21 dezembro 2007

Physics News Update nº 851

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 851, de 21 de dezembro de 2007 por Phillip F. Schewe e Jason S. Bardi.
PHYSICS NEWS UPDATE

UM FLUXO PERSISTENTE DE ÁTOMOS BOSONICAMENTE CONCENTRADOS EM UMA ARMADILHA TOROIDAL, que foi conseguido pela primeira vez, oferece aos físicos uma melhor oportunidade para estudar o parentesco entre os Condensados de Bose-Einstein (BEC) e superfluidos.

Ambos envolvem o estabelecimento de um conjunto no qual vários átomos se juntam em uma única entidade quântica. Mas eles não são exatamente a mesma coisa. Em um banho de Hélio líquido a baixas temperaturas, por exemplo, quase 100% dos átomos estão em um estado de superfluido, mas apenas cerca de 10% estão no estado BEC (em um BEC milhões de átomos se tornaram, de uma certa forma, um único átomo). Mas os físicos geralmente acreditam que a maior parte ou todo um BEC é superfluido.

Os cientistas foram capazes de criar vórtices quânticos em amostras de BEC, um indício que os BEC são superfluidos. Porém, até agora os pesquisadores não tinham sido capazes de fazerem um BEC se mover por um caminho em um fluxo persistente, um outro sinal de superfluidez.

A nova experiência, realizada pelo Prêmio Nobel William Philips e seus colegas do NIST-Gaithersburg e do Joint Quantum Institute of NIST e da University of Maryland, resfriaram átomos de Sódio em uma armadilha toroidal, puseram-nos em movimento com luz laser e observaram um fluxo por inteiros 10 segundos, quando o Condensado começou a se desfazer por que os delicados parâmetros magnéticos e ópticos, ajustados para conter os átomos, sairam de seus ajustes ideais.

Um dos cientistas do projeto, Kristian Helmerson, diz que átomos neutros fluindo em um recipiente toroidal podem ser empregados em um sistema atômico análogo ao Dispositivo Supercondutor de Interferência Quântica (Superconducting Quantum Interference Device, ou, abreviadamente, SQUID, que é usado como um sensível detector de magnetismo); este dispositivo BEC, sensoreando, não o magnetismo, mas pequenas mudanças na direção, poderia servir como um giroscópio sensível, possivelmente para emprego na navegação. (Ryu et al., Physical Review Letters, artigo em publicação)

O TAMANHO DO NÚCLEO DE HÉLIO-8 foi medido. Para ser mais preciso, o raio da carga do isótopo mais pesado do Hélio (com dois prótons e seis nêutrons) foi medido pela primeira vez.

O raio da carga diz o quanto a carga dos prótons se espalha pelo espaço. O novo trabalho, conduzido por uma colaboração Argonne-Chicago-GANIL-Windsor (Canada)-Los Alamos, chegou a um valor de 1,93 fm (1 fermi = 10-15m).

Para comparação, o raio da carga do isótopo He-6 é 2,068 fm; ou seja, o isótopo mais leve tem, na verdade, um raio de carga maior, resultado do efeito de ligação da força nuclear forte. He-8 é muito raro, difícil de fazer e representa o material mais rico em nêutrons conhecido na Terra. Agrupamentos de Hélio ainda mais pesados, tais como He-10, não são entidades realmente ligadas — elas só podem ser consideradas "ressonâncias".

Para a nova experiência, foi produzido He-8 por meio do bombardeio de um alvo de Carbono com um feixe de 1 GeV de íons de C-13. O raio de carga dos respectivos isótopos — He-4, He-6 e He-8 — é determinado pela comparação das sutis mudanças nos espectros das três diferentes espécies de átomo de Hélio. As medições espectroscópicas envolvem apenas a força eletromagnética entre os elétrons e o núcleo desses átomos, e não a força nuclear forte que mantém este núcleo unido. Entretanto, uma vez que se determina a distribuição das cargas, isso pode ser usado para inferir coisas acerca das forças de ligação que estão em funcionamento no núcleo.

A idéia corrente sobre a distribuição de prótons e nêutrons (ilustrada na figura em http://www.aip.org/png/2007/291.htm), sugere que o núcleo de He-4, composto por dois prótons e dois nêutrons (uma unidade conhecida como "Partícula Alfa") forma o núcleo padrão, enquanto que, no He-6, os dois nêutrons extra (supõe-se) ficam orbitando o núcleo-padrão ["core"] como uma espécie de "halo". Neste modelo, o núcleo-padrão Alfa oscila um pouco em torno do centro de massa conjunto com o par de nêutrons do halo. Isto permite que o núcleo-padrão oscile um pouco menos no caso do He-6, o que permite que o raio de carga do He-8 seja um pouco menor.

Um dos pesquisadores, Peter Mueller, diz que a corrente teoria nuclear realizou um excelente trabalho ao predizer o raio de carga do He-8, dando confiança aos que criam modelos para núcleos maiores. (Mueller et al., Physical Review Letters, 21 de dezembro de 2007; ver também website do laboratório)


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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

18 dezembro 2007

Falando em pseudo-ciência...

Os médicos estão sempre me surpreendendo com sua capacidade de observar o óbvio e, a partir daí, tirar conclusões imbecis...

Senão, vejamos esta notícia, originária da BBC-Brasil, reproduzida n'"O Globo" de hoje:

BBC
Dieta medieval era 'mais saudável', diz estudo

Publicada em 18/12/2007 às 09h21m
BBC

LONDRES - Um estudo realizado por um médico britânico sugere que a dieta das pessoas que viveram durante a Idade Média era mais saudável que a atual. Segundo a pesquisa, realizada na região rural de Shropshire, no leste da Inglaterra, a dieta medieval, menos gordurosa, rica em verduras e com menos açúcar, era mais saudável para o coração que os alimentos processados e gordurosos consumidos nos dias de hoje.

"A dieta, combinada com o volume de trabalho, fazia o homem medieval sofrer menos risco de doenças cardíacas e diabetes que hoje em dia", afirma o médico Roger Henderson, responsável pela pesquisa.

Segundo o estudo, um camponês medieval comia em média dois pães, 220 gramas de carne ou peixe e quase dois litros de cerveja por dia, o equivalente a cerca de 3,5 a quatro mil calorias. Além disso, a jornada diária de trabalho era de 12 horas, em média.

A Idade Média é definido por historiadores como o período entre 476 e 1453, que segue a Antigüidade e precede a Era Moderna. [a notícia vai adiante...]


É claro que o "bom doutor" se lembra de que "a vida dos camponeses medievais era mais difícil e a expectativa de vida era menor por causa das doenças e epidemias que assolaram o período". E ainda menciona: "Naquela época, se alguém passasse dos 30 anos estava bom, mais de 40 já estava bem velho". O que ele parece que não sabe é por que as especiarias tinham tanto valor na Europa: para esconder o cheiro e o gosto de podre dos alimentos...

Evidentemente, não há grandes estatísticas sobre a incidência de diabetes e doenças cardiovasculares na Idade Média... Ele tira conclusões sobre o que deveria acontecer na Idade Média com base nos atuais dados de nutricionismo.

Só resta saber se o "bom doutor" se lembrou que o diabetes e as doenças cardiovasculares costumam "atacar" depois dos 40 os homens modernos e, como ele não tem um "grupo de controle" na época medieval, suas conclusões são mera especulação...

Enquanto isso o gordo cardiopata, com episódios de diabetes eventuais, aqui olha bestificado para a "sapiência" dos modernos Esculápios e dá graças a Deus que a cirurgia não depende dos médicos para progredir... A tecnologia atual nasceu sempre fora da "medicina"...

Eu, sinceramente, gostaria de saber o que mais os médicos aprendem nas Faculdades, além de escrever de modo ilegível e em "marciano hierático"...

A curar, certamente não é... Isso fica por conta dos bioquímicos e cirurgiões...



16 dezembro 2007

Falência! [final]

Sabe aquela sensação que você tem quando descobre que nem os "disparates" que você diz são originais?...

Pois é... Estou eu aqui gastando meu "latim" e minha indignação, quando bastava ler mais atentamente o "Diário do Professor", do Declev... Está tudo lá... A noção de que o sistema de ensino vigente afugenta, em vez de atrair os alunos; uma argumentação (bem melhor fundamentada do que a minha) sobre o erro em dar mais ênfase a certas matérias; relatos de experiências criativas que funcionaram, mas não tiveram continuidade; comentários de quem sofre na carne o que eu repito: a maior parte do tempo dos professores deveria ser empregada fora da sala de aula, preparando aulas, estratégias, abordagens multisiciplinares integradas e na atualização e expansão dos próprios conhecimentos... e vai por aí...

Se eu sou maluco, "ponto fora da reta", um visionário que "fala do que não entende", pelo menos, eu estou bem acompanhado.

Lá, também, encontro o desespero de um professor dedicado quando confrontado com alunos que fazem questão de não aprender... Será que minha proposta de que isso pode ser corrigido com a universalização da pré-escola é mesmo válida?... Ou a questão vai ainda mais fundo: abrange toda a escala de valores vigentes na atual sociedade?...

Então, me calo por aqui... Não que eu tenha esgotado o assunto: apenas "me manquei" que o "sapateiro" aqui estava indo muito "além das sandálias".

Vou voltar ao meu "forte": traduzir artigos de ciência, política, economia (por falar nisso: O New York Times deste domingo tem seis artigos que discutem se os EUA estão à beira, ou já enfiados em uma recessão...) e outras mazelas internacionais, para a gente, aqui em Pindorama, perceber que nós, tupiniquins, não somos nem piores, nem melhores que ninguém.

Dixit.

13 dezembro 2007

Physics News Update nº 850

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 850, de 13 de dezembro de 2007 por Phillip F. Schewe e Jason S. Bardi.
PHYSICS NEWS UPDATE


AS DEZ MELHORES NOTÍCIAS DE FÍSICA DE 2007, em ordem cronológica, durante o ano:

Luz, freada em um Condensado de Bose-Einstein (BEC), é passada por outro BEC (PNU nº 812, matéria 1);

Tunelamento de elétron em tempo real pode ser observado com o uso de pulsos de attossegundos (PNU nº 818, matéria 2);

Resfriamento a laser de um objeto do tamanho de uma moeda, em, ao menos, uma dimensão (PNU nº 818, matéria 1);

O melhor teste já realizado da Segunda Lei de Newton, usando um pêndulo de torsão giratório (PNU nº 819, matéria 1);

Primeiros resultados da Sonda Gravity-B, a medição do efeito geodésico — o encurvamento do espaço-tempo nas vizinhanças e causado pela Terra — com uma precisão de 1%, com uma precisão ainda maior por vir (PNU nº 820, matéria 2);

A experiência MiniBooNE no Fermilab resolve um mistério dos neutrinos, aparentemente descartando a possibilidade de uma quarta espécie de neutrino (PNU nº 820, matéria 1);

O Tevatron, em sua busca para observar o Bóson de Higgs, atualizou a massa do quark top e observou diversos novos tipos de eventos de colisão, tais como os em que um só quark up é produzido, e os em que são produzidos, simultaneamente, um Bóson W e um Z, ou dois Bósons Z (PNU nº 821, matéria 1);

O mais curto pulso de luz, um jato de 130 attossegundos de luz no extremo ultravioleta (PNU nº 823, matéria 1);

Com base nos dados gravados pelo Observatório Auger, os astrônomos concluem que os raios cósmicos de maior energia vêm de núcleos galáticos ativos (PNU nº 846, matéria 1); e

A observação de Pares de Cooper em isolantes (PNU nº 849, matéria 1)

EFEITO FOTOELÉTRICO DE ALTA INTENSIDADE.

Os físicos no Free-electron LASer em Hamburgo (FLASH) realizaram uma experiência de efeito fotoelétrico em um comprimento de onda de extremo ultravioleta, 13 nm, e intensidades ultra-altas de fótons. No processo, eles removeram elétrons de átomos de Xenônio, algumas vezes, 21 deles.

O efeito fotoelétrico — no qual luz ultravioleta ou extremo ultravioleta, ao incidir sobre uma superfície de metal, chuta os elétrons para fora — foi usado por Albert Einstein para argumentar em favor da existência de luz em forma quantizada, o que atualmente chamamos de fótons. A explicação, que ganhou para Einstein o Prêmio Nobel em 1921, é um marco na primitiva teoria quântica, já que sugeria que a luz em um comprimento de onda fixo consistia de fótons com uma energia fixa (quantizada).

Na experiência de Hamburgo, a radiação do laser de elétrons livres (free electron laser =FEL) é trazida a um foco (3 mícrons de largura por 350 mícrons de comprimento) dentro de uma célula que contém gás de Xenônio. A irradiância do feixe laser, a quantidade de potência por unidade de área, foi de 1016W/cm², um recorde para luz ultravioleta extremo.

A luz ejeta elétrons do Xenônio e os íons resultantes são detectados. Neste caso, foram detectados íons com até 21 elétrons removidos. Esta foi a primeira vez em que um número de elétrons tão grande como 21 foi removido durante uma experiência fotoelétrica e os resultados surpreendentes não estão bem explicados pela quantização da luz e dos fótons como partículas de luz. (Sorokin et al., Physical Review Letters, 23 de novembro de 2007)

A VOYAGER 2 CHEGA À HELIOSFERA.

Tal com a sua irmã, a Voyager 1, fez a anos atrás, a Voyager 2, agora, foi longe o bastante do Sistema Solar para encontrar a Heliosfera, onde o vento das partículas solares se encontra com o meio interestelar.

Já sabíamos que a superfície dessa zona de fronteira tem formato irregular, por causa das medições anteriores da Voyager 1 (PNU nº 778, matéria 1).

A Voyager 1 está, atualmente, a cerca de 9,8 bilhões de milhas (cerca de 16 bilhões de km) da Terra e viajando a uma velocidade de 38.000 milhas por hora (cerca de 61.000 km/h). A Voyager 2 está a cerca de 7,8 bilhões de milhas (cerca de 12,5 bilhões de km) e viajando a uma velocidade de 35.000 milhas por hora (pouco mais do que 56.000 km/h). A Voyager 1 pode estar mais rápida e mais longe, e chegar mais cedo, porém o instrumento de medição de plasma da Voyager 2 ainda está funcionando, ao contrário do da Voyager 1.

A Voyager 2 confirma que a camada de fronteira é irregular e descobriu que a temperatura logo além da fronteira é cerca de dez vezes mais fria do que se esperava. (Resultados relatados no encontro, nesta semana, da American Geophysical Union em San Francisco.)


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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

11 dezembro 2007

Falência! [2]

Vou começar minha diatribe seguinte, tomando como base o questionamento do Professor Declev Dib-Ferreira, em seu artigo O que é uma boa escola?, no Diário do Professor.

Portanto, a “boa” escola seria aquela que conseguiria fazer aprender aqueles que não aprenderiam apesar da escola, aqueles que não têm o que citamos que os bons têm: aquelas condições extra-escolares que fazem de um aluno, um bom aluno.

Esta sim, seria uma boa escola, que atenderia a todos, sem eliminação da massa e sobrevivência dos ”mais fortes e mais adaptados”. Uma escola para uma nova sociedade.

Fazer seres competitivos é fácil.

Difícil é fazer pra todos.


Aí, vem a pergunta: como?... Não podemos nos esquecer que as crianças têm vários graus diferentes de habilidades de aprendizado (por menos "politicamente correto" que isso possa parecer, é um fato que não podemos ignorar). Se soubéssemos ao certo se isso tem fundo genético, congênito, ambiental, ou uma combinação dos três, seria mais fácil lidar com as disparidades. Mas o fato é que não sabemos e, ao que tudo indica, não saberemos tão cedo. Portanto, é aceitar o fato e procurar a melhor maneira de lidar com ele...

Dizem as mais recentes pesquisas na área da neurociência que essas habilidades começam a se desenvolver na tenra infância, no mesmo passo em que as crianças começam a aprender coisas básicas, tais como falar, andar e controlar os esfíncteres (desculpem... sem referências). O certo é que, quanto mais cedo começar o aprendizado "formal", mais fácil ele se torna. E é nesta fase em que começam a aparecer os "superdotados". No entanto, a idade prevista para o início do aprendizado é entre os 5 e 6 anos, quando o "estrago" já está feito. Nesta idade, as crianças já são mais "parecidas" com o ambiente em que cresceram e, convenhamos, a maior parte desses "ambientes" não é nada favorável aos estudos e ao aprendizado de nada que preste...

Por isso eu dou tanta importância à pré-escola. O hábito de passar algumas horas (ou até a maior parte delas) do dia em um ambiente onde as "brincadeiras" são direcionadas à socialização e ao aprendizado, principalmente o "disfarçado" de forma lúdica, não priva as crianças do divertimento a que têm direito e pode ajudar muito a criar a noção de que "escola é divertido".

E é aqui que eu entro com mais um de meus "achismos". Eu tenho observado, acompanhando a educação de meus filhos e de meu neto (já que não posso confiar nas minhas memórias de infância) que, nestes últimos vinte e poucos anos, uma coisa não mudou: há uma brusca transição da pré-escola para a educação básica. O caráter "lúdico" é, de repente, removido e se procura incutir nas crianças uma preocupação de "levar os estudos a sério". A bendita "nota", "conceito", ou o que for, começa a ser "importante" e "passar de ano" uma "obrigação". Eu não tenho nada contra ensinar as crianças sobre "responsabilidade individual", mas será que essa transição brusca tem mesmo algum significado?... Me lembra muito a "Classificação Etária" para diversas atividades. Por exemplo: um jovem com 17 anos e 364 dias é "inaceitável" para receber uma Carteira de Motorista e ainda é "legalmente inimputável". No dia seguinte, ele já pode sair dirigindo e já pode ser legalmente responsabilizado por todas as ilegalidades que cometer... E, o que era um direito, "o soberano exercício do sua cidadania" (leia-se: voto), a partir dos 16 anos, passa a ser uma "obrigação", cujo não-cumprimento acarreta as penalidades da Lei...

O contra-argumento de "em algum lugar tem que se traçar uma linha divisória", para mim, é falta de argumento... Como se costuma dizer, na Infantaria, "o Regulamento é a Primeira Linha de Defesa do incompetente"...

Como toda transição, essa também pode ser feita de modo suave e não-assustador para as crianças. Bruno Bettelheim (em "Parents Good Enough" = "Uma vida para seu filho") aponta o fato de que a maior parte do desentendimento entre as gerações e á incapacidade dos adultos em verem o mundo com os olhos de uma criança. Para alguém com cinco a seis anos de idade, o universo inteiro tem uns quatro... E adolescentes acham que o "amanhã" sempre vai existir e, portanto, tudo pode ser postergado. Exigências de "ser responsável", como se isso fosse uma noção nata, é de uma total estupidez. Isso de "responsabilidade" é uma capacidade adquirida e deve ser ensinada, não com palmatória, mas com exemplo e incentivo.

Só que isso dá mais trabalho e exige um acompanhamento individual mais próximo, o que acarreta a necessidade de turmas menores, o que, por sua vez, acarreta uma necessidade de mais professores, mais pedagogos, e até de profissionais de fonoaudiologia, psicologia infantil e (é até ridículo mencionar isto...) oftalmologistas...

Mas, se a idéia é criar novas safras de cidadãos melhores do que as já existentes, não há como dissociar o apoio de saúde, o transporte, a alimentação, e - muito importante - o acompanhamento por assistentes sociais das famílias. "Escola" tem que ser mais do que um prédio com salas de aula e professores dentro. Tem que ser um local que preste diversos serviços sociais, inclusive a instrução. Utopia?... Vendo as condições atuais do que passa por "escola" neste Brasil, a idéia parece realmente utópica... Mas nem sequer é nova: a proposta original dos CIEPS, trazida ao Brasil por Darcy Ribeiro, era exatamente esta (não aquela "máquina eleitoreira" de construir prédios pré-fabricados — e outra "heresia": projetados como o nariz de quem os projetou... [sim... eu sei quem foi e o conheço pessoalmente] — à vista de ruas movimentadas que se fez no Estado do Rio de Janeiro).

(continua...)


Falência! [1]

Eu pretendia abordar o assunto em uma única matéria, mas já percebi que não vai ser possível. Tem a ver com o péssimo desempenho dos estudantes brasileiros na avaliação do PISA, com discussões em grupos no Orkut, com discussões no "Roda de Ciência", tudo sobre educação — ou antes: a falta de educação — no Brasil.

Mas tem a ver, também, com a situação da política brasileira, com a política econômica brasileira e internacional, e com um monte de outras coisas — aparentemente sem relação entre si — que passam pela repercussão do filme "Tropa de Elite", pelas mudanças climáticas, e por um monte de exemplos de "Chi vó, non pó" que andam por aí.

Como eu tenho que começar por algum lugar, vamos começar pelo PISA, que foi comentado aqui, na matéria "Que raios de ensino é este?", pelo Adilson J A de Oliveira, em seu artigo "O nosso ensino de ciências continua muito precário", no "Por dentro da Ciência", e pela Ana Cláudia Lessinger, no "Via Gene", nos artigos "A ciência foi pro espaço... no mau sentido" e "e nem nos damos conta..." (esses foram os que eu vi... provavelmente há muitos outros...)

Eu tenho ainda uma observação a acrescentar: Ah!... Se fosse só a ciência!...

Só que não é!... Não é uma questão só sobre o ensino de ciências: a coisa é muito mais grave. É sobre o ensino, em geral... É sobre a inversão de valores que insiste em continuar acontecendo: para os responsáveis pelas políticas de ensino, o que importa são números: tantas crianças matriculadas em uma ponta, tantas outras com um certificado de conclusão na outra; e que se dane se realmente houve aprendizado entre uma ponta e outra!...

Aí, para esses senhores, o "número" mais significativo é a "evasão escolar" (computada como a diferença entre o número de crianças que entra por uma ponta e o das que sai pela outra). "Qualidade"?... O que é isso?...

E tome de "políticas afirmativas"... "Progressão automática"... Claro, se o "coitadinho" do estudante repetir o ano, porque não aprendeu as matérias, ele é capaz de abandonar os estudos e teremos mais um caso da terrível "evasão escolar"... "Ensino a distância", não para realmente qualificar os professores, mas para promover uma farta distribuição de diplomas de licenciatura àqueles que, em falta dos verdadeiros licenciados, dão aulas sobre o que não conhecem (afinal, com os salários que o ensino público remunera seus professores, a maioria dos verdadeiros licenciados vai para o ensino particular...) E, para por a cereja no topo do "sundae", "Quotas" nas Universidades Públicas para os "estudantes" oriundos desse sistema público de formação de analfabetos funcionais... (quando não é maior ainda o descaramento: financiamento de cursos superiores em instituições particulares, de qualidade para lá de duvidosa, que será pago pelos "depromados" com suas receitas de salários de empregos públicos cuja exigência seja 2º grau, ou venda de sanduíche natural na praia...)

É, por acaso, de estranhar que a Ordem dos Advogados do Brasil tenha instituído uma prova para (des)qualificar a miríade de "Bacharéis em Direito" que são despejados todo ano no mercado de trabalho e não sabem sequer redigir uma Petição Inicial sem separar o sujeito do predicado por (nem digo uma vírgula, mas) um ponto parágrafo? (estão achando mentira?... Pois lembrem-se do ofício, assinado por um Delegado da Polícia Federal, dirigido a um juiz no Estado da Bahia, solicitando autorização para a escuta telefônica dos adversários políticos do extinto ACM: o predicado dos sujeitos no primeiro parágrafo aparecia no segundo, precedido de um verbo no gerúndio...)

Pois eu afirmo que no dia em que o Conselho Federal de Medicina resolver fazer a mesma coisa, vai ser uma catástrofe!... (Eu já tive a oportunidade de ajudar um ex-colega Médico da Marinha a montar seu currículo e reparei no seu histórico acadêmico: não havia uma média superior a 6 em todo o histórico... e não era de uma Faculdade de Medicina famosa, não...)

E outra coisa que eu posso afirmar: uma quantidade assustadora de Teses e Monografias não são da autoria dos pretensos "fomandos". Eu sei... eu já ajudei muitos deles a transformar a algaravia que eles produziam, em um texto coerente (embora destituído de conteúdo: basta fazer bastante citações de autores laureados...)

O Mauro Rebelo, em um excelente artigo do "Você que é biólogo", intitulado Acordo de cavalheiros", desmistifica a própria área, dita "séria" da ciência. Diz ele:

Fazer ciência básica virou fazer ‘qualquer coisa’. O cientista é uma pessoa diferenciada pela sua capacidade de observação. Observar, identificar, hipotetizar, testar, reportar e explicar. Mas também é humano. Isso quer dizer que pode errar nesse processo, mas pior do que isso, pode deixar o processo científico, que deveria ser amoral como a natureza, ser influenciado por crenças e emoções. A pior coisa que pode acontecer à um cientista é se tornar tendencioso. E como mostra Ioannidis no seu fabuloso artigo ‘porque a maior parte das pesquisas publicadas são falsas’ (Why most published research findings are false) os cientistas se tornaram tendenciosos. Muitos deles adeptos da crença no Deus Dinheiro e na Santa Indústria de Fármacos.

Os cientistas começaram a focar nas respostas (número de artigos publicados, número de projetos aprovados, de teses defendidas, de patentes registradas) e foram perdendo a habilidade mais peculiar à atividade científica: fazer boas perguntas! Uma leitora fã do Zen e um amiga fã do Jostein Gaarder já falaram disso esse ano pra mim e tenho cada vez mais pensado no assunto: Uma boa pergunta é mais importante que a resposta!


E quem vai ensinar isso, Mauro?... Quem vai ensinar nossos estudantes a "fazerem boas perguntas" se eles não são ensinados a "fazerem perguntas" — ao contrário: são ensinados a "decorebarem" conteúdos programáticos ocos, para repetí-los em "provas" e "testes" que avaliam mais se o "professor" sabe redigir questões ou não... (Querem exemplos?... Eu dou!... Uma prova de história, para o 2º ano colegial, questão - tipo "preencher lacuna": "Os Estados Unidos lançaram a Bomba Atômica em _____"; resposta da minha filha: Hiroshima e Nagasaki - errado!... Segundo a "professora" [que arrotava "30 anos de magistério"] seria "Japão"... Hiroshima e Nagasaki provavelmente são subúrbios de Belo Horizonte... E "em Japão" é dose!...)

E o nosso onipresente Krishnamurti Andrade ainda reclama dos alunos dele!... Como se a "culpa" pelo analfabetismo e a incapacidade de fazer "regra de três" fosse somente devida à falta de interesse dos alunos... Pois eu lhe digo uma coisa, Krishnamurti: você tem muita sorte de ainda encontrar um ou outro aluno que se interesse por Física!... Para a periferia que você atende, as opções são, quase sempre, jogar futebol fora do Brasil (até na Islândia tem brasileiro enganando que joga bola...), ou cair na marginalidade de uma vez (nem que seja na "marginalidade transformada em virtude" de ser "apadrinhado de político")... Física é um "luxo" ao qual brasileiros pobres não podem se permitir... Você até pode ser a honrosa excessão que confirma a regra. Eu conheço um filho de peão e lavadeira (ambos analfabetos), negro, cuja infância se dividiu entre o colégio público e o trabalho como engraxate nas ruas de Corumbá, que fez Serviço Militar como Marinheiro em Ladário, MS, estudou como um desesperado, passou para a Escola Naval, fez carreira como Oficial e, com seu soldo, sustentou os estudos de seus irmãos. Ele é a excessão: todos os amigos de infância dele morreram ou entraram para o narcotráfico e contrabando na fronteira.

E a Emenda Constitucional da Heloisa Helena, incluindo a pré-escola na Educação Pública Básica, aprovada e sancionada após quatro anos na "gaveta", só aguarda ser posta em funcionamento... Mas os recursos oficiais são poucos (principalmente para alimentar os "Caixa 2" dos partidos, governo e oposição...)

Nada a ver?... Muito ao contrário. E não sou eu que digo por "achismo": queiram ver A importância da Pré-escola; um estudo da Universidade de Minnesota, com foco em Chicago...

(depois eu volto ao assunto... ainda tenho muito o que "espernear"...)

05 dezembro 2007

Physics News Update nº 849

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 849, de 5 de dezembro de 2007 por Phillip F. Schewe e Jason S. Bardi.
PHYSICS NEWS UPDATE

PARES DE COOPER EM ISOLANTES.

Pares de Cooper são extraordinárias liagações entre elétrons com cargas iguais através das sutis flexões de um cristal. Eles servem como a espinha dorsal do fenômeno da supercondutividade, mas agora também foram observados em um material que não só não é um supercondutor, como é, na verdade, um isolante.

Uma experiência na Universidade Brown mediu a resistência elétrica em uma placa tipo "queijo suíço" de átomos de Bismuto, feita pela aspersão de uma nuvem de átomos sobre um substrato com buracos de 27 nm de largura, espaçados a cada 100 nm.

Filmes de Bismuto feitos dessa maneira são supercondutores se a amostra tiver uma camada de vários átomos de espessura, mas é isolante se a película tiver uns poucos átomos de espessura, devido aos efeitos sutis que emergem da geometria restritiva. Os estados supercondutivo e isolante são facilmente distinguidos; à medida em que a temperatura é abaixada além da temperatura de transição (2°K), a resistência cai a zero para o Bismuto supercondutor, enquanto que no Bismuto isolante a resistência se torna extremamente alta.

Os Pares de Cooper certamente estão presentes na amostra supercondutora; eles se arregimentam para criar uma supercorrente não resistiva. Mas como os pesquisadores sabem que os pares estão presentes também no isolante?

Por causa de um teste adicional. Por meio da observação do que acontece quando um campo magnético externo é aumentado. A resistência deveria variar periodicamente, com um período proporcional à carga dos objetos elétricos em questão. A partir da periodicidade, neste caso proporcional ao dobro da carga do elétron, os físicos da Brown puderam deduzir que eles estavam observando objetos com dupla carga se movendo pela amostra. Em outras palavras, existem Pares de Cooper no isolante. Isto só é válido nas temperaturas mais baixas.

Um dos pesquisadores, James Valles, diz que já existiam indícios prévios da presença de Pares de Cooper em algumas películas relacionadas com supercondutores, mas que, nesses casos, os indícios da existência de Pares no estado isolante era ambígua e não direta como na observação registrada no laboratório da Brown. Ele afirma que um isolante bosônico (no qual os portadores das cargas são pares de elétrons) auxiliará a explorar mais ainda o estranho parentesco entre isolantes e supercondutores. (Stewart et al., Science, 23 de novembro de 2007)

UMA LUA COMO A NOSSA RARAMENTE SE FORMA.

As interpretações de observações recentes na faixa do infravermelho podem mudar nossas opiniões sobre a Lua. Cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, nossa Terra foi literalmente arrasada, vítima de um impacto gigantesco com um objeto do tamanho de Marte. A colisão que foi poderosa o bastante para vaporizar as rochas e lançar uma maciça pluma do manto da Terra no espaço, não foi de todo má, no entanto.

O objeto que se chocou com a Terra logo se mesclou a ela, dando-lhe uma rotação rápida, enquanto que pedaços do manto da Terra se estabeleciam em um disco em torno de nosso planeta. Dentro de um ano, ou coisa parecida, formou-se a Lua, a partir desses escombros. As rochas que sobraram continuaram a circular em torno do Sol pelo próximo milhão de anos, colidindo ocasionalmente e criando um fluxo de poeira, até que a gravidade e a radiação solar limparam tudo.

Muitos cientistas se interessam em saber o quão comuns são tais impactos em outros jovens sistemas solares, porque a poderosa mistura do efeito de marés, provocado pela gravidade da Lua, pode ter tido um papel importante em criar as condições favoráveis para a origem da vida na Terra.

Recentemente, Nadya Gorlova, da Universidade da Flórida, e seus colegas do Observatório Steward em Tucson, Arizona, e do
European Southern Observatory, em Santiago, Chile, relataram no The Astrophysical Journal que isto pode não ser um fato comum, absolutamente.

Usando o Telescópio Orbital Spitzer, criogenicamente resfriado, Gorlova e seus colegas observaram o aglomerado estelar NGC 2547, que tem 30 milhões de anos de idade. Eles selecionaram este aglomerado por causa de sua idade. O processo de formação de planetas acaba em aproximadamente 50 milhões de anos, tornando as oportunidades para a ocorrência de um impacto gigantesco pouco prováveis fora deste intervalo. A outra vantagem é que o NGC 2547 é velho o bastante para que a nuvem original, da qual são feitos os sistemas planetários, se tenha dissipado (isto leva de 3 a 10 milhões de anos).

Focalizando em radiações na faixa de comprimento de onda de 8 mícrons, eles poderiam detectar o calor que seria de se esperar de poeira em uma distância de uma unidade astronômica (1 AU) de uma estrela do tipo solar. O aglomerado NGC 2547 já havia sido anteriormente pesquisado por espectroscopia, de forma que eles poderiam cruzar os dados para se assegurar que as emissões que eles detectassem não seriam devidas a gases (o que seria evidente nas linhas do espectro de emissão).

Das cerca de 400 estrelas no aglomerado NGC 2547, eles só encontraram uma que exibia indícios de poeira devida a um impacto maciço. A partir disto, eles concluíram que colisões, tais como a que fez surgir nossa Lua, não acontecem em todos os sistemas. Isto significa que luas como a nossa podem ser raras. (The Astrophysical Journal, 20 de novembro de 2007)


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PHYSICS NEWS UPDATE é um resumo de notícias sobre física que aparecem em convenções de física, publicações de física e outras fontes de notícias. É fornecida de graça, como um meio de disseminar informações acerca da física e dos físicos. Por isso, sinta-se à vontade para publicá-la, se quiser, onde outros possam ler, desde que conceda o crédito ao AIP (American Institute of Physics = Instituto Americano de Física). O boletim Physics News Update é publicado, mais ou menos, uma vez por semana.

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Como divulgado no numero anterior, este boletim é traduzido por um curioso, com um domínio apenas razoável de inglês e menos ainda de física. Correções são bem-vindas.

01 dezembro 2007

Que raios de ensino é esse?...

Uma notícia publicada em "O Globo" de hoje mostra a que ponto chegamos no sucateamento da educação no Brasil:


Estudo do MEC revela que 70% dos professores de ciências não têm formação na área

RIO - Um estudo do Ministério da Educação (MEC) revela que sete em cada dez professores de ciências das escolas no Brasil não têm formação específica para lecionar a disciplina. A maioria fez faculdade em outra área e alguns não têm sequer diploma universitário. O problema se agrava entre os professores de física: 90% e 86% deles, respectivamente, não concluíram o curso apropriado. A pesquisa foi feita com base em dados de 2003 para turmas de 5ª a 8ª série do ensino fundamental (ou 6º ao 9º ano, onde o ensino fundamental dura nove anos). A projeção terá uma atualização em breve, quando o MEC concluir o novo Censo Escolar (Educacenso).

Especialistas avaliam que a má formação dos professores seja uma das principais causas do fraco desempenho dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que deixou o Brasil em 52º lugar entre 57 países avaliados . O estudo, coordenado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi divulgado foi divulgado na última quinta-feira.

A capacitação inadequada dos professores aliada à falta de infra-estrutura para aulas práticas e experimentação nas escolas também foram apontadas por especialistas como causas que contribuem para o fraco desempenho dos alunos e os resultados do ensino brasileiro. O secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Adalberto Cardoso, considera que o país não deixa a desejar apenas no ensino de ciências, mas em 'toda a educação fundamental'.



(A notícia prossegue...)


Vou me permitir grifar o início da matéria: (...) sete em cada dez professores de ciências das escolas no Brasil não têm formação específica para lecionar a disciplina. A maioria fez faculdade em outra área e alguns não têm sequer diploma universitário. O problema se agrava entre os professores de física: 90% e 86% deles, respectivamente, não concluíram o curso apropriado.

Agora, eu pergunto: de que adianta matricular um monte de crianças em escolas que não têm professores capacitados? Fica muito bonitinho nas estatísticas: "trocentos por cento das crianças em idade escolar freqüentam escolas"... E não aprendem chongas!

O governo finge que ensina, as crianças brincam de "ir à escola", o IDH do país cresce e o governo faz propaganda... E os brasileiros continuam ignorantes com um "canudo" que não vale o papel onde foi escrito.

"... E cosi, male il Brazile vá..."

Atualizando: O Adilson publica uma matéria com base na mesma notícia, no seu "Por dentro da ciência": O nosso ensino de Ciências continua ainda muito precário.

27 novembro 2007

Physics News Update nº 848

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 848, de 20 de novembro de 2007 por Phillip F. Schewe e Jason Bardi. PHYSICS NEWS UPDATE

UMA MELHOR DETECÇÃO DO CÂNCER DA TIREÓIDE deve ser obtido através de uma nova técnica que está sendo desenvolvida pela Clínica Mayo.

O ultrassom é, atualmente, a ferramenta mais sensível para a detecção de nódulos na tireóide e o processo mais econômico de imageamento para a avaliação da glândula tireóide. Entretanto, a enorme maioria dos nódulos descobertos pelo ultrassom (cerca de 95%) são benignos. Freqüentemente o ultrassom e outros resultados de imageadores são ambíguos e não conseguem diferenciar entre nódulos benignos e malignos na tireóide. A única maneira de descartar um diagnóstico de câncer é através da aspiração por uma punção e biópsia. Mais da metade dessas biópsias comprovam a benignidade.

Embora isso possa ser reconfortante para as pessoas que passam por essas biópsias, seria melhor se elas pudessem receber este conforto sem ter que passar por um procedimento caro, invasivo e (como acontece na maioria dos casos) desnecessário.

Azra Alizad, do Colégio de Medicina da Clínica Mayo, desenvolveu uma nova técnica não-invasiva de imageamento, chamada vibro-acustografia (VA), para identificar nódulos na tireóide em tireóides humanas extirpadas envoltas em um gel de tecido. Neste método, o ultrassom é usado para fazer vibrar o tecido em baixas freqüências e as vibrações resultantes podem ser detectadas por um microfone sensível. Tecidos mais duros normalmente produzem um campo acústico significativamente diferente dos tecidos mais macios e a detecção da diferença pode revelar um diagnóstico mais definitivo.

Lesões malignas são mais mais rígidas do lesões benignas; portanto, é razoável se esperar que a VA seja uma ferramenta de detecção e diferenciação de nódulos na tireóide melhor do que a utrassonografia convencional. Embora a técnica ainda não tenha sido testada para realmente detectar câncer de tireóide em experiências clínicas, a vibro-acustografia está passando, atualmente, por avaliação clínica para a detecção de lesões de câncer de mama em pessoas. Se for bem sucedida, esta ferramenta barata e não-invasiva de imageamento representaria um grande avanço em nossa capacidade de atender a pessoas potencialmente portadoras de câncer.

Alizad apresentará seus novos resultados no encontro desta semana da Sociedade Acústica da América (Acoustical Society of America = ASA) em New Orleans. (Paper 3pBB3, ver website do encontro )

RIGIDEZ DE TECIDOS COMO MEDIDA DE SAÚDE.

Matthew Urban e seus colegas do Colégio de Medicina da Clínica Mayo estão projetando novas maneiras para medir a rigidez de tecidos como uma ferramenta auxiliar para diagnose não-invasiva. A monitoração das propriedades materiais de um tecido pode não ser uma medida tão óbvia para sua saúde como suas propriedades biológicas ou químicas, mas mudanças nessas propriedades podem ser um bom indício de doença.

Áreas de rigidez em um tecido, por exemplo, são freqüentemente um bom sinal de alerta para câncer — a premissa básica para o auto-exame das mamas. Da mesma forma, quando se formam tumores cancerosos no fígado ou qualquer outro órgão do corpo, eles são freqüentemente mais rígidos do que os tecidos circundantes, porque há uma maior vascularização para alimentar os tumores.O problema é: como você pode medir a rigidez dos tecidos lá dentro do corpo? Não existe uma coisa tal como auto-exame do fígado.

No encontro da ASA, nesta semana, Urban relata suas últimas experiências, nas quais ele e seus colegas usaram ondas de ultrassom para enviar pequenas vibrações para uma esfera de aço encapsulada em gelatina, um modelo de tecido com uma lesão rígida.

Eles foram capazes de medir a freqüência de resposta da esfera a ondas acústicas em várias freqüências, que podem, então, ser empregadas para determinar a rigidez do material simulacro de tecido. O processo também fornece novos meios não invasivos para a avaliação da rigidez dos tecidos sem a presença da esfera de aço.

Além disso, eles foram capazes de enviar a energia para a esfera sem aquecer a gelatina circundante. Isto é um dos desafios no emprego de ultrassom altamente focalizado, porque a energia acústica pode ser absorvida pelos tecidos circunjacentes na forma de calor. (Palestra 3pBB1, mesmo website acima)

RECRIANDO O MUNDO DENTRO DE SUA CABEÇA.

O primeiro uso de sons de realidade virtual individualizados em um ambiente de [Espectrografia de] Ressonância Magnética funcional (functional MRI = fMRI) feito para reproduzir uma experiência natural acústica para estudo do funcionamento do cérebro, pode fornecer uma explicação melhor para o efeito "cocktail party" — o processo pelo qual tentamos fazer sentido de uma conversa em uma festa apinhada de gente, mesmo quando outras conversas potencialmente causadoras de distração continuam a acontecer ao mesmo tempo.

Novas espectrografias com uso de fMRI estão auxiliando os pesquisadores a compreender como o cérebro segrega objetos no espaço quando uma pessoa ouve, mas não necessariamente vê, múltiplas fontes de som. No laboratório de Kourosh Saberi na Universidade da Califórnia em Irvine, pacientes humanos são expostos a vários sons. Algumas vezes os sons vêm de diferentes posições próximas ao paciente. enquanto em outras diversos sons vêm de uma mesma posição.

Ao examinarem as imagens de fMRI que mostram áreas de fluxo sanguíneo aumentado, que dão mapas da atividade cerebral com uma resolução de 2 mm, os cientistas da UC Irvine relatam dois resultados principais. Primeiro, nenhuma região específica do cérebro é
exclusivamente responsável pela identificação do movimento auditivo, em contraste com o córtex visual que têm regiões específicas sensoras de movimentos. E segundo, a informação auditiva espacial parece ser processada em uma região neural chamada Planum Temporale, de uma forma que facilita a segregação de múltiplas fontes de som. (Palestra do encontro da ASA 2aPP8, mesmo website acima)

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25 novembro 2007

Ainda restam esperanças!...


Via EurekAlert, mais uma matéria sobre os Oceanos:

Cientistas marinhos avisam que a segurança e a prosperidade do ser humano dependem de uma melhor sistema de observação dos Oceanos

Um apelo por um sistema inicial adequado para o produção de compreensão, previsões úteis para o público e para os responsáveis pelas politicas

O diagnóstico rápido do temperamento e dos sinais vitais dos oceanos é cada vez mais importante para o bem estar da humanidade, afirma uma distinta comunidade internacional de cientistas, urgindo por apoio para um completo sistema global de monitoramento marinho em até 10 anos.

A Parceria para a Observação dos Oceanos Globais (Partnership for Observation of the Global Oceans = POGO) declara que o aquecimento dos mares, pesca predatória e poluição estão entre profundas preocupações que têm que ser melhor medidas para auxiliar a sociedade para responder de forma bem informada, a bom tempo e com custos bem calculados.

“Um sistema para a observação e previsão dos oceanos que cubra todos os oceanos do mundo e suas principais utilizações, pode reduzir riscos crescentes, proteger os interesses humanos e monitorar a saúde de nossos preciosos oceanos,” afirma o Dr. Tony Haymet, Diretor da Scripps Institution of Oceanography, University of California San Diego, USA, e Presidente do Comitê Executivo da POGO.

“A comundade mundial resolveu construir um sistema abrangente e integrado para a observação dos oceanos a duas décadas. A boa notícia é que nós demonstramos que um sistema global de observação dos oceanos pode ser construído, instalado e posto a funcionar com as tecnologias existentes. Agora, temos que passar da fase de experiência e da prova-do-conceito para o uso rotineiro. Progredimos menos de metade do caminho para nossas metas iniciais. Vamos completar a tarefa antes que sejamos atingidos por mais tsunamis ou calamidades comparáveis.”

O custo de um sistema inicial adequado necessitará de mais investimentos, da ordem de 2 a 3 bilhões de dólares, envolvendo:

  • uma rede estável de satélites para vigiar as vastas extensões das superfícies dos oceanos;
  • estações fixas realizando contínua medição no fundo do mar ou como flutuantes e bóias ancoradas na coluna d'água na superfície;
  • pequenos robôs monitores submarinos, alguns garrando com as correntes, outros realizando monitoramento ao longo de rotas programadas;
  • animais marinhos engenhosamente dotados de "etiquetas" eletrônicas que os equipem para capturar e transmitir dados acerca dos ambientes que visitam;
  • navios mercantes e de pesquisa, aproveitando suas rotas para realizar observações.

A análise dos dados, integrados com observações da atmosfera e outras fontes, e sua assimilação em modelos, podem produzir compreensões e previsões úteis para o público e para aqueles que estabelecem políticas.

“Os oceanos cobrem a maior pare de nosso planeta – 71% – mesmo assim são grandemente sub-amostrados,” diz o Dr. Haymet. “Nós temos uma urgente necessidade e novas maravilhas tecnológicas disponíveis hoje para completar um sistema pelo qual os cientistas marinhos podem diagnosticar com autoridade e antecipar mutações nas condições dos oceanos globais – algo parecido com o sistema que permite aos meteorologistas prever o tempo.

“Um sistema contínuo e integrado de observação dos oceanos vai dar um retorno de muitas vezes o valor do investimento em operações marítimas mais seguras, diminuição dos danos causados por tempestades e a conservação dos recursos marinhos vivos, bem como coletar os sinais vitais dos oceanos que são necessários para monitorar mudanças climáticas.”

O chamado dos cientistas para a complementação deste “primeiro recrutamento” do sistema de observação dos oceanos é feito na hora em que os ministros e oficiais das 71 nações membros do GEO (o intergovernamental Grupo para Observações da Terra = Group on Earth Observations) se reúne em Cape Town, África do Sul, entre 28 e 30 de novembro. O encontro vai revisar o progresso e traçar o mapa dos próximos passos para um esforço no período de 10 anos para construir um sistema com base em terra, se deslocando pelos oceanos, aéreo e espacial, o Sistema Global de Observação de Sistemas da Terra (Global Earth Observation System of Systems = GEOSS) para monitorar todas as condições ambientais da Terra.

Tecnologias

“O passo rápido do desenvolvimento tecnológico está abrindo abordagens inteiramente novas para a medição dos oceanos, inclusive observações físicasa e biológicas a partir de peixes e mamíferos aquáticos. O potencial para a exploração da marinha mercante como plataforma para a monitoração das propriedades dos oceanos, embora bem demonstrada, oferece uma enorme oportunidade para maior desenvolvimento. Técnicas de biologia molecular estão transformando a maneira como identificamos espécies e interpretamos seu desenvolvimento evolucionário; existem importantes oportunidades para combinar dados físicos e biológicos para melhor entender a ligação entre os ecossistemas marinhos e a dinâmica oceânica,” declara David Farmer, da Royal Society e chefe da University of Rhode Island’s Graduate School of Oceanography.

Entre as tecnologias usadas pelos observadores oceânicos:

Sondas Robóticas Mergulhadores

Incluem, atualmente,cerca de 3.000 pequenas e móveis sondas “Argo” que medem a pressão, salinidade e temperatura em profundidades de até 2 km e retornam à superfície a cada 10 dias para transmitir suas leituras via satélite. Os instrumentos medem condições que atuam sobre mudanças climáticas. Os oficiais da POGO dizem que são necessárias até 10 vezes mais dessas sondas para produzir um quadro global de alta resolução das condições marinhas.

Veículos e naves de pesquisa não-tripulados

Estão em andamento testes de campo com os assim chamados ‘air-clippers’: sensores atmosféricos e da superfície dos oceanos pendurados em balões. Com esses sensores, os cientistas conseguiram obter medições concorrentes das condições atmosféricas e da superfície do oceano de dentro o olho de um forte ciclone onde os balões foram capturados.

Enquanto isso, os cientistas que usam equipamentos robóticos submarinos para registrar a vida e as condições nas remotas profundezas oceânicas, dizem que eles ainda apenas arranharam a superfície com os recursos disponíveis.

A bordo de navios de pesquisas, os cientistas podem tirar amostras e monitorar a distribuição e a abundância de espécies marinhas, enquanto desenvolvem tecnologias da próxima geração para observação – por exemplo, dispositivos para realizar, em alto mar, o seqüenciamento do DNA de formas de vida, tais como micróbios, bactérias e plânctons, realizando medições em tempo real semelhantes às “contagens de pólen”.

Novas abordagens com Sonar

A tecnologia de acústica naval para a transmissão de som em todas as direções, porém detectando o som com uma grade de hidrofones, e transformar este sinal em uma imagem dos objetos nos oceanos, foi demonstrada com um sucesso espetacular nas águas costeiras. Imagens cobrindo milhares de km² revelaram a presença de cardumes enormes, contendo dezenas de milhares de peixes e se estendendo por vários quilômetros. Outros sistemas de sonar estão permitindo o mapeamento e a caracterização do leito do mar com uma precisão sem precedentes.

Etiquetas

Como parte do Censo da Vida Marinha Internacional (Census of Marine Life = CoML), aproximadamente 2.000 animais marinhos que viajam para o profundo mar aberto foram etiquetados pelo projeto TOPP (Tagging of Pacific Palagics), criando uma equipe de oceanógrafos animais que revelam locais importantes de biodiversidade, áreas de reprodução e rotas de migração que precisam ser protegidas e também descrevem o estado físico das áreas dos oceanos habitadas por esses animais.

As 22 espécies etiquetadas incluem elefantes marinhos, tubarões brancos, tartarugas de couro, lulas, albatrozes e uma espécie de procelária (para ver um vídeo das etiquetas em funcionamento: arquivo em formato .mpg).

Dados sobre luminosidade, profundidade, temperatura e salinidade capturados pelas etiquetas são transmitidos por satélite à medida em que as criaturas vão se deslocando. Os elefantes marinhos, por exemplo. levam 10 meses no mar e mergulham a profundidades de até 1,5 km abaixo da superfície.

Etiquetas acústicas, espalhadas por outro projeto do CoML, POST (Pacific Ocean Salmon Tracking), permite que os pesquisadores sigam os animais que permanecem nas rasas plataformas continentais, tais como o salmão e o esturjão, criando visualizações sobre suas migrações e sobrevivência onde e porque eles morrem – que sugerem melhores estratégias para pesca auto-sustentável. Mais de 12.000 etiquetas acústicas da POST foram distribuídas pela rede da POST, resultando em mais de 4 milhões de detcções dos movimentos e sobrevivência dos animais etiquetados.

O Cientista Chefe do CoML, Ron O’Dor, diz que se está buscando o aval e o apoio dos ministros em Cape Town para a Rede de Detecção Oceância, recentemente criada para expandir o uso dessas técnicas para um sistema contínuo de âmbito mundial.

Os experts do CoML também querem que os ministros da GEO endossem protocolos padrão para gerenciar um sistema de monitoração de biodiversidade de águas rasas, de baixo custo, que pode se tornar operacional em 5 anos, para lançar luzes sobre espécies invasivas, mudanças climáticas e outros assuntos dignos de nota.

Bóias ancoradas

Ao longo da região equatorial da Terra, aproximadamente 50 bóias ancoradas foram lançadas para medir a temperatura, as correntes, ondas e ventos, salinidade, dióxido de carbono, permitindo aos cientistas estudar os sinais e prever padrões meteorológicos destrutivos, tais como El Niño. Os cientistas dizem que são necessárias quatro vezes mais bóias para criar uma cobertura mais uniforme. Algumas áreas não têm sequer uma estação de coleta de dados.

Em um crescente número de lugares, enquanto isso, sensores de pressão espalhados próximos da costa e no fundo do mar ajudam a detectar tanto a elevação do nível do mar como tsunamis. A operação no alto mar envolve uma bóia de superfície para receber as informações do fundo e retransmití-la para as estações em terra via satélite. Havia seis dessas bóias Deep Ocean Assessment and Reporting of Tsunamis (DART), todas instaladas no Pacífico, na ocasião do terremoto e do devastador tsunami do Oceano Índico de dezembro de 2004. Logo foram anunciadas as instalações de mais 32 bóias DART, inclusive estações no Índico, Caribe e Oceano Atlântico.

Observatórios com cabos

Usando cabos com centenas de km de comprimento no fundo do mar, em profundidades de até 3 km, pontuadas com “nodos” de instrumentos, os cientistas podem acessar e controlar sensores científicos e veículos e câmeras de controle remoto.

A informação coletada vai melhorar a compreensão das florações de plânctons, migrações de peixes, mudanças nas condições dos oceanos, mudanças climáticas, erupções vulcânicas submarinas, terremotos e o processo que os causa, e vai auxiliar no alerta de aproximação de tsunamis.

Satélites

O sistema de observação do oceano sofre de grandes descontinuidades na cobertura de observação por satélites, que fornecem uma janela de grande altitude em características marinhas tais como os enrugamentos da superfície oceânica, temperatura, correntes, cobertura glacial e bancos de sargaços.

Benefícios sociais

Os oceanos estão absorvendo menos carbono e, assim, perdendo a capacidade de diminuir as mudanças climáticas? Estará o fluxo de águas profundas no Atlântico Norte vagarosamente freando atá o congelamento – a premissa do filme apocalíptico de Hollywood “O Dia Depois de Amanhã”? Os recifes estão sendo branqueados? Os cientistas visam um contínuo e integrado sistema de observação do oceano que pesquise e monitore rotineiramente as condições e ofereça prontos diagnósticos e oportunas previsões de problemas – informações práticas em benefício da humanidade de diversos modos:

Diminuir os danos de desastres naturais e mau tempo

Um a compreensão mais profunda do comportamento do oceano vai ajudar a sociedade a prever e se proteger melhor de tempestades catastróficas tais como furacões, tufões e tsunamis.

Melhores informações sobre o oceano vão melhorar a previsão do tempo e do clima em curto e longo prazo, reforçando assim a preparação para os desastres e mitigação de danos, assim como estratégias para colheitas agrícolas e marinhas. Bem como uma melhor observação do oceano vai melhorar a segurança do transporte marítimo – que transporta 90% das mercadorias internacionalmente comercializadas – com informações acuradas e a tempo sobre as condições oceânicas.

Saúde humana e bem estar

Entre os benefícios oferecidos por uma melhor observação dos oceanos: a medição das temperaturas da superfície dos mares pode prever a movimentação dos peixes de águas tradicionais, e até surtos de doenças associadas comágua mais quentes, enquanto a monitoração da eutroficação induzida pela poluição ajudará a predizer o crescimento de algas tóxicas.

Energia

Oa oceanos são uma fonte crescente de energia – petróleo e especialmente gás natural – na medida em que as operadoras procuram no leito do mar e em águas cada vez mais profundas, com instalações de muitos bilhões de dólares. "Fazendas de ventos" em alto mar também dependem de informação confiável e a tempo sobre as condições oceânicas. Uma melhor observação do oceano vai ajudar a coletar várias fontes de energia segura e eficientemente, com efeitos mínimos sobre o meio ambiente.

Clima e acidez dos mares

Um sistema de observação do oceano totalmente desenvolvido vai fornecer novas abordagens sobre como condições alteradas nos mares, inclusive águas mais quentes e acidificação dos mares, afetam o clima, o tempo e o papel do oceano como absorvedor de carbono. Os cientistas querem saber como águas mais quentes, por exemplo, têm impacto sobre as formas de vida microscópicas que consomem 50 gigatons de carbono por ano, mais ou menos o mesmo do que todas as plantas e árvores na terra.

Ecossitemas marinhos e biodiversidade

Uma maioria da vida na Terra come, nada, rasteja, luta e vive nos oceanos. As temperaturas das águas afetam onde as espécies vivem e viajam, assim como a distribuição de nutrientes, dos plânctons para cima na cadeia alimentar. Um sistema integrado de observação oceânica vai iluminar o impacto de mudanças nas condições do oceano e da poluição nos ecossistemas marinhos e costeiros e a distribuição, abundância e biodiversidade de organismos.

Chamada para a Ação

D. James Baker, antigo diretor da Administração Nacional Oceânica e Atosférica dos EUA, diz: “O excitante progresso até a presente data também mostra o tamanho da oportunidade restante. Nós temos uma quantidade pateticamente pequena de medições dos oceanos, com relação a sua importância sobre a vida na Terra e da extensão na qual dependemos dele para energia, clima, alimentação e recreação.”

De acordo com o oceanógrafo Sulafricano John Field, presidente do Scientific Committee of the Global Ocean Observing System: “Nas primeiras poucas décadas deste século nós podemos desenvolver um sistema de observação do oceano comparável em valor ao sistema que tanto apreciamos de meteorologia. Se no ano de 2020 a monitoração e previsão do oceano estiver tão desenvolvida, poderemos nos lembrar dessa reunião de Cúpula de Cape Town como quando os governos intensificaram suas adesões chaves.”

“O povo que vigia e se preocupa com cada mar que se una em apoio a um sistema de observação oceânica global mais aperfeiçoado e integrado,” diz o Prof. Howard Roe, Director Emeritus, National Oceanography Centre, Southampton, U.K. e antigo presidente da POGO Chair, que vai liderar a delegação da POGO em Cape Town.

Finalmente, nota Jesse Ausubel, diretor do programa CoML para a Fundação Alfred P. Sloan Foundation: "2012 será o centenário do afundamento do Titanic. Eu penso que o Capitão Smith ficaria desapontado com a continuação da hesitação em firmar nosso sistema de observação do oceano."

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(Comentários aqui, por favor)

20 novembro 2007

Physics News Update nº 847

O Boletim de Notícias da Física do Instituto Americano de Física, número 847, de 20 de novembro de 2007 por Phillip F. Schewe PHYSICS NEWS UPDATE

O TEMPO COM EL NIÑO EM UM MUNDO MAIS QUENTE vai causar uma diminuição no número de dias congelantes nos estados do Sudoeste, um aumento da intensidade da precipitação nos estados do Sudeste e um aumento na intensidade das ondas de calor no cinturão Sul de estados, de acordo com um novo estudo.

O estudo examina o impacto no clima dos eventos El Niño nos extremos de temperaturas na América do Norte, se, como freqüentemente previsto, o aquecimento global aumentar as temperaturas em um grau ou dois nas próximas décadas.

El Niño é o nome dado a uma enorme interação oceano-atmosférica com transferência de energia, ao longo do Oceano Pacífico tropical, entre a América do Sul e a Ásia. Os eventos El Niño ocorrem de maneira irregular, em intervalos que variam de dois a sete anos, e que podem ter um grande impacto em lugares em torno e além da Bacia do Pacífico.

Gerald Meehl e seus colegas do National Center for Atmospheric Research (NCAR) (Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica) em Boulder, Colorado, tentaram fazer um modelo do que acontece quando ocorrerem eventos El Niño em um hipotético mundo mais quente, especialmente nos padrões climáticos dos EUA.

O modelo, antes de mais nada, realiza um belo trabalho de simular extremos de tempo (tais como o número de dias congelantes quando a temperatura cai abaixo do ponto de congelamento — e precipitações intensas) no mundo tal como é hoje. Além disto, o mesmo modelo foi usado para demonstrar que o aumento das temperaturas nos EUA, nos anos recentes, é devido, principalmente, a atividades humanas, mais do que qualquer flutuações naturais que pudessem estar ocorrendo.

Dar ao modelo uma temperatura básica ligeiramente mais alta, faz emergirem algumas modificações específicas nos extremos climáticos nos EUA, tais como as mudanças nos extremos mencionadas acima. (Meehl et al., Geophysical Review Letters, edição corrente.)

AS PIRÂMIDES DO EGITO, A EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS E O ASSASSINATO DE JFK: todos foram estudados pelo físico de Berkeley Luis Alvares.

Alvarez ganhou um Prêmio Nobel por sua descoberta de novas partículas, usando uma câmara de bolhas, mas parte de sua fama vem de seu trabalho em aplicar princípios e métodos de física fora do campo normal da pesquisa da física.

Na edição de novembro do American Journal of Physics, Charles Wohl do Lawrence Berkeley National Lab examina três exemplos notáveis dos esforços extra-curriculares de Alvarez.

1 - Procurar por possíveis câmaras secretas na Pirâmide de Kefren no Cairo — uma das três grandes pirâmides construídas no terceiro milênio AC. Alvarez projetou uma experiência na qual raios cósmicos atingiriam um detector instalado em uma câmara conhecida no interior da pirâmide. Observando os muons penetrantes, provenientes dos jatos de raios cósmicos, este detector poderia discernir qualquer espaço interveniente oco na estrutura da pirâmide acima. Resultado: nenhuma câmara oculta.

2 - Ao escrutinar o assim chamado "Filme Zapruder", uma curta seqüência de filmagem que capturou o momento do assassinato, os experts ficaram intrigados pelo movimento brusco para trás da cabeça do Presidente Kennedy, após o impacto de uma das balas. Alguns acharam que isso era um indício de que havia outro assassino na frente do carro do presidente. Alvarez e seus colegas realizaram testes improvisados em uma linha de tiro e também consideraram a conservação do momento e a matéria do ferimento em movimento para a frente. Disso eles concluíram que a seqüência filmada era consistente com um tiro por trás.

3 - O mais famoso de todos foi a Hipótese de Alvarez, criada em conjunto com seu filho Walter Alvarez, que uma fina, porém conspícua, camada do, em outros lugares, raro elemento Irídio, em vários lugares do mundo, todos em um estrato geológico correspondente à era logo no entorno da fronteira entre os períodos Cretácio e o Terciário (a fronteira KT), significava um grande impacto de um asteróide nessa época. Este impacto, pensou-se ainda, lançou nos ares poeira suficiente por um tempo suficiente para matar muitas coisas vivas, inclusive grande parte dos dinossauros.


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15 novembro 2007

Crise?... Que crise?...

Um amigo (que eu não vou identificar, por motivos óbvios) me mandou essa:

Recessão na América

A economia vulnerável da América
15 de novembro de 2007
Da edição impressa da The Economist

A recessão na América parece cada vez mais provável. Os mercados emergentes em expansão podem salvar a economia mundial?

EM 1929, dias após o "crack" da Bolsa, a Harvard Economic Society reconfortava seus assinantes: “Uma recessão grave está fora dos limites da probabilidade”. Em uma pesquisa, em março de 2001, 95% dos economistas americanos disseram que não haveria uma recessão, embora uma já tivesse começado. Hoje, a maior parte dos economistas não prevêem uma recessão na América, mas o lamentável registro das previsões desses profissionais não dão muito consolo. Nossa última avaliação (ver artigo) sugere que os Estados Unidos podem estar muito bem a caminho de uma recessão.

Certo, o PIB cresceu uns robustos 3,9%, em uma taxa anual, no terceiro quadrimestre. Certo, também, que revisões podem muito bem rever estes números para cima. Mas isso foi o passado. Sinais mais atuais sugerem que a economia pode despencar neste quadrimestre. No começo do próximo ano, a produção e os empregos podem estar encolhendo. A principal causa é a implosão do mercado imobiliário. Os experts disseram que os preços dos imóveis jamais poderiam cair por todo o país. Mas eles caíram, sim, em 5% nos últimos 12 meses. O investimento em moradias entrou em colapso, mas um estoque de casas não vendidas significa ue os preços ainda têm muito o que cair. Os gastos dos americanos devem sofrer um efeito negativo maior da queda dos preços das casas do que o do colapso da Bolsa em 2001. Com o preço das casas menor e condições de crédito mais apertadas como resultado da crise dos empréstimos subprime, as famílias não poderão mais tomar empréstimos contando com ganhos de capital para financiar seus gastos.

O petróleo mais caro deve apertar o orçamento das famílias mais ainda (não obstante a queda desta semana no preço do barril de petróleo bruto). A confiança dos consumidores já caiu vertiginosamente. Não deve demorar muito para que os gastos dos consumidores desabem, o que, por sua vez, vai prejudicar os lucros e os investimentos das firmas. O dólar fraco vai estimular as exportações, mas, consistindo em apenas 12% do PIB, as exportações são pequenas demais para compensar um enfraquecimento dos gastos dos consumidores, que responde por 70%.

Eu quero me libertar

Será que uma recessão na América vai arrastar o resto do mundo para o buraco junto com ela? As economias da Europa e do Japão reagiram fortemente no terceiro quadrimestre, mas parecem fadadas a diminuir o ritmo. Embora ambas possam ser capazes de rastejar por si próprias, nenhuma delas parece ser capaz de estabelecer um ritmo maior. Moedas fortiicadas vão prejudicar os exportadores em ambos os lugares. Mesmo os próprios mercados imobiliários fortes da Europa estão enfraquecendo e alguns de seus bancos sofreram efeitos colaterais das mazelas dos subprime da América.

As maiores esperanças de que o crescimento global possa permanecer firme reside, em lugar destas, nas economias emergentes. Na década passada, a idéia de que tanto pudesse depender desses locais sujeitos a crises seria terrificante. Entretanto, graças (e muitas) a reformas econômicas, suas taxas de crescimento anual subiram para o entorno dos 7%. Neste ano, elas vão contribuir com metade do PIB mundial, medido em taxas de câmbio de mercado, mais de três vezes mais do que a América. No passado, economias emergentes freqüentemente precisaram de ajudas emergenciais do mundo rico. Desta vez elas podem ser as salvadoras.

É claro que uma recessão na América vai reduzir as exportações das economias emergentes, mas elas estão menos vulneráveis do que costumavam ser. A importância da América como a locomotiva do crescimento global foi exagerada. Desde 2000 sua parcela de importações mundiais caiu de 19% para 14%. Seu vasto déficit na conta-corrente começou a diminuir, o que significa que a América não está mais arrastando atrás de si o resto do mundo. Entretanto, o crescimento nas economias emergentes se acelerou, graças, parcialmente, às demandas domésticas. Na primeira metade deste ano, o aumento nos gastos dos consumidores (em termos de dólares atuais) na China e na Índia acrescentaram mais ao crescimento do PIB mundial do que na América.

A maior parte das economias emergentes estão com uma saúde melhor do que nunca (ver artigo). Elas não são mais dependentes financeiramente do resto do mundo, porém têm grandes reservas cambiais externas — nada menos do que três quartos do total global. Embora existam algumas excessões notáveis, a maioria delas têm pequenos déficits orçamentários (outra mudança quanto ao passado), de forma que elas podem alavancar os gastos para contrabalançar as exportações menores, se tiver que ser assim.

Isto não significa que as economias emergentes vão crescer rápido o bastante para compensar toda a queda da produção americana. A maior parte delas vai exibir um desaquecimento no crescimento no ano que vem: por exemplo, a taxa de crescimento da China deve cair para “só” 10%. De forma que o crescimento global vai diminuir —o que, depois de cinco anos de uma média de quase 5%, próxima do maior patamar jamais observado, ele precisa fazer. Mas, graças ao vigor dos novos titãs, vai continuar acima de sua média de 3,5% dos últimos 30 anos.

Uma história de dois preços

A importância crescente dos novos gigantes mundiais não só vai alavancar o crescimento. Também vai afetar os preços relativos, notadamente os do petróleo e do dólar. E as conseqüências serão menos confortáveis para as nações desenvolvidas, especialmente a América.

O preço do petróleo tem subido principalmente por causa da forte demanda nas economias emergentes, que responderam por quatro quintos do aumento total do consumo de petróleo nos últimos cinco anos. Nas recessões americanas do passado, o preço do petróleo usualmente caiu. Desta vez é provável que ele se mantenha. Isto não só vai prejudicar as finanças dos consumidores ocidentais, como pode tornar a tarefa dos seus Presidentes de Bancos Centrais mais difíceis, combinando a pressão inflacionária com desaquecimento econômico.

O dólar enfraquecido — ultimamente na casa de US$1,50 por euro — ficará ainda mais fraco sem as enormes compras feitas pelos bancos centrais das economias emergentes. Este apoio agora está minguando. A China e outros estão colocando uma menor parcela de aumentos de reservas na moeda americana. E os países asiáticos e do oriente médio, cujas moedas são ligadas ao dólar, estão confrontadas com aumentos de inflação, mas a queda nas taxas de juros americanas torna mais difícil apertar sua própria política monetária. Eles podem ter que deixar suas moedas se valorizarem contra o verdinho doente, o que significa que eles vão ter que comprar menos dólares. Mais importante, na medida em que os investidores internacionais acordarem para o enfraquecimento relativo do poder econômico da América, eles seguramente vão se questionar sobre por que eles devem manter a maior parte de sua riqueza em dólares. O declínio do dólar já significa o maior calote da história, tendo varrido muito mais do valor dos investimentos estrangeiros do que qualquer economia emergente jamais conseguiu.

O vigor das economias emergentes é uma boa notícia para a economia mundial: para seu crescimento, ela tem muito menos necessidade de uma América forte. A má notícia para a América e que, por sua vez, isto pode significar que o mundo tenha menos necessidade do dólar.

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© The Economist, devidamente violado...

Com a palavra os experts tupiniquins: e o Brasil que tem rezado tanto pela cartilha do FMI? Vai fazer supositório das enormes reservas cambiais em dólar, ou vai usar esses dólares para desarrochar a economia brasileira?...

Um Oceano de Problemas


"Na terra onde o mar não bate,
não bate o meu coração.
O mar onde o céu flutua,
onde morre o Sol e a Lua,
e acaba o caminho do chão"

(Gilberto Gil, Beira Mar)

É, no mínimo, curioso que, tendo mais de 71% de sua superfície coberta por águas, este planeta seja chamado "Terra". E este "bairrismo" do ser humano vai mais longe.

Vai tão longe quanto o Sputnik 1, lançado para além da atmosfera em 04 de outubro de 1957, enquanto que o fundo da Fossa das Marianas só foi atingido pelo "Trieste" em 23 de janeiro de 1960...

O fascínio pelas estrelas é quase tão velho como a humanidade e seu estudo, como as mais antigas civilizações. Mas o mar - berço de toda a vida no planeta - continuou a ser um inimigo a ser conquistado. Os "anjos" habitavam o "céu", enquanto as profundezas marinhas eram a morada de "monstros". O "Gigante Adamastor" estava lá, à espreita, para destruir aquele que se atrevesse a cruzar sua superfície. E, se a vastidão das terras maravilhava os homens, a vastidão ainda maior dos oceanos o intimidava. Nos astros, a humanidade buscava indícios de seu futuro. Mas o mar era a sepultura dos destemidos e incautos. Para nós, macumbeiros, o Cemitério é a "Calunga Pequena", o mar é a "Calunga Grande"... Jeová, quando resolveu se livrar da humanidade que criou e que não lhe prestava as devidas homenagens, mandou que as águas cobrissem as terras...

Pois é...

Mapeamos os céus muito antes de conhecermos mais sobre as profundezas dos mares. Até mesmo "recuperamos" áreas de terra, não só dos pântanos e alagadiços, mas até do próprio mar. Dos mares, só se tirou... Tiraram os peixes, cetáceos e crustáceos. Nas últimas décadas, até o bendito petróleo conseguiram tirar do fundo dos mares. Minto!... Não "só se tirou"... Ao contrário: todos os dejetos e lixos que produzimos foram atirados às águas (afinal, os mares são grandes...)

E, como mariposas atraídas pela lâmpada, nos esforçamos em arte e engenho para desvendar os segredos do Cosmo... e esquecemos daquilo que estava do nosso lado, o tempo todo: o mar. Só agora os físicos aplicam seus modelos matemáticos (criados para explicar as curvaturas do espaço-tempo) para estudar as interações entre as correntes marinhas e o clima (no que afeta os continentes, é claro... quem se importa - além dos marinheiros - se chove ou neva nos mares?...)

Apenas agora é que esses habitantes de parte dos 29% restantes da superfície do planeta estão se dando conta de que aqueles 71% são bem mais importantes do que nossa vã filosofia percebia...

Se as condições climáticas mudarem - pouco importa se brusca ou paulatinamente - e esta espécie arrogante que chama a si mesma de "Sábia" for varrida da face da terra, junto com o restante da vida nesses 29% da superfície, a natureza voltará a povoar o planeta... a partir dos mares. Os registros fósseis estão aí para comprovar isso: vide "Oceanos Tóxicos?". E ainda há tempo suficiente: o Sol ainda vai continuar estável por tempo suficiente para que outra espécie evolua o suficiente para se adonar da Terra.

E, afinal?... Essas mudanças climáticas serão somente decorrentes das ações humanas ou serão um ciclo natural do planeta?... Que as emissões de poluentes estão agravando o problema, não há mais dúvida plausível. Corais branqueados, corais macios derretidos, níveis de acidez crescentes nas águas rasas, saturação da capacidade dos mares em absorver o CO2, concentrações de O3 na superfície, furacões e tufões cada vez mais freqüentes e devastadores... faltou alguma coisa?... sei lá!... Plantar árvores para "sequestrar CO2" é uma boa medida... Mas - e o CO2 nos mares?... 71% da superfície, lembram?... Não adianta coisa alguma tentar salvar as terras, se os mares estiverem mortos. E mortos não só pela absorção direta das emissões de poluentes atmosféricos, mas também pela poluição dos rios que vazam para os mares, com lixo, agrotóxicos, esgoto in natura e até com resíduos de transgênicos.

Qual terá sido o erro maior: interromper a conquista do espaço exterior (pelo menos teríamos para onde fugir) ou ignorar sistematicamente a maior parte da superfície do planeta?

Ah!... Tanto faz... Daqui a pouco o H5N1 arruma uma mutação que vai tornar isso tudo bem mais fácil de resolver...

Comentários aqui, por favor.

14 novembro 2007

Da importância da Pré-Escola

Duas chamadas no EurekAlert para o mesmo estudo. Uma é "Habilidades acadêmicas precoces, não o comportamento, predizem com mais certeza o sucesso nos estudos", da Northwestern University. A outra, mais completa e com o link para o paper, é a abaixo traduzida.

American Psychological Association

Habilidades acadêmicas e de atenção precoces das crianças predizem com mais certeza o futuro sucesso nos estudos

Problemas de comportamento e falta de habilidades sociais não estão ligados aos resultados futuros

WASHINGTON – As crianças que entram no Jardim de Infância com conhecimentos de matemática elementar e habilidades de leitura, são os melhores candidatos a se saírem bem nos estudos mais tarde, mesmo que tenham vários problemas sociais e emocionais, afirmam pesquisadores que examinaram os dados de seis estudos sobre quase 36.000 alunos de pré-escolar. Os pesquisadores também descobriram que habilidades relacionadas como a atenção também são importantes.

Estas descobertas estão relatadas na edição de novembro de Developmental Psychology, publicada pela American Psychological Association (APA).

Pela primeira vez, pesquisadores compararam resultados de seis estudos longitudinais de larga escala, comparando dois grupos representativos de crianças dos EUA, dois estudos multi-localizados de crianças norte-americanas, um estudo focalizado em crianças da Grã-Bretanha, e um estudo focalizado em crianças do Canadá, para avaliar em que as habilidades pré-existentes na entrada para a escola e comportamentos davam as melhores indicações sobre melhores rendimentos em provas de leitura e matemática, à medida em que essas crianças progrediam nos estudos. As capacidades cognitivas e as características socio-demográficas foram mantidas constantes para descontar suas influências.

A partir de uma meta-análise dos resultados, o economista Greg J. Duncan, PhD, da Northwestern University e 11 co-autores, descobriram que o domínio de conceitos precoces de matemática, tais como o conhecimento de números e a compreensão da ordem dos números, eram a melhor fonte de previsão de sucesso posterior. O domínio de linguagem precoce e habilidades de leitura, que incluíam vocabulário, conhecimento das letras e compreensão da fonética, eram o segundo em importância. Também as habilidades relacionadas com a atenção, que incluíam a capacidade de controlar comportamento hiperativo, de se concentrar em completar uma tarefa e ser motivada a aprender, contribuíam para o desempenho posterior. Surpreeendentemente, dificuldades em conviver com colegas de turma, comportamentos agressivos ou disruptivos, e comportamentos depressivos ou reclusivos, não afetavam o aprendizado posterior.

As habilidades de "pronto para a escola" e comportamentos foram medidos no ingresso nas escolas (em torno dos 5 anos de idade) e as realizações posteriores foram medidas entre os 7 e 14 anos. Mesmo depois de verificar as habilidades cognitivas pre´-existentes das crianças, os autores descobriram que as habilidades precoces em matemática eram indícios fortes de bom desempenho posterior em matemática e prediziam com a mesma eficácia os resultados posteriores em resultados com leitura que as habilidades precoces de leitura. Estes e outros padrões foram similares para meninos e meninas, e também para crianças de alta classe média e de famílias pobres.

Os autores também descobriram que as habilidades precoces de atenção tinham um papel nos desempenhos futuros. Porém, problemas precoces de comportamento e a falta de habilidades sociais não afetavam grandemente os resultados futuros nesta amostra. Eles advertem que seus estudos são obtidos a partir de populações genéricas e que crianças com diagnósticos de problemas clínicos nessas áreas podem não se encaixar nesse padrão.

A falta de associações entre comportamentos sociais e emocionais, e o desempenho futuro foi a maior surpresa e não pode ser atribuída a diferenças nas maneiras com que as habilidades acadêmicas e sociais precoces foram medidas, descobriram os pesquisadores. “Talvez os profesores sejam capazes de assegurar que o comportamento problemático de uma criança não afete o desempenho dela ou dele,” notou Duncan, porém acrescentou, “fomos incapazes de avaliar se o comportamento problemático de uma criança pode ter afetado o que seus colegas de turma aprenderam.”

Os resultados são consistentes com as recomendações de painéis de experts sobre o desenvolvimento precoce de habilidades de matemática e leitura, para aumentar o rendimento dessas habilidades durante os anos pré-escolares. “Nossos resultados não são direcionados a quais tipos de currículos pré-escolares são mais eficazes para promover essa prontificação para a escola,” afirmou Duncan. “Mas sabemos com certeza que currículos com base emjogos, em oposição aos do tipo 'exercícios-e-prática', projetados com as necessidades de desenvolvimento das crianças em mente, podem auxiliar as habilidades acadêmicas e de atenção de maneiras que são atraentes e divertidas.”

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Artigo: “School Readiness and Later Achievement,” Greg J. Duncan, PhD, Amy Claessens, PhD, Mimi Engel, Northwestern University; Chantelle J. Dowsett, PhD, e Aletha C. Huston, PhD, University of Texas-Austin; Katherine Magnuson, PhD, University of Wisconsin-Madison; Pamela Klebanov, PhD, Princeton University, Linda S. Pagani, PhD, Universite de Montreal; Leon Feinstein, PhD, e Kathryn Duckworth, University of London; Jeanne Brooks-Gunn, PhD, Columbia University; Holly Sexton, University of Michigan; Crista Japel, Universite de Quebec a Montreal; Developmental Psychology, Vol. 43, No. 6.

(O texto completo do artigo está disponível no APA Public Affairs Office e em http://www.apa.org/journals/releases/dev4361428.pdf )




13 novembro 2007

Corais a perigo

Via EurekAlert, mais uma notícia alarmante...


Professor da Universidade de Tel Aviv descobre que o Aquecimento Global está derretendo os corais macios

A extinção dos corais pode significar uma catástrofe mundial com impacto sobre todas as formas de vida marinhas e terrestres

O professor da Universidade de Tel Aviv University Professor Hudi Benayahu (e alunos), chefe da Escola Porter de Estudos ambientais da UTA, descobriu que os corais macios, uma parte integrante e importante dos ambientes dos recifes, estão simplesmente se derretendo e se perdendo. E o Prof. Benayahu acredita que isso pode significar uma catástrofe marinha global.

Portrait: Hudi Benayahu
Prof. Hudi Benayahu

O stress ambiental, declara Benayahu, está danificando o relacionamento simbiótico entre os corais macios e as microscópicas algas simbióticas que vivem em seus tecidos. Não há dúvida de que o aquecimento global é o responsável, alerta o biólogo marinho, explicando que esta relação simbiótica é a chave para a sobrevivência da maior parte dos corais macios.

Os corais macios auxiliam a manter a saúde e o equilíbrio dos ecossistemas dos recifes e dão proteção a vários animais, tais como “Nemo”, o famoso peixe palhaço do filme de Walt Disney. Eles também são uma rica e promissora fonte de drogas capazes de salvar vidas, contra o câncer e outras doenças infecciosas mortais.

Declara o Prof. Benayahu, “É tarde demais. Nós agora já perdemos o barco em achar alguns fármacos chave. Existe uma grande lacuna em nosso conhecimento de corais macios em ambientes de recifes e, com o ritmo de extinção, nós perdemos certas espécies para sempre.”

Nós podemos jamais recuperar certas drogas terapêuticas e os humanos não podem viver com uma extensa extinção da vida marinha, aponta ele. A vida como a conhecemos não poderá existir se o ambiente marinho, um importante produtor de oxigênio, continuar a seguir este caminho.

Diferentemente de seus "primos" mais rígidos, os corais macios não têm exoesqueletos calcificados para protegê-los. Quando eles morrem, acabam de uma vez, deixando nenhum vestígio de sua existência. Nos lugares onde os corais macios eram encontrados, em 50 a 60% dos locais de estudo do Prof. Benayahu por todo o mundo, poucos anos depois somente cerca de 5% permanecem.

Benayahu at Work
Prof. Benayahu trabalhando

No início deste ano, o Prof. Benayahu observou um recife de corais macios japonês, “Havia um maciço desaparecimento de corais macios. Você nem pode imaginar que se trata do mesmo lugar. Apenas dois anos se passaram e toda a área estava deserta, sem vida."

Mas ainda há esperanças. O Prof. Benayahu recentemente retornou de Phuket, Tailândia, onde ele ministrou um workshop de treinamento para estudantes da biologia dos corais macios. Futuros biólogos marinhos de países tais como Austrália, China, Índia, Malásia, Israel e Tailândia participaram. O workshop tinha a intenção de aumentar a atenção para o que pode vir a ser uma catástrofe ambiental global.

“Eu espero que esses jovens cientistas usem o que aprenderam para entender melhor como eles podem salvar os corais macios em seus países de origem,” declara o Prof. Benayahu, que também é um professor de biologia marinha no Departamento de Zoologia da Universidade de Tel Aviv.

Com mais de 35 anos de experiência na área, o Prof. Benayahu é um dos poucos experts mundiais que devota sua vida à taxonomia, ecologia e biologia de corais macios. Ele descobriu dúzias de novas espécies de corais macios ao longo da região Indo-Pacífico e ele cuidadosamente estuda, com seus estudantes, o papel dessas espécies no ambiente dos recifes. Ele recebeu numerosos financiamentos para apoiar seu trabalho, inclusive um da National Geographic Society para estudar a vida marinha e corais macios em restos de naufrágios.

O Prof. Benayahu recebeu tanto o grau de Mestrado como o de Ph.D. em biologia marinha na Universidade de Tel Aviv. Em 1982 ele realizou treinamento pós-doutoral em museus de história natural pela Europa, bem como um ano na Florida International University (Florida). Desde 1987 ele é um Professor do Departamento de Zoologia da UTA e já publicou mais de 125 artigos referendados.

Sinularia
Sinularia, um coral macio comum encontrado nos recifes. A foto mostra uma colônia que, sofrendo com as altas temperaturas, perdeu parcialmente suas algas simbióticas e está em perigo de desaparecer.

Xenia
Cladiella, outro coral macio encontrado nos recifes. Tal como a foto da esquerda, esta foto mostra uma colônia que, sofrendo com as altas temperaturas, perdeu suas algas simbióticas e está em risco de desaparecer.


Só um comentário, en passant... A vida no Planeta Terra já se recuperou de coisas piores (vide "Oceanos Tóxicos?"). Já da espécie humana não se pode afirmar a mesma coisa...