menos para ela e um crescente número de cientistas do RHIC – a prova necessária de que há um estado de plasma.
Um fato notável que apoia a idéia da formação de um plasma, é o fato – aparente nas últimas análises dos dados – de que os jatos de quarks "Charm" são suprimidos. Na bola de fogo são produzidos quarks "Charm", embora em uma taxa muito menor do que os quarks leves (Up, Down e Strange). Por causa de seu peso, os quarks Charm (ou, para ser preciso, os jatos de hadrons que eles engendram) deveriam ser capazes de romper seu caminho para fora do plasma, para serem observados nos detectores externos – só que não são. O que parece estar acontecendo é isto: o plasma, constituído principalmente por quarks leves, está absorvendo ou engolfando os quarks pesados, através de frequentes e intensas interações. Como diz Jacak, é como se um rio caudaloso estivesse pegando as pedras do leito e empurrando-as junto com a corrente. Um rio de hádrons (quarks embalados em pacotes de cor neutra)não seria capaz de fazer isso tão prontamente como um rio de quarks livres.

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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

19 abril 2006

Physics News Update n° 774


PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias de Física do American Institute os Physics, número 774, de 19 de abril de 2006, por Phillip F. Schewe, Ben Stein e Davide Castelvecchi

INDÍCIOS DE UMA MUDANÇA NA RAZÃO DAS MASSAS ENTRE PRÓTON E ELÉTRON apareceram em comparações entre o espectro do Hidrogênio gasoso, medidas em laboratório e o espectro de luz que vem de nuvens de Hidrogênio na distância de quasares. Este é outro teste acerca das, assim chamadas, constantes físicas que podem não ser absolutamente constantes. Por exemplo, a constância da Constante da Estrutura Fina (representada pela letra alfa), definida como o quadrado da carga do elétron, dividido pela velocidade da luz vezes a constante de Planck, vem sendo objeto de discussão (ver http://www.aip.org/pnu/1999/split/pnu410-1.htm ). Alguns testes mostram que ela está mudando, outros dizem que não. Isto é uma questão importante, uma vez que alfa estabelece a intensidade geral da força eletromagnética, a força que une os átomos. Similarmente, a razão entre as massas do próton e do elétron (representado pela letra mu) é importante no estabelecimento da escala da Força Nuclear Forte. Até agora, não existe uma explicação do porque a massa do próton deva ser 1.836 vezes a do elétron. Esta nova pesquisa, em busca de um valor variável de mu foi realizada por Wim Ubachs da Vrije Universiteit Amsterdam. Ele e seus colegas abordaram a tarefa, examinando o Hidrogênio gasoso em laboratório, realizando uma espectrocopia de ultra-alta definição na faixa quase inacessível do extremo-ultravioleta. Esses dados são comparados com precisas observações de espectros de absorção de Hidrogênio distante (que absorve a luz de quasares ainda mais distantes), realizadas pelo Observatório Europeu do Sul (European Southern Observatory - ESO) no Chile. O Hidrogênio astronômico é, essencialmente, Hidrogênio, tal como ele era a 12 bilhões de anos atrás, de forma que se pode procurar indícios de um valor mutante para mu. Por que a comparação? Porque a posição de uma linha espectral, em particular, depende do valor de mu; localize uma linha espectral precisamente (isto é, seu comprimento de onda) e você pode inferir um valor para mu. Dessa forma, os pesquisadores informam que eles observaram indícios de que mu diminuiu em 0,002% nesses 12 bilhões de anos. De acordo com Ubachs (www.nat.vu.nl/~wimu ), a precisão estatística de sua comparação espectroscópica está no nível 3,5 do padrão de desvios. (Reinhold et al., Physical Review Letters, 21 de Abril de 2006, website em www.nat.vu.nl/~laser)

ÓPTICA QUÂNTICA NUCLEAR. Normalmente o reino atômico, caracterizado por uma escala de energia da ordem de elétron-volts ou menos, está muito distante do reino nuclear, cujas energias são medidas em milhares e milhões de eV. Algumas interações de laser nos núcleos pode ser obtida indiretamente, usando-se luz para criar plasmas, cujas partículas secundárias, ou interagem com os núcleos, ou, em um terceiro estágio, produzem raios gama que, por sua vez, influenciam os estados nucleares. Os cientistas no Max-Planck-Institut fur Kernphysik agora estudaram como as atuais e futuras instalações de laser de raios-X poderão tornar possível uma intervenção direta dos lasers nos núcleos e como isso abrirá um novo ramo de óptica quântica. Fontes de Raios-X, tais como o dispositivo TESLA no laboratório DESY em Hamburgo, não só vão produzir feixes de alta energia e alta intensidade, como consistirão, ao menos parcialmente, de uma radiação coerente (tipo laser). Não é necessário luz coerente para excitar um núcleo, mas a coerência pode ser importante para exercer um maior controle sobre fenômenos ópticos, análogos aos dos sistemas atômicos. Os exemplos incluem excitar uma completa inversão de população de um núcleo alvo, ou mesmo a obtenção de algum tipo de "transparência eletromagnética induzida" nuclear. Um dos pesquisadores, Thomas Burvenich, diz que um benefício adicional da óptica quântica nuclear será a medição direta de fatos nucleares específicos, tais como os momentos dos dipolos nucleares e os níveis de energia dos núcleos. (Burvenich et al., Physical Review Letters, 14 de Abril de 2006; website do laboratório em http://www.mpi-hd.mpg.de/keitel/evers/ )

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12 abril 2006

Physics News Update n° 773



PHYSICS NEWS UPDATE

Boletim de Notícias de Física do Instituto Americano de Física n° 773, de 12 de abril de 2006 por Phillip F. Schewe, Ben Stein e Davide Castelvecchi

UMA FOCALIZAÇÃO MAIS ACURADA DE RAIOS-X DUROS foi conseguida com um dispositivo desenvolvido no Argonne National Lab. Por causa de sua alta energia, os Raios-X são difíceis de focalizar: eles podem ser refletidos por uma superfície, mas somente bem "de rabo de olho" (menos de um décimo de grau); eles podem ser refratados, mas o índice de refração é bem próximo de 1, de forma que a manufatura de lentes eficientes se torna um problema; e eles podem ser difratados, mas a rede espessa e de gradiente variado, necessária para a focalização, é difícil de obter. O dispositivo do Argonne é do tipo de difração e consiste em uma pilha de camadas alternadas de metal e silício, feita pela deposição de camadas sucessivamente mais espessas (ver figura em http://www.aip.org/png/2006/258.htm ). Quando os Raios-X caem em uma tal estrutura, praticamente sobre o gume, o que eles "vêem" é um padrão de rede (chamada de placa de zona linear) com a aparência de uma espécie de "código-de-barras". O dispositivo do Argonne é tão bem sucedido em focalizar Raios-X porque a posição das zonas pode ser controlada até dentro de uma tolerância de nanômetos, através do processo de deposição, e a profundidade das zonas pelas quais os Raios-X vão passar, pode ser feita arbitrariamente longa — até o comprimento de mícrons — simplesmente cortando-se uma camada mais espessa do "wafer" de várias camadas. Nos testes realizados, até agora, uma dessas placas, muito ligeiramente inclinada com relação aos Raios-X que vêm de uma fonte sincrotrônica, conseguiu focalizar Raios-X de 20 keV em uma linha de apenas 30 nm de largura, um resultado bem melhor do que os obtidos anteriormente. De acordo com o pesquisador do Argonne, Brian Stephenson, uma versão ideal desse tipo de lentes, que eles chamam de "Lentes de Laue Multicamadas" (Multilayer Laue Lens – MLL), devem ser capazes de focalizar Raios-X em um ponto de 1 nm ou menos. Os usos prováveis para melhores lentes de Raios-X estão na microscopia de campo (fazer uma imagem em Raios-X ampliada de uma amostra) e na sondagem microscópica (pelo escaneamento de um feixe através de uma amostra). (Kang et al., Physical Review Letters, 31 de Março de 2006)

NANO-TERREMOTOS: ONDAS ACÚSTICAS EXCITAM MOLÉCULAS ARTIFICIAIS. Absorvendo fótons de um laser, um átomo pode ser excitado até qualquer um dos níveis discretos de energia permitidos pela mecânica quântica. E quanto a átomos artificiais? Um "ponto quântico" (quantum dot), criado pelos mesmos processos litográficos usados para fazer chips eletrônicos, é quase que uma zona adimensional de material semicondutor; tal como elétrons dentro de átomos, todos os elétrons dentro do confinamento do "ponto quântico" terão apenas um menu restrito de energias permitidas. O mesmo é verdade para um par de "pontos quânticos" com 200 nm de separação; com a aplicação da voltagem estritamente necessária, os elétrons podem passar, por efeito de túnel, de um "ponto" para outro. De fato, um elétron, considerado como um fenômeno quântico ondular com uma determinada amplitude, pode ser considerado como "residente" em ambos os "pontos" ao mesmo tempo, uma propriedade que torna a "molécula de pontos quânticos" potencialmente útil para realizar operações de computação quântica. Agora, um grupo de cientistas foi capaz de sondar, e modificar, os estados de energia quânticos de um par de "pontos quânticos" com ondas de som, ou, mais particularmente, ondas acústicas superficiais, excitadas no substrato que apoia os "pontos". As ondas acústicas, com uma amplitude de menos de 1 nm, que ondulam através da superfície por distâncias tão longas como centenas de mícrons, tal como um nano-terremoto, são criadas através do processo da piezoeletricidade; uma pequena voltagem é enviada através de minúsculos eletrodos pintados na superfície. Isto excita as fracas ondas acústicas (ver figura em http://www.aip.org/png/2006/259.htm ). O processo de interação acústico-puntual, intermediado pelas delicadas interações entre elétrons e fônons, pode ser posto a funcionar em ambas as direções: os "pontos quânticos" podem ser usados para monitorar as ondas acústicas (as quais, por causa de sua pequena energia, são, do outra forma, difíceis de detectar), ou as ondas acústicas podem ser usadas para conhecer o estado eletrônico dos "pontos", o que torna possíveis as acima mencionadas aplicações em informação-quântica. Os pesquisadores envolvidos trabalham na Universidade de Twente e na Universidade de Tecnologia Delft (Holanda), NTT Corporation, Instituto de Tecnologia de Tóquio e Universidade de Tóquio (Japão) e na Universidade Jilin (China). (Naber et al., Physical Review Letters, de 7 de Abril de 2006).

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07 abril 2006

Cooperação forçada

Salve, Pessoal!

Um artigo, bem a propósito, apareceu na edição de hoje do The New York Times. Fala sobre cooperativismo e o poder de coerção. Sem mais comentários, ei-lo:

Estudo liga Punição com Capacidade de Tirar Proveito

Por BENEDICT CAREY
Publicado em: 7 de Abril de 2006.

Os sociólogos sabem, há muito tempo, que comunidades e outros grupos cooperativos, usualmente entram em colapso por conta de questiúnculas e debandam, a menos que tenham métodos claros para punir os membros que se tornem egoistas ou exploradores.

Agora, uma experiência conduzida por um grupo de economistas alemães, descobriu uma razão porque a punição é tão importante: grupos que permitem punições podem ser mais proveitosos do que os que não permitem.

Permitida a opção, a maior parte das pessoas que jogavam um jogo de investimentos, criado pelos pesquisadores, incialmente se decidiu por se unir a um grupo que não penalizava seus membros. Mas quase todos rapidamente mudaram-se para uma comunidade punitiva, quando viram que a mudança poderia ser pessoalmente proveitosa.

O estudo, publicado hoje na "Science", sugere que grupos com poucas regras atraem muitas pessoas exploradoras que rapidamente minam a cooperação. Em contraste, comunidades que permitem punições e nas quais o poder é distribuído eqüanimemente, atraem mais pessoas que, mesmo com sacrifício próprio, têm a disposição de confrontar os delinqüentes.

Uma expert não envolvida no estudo, Elinor Ostrom, co-diretora do Workshop de Teoria Política e Análise de Políticas na Universidade de Indiana, disse que isto ajudava a clarear as condições nas quais as pessoas penalizarão as outras, a fim de promover a cooperação.

«Eu estou muito contente em ver essa experiência realizada e seus resiltados publicados com tanta proeminência», disse a Dra. Ostrom, «porque ainda temos muitos quebra-cabeças a resolver, quando se trata do efeito das punições sobre o comportamento.»

A Dra. Ostrom realizou trabalhos de campo com cooperativas por todo o mundo e disse que, freqüentemente, perguntava a outros pesquisadores e estudantes se eles conheciam algum grupo comunitário longevo que não empregasse um sistema de punições. «Ninguém conseguiu me dar um único exemplo», disse ela.

Na experiência, os pesquisadores na Universidade de Erfurt (Alemanha) recrutaram 84 estudantes para o jogo de investimento e deram a cada um 20 "moedas" para cada, para iniciar. A cada rodada do jogo, cada participante decidia se ia manter as "moedas" ou investir algumas em um fundo cujo retorno garantido era distribuído igualmente por todos os membros do grupo, inclusive os "caronas" que ficassem sentados em cima de seu dinheiro. Como o lucro era determinado a partir de um múltiplo das "moedas" investidas, cada participante que tivesse contribuído para o fundo, receberia um retorno menor do que seria, se os "caronas" também tivessem contribuído.

As "moedas" poderiam ser trocadas por dinheiro de verdade no fim da experiência.

Cerca de dois terços dos estudantes escolheram, inicialmente, jogar no grupo que não permitia punições. No outro grupo, os estudantes tinham a opção de, a cada rodada, penalizar os outros jogadores; custava uma "moeda" para multar um outro jogador em três "moedas". Todos os participantes podiam ver quem estava contribuíndo com quanto, à medida em que o jogo progredia, e podiam mudar de grupo antes de cada rodada.

Na altura da quinta rodada, cerca de metade dos que começaram o estudo no grupo sem penalidades, tinham mudado para o grupo com punições. Um número menor de estudantes emigrou na outra direção, mas, na altura da 20ª rodada, a maioria tinha voltado e a comunidade sem punições tinha virado, virtualmente, uma cidade-fantasma.

«O "ponto final" da publicação é que, quando você tem pessoas com padrões compartilhados e alguns com a coragem moral para sancionar os outros, informalmente, então esse tipo de sociedade obtém muito sucesso», disse a autora-sênior do estudo, Bettina Rockenbach, a quem se juntaram na pesquisa Bernd Irlenbusch, agora na Escola de Economia de Londres, e Ozgur Gurek.

As mudanças de grupos freqüentemente causavam memoráveis mudanças de atitude nos estudantes. Muitos dos que tinham sido "caronas" no grupo laissez-faire, começaram avidamente a penalizar outros jogadores egoístas, quando da mudança. A Dra. Rockenbach compara essas pessoas a tabagistas que insistem em seu direito de fumar, até que deixam de fumar. «Aí, elas se tornam os anti-fumantes mais militantes», disse ela.

Ser explorado pareceu causar profunda frustração e raiva na maior parte dos estudantes, disse ela.

Outros experts disseram que os resultados são uma importante demonstração de como o interesse próprio pode vencer a aversão das pessoas a normas punitivas, pelo menos no laboratório. No mundo de fora, disseram eles, usualmente não é tão claro ver quem está "tomando carona", nem mesmo ver se um dado grupo está encorajando um comportamento cooperativo para a maioria das pessoas.

«O mistério, se é que há algum, é como essas instituições começam a se desenvolver», disse por e-mail Duncan J. Watts, um sociólogo em Colúmbia, «isto é, antes que se torne aparente a qualquer um que se pode resolver o problema de cooperação.»


Atribuem a Napoleão Buonaparte a frase: «Uma pessoa lutará com mais entusiasmo por seus interesses do que por seus direitos».

Se ele não disse, deveria ter dito...

06 abril 2006

Physics News Update n° 772


PHYSICS NEWS UPDATE

O Boletim de Notícias do Instituto Americano de Física, n° 772 de 5 de abril de 2006, por Phillip F. Schewe, Ben Stein e Davide Castelvecchi

LÍQUIDOS QUE FLUEM "LADEIRA ACIMA"; PODEM SER USADOS PARA RESFRIAR "CHIPS". Em um fenômeno conhecido como "Efeito Leidenfrost", gotículas de água podem realizar uma dança na qual elas flutuam em direções aleatórias em um colchão de vapor que se forma entre as gotículas e uma superfície quente. Agora, uma pesquisa conjunta EUA–Austrália (Heiner Linke, Universidade de Oregon), mostra que essas gotículas podem ser guiadas para uma direção selecionada, colocando-se as mesmas sobre uma superfície em forma de dentes-de-serra. O aquecimento da superfície a temperaturas acima do ponto de ebulição da água cria um colchão de vapor, sobre o qual as gotículas flutuam. Os pesquisadores acreditam que a superfície irregular em forma de dentes de serra funciona como um tipo de engrenagem, redireciona o fluxo do vapor, criando forças que movem as gotículas em uma direção prefixada. As gotículas viajam rapidamente por distâncias de até um metro e podem até ser forçadas a subir inclinações. Este curioso método para bombear um líquido funciona para diversos líquidos diferentes (incusive Nitrogênio, Acetona, Metanol, Etanol e Água), cobrindo uma larga faixa de temperaturas (desde -196 até +151°C). Uma aplicação prática para esse fenômeno pode ser o resfriamento de processadores de computador aquecidos. Em uma concepção que os pesquisadores planejam testar, o calor excedente em um computador ativaria uma tal bomba, movimentando uma corrente de líquido por cima do processador para resfriá-lo. Uma tal bomba para arrefecedores não necessitaria de potência adicional, não teria partes móveis e só entraria em funcionamento quando necessária: quando o processador ficasse quente.
(Linke et al., Physical Review Letters, a ser publicado; gráficos e explicações extensivas podem ser encontrados no site http://www.uoregon.edu/~linke/dropletmovies/ )

"BURACOS DE FÓTONS" ENTRELAÇADOS. Em alguns dispositivos semicondutores, tais como diodos emissores de luz (LEDs), uma voltagem aplicada pode desalojar elétrons de alguns átomos, deixando, no lugar, um "buraco" que se comporta, em algumas situações, como se fosse uma partícula real com carga positiva. Uma "corrente" de "buracos" pode ser mover ao longo do material e os "buracos" podem se recombinar, posteriormente, com elétrons para produzir luz. Em uma analogia muito abrangente, James Franson (Universidade Johns Hopkins) sugere que se pode criar "buracos" fotônicos. Um "buraco de fóton" seria, por exemplo, um local em um intenso feixe de ondas laser, de onde foi removido um fóton (por exemplo, passando o feixe de laser através de vapor). Não somente podem existir "buracos de fótons" – sugere Franson – como os "buracos de fóton" podem ser entrelaçados, o que significa que suas propriedades quânticas poderiam ser correlacionadas, mesmo quando afastados entre si. Tais "buracos de fóton entrelaçados" seriam capazes de serem propagados através de fibras ópticas, tão bem como "fótons entrelaçados", mas poderiam ter uma robustez ainda maior contra o fenômeno de "descoerência" (a perda das correlações quânticas), que assola os atuais esforços para estabelecer sistemas de transmissão de informação quânticos. Fransos espera poder colocar sua idéia em teste experimental nos próximos meses. (Physical Review Letters, 10 de Março de 2006).

LUZ DO SOL EM UM CHIP. Um novo projeto de LED emprega uma hábil combinação de luz e substâncias fosforescentes para produzir uma luz cujo espectro não é tão diferente assim da luz solar. Diodos Emissores de Luz (LEDs) convertem a eletricidade em luz de maneira muito eficaz e vêm sendo a solução preferida para aplicações em locais restritos, tais como luzes de sinalização e de freios para automóveis. Mas para causar alguma real impressão no mundo da iluminação, um dispositivo deve ser capaz de produzir iluminação para ambientes. E, para fazê-lo, precisa-se de uma iluminação mais suave, mais branca e com um melhor balanceamento de cores. O advento de LEDs de luz azul, usados em conjunto com LEDs vermelhos e verdes, ajudou muito. Mas produzir iluminação a partir de LEDs, eficientemente, a partir de comprimentos de onda azul, verde e amarelo, ainda é relativamente caro demais, e a abordagem alternativa é usar substâncias fosforescentes para conseguir o desejado balanceamento, transformando a luz azul em amarela. Os cientistas do National Institute for Materials Science (Instituto Nacional para a Ciência de Materiais e a Sharp Corporation (no Japão) conseguiram recentemente uma luz branca altamente eficiente e ajustável, com uma substância fosforescente aperfeiçoada para produir luz amarela (ver figura em http://www.aip.org/png/2006/257.htm ). Sua produção de luz é de 55 lumens por watt, cerca do dobro do brilho dos produtos comercialmente disponíveis que funcionam no mesmo nível de brancura. (Xie et al., Applied Physics Letters, 6 de Março de 2006)

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Nota do Tradutor: eu recebo esse boletim há mais de um ano, mas nunca me atrevi a traduzir. Ora bolas: é exatamente isso que eles querem – disseminar as notícias. Então, não custa nada ajudar.