18 dezembro 2005

Ainda sobre o Aquecimento Global...

Salve, Pessoal!

Após um período de (festejada por alguns, eu sei...) ausência, eis que retorno a um tema que tem me incomodado muito: as grandes mudanças climáticas, em especial o "aquecimento global" e a "elevação dos níveis dos oceanos".

Tá bem... Eu sei que a maioria das previsões sombrias são puro alarmismo, coisa de "eco-chato" delirante, etc. Mas será que, realmente, podemos nos dar ao luxo de descartar esses avisos que prenunciam catástrofes generalizadas? Será que tudo isso é só delírio? E se não for?...

Olhem só a matéria que eu encontrei no "Le Monde"...

Logo teremos milhões de refugiados expulsos pelo oceano
LE MONDE | 17.12.05 | 14h03 • Atualizado em 17.12.05 | 14h03

No mês de agosto, a centena de habitantes de Lateu, no arquipélago de Vanuatu, na Oceania, entraram de maneira bastante involuntária para a história. Sua vila, às margens do Pacífico na ilhota de Tegua, foi a primeira no mundo a ser deslocada em função do aquecimento global e da subida dos níveis dos oceanos. Com as raízes dos coqueiros submersas, os ciclones e as grandes marés se encadeando em uma cadência inédita, a modesta barreira de coral de 1 metro, última linha de defesa contra as inundações, se erodiu; os mosquitos portadores de diversas doenças prosperavam nas poças de água estagnada...

Foi, portanto, necessário partir para algumas centenas de metros para o inteiror da ilha. Lateu hoje é um símbolo. Seu caso foi evocado, em 6 de dezembro, na conferência em Montreal sobre as mudanças no clima.

Hoje, Vanuatu. Amanhã, as Ilhas Tuvalu. Este será o primeiro Estado a desaparecer por causa do clima, já que a altitude média desse arquipélago não passa dos dois metros. Em 2001, o país concluiu um acordo para que os cerca de 11.000 tuvaluanos sejam acolhidos pela Nova Zelândia. Depois de amanhã, será a vez de Bangladesh, onde uma grande parte do território se situa ao nível do mar, e que já é freqüentemente atingido por inundações catastróficas. Segundo o relatório do grupo de experts intergovernamental de 2001, sobre a evolução do clima (GIEC), se os oceanos subirem 1 metro, o que provavelmente vai acontecer neste próximo século (sic), 30.000 km² de Bangladesh vão desaparecer sob as águas, ou seja, 20% de seu território. Atualmente, nesta imensa zona "alagável", vivem 15 milhões de pessoas... Para onde irão elas?

O fenômeno dos "eco-refugiados", como são chamdos os deslocados por mudanças climáticas, só agora começa a ser bem identificado, apesar de ter aparecido desde um relatório de 1985 do Programa das Nações Unidas para o Ambiente. «Na época, a definição de "refugiados do ambiente" era extremamente abrangente», relembra Véronique Lassaily-Jacob, professora de geografia na Universidade de Poitiers e pesquisadora especializada em migrações forçadas no laboratório Migrinter. «Ela incluia todas as populações obrigadas a deixar suas residências em decorrência de uma ruptura nas condições ambientais, tais como terremotos, catástrofes industriais. Atualmente, a orientação para a definição é mais restrita aos fatos ligados a mudanças climáticas.»

Nos dias de hoje, as principais causas das migrações ambientais são as secas e a desertificação – notadamente na África Subsaariana –, bem como as inundações. Mas «existem razões fundamentadas para crer que o número de pessoas em fuga de condições ambientais insustentáveis, aumente de maneira exponencial no momento em que o mundo seja submetido aos efeitos da mudança climática», afirma Janos Bogardi, diretor do Instituto para o Ambiente e a Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas (Bonn. Alemanha).

Além dos arquipélagos pouco elevados do Pacífico e de Bangladesh, a elevação dos mares deverá ameaçar os grandes deltas, como o do Mekong e o do Nilo, 70% da costa da Nigéria, bem como a maioria das "megacidades" do futuro. Das 21 cidades que, em 2015, deverão ter mais de 10 milhões de habitantes, se constata que 16 delas estão situadas em regiões costeiras. Mas a elevação dos níveis dos oceanos não fará apenas desaparecer os territórios: ela também tem efeitos colaterais perversos, como a salinização de terras agricultáveis e a poluição de lençóis freáticos que ainda permitem a difícil agricultura, e mesmo a vida, nas costas. O relatório do GIEC prevê, notadamente, uma redução generalizada dos rendimentos agrícolas e uma diminuição da disponibilidade de água em certas zonas que causarão migrações forçadas.


O aquecimento do planeta acentuará, igualmente, os acidentes climáticos extremos, tais como furacões e as secas. Assim, na China, o deserto de Gobi ganha mais de 10.000 km² a cada ano, um fenômeno também encontrado no Marrocos, na Tunísia e na Líbia. Quanto à temporada de furacões excepcional que fustigou o Golfo do México em 2005, ela pode muito bem ser uma amostra da norma para o século XXI. Teremos que reconstruir New Orleans a cada dez anos, no futuro?

Bem mais ao Norte, as populações Inuits vêem, a cada dia, seu ambiente, suas tradições e seu modo de vida se moficiar, em função do encurtamento da estação fria, da fonte dos gelos e do encharcamento do solo (Le Monde, 16 de novembro).

Bogardi avalia em 25 milhões o número atual de eco-refugiados – para os quais não existe status jurídico algum – e estima que esse número deve dobrar até 2010. O especialista britânico em ambiente Norman Myers adianta para 2050 uma cifra de 150 milhões de emigrantes atribuíveis ao aquecimento climático, ou seja, em torno de 1,5% da população mundial naquela época... «Todas essas estimativas têm pouca credibilidade, variando extremamente, conforme a fonte», tempera Véronique Lassaily-Jacob. «Elas têm um objetivo alarmista: criar o pânico coletivo de ver chegar hordas de refugiados do ambiente que viriam invadir os países do Norte. Mas se esquecem que essas migrações se fazem, geralmente, para o inteiror dos países de
origem e que as populações, ao menos em um primeiro estágio, colocam em prática estratégias de adaptação às transformações climáticas». Enfim, se a Holanda, habituada de longa data a lutar contra o mar, dispõe da tecnologia e do dinheiro para contemplar futuras cidades flutuantes, este certamente não será o caso de Bangladesh.

Pierre Barthélémy


Sem maiores comentários...

12 novembro 2005

As raízes dos motins na França

Salve, Pessoal!

Depois de perder meu tempo durante uma semana, lendo os jornais fanceses em busca de explicações sobre os motins que continuam agitando a França, a despeito da invocação de um "Estado de Emergência" que data da guerra de independência da Argélia, eu acabei encontrando uma explicação coerente.... no Times de Londres: esta notícia publicada na edição de hoje. Lá vai a tradução:

The Times 12 de Novembro de 2005

"A pressão vem crescendo por 30 anos. Tinha que explodir"
Por Charles Bremner
À medida em que 2.000 policiais extras são trazidos para combater os motins em Paris neste fim de semana, um jovem muçulmano que cresceu no ambiente, conta como ele evitou o caminho fácil da violência e dos pequenos crimes para alcançar o sucesso nos negócios.


A próxima revolta nas terras francesas "será mais explosiva, eles usarão armas militares. Eles já têm Kalashnikovs e lança foguetes lá", diz um homem de 29 anos, nascido em Marrocos, da mais notória de todas as cidades satélite de Paris.

A previsão, dita com um sotaque árabe, não vem de um dos cabeças-quentes que fizeram badernas na noite passada.

A opinião é a de Aziz Senni, um dos raros bérberes, etnicamente Norte-Africanos, que conseguiu achar seu caminho para fora dos subúrbios e para o sucesso nos negócios.

O Sr. Senni era um bebê quando seus pais o trouxeram para a França e um lar em Val Fourre. O grande subúrbio de Mantes-la-Jolie, no Noroeste do Sena em Paris, é mais conhecido pelos sangrentos motins de 1991. Estes se tornaram o roteiro do filme "La Haine" ("O Ódio"), um filme de sucesso entre os jovens desesperançados dos subúrbios.

Junto com cinco irmãos mais moços, o Sr. Senni cresceu sob as vistas de um rigorososo pai ferroviário. "Les Gaulois", os franceses brancos, abandonaram os subúrbios. O Sr. Senni estava bem no meio da violência de 1990, mas aos 23 ele tinha conseguido escapar do círculo vicioso de desesperança.

Ele evitou o caminho comum de sobrevivência mediante pequenos delitos, obteve um diploma comercial e fundou uma companhia de transportes em Mantes.

O ATA, um serviço de franquia de taxi comunitário, agora opera em diversas cidades e o Sr. Senni atraiu a atenção do President Chirac e da mídia nacional, enquanto permanece nos subúrbios, onde ainda tem suas raízes.

Com um timing perfeito, ele conta sua história em um livro publicado na mesma semana em que dois garotos foram eletrocutados em Clichy-sous-Bois. Ele não ficou surpreso quando a tampa da panela de pressão explodiu em Clichy, em 27 de outubro, e inflamou os subúrbios ao longo do país.

"A pressão tem-se acumulado por 30 anos e as coisas estão muito piores desde a última vez. Tinha que explodir de novo", disse ele ao Times ontem.

O gatilho foi Clichy, mas a raiva foi alimentada pelas palavras insultuosas e as rudes táticas policiais de Nicolas Sarkozy, o Ministro do Interior, disse ele.

Os animos parecem ter-se acalmado, embora a policia esteja pronta para uma possível re-ignição durante este fim de semana.

A mensagem do Sr. Senni também é rude. Ele diz que as minorias devem usar seus próprios recursos para sair dos guetos. Seu livro se intitula "O Elevador Social está quebrado. Eu fui pelas escadas" (publicado pela editora Archipel).

"L'ascenceur Social" é a doutrina pela qual a República igualitária deveria ter promovido suas minorias ao nível de prosperidade geral, Quando as oportunidades de emprego em massa atingiram um patamar, a partir do final da década de 1970, o elevador parou, deixando os árabes étnicos e os negros residentes dos subúrbios no porão.

O Sr. Senni não é amargo. Com o entusiasmo de um jovem empresário, ele se declara orgulhoso de ser francês e um muçulmano moderado. Ele despreza o que ele chama de hipocrisia do modelo gálico falido.

"A França precisa de psicanálise. Ela ainda não consegue se olhar no espelho e entender quem é", diz ele. "A França ainda vive no início do século XIX, pensando que ainda é um país branco e fortemente rural. Ela não percebeu que suas crianças mudaram".

O pleito das gerações imigrantes tem sua fonte no que ele chama de uma mentira de estado. A França trombeteia seu modelo de igualdade sem distinções de cor, "enquanto Sarkozi e o resto lhe empurram na direção comunitarianismo", disse ele.

Este é o termo usado para condenar as comunidades que se mantém separadas, da mesma forma que os modelos multiculturais que existem em outros lugares.

"Você não pode fazer parte de uma comunidade", disse ele. "Se você tentar e for um muçulmano, eles associam você a al-Qaeda".

Ele reconhece as falhas do sistema "Anglo-Saxão", mas admira a maneira em que este é mais aberto às minorias.

Ele cita um primo, com curso de pós-graduação, que só conseguiu encontrar emprego como vendedor de aspiradores de pó.

"Ele veio para a Inglaterra, há três anos, e foi recrutado pela BP. Eles o puseram em um programa de aprendizado rápido e o mandaram para mais treinamento em Oxford. Agora ele está iniciando seu próprio negócio".

O Sr. Senni diz que a França deve fazer sua doutrina de igualdade funcionar, usando o estilo americano de ação afirmativa.

Uma tal discriminação positiva, oficialmente rejeitada, é necessária, segundo ele, para resgatar as minorias de escolas que limitam a maior parte dos alunos a treinamentos para profisões de baixo perfil, e de empregadores que rejeitam candidatos com nomes que soam estrangeiros.

A idéia, ainda rejeitada pela corrente majoritária política, agora está ganhando terreno.

Seu maior entusiasta é, paradoxalmente, o Sr. Sarkozy, um presidenciável que concorda com a maior parte dos pontos de vista do Sr. Senni, embora atice os ressentimentos com sua repressão policial.

A mensagem do Sr. Senni para os baderneiros é que ele entende sua raiva, mas que eles têm que rejeitar a violência.

"Eu digo a eles que um voto é mais poderoso do que um coquetel molotov".

Eles devem achar seus próprios líderes políticos, disse ele. Os partidos são regidos por uma elite que não entende os pobres, acredita ele. Ele só tem desprezo pelo Partido Socialista o qual, diz ele, alardeia velhas palavras de ordem do dogma marxista e não consegue ajudar os pobres quando está no poder. (Nota extemporânea do tradutor: qualquer semelhança com um certo partido da esquerda brasileira, será mera coincidência???)

"Nenhum político sabe o que é olhar para uma geladeira vazia e ter que dizer que: compras, só daqui a dez dias".

O que a França tem pela frente? Comentaristas sociais ventilam suas vistas

Laurent Joffrin, Editor da revista "Nouvel Observateur": "Uma vez que a calma tenha sido restaurada, será que a França vai aceitar a divisão, admitir que partes inteiras de seu território vivem em dissidência, com um cordão de homens de capacete em torno delas, e sujeitá-las, por conta da desesperança social, à vigilância com caminhonetes com luzes azuis ou a um toque de recolher que data da guerra da Argélia? Ou será que, através de novos esforços e medidas realísticas que consistiriam em uma ruptura com tudo o que vem sendo feito, vai se por no caminho de uma reunificação republicana? Uma porção de coisas já foi feita: e não funcionaram. Um novo capítulo deve ser escrito".

Michel Wieviorka, sociologista: "Os motins dos últimos dias sublinharam a indignação, a raiva, um profundo sentimento de injustiça e de rejeição".

"Eles nos lembram de que não resolvemos coisa alguma desde os anos 1970 e o primeiro de nossos "verões quentes": setores inteiros de nossa juventude são sacrificados em nome de nosso modelo de integração em decomposição, que se pretende baseado na República, mas que esquece igualdade e fraternidade para grande parte da população, e que se descreve como social, enquanto deixa esta mesma população lutando contra o desemprego, a exclusão e a pobreza".

Alain Duhamel, comentarista político: "A República Francesa queria mostrar ao mundo que, com seus valores seculares, seu sistema educacional, sua linguagem, sua história, seus princípios universais e seu Estado Forte, era capaz de transformar qualquer estrangeiro, de qualquer continente, qualquer que fosse a cor de sua pele e quaisquer que fossem suas crenças religiosas, em um verdadeiro Gaulês patriótico, com um bigode e uma tendência a resmungar".

"Essa assimilação metódica é uma das chaves da famosa, indiscutível excessão francesa".

"Outros países – os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Canadá – escolheram o caminho diferente do multiculturalismo e do comunitarismo. Eles aceitaram, eles encorajaram os imigrantes a se apegar a suas culturas, suas línguas, suas memórias, seus hábitos originais. Eles lhes deram uma margem de autonomia, de auto-organização. Eles admitiram, eles proclamaram, eles facilitaram essas diferenças".

"Na França, o cadinho republicano, este misterioso e singular receptáculo, tentou o oposto. De múltiplos imigrantes, ele tentou formar um único tipo de cidadão. Por um longo tempo, Paris observou os motins raciais e as lutas, nos países que optaram pelo comunitarismo, com um ar de zombeteira superioridade".

"Hoje, é sua vez de chorar sobre seu modelo em chamas".

Alain Etchegoyen, filósofo: "A República não está ameaçada por estas fagulhas de curta duração que acendem os fogos. Estas são cenas terríveis em palcos improvisados, mas o que ocorre nos bastidores é muito mais preocupador".

"A ditadura de curto período vai produzir uns poucos anúncios que serão seguidos de discussões semânticas".

"A miopia ameaça nossos governantes. Os assessores ministeriais sabem que não sabem coisa alguma acerca da vida diária dos distritos problemáticos. A maior parte de nossos intelectuais está melhor informada sobre a Chechênia do que sobre Clichy-sous-Bois".



Copyright (devidamente violado) 2005 Times Newspapers Ltd.


Eu acredito que a melhor colocação foi feita Alain Duhamel, acima. A arrogância francesa não consegue adimitir que alguém, seja lá quem for, possa discordar da "evidente superioridade" do modelo gaulês. O igualitarismo republicano funciona assim: todos os homens são iguais – iguais aos franceses, é claro!... Se não forem, que tratem de se tornar!

E o pior é que essa megalomania foi a responsável pelas sucessivas derrotas francesas na Segunda Guerra Mundial e no esfacelamento do império colonial. Mas, como eu sempre me repito: o pior nos imbecís é que eles são imbecís...

O mais assustador, no entanto, é a acusação feita ao Partido Socialisata por Senni: repetir chavôes marxistas, quando na oposição; se comportar como qualquer outro direitista, quando no poder. A versão dublada em pt-br está sendo exibida atualmente em Brasília, para desespero dos multi-étnicos brasileiros...

11 novembro 2005

Medições de hipocrisia, digo, pesquisa de opinião

Salve, Pessoal!

Apenas atualizando os dados sobre a crise na França, aqui vão os resultados das enquetes diárias do Le Monde ("Votre avis"):

2ª feira - 07 de novembro de 2005 - Nos episódios de violência urbana dos últimos dias, você ve, principalmente...
... a expressão do desajuste social dos jovens dos subúrbios menos favorecidos - 39,9 %
... a ação destrutiva de bandos e delinquentes - 55,2 %
... nem um. nem outro - 3,5 %
... sem opinião - 1,4 %
(de 28.578 votos)

3ª feira - 08 de novembro de 2005 - A decisão do governo de recorrer ao "toque de recolher" nas conurbações afetadas pelas violências urbanas, lhe parece...
... perfeitamente adequada à situação - 68,2 %
... um pouco fora de proporção - 27,3 %
... sem opinião - 4,5 %
(de 23.435 votos)

4ª feira - 09 de novembro de 2005 - Com respeito à aplicação do "Estado de Emergência" e do "Toque de Recolher" nas conurbações afetadas pela violência urbana, você...
... tem confiança em que o governo vai aplicar estas medidas de excessão de modo comedido - 62,6 %
... não confia, porque essas medidas são arriscadas a serem exageradas ou são um risco para as liberdades individuais - 33,9 %
... sem opinião - 3,5 %
(de 16.042 votos)

5ª feira - 10 de novembro de 2005 - Nicolas Sarkozy (nota do tradutor: Ministro do Interior da França) cogita de expulsar os estrangeiros condenados por violências urbanas, mesmo que sua situação no país seja regular. A seus olhos, esta medida é...
... injusta, trata-se de uma dupla penalização para o mesmo crime - 36,7 %
... justa, tendo em vista os acontecimentos atuais - 60,1 %
... sem opinião - 3,2 %
(de 20.867 votos)

6ª feira - 11 de novembro de 2005 - A respeito do "Estado de Emergência", você cogita que...
... que ele seja prorrogado (pela aprovação de uma Lei) além dos 12 dias previstos para sua vigência - 41,4 %
... que ele não seja prolongado além dos 12 dias previstos - 50,1 %
... sem opinião - 8,5 %
(de 7.655 votos, até o momento)

Eu atribuiria a outro país europeu a atitude de responder a uma enquete on-line para se declarar "sem opinião", mas parece que nem a estupidez nos é, realmente, ancestral.

Só um cego ou um completo estúpido não vê que esta atitude xenófoba, claramente demonstrada na enquete de 5ª feira, é uma das raízes do problema. Mas a secular calhordice dos "iluminados" franceses, terra da "liberdade, igualdade e fraternidade" (contanto que os franceses sejam mais livres, iguais e fraternos do que os outros), nem consegue disfarçar seu ranço de velhos decrépitos. E pensar que esses que ocupam os postos de decisão na França atual, são os mesmos que em 1968 enfrentavam valentemente os CRS em batalhas campais nas ruas de toda a França...

E é desses asnos (ou será dos hipócritas do "Bible Belt"?...) que os "macaquitos" brasileiros vão buscar inspiração para a solução dos problemas nacionais brasileiros? O que esses imbecís têm a nos ensinar???....


06 novembro 2005

Santa hipocrisia, Batman!

Salve, Pessoal!

Em 25 de outubro, eu estava postando sobre as Repercussões Internacionais do Referendo e comentava sobre o tom hipócrita das notícias dos jornais franceses.

Agora, a violência urbana está explodindo na França e eu estou tentando fazer pé com cabeça do que realmente está acontecendo por lá. Qual seria a melhor fonte de informações? Eu (besta que sou) pensei em acompanhar pelos jornais Le Figaro e Le Monde... lêdo engano d'alma...

A edição do Le Monde (on line) traz a seguinte enquete (sob o título: Votre Avis):

Você acha que a divulgação das imagens da violência nos subúrbios pela televisão deve ser:

...totalmente liberada: o público tem o direito à informação (44,1%)

...feita com muito cuidado: isso cria um efeito de contágio entre os mais jovens (52,6%)

...sem opinião (3.3%)

de 22.822 votos computados, até a hora deste post.

Saperlipopette! Vamos esconder a verdade desagradável e, quem sabe, ela vai embora...

E é esse tipinho de gente que quer vir "passar julgamento" sobre o nosso pobre "pays des sauvages"...

29 outubro 2005

Ciência e Religião

Salve, Pessoal!

O meu professor particular de Física de Altas Energias, Prof. Daniel Doro Ferrante (que, nas horas vagas – eu sou um aluno muito aplicado, portanto ele tem bastante delas – está tirando um PhD em Física de Altas Energias na Universidade de Brown, Providence, Rhode Island, USA, enquanto se diverte como Webmaster do Departamento de Física daquela pequena instiuição acadêmica) tem um irritante hábito de publicar em seu BLOG (o link está aí do lado) uma porção de links para assuntos extremamente interessantes e deixar de comentá-los, sob pretextos vagos de que tem que preparar alguns papers, ou torturar os undergraduates em cursos sobre assuntos triviais como Relatividade Geral (ou – risível – jogar basquete)...

Em 27 de outubro, sob o prosaico título de "As coisinhas interessantes de hoje", entre outros links, ele deixou um para um artigo, republicado, sobre o tópico deste artigo. Embora o autor seja uma figura obscura, suas idéias me pareceram bastante razoáveis e, como eu adoro traduzir, lá vai:

Sobre ciência e Religião
Uma palestra proferida na Conferência sobre Ciência, Filosofia e Religião em 1941

Por Albert Einstein

Não deveria ser difícil chegar a um acordo sobre o que entendemos por ciência. Ciência é o empreendimento centenário de arrebanhar, por meio do raciocínio sistemático, os fenômenos perceptíveis deste mundo, em uma associção tão abrangente quanto possível. Em uma definição ampla, é a tentativa de reconstruir, a postreriori, a existência, por meio de conceitualizações. Porém, quando me pergunto sobre o que é religião, eu não consigo pensar em uma resposta tão simples. E, mesmo depois de encontrar uma resposta que me satisfaça no momento, eu ainda permaneço convencido de que não posso, sob circunstância alguma, conciliar, nem mesmo um pouco, todos os que deram a esta questão uma consideração séria.

Em primeiro lugar, então, em vez de perguntar o que é religião, eu prefiro perguntar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa que é religiosamente iluminada, me parece ser uma que, na melhor medida de suas habilidades, se libertou das limitações de seus desejos egoístas e se preocupa com pensamentos, sensações e aspirações aos quais se liga por causa de seus valores supra-pessoais. Me parece que o que realmente importa é a força desse contentamento supra-pessoal e a profundidade da convicção acerca de seu supremo significado, a despeito de qualquer tentativa de unir este conteúdo com um Ser Divino, porque, senão, seria impossível contar Buddha e Spinoza como personalidades religiosas. De acordo com esta ideía, uma pessoa religiosa é devota, no sentido de que não tem dúvida alguma sobre o significado e supremacia desses metas e objetivos supra-pessoais, que não necessitam, nem são adequados a fundamentos racionais. Eles existem com a mesma necessidade factual da pessoa. Neste sentido, a religião é o empreendimento da humanidade que se perde nas brumas dos tempos, em se tornar clara e completamente consciente desses valores e metas, e de reforçar e estender, constantemente, seus efeitos. Se alguém concebe religião e ciência de acordo com estas definições, então um conflito entre elas parece impossível. Porque a ciência só pode afirmar aquilo que é, mas não o que deveria ser, e, fora destes domínios, julgamentos de valores de todos os tipos permanecem necessários. A religião, por outro lado, lida apenas com avaliações dos pensamentos e ações humanos: ela não pode falar, justificavelmente, dos fatos e dos relacionamentos entre os fatos. De acordo com esta interpretação, os bem conhecidos conflitos entre religião e ciência, no passado, devem ser atribuídos a uma má compreensão da situação descrita.

Por exemplo, um conflito começa quando uma comunidade religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os ensinamentos contidos na Bíblia. Isto significa uma intervenção, por parte da religião, na esfera da ciência; este é o campo no qual se travaram as lutas da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro lado, representantes da ciência têm tentado chegar a julgamentos fundamentais a respeito de valores e finalidades, com base no método científico, e, deste modo, se colocaram em oposição à religião. Todos estes conflitos nasceram de erros fatais.

Agora, mesmo que os reinos da religião e da ciência, em si, estejam claramente definidos como separados entre si, ainda assim, existem entre os dois fortes vínculos e dependências recíprocos. Apesar da religião ser aquela que determina as metas, ela, não obstante, aprendeu com a ciência, em seu sentido mais abrangente, quais os meios podem contribuir para atingir as metas estabelecidas. Mas a ciência só pode ser criada por aqueles que estejam totalmente imbuídos da aspiração pela verdade e compreensão. A fonte deste sentimento, entretanto, nasce da esfera da religião. Daí vem, também, a fé na possibilidade de que as leis para o mundo da existência sejam racionais, ou seja, compreensíveis para a razão. Eu não consigo pensar em um genuíno cientista sem esta profunda fé. A situação pode ser expressa em uma imagem: a ciência sem religião é capenga; religião sem ciência é cega.

Embora eu tenha afirmado acima que, na verdade, um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir, eu devo, não obstante, qualificar essa assertiva mais uma vez, acerca de um ponto essencial, com referência ao real conteúdo das religiões históricas. Esta qualificação tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou deuses à imagem e semelhança dos homens, que, por força de suas vontades, supostamente determinavam, ou, pelo menos, influenciavam, o mundo dos fenômenos. O homem tentou alterar a disposição desses deuses, em seu próprio favor, por meio de mágica e da prece. A idéia de Deus nas religiões atualmente ensinadas é uma sublimação desta velha concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico é mostrado, por exemplo, pelo fato de que as pessoas apelam ao Ser Divino em orações e pedem pela satisfação de seus desejos.

Ninguém, certamente, negará que a idéia da existência de um Deus pessoal onipotente, justo e oni-beneficente, é adequada ao consolo, à ajuda e à orientação dos homens; igualmente, em virtude de sua simplicidade, ela é acessível à mente menos desenvolvida. Mas, por outro lado, existem fraquezas decisivas ligadas a essa idéia, em si, que se fazem sentir dolorosamente, desde o início da história. Isto é, se esse ser é onipotente, então qualquer acontecimento, inclusive todas as ações humanas, todos os pensamentos humanos, e cada sensação e aspiração humanas são, também, obra sua; como será possível, então, responsabilizar as pessoas por seus atos e pensamentos perante um Ser tão todo-poderoso? Ao distribuir punições e recompensas Ele estaria, de uma certa forma, julgando a Si próprio. Como isso pode ser combinado com a bondade e retidão que se Lhe atribuem?

A principal fonte de conflitos, nos dias de hoje, entre as esferas da religião e da ciência, repousa neste conceito de um Deus pessoal. O alvo da ciência é estabelecer regras gerais que determinem as conexões recíprocas entre objetos e eventos no tempo e no espaço. Para essas regras, ou leis da natureza, uma validade absoluta é necessária – não comprovada. Trata-se principalmente de um programa e a fé na possibilidade de seu cumprimento, em princípio é fundamentado somente em sucesso parcial. Mas dificilmente se poderá achar alguém que negue esses sucessos parciais e os atribua à auto-ilusão humana. O fato de que, com base nessas leis, nós sejamos aptos a prever o comportamento temporal dos fenômenos em certos domínios com grande precisão e certeza, está profundamente imbuído na consciência do homem moderno, muito embora ele possa ter compreendido muito pouco do conteúdo dessas leis. Ele só precisa considerar que as órbitas planetárias dentro do sistema solar podem ser calculadas com granda exatidão, com base em um número limitado de leis simples. De uma forma similar, embora não com a mesma precisão, é possível calcular, antecipadamente, o modo de operação de um motor elétrico, um sistema de transmissão, ou um aparelho sem-fio, mesmo quando se lida com um novo desenvolvimento.

Para ser franco, quando o número de fatores intervenientes em um complexo fenomenológico, é grande demais, o método científico, na maior parte das vezes, falha. Basta pensar nas condições climatológicas que são impossíveis de prever, apenas alguns dias à frente. Não obstante, ninguém duvida que estamos nos confrontando com uma conexão causal, cujos componentes causais são, em sua maioria, conhecidos. As ocorrências nesse domínio ficam além do alcance da predição exata, por causa da variedade dos fatores em operação, não por conta de qualquer falta de ordem na natureza.

Nós penentramos muito menos profundamente nas regularidades observáveis dentro do reino das coisas vivas, porém fundo o suficiente para sentir ao menos a regra das necessidades fixas. Só precisamos pensar na ordem sistemática da hereditariedade e nos efeitos dos venenos, como, por exemplo, o álcool, no comportamento dos seres orgânicos. O que ainda está faltando é uma compreensão de conexões de profunda generalidade, mas não o conhecimento da existência de uma ordem.

Quanto mais uma pessoa está imbuída da ordenada regularidade de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não existe espaço disponível do lado desta regularidade ordenada para causas de uma natureza diferente. Para esta pessoa, nem as regras humanas, nem as regras divinas poderão existir como uma causa de eventos naturais. Para ser franco, a idéia de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais, nunca pode ser refutada, no sentido real, pela ciência, porque esta doutrina sempre pode se refugiar naqueles domínios onde o conhecimento científico ainda não conseguiu firmar um pé.

Mas eu estou persuadido de que tal comportamento, por parte dos representantes da religião, não só seriam contraproducentes, mas também fatais. Porque uma doutrina que não consegue se manter na clar luz, mas somente na escuridão, perderá, necessariamente, seu efeito sobre a humanidade, com um incrível dano ao progresso humano. Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião devem ter a estatura suficiente para desistir de uma doutrina de um Deus pessoal, isto é, desistir dessa fonte de medo e esperança que, no passado, colocou um poder tão vasto nas mãos dos padres. Em seus trabalhos, eles terão que se valer dessas forças que são capazes de cultivar a Bondade, a Verdade e a Beleza no próprio ser humano.

Esta é, certamente, uma tarefa mais difícl, mas incoparavelmente mais valiosa. (Este pensamento é convincentemente apresentado no livro "Crença e Ação" de Herbert Samuel). Depois que os professores de religião consigam obter o processo de refinamento indicado, eles seguramente reconhecerão com alegria que a verdadeira religião foi enorbrecida e tornada mais profunda com o conhecimento científico.

Se uma das metas da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, dos grilhões das ânsias, dos desejos e dos medos egocêntricos, o raciocínio científico pode auxiliar a religião em ainda outro sentido. Embora seja verdade que a meta da ciência é descobrir regras que permitam a associação e a predição de fatos, este não é seu único alvo. Ela também busca reduzir as conexões descobertas ao menor número possível de elementos conceituais independentes. É nessa busca frenética da unificação racional dos diversos aspectos que ela tem encontrado seus maiores sucessos, embora seja precisamente por conta dessa tentativa que ela corre o maior risco de se tornar uma presa das ilusões. Mas qualquer um que tenha passado pela intensa experiência dos avanços bem sucedidos neste domínio, é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Por meio da compreensão ele alcança uma emancipação de longo alcance das algemas das esperanças e desejos pessoais e, dessa forma, atinge a humilde atitude mental com respeito à grandeza da razão encarnada na existência e que, em suas maiores profundiades, é inacessível ao homem. Esta atitude me parece, entretanto, ser religiosa, no mais alto sentido da palavra. E, assim, me parece que a ciência não só purifica o impulso religioso do ranço de seu antropomorfismo, mas também contribui para uma espiritualização religiosa de nosso entendimento da vida.

Quanto mais a humanidade avançar espiritualmente, mais certo me parece que o caminho para a genuína religiosidade não reside no medo da vida e no medo da morte, e na fé cega, mas na perseguição do conhecimento racional. Neste sentido, eu acredito que o padre deve se tornar um professor, se ele quiser fazer justiça a sua elevada missão educacional.

Traduzido e divulgado sem a adequada permissão de “Science and Religion” in The Conference on Science, Philosophy and Religion © Jewish Theological Seminary, 1941.

25 outubro 2005

Repercussões internacionais do referendo

Salve, Pessoal! Começam a aparecer as primeiras repercussões, dignas de nota, na imprensa internacional, sobre a vitória do "não" (hurra!) no referendo de domingo passado. Eu vou publicar, primeiro, os artigos do Le Monde e do Le Figaro. As notícias do Times de Londres (do sábado, 22 de outubro) e do New York Times e Washington Post (geradas em Buenos Aires), não merecem tradução.

Os brasileiros rejeitam massivamente a interdição das armas de fogo
LEMONDE.FR | 24.10.05 | 08h57 • Atualizado em 24.10.05 | 09h01

Os brasileiros se manifestaram, por ocasião de um referendo no domingo, contra a proibição da venda de armas de fogo, com uma grande maioria estimando que esta medida seria ineficaz para por fim à violência da qual sofre o país. Mais de 64% dos votantes responderam "não", segundo os resultados preliminares de cerca de 75% dos votos.

O Brasil ocupa a segunda posição no mundo em mortes por tiros, com o macabro registro de 36.000 mortos em 2004. "Nós não perdemos porque os brasileiros gostem de armas. Nós perdemos porque as pessoas não têm confiança no governo e na polícia", reagiu Denis Mizne, do grupo "Sou da Paz" que milita contra a violência.

"EU VI CRIANÇAS FERIDAS POR BALAS"

No decurso dos debates que precederam o referendo, diversas pessoas disseram que temiam que uma proibição as deixasse à mercê dos delinqüentes fortemente armados. "Esse referendo (...) não vai acabar com a violência". predisse, ao votar contra a proibição, Assis Augusto Pires, 60 anos, que mora em um bairro cercado e protegido do Jardim Paulistano. Carlos Eduardo Ferreira, eletricista de 40 anos que mora na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, teatro de uma sangrenta guerra entre quadrilhas, não concorda com essa opinião. "Eu sou favorável à proibição, eu sou pela vida. Eu já vi meninos feridos por balas", explica ele.

Antes do começo da campanha pelo rádio e televisão sobre o referendo, o "sim" apresentava 76% das intenções de voto. Mas, depois do lançamento da campanha, em 1° de outubro, a tendência se inverteu rapidamente. Os grupos favoráveis à proibição acusaram os fabricantes de armas e as associações em favor do porte de armas – tais como a "National Rifle Association" (nota do tradutor: associação americana que defende o porte irrestrito de armas de fogo, de todos os calibres) que acompanhou de perto a votação – de financiar uma grande campanha defendendo a livre circulação de armas e de jogar com os medos da população.

"Eu penso que, para o comum dos mortais, ter uma arma à mão não é uma garantia de segurança. Por isso eu votei 'sim'", declarou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao votar. Enquanto isso, os partidários do "sim" reconheceram que a proibição do comércio das armas não seria o suficiente para contolar o problema da violência e que um aumento dos recursos para a segurança pública é necessário. Antonio Rangel, dirigente da "Viva Rio", uma ONG de ponta na campanha pelo "sim", reconheceu a concordância dos pontos de vista com os partidários do "não" acerca da insuficiencia da ação pública contra a violência.


Le Figaro

Os brasileiros querem manter suas armas
Brasil - Dois terços dos eleitores respondem "não" ao referendo, realizado no domingo, sobre a proibição da venda de armas.

L. 0.
[25 de outubro de 2005]

DESDE O ANÚNCIO dos resultados, os militantes da ONG "Sou da Paz" (segue-se, no original, a tradução literal do título da ONG) se desmancharam em lágrimas. Há dois meses, as pesquisas lhes prometiam que uma imensa maioria (80%) dos 122 milhões de eleitores brasileiros sustentaria a proposta do referendo de proibir a venda de armas e munições. Não aconteceu nada disso: no domingo, dois terços da população se pronunciaram contra esse projeto de Lei (sic), não obstante o apoio governamental.

"Foi uma coça, nós perdemos em todos os estados do país e, mesmo entre as mulheres, que são tradicionalmente contrárias à circulação das armas", resumiu Ignacio Cano, professor especilista em questões de segurança na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A Igreja, as ONG e o Ministro da Justiça acharam suficiente repetir que esta proibição seria um primeiro passo para limitar o número de mortes provocadas pelas armas de fogo - mais de 36.000 no ano passado, 550.000 entre 1979 e 2003 - e, progressivamente, foram perdendo o apoio da sociedade.

O pendão da auto-defesa.

Os partidários do "não" no referendo, financiados pela indústria de armamentos, uma das maiores do mundo (sic), explorou, com sucesso, o pendão da auto-defesa. Com tal Lei (sic), o governo não iria impedir os criminosos de se armarem ilegalmente, mas abandonaria o cidadão a sua triste sorte, sem possibilidade de se proteger. "Uma idéia absurda, porque a maioria das armas compradas pelos cidadãos comuns acaba nas mãos dos criminosos", sublinha Ignacio Cano. Não obstante, o argumento pegou "na mosca", enfatizando a exasperação e o desengano dos brasileiros em face dos problemas da segurança pública. "Este 'não' é um voto de censura a toda a classe política, incapaz de encontrar a menor solução para a violência", prossegue Ignacio Cano, lamentando a ausência de engajamento de políticos de envergadura.

O Presidente Luiz Inacio Lula da Silva certamente insistiu, no domingo, sobre a necessidade de limitar a venda de armas, mas, receoso de sofrer as conseqüências políticas desse "cheque-mate", apressou-se a relembrar que "o povo é soberano". No seio de um governo envenenado (no original, "tétanisé"), somente o Ministro da Justiça, desconhecido do grande público, trabalhou como o bom diabo para a causa do "sim". A principal organização de oposição, o Partido Social Democrata (PSDB), teóricamente a favor do "sim", igualmente brilhou por sua ausência no debate. A começar por José Serra, o Prefeito de São Paulo, o provável adversário de Lula na eleição presidencial de outubro de 2006.

Repercussões nos Estados Unidos

O resultado deste referendo, inédito no mundo, se arrisca a ter conseqüências bém além das fronteiras do Brasil. "Esta reversão de opinião em algumas semanas é uma grande decepção", diz, desolado, Benoît Muracciole, encarregado da Campanha Mundial em favor do desarmamento da Amnesty International. A ONG contava muito com um resultado positivo em um país americano. "Os fabricantes de armas vão se sentir "de barriga cheia" (no original, "requinqués"), em particular nos Estados Unidos", acrescenta ele. No Congresso Americano, esses lobbies estão dando os últimos polimentos em seu último projeto de Lei: proibir aos parentes das vítimas de armas de fogo de processar os comerciantes de armas.


O curioso é que ambos os jornais franceses, pelo tom das notícias, pareciam estar torcendo veladamente pelo "sim" (observe-se que o jornalista do Le Figaro só cita as lamúrias dos derrotados e o sugestivo subtítulo, no meio da matéria, publicada no Le Monde). Considerando que as submetralhadoras francesas são as armas mais usadas no submundo europeu e que o país também tem uma importante indústria de armamento, como essas lágrimas parecem ser "de crocodilo"!

Aliás, o tom dos artigos do London Times (faça-me o favor! A Inglaterra, pacifista!?) e dos jornais americanos (bem mais comedidos: lá o lobby da indústria de armamentos é bastante poderoso para processar um jornal), é igualmente reprovativo... "Selvagens armados? Claro que não!..."

Que fique bem clara a minha posição sobre o assunto!

Eu não sou a favor da posse e muito menos do porte indiscriminado de armas, tal como era antes do Estatuto do Desarmamento. Pelo contrário, eu acho que a posse e o porte de armas têm que ser severamente vigiados. O que não acarreta que a comercialização legal de armas de fogo deva ser proibida. Eu só lamento que pessoas bem intencionadas, como, sem dúvida, o são o pessoal do "Viva Rio" e do "Sou da Paz" dê tanta importância a desarmar todos os cidadãos, usando um non-sequitur tão primário como "eu não gosto, portanto você não pode".

Desde os 19 anos as armas de fogo passaram a fazer parte de meu dia-a-dia. E eu também já vi os funestos resultados do uso descuidado e irresponsável de armas de fogo (é!... isso acontece dentro dos quartéis, também!...). O mesmo se pode dizer de remédios, substâncias para limpeza doméstica, automóveis... até mesmo de telefones e da Internet.

Mas, como já diziam os romanos: Abusus non tolit usus.


20 outubro 2005

Isso é mentira!

Salve, Pessoal! Mais uma tradução de artigo do Times de Londres (vou fingir que não ouvi o engraçadinho aí atrás dizer: mais uma!...). O artigo original é Liars, cheats? Join the club.

The Times 20 de outubro de 2005

Mentrosos, trapaceiros? Junte-se ao Clube
por Camilla Cavendish

Agora que se tornou aceitável dissimular à menor oportunidade, nós todos devemos ajudar a inverter essa maré.

EM UMA RECENTE manhã, no cafezinho da escola, uma mãe amiga fez uma pergunta espantosa. "Será que eu estou errada em ensinar meus filhos a serem honestos?", foi o que ela perguntou. "Será que eu estou impedindo eles de abrirem seus caminhos no mundo?" Isto foi chocante. Será que nós nos tornamos, atualmente, tão mais mendazes que a dissimulação deveria passar a ser uma habilidade vital no currículo?

Essa mulher não era uma pobre coitada. Ela teve uma carreira de sucesso nos negócios. Ela tem visto como as pessoas contam pequenas mentiras e como outras, cada vez mais, aceitam-nas pelo valor de face. Ela uma vez monitorou o balcão de devoluções e reembolsos de um supermercado. As pessoas pediam reembolso, sem qualquer comprovante, por mercadorias que o mercado não tinha em estoque há algum tempo. Mas os funcionários freqüentemente pagavam. Eles não queriam confusão. Eles presumiam que as pessoas são desonestas e não pareciam se preocupar com isso.

Quando foi que nós começamos a esperar que as pessoas mintam? Nós passamos por um ponto sem retorno, para um mundo que é cheio de dissimuladores profissionais. "Marqueteiros", pessoal de relações públicas, advogados, alguns "promotores de campanhas" e um, sempre mutante, elenco de "operadores de serviços de atendimento ao consumidor" que prometem ligar em retorno, prometem apagar aquele débito na sua conta, mas, na verdade, apagam todos os registros de sua conversa, de forma que, na próxima vez, você será tratado como o principal suspeito, em um jogo surrealista de gato e rato, no qual, subitamente, tudo é culpa sua. Mentir virou uma indústria em crescimento, na qual freqüentemente parece mais importante jogar a culpa, complicar e confundir do que simplesmente consertar a maldita conexão de banda larga.

Nosso cinismo tem conseqüências peculiares. A largamente difundida presunção de que políticos são mentirosos, faz com que alguns jornalistas imaginem "estórias de cobertura", ao ponto de inventá-las, ao passo que assumem um ar blasé quando as verdadeiras mentiras são reveladas. Os tablóides sensacionalistas estavam tão desesperados por notícias escabrosas (para aumentar sua tiragem) sobre David Cameron, neste fim de semana, que eles publicaram uma foto, que eles tinham há pelo menos cinco meses, mas não usaram, porque sabiam que a "estória" era mais fraca do que macarrão molhado.

A foto dos tempos de estudante de George Osborne, Membro do Parlamento, em situação comprometedora, meramente fê-lo parecer quadrado demais para estar tramando algo escuso. O Sr. Osborne foi devidamente exposto – mas somente como um homem que tentou salvar um amigo das drogas e de de uma mulher que, claramente, achou editores tão ávidos quanto ela em exagerar a verdade.

O que poderíamos chamar de uma mentira Classe A, contada por Stephen Byers, o antigo Secretário de Transportes, gerou menos indignação. Levado aos tribunais pelos acionistas da "Railtrack", que acusam o Governo de roubá-los, forçando a falência da companhia, o Sr. Byers admitiu que ele disse "inverdades" aos Membros do Parlamento, quanto à data em que ele começou a desenhar seus planos para falir a "Railtrack" e se tornar o Grande Patrão. Mas será que há algum jornalista querendo investigar qual foi a substância perturbadora da mente que fez o Sr. Byers perder a noção do tempo?

Mais fascinante é a nova definição de verdade e mentira que o Sr, Juiz Lindsay nos deu, achando na Alta Corte, na sexta-feira, que o Sr. Byers não era um "comprovado mentiroso", a despeito dele ter admitido que mentiu para o Parlamento. "Ele aceitou para mim que ele disse uma inverdade. Mas isso, por si só, não o rotula como mentiroso, se definirmos como "mentiroso" uma pessoa que diz uma inverdade, sabendo que ela é uma inverdade, ou sendo leviano quando a sua veracidade ou inveracidade. Se ele é ou não um "mentiroso" nesta acepção, não é problema meu; eu devo deixar essa decisão para a Câmara dos Comuns". Então, a Comissão de Padrões e Privilégios torna-se o árbitro final sobre a verdade; e os parlamentares podem aceitar uma visão edulcorada da declaração do Sr. Byers, nesta semana, na qual ele se desculpou pelo que ele rebaixou a um "ato falho".

É da natureza humana fazer distinções bem sutís entre diferentes matizes de desonestidade, Existe uma hierarquia de mentiras, de "mentirinhas" para cima. O problema é que "mentira mesmo" é, geralmente, vista como uma coisa que outras pessoas fazem: a Enron, ou o Programa "Petróleo-por-comida" da ONU, ou Jaques Chirac, que prometeu 100 libras por dia para frutas e legumes. Existe uma categoria mental, totalmente diferente, para você não pagar suas dívidas, tirar um dia para ficar na cama, ou contestar aquela multa de trânsito, porque você acha que tem uma chance razoável de se livrar dela. Estas coisas ainda parcem um pouco desonestas para a maioria de nós. Mas a honestidade não está começando a parecer "fora-de-moda", um pouco ingênua mesmo, quando todo o mundo "está levando vantagem"? Um ponto de vista bem difundido, mas um que é seriamente corrrosivo.

Uma pesquisa, realizada neste ano, mostrou que um em cada quatro estudantes britânicos adimite que "copia e cola" material da internet e apresenta como original seu. Tão chocante como a mentira é a honestidade brutal dos estudantes acerca do fato. Quase um em cada cinco disse encarar o plágio como uma prática aceitável. No entanto, as universidades ficam estranhamente embaraçadas em adotar uma linha moralizante contra a desonestidade. Na mesma Grã-Bretanha onde "grupos de pressão para a cortesia" tentam restaurar os "bons modos", também há um Serviço de Assessoramento para Plágios que se empenha em "identificar exemplos dos melhores desempenhos". Por que não dizer que plágio é errado e parar de inventar desculpas polidas?

A verdade é que, talvez, nós não valorizemos mais a honestidade como fazíamos, mas ainda valorizamos a aparência de honestidade. Nós traçamos uma distinção grande demais entre corrupção, que ainda provoca uma indignada tomada de fôlego, e a desonestidade que, mais e mais, parecemos encarar como algo natural, conquanto possamos nos livrar das conseqüências. As empresas estão contratando psicólogos e assessores de recrutamento para investigar os Curricula Vitae que não são mais confiáveis. E o fato de que as pessoas admitem mais prontamente suas desonestidades, é um sinal seguro de sua degradação moral.

Não é inevitável que um flerte com inverdades Classe C, venha a tentar os potoqueiros a contar mentiras Classe A. Mas ser complascente com a desonestidade, como as universidades e os empregados do supermercado parecem fazer, pode alimentar, seguramente, a impressão de que todo o mundo "está levando vantagem". A Universidade de Virgínia achou falsidades em um quinto de todas as conversas de dez minutos, que aumentam para um terço entre os estudantes graduados. Se a educação está dando às pessoas confiança em tapear os outros, teremos que trabalhar especialmente duro para manter nossos filhos honestos.


Resta mais algo a dizer?...

16 outubro 2005

Três artigos do The Sunday Times

Salve, Pessoal! Uma rápida vista no The Sunday Times (on line) de Londres, e três artigos de capa me chamaram a atenção. Eu não vou passar uma tradução completa dos três, primeiro porque são muito extensos, segundo porque eu dou os links (quem quizer conferir, vá lá e leia...)

O primeiro traz o auspicioso título "Chefe da Polícia Metropolitana: Eu posso ser forçado a pedir demissão" (Met boss: I may be forced to quit), escrito por Robert Winnett and David Leppard. Começa assim:

SIR IAN BLAIR, o Comissário da Polícia Metropolitana, admitiu que ele pode ser brevemente forçado a pedir demissão, por conta do caso do assassinato de um brasileiro inocente no Metrô de Londres.
O mais alto policial da Grã-Bretanha declarou, a uma reunião privada de líderes de negócios e altos funcionários que ele terá que ir embora "muito breve" por causa da morte de Jean Charles de Menezes.
Descrevendo a pressão que está sofrendo por causa da malfadada operação, ele disse: "Onde a demissão termina? É claro, ela pode terminar muito em breve"
Ele acrescentou: "Eu prefiro renunciar do que ser demitido".
[....]
Oficiais do alto escalão da polícia disseram que o inquérito sobre a operação revelará um "conto de terror", quando for completado antes do Natal. Uma dessas fontes internas disse: "Ele (Blair) ficou obviamente prejudicado. Sua auto-confiança ficou prejudicada. Vocês podem ver que ele parece visivelmente mais velho".
Blair explicou, na reunião, que sua atuação pessoal no caso estava sendo agora investigada pela Comissão Independente de Queixas da Polícia (IPCC). Blair tentou bloquear uma investigação imediata da IPCC do tiroteio na estação de metrô de Stockwell.
Em uma carta enviada ao Home Office (nota do tradutor: O ministério Inglês da Justiça), escrita poucas horas depois do tiroteio, ele dizia que ele deveria ter o poder de suspender as investigações por questões de segurança nacional. Ele foi derrotado (no original: "overruled) por Sir John Gieve, o principal funcionário do Home Office.
[....]
Ao menos 10 oficiais envolvidos no tiroteio devem ter recebido notificações disciplinares da polícia. Inclusive os agentes especiais (no original: "marksmen") do CO19, que dispararam 11 tiros em Menezes depois que ele embarcou em um trem em Stockwell. Oficiais superiores, até o grau de Comissário Assistente podem enfrentar acusações de assassinato.
[....]
À medida em que a IPCC examina se Blair realizou declarações falsas ao público, fica claro que alguns de seus oficiais mais graduados estavam cientes, na metade da tarde de 22 de julho, que Menezes era inocente. Um Oficial Superior disse ao Sunday Times que Blair estava em uma posição que lhe permitia saber aquilo que seus oficiais já tinham descoberto.
Outra fonte interior disse: "Sérias dúvidas acerca de se eles tinham atirado no homem certo, apareceram logo após o incidente. Tudo o que eles tinham a fazer era olhar os documentos de identidade na carteira dele para ver que ele não era um terrorista".
O Comissário também deve encontrar dificuldades em justificar sua decisão de ativar a Operação Kratos, o "procedimento padrão" secreto que autoriza os "peritos" da polícia a atirar na cabeça dos suspeitos de serem "homens-bomba".
Essa política foi estabelecida por um comitê especial sobre terrorismo da Associação de Chefes de Polícia em 2003. Muitos dos Chefes, entretanto, estão preocupados com a base legal para tal política.
Blair continua a defender esse "procedimento padrão" em público, mas vários outros Chefes de Polícia se afastaram dessa política e diversas forças planejam jamais utilizá-la.
Copyright 2005 Times Newspapers Ltd.



O segundo artigo tem o seguinte título: Oficial da RAF enfrenta a prisão por ser contra a "Guerra Ilegal" (RAF officer faces jail over ‘illegal war’). Artigo de David Leppard. O início do artigo diz assim:

Um oficial da RAF pode ser preso por se recusar a servir no Iraque, porque ele acredita que a guerra lá foi ilegal.
O Flight-Lieutenant (Primeiro-Tenente) Malcolm Kendall-Smith deve ser submetido à Corte Marcial por "se recusar a cumprir uma ordem legal", após dizer a seu Comandante que ele não iria para Basra.
Ele é o primeiro oficial britânico a enfrentar acusações criminais por desafiar a legalidade da guerra.
Kendall-Smith, 37, oficial médico da unidade da RAF de Kinloss em Morayshire, foi condecorado por sua atuação no apoio às operações militares no Afeganistão e por duas passagens prévias no Iraque.
Entretanto, após estudar os aspectos legais, inclusive a orientação do Lord Goldsmith, o Advogado-Geral, ele decidiu, este ano, que a guerra era ilegal e, portanto, seria errado que ele retornasse.
[...]
O principal argumento da defesa de Kendall-Smith vai ser o manual da RAF que declara que um oficial, em serviço, pode se recusar a obedecer a uma ordem, se esta for ilegal. Seus advogados também argumentam que sua comissão, concedida pela Rainha, o obriga a agir de acordo com "as regras e disciplina de guerra".
[...]



O terceiro artigo é mais uma crítica aos costumes britânicos. Se intitula Densas núvens de hipocrisia induzida pelas drogas (Dense clouds of drug-induced hypocrisy). Artigo de Minette Marrin.

"Não conhecemos outro espetáculo tão ridículo", diz uma citação famosa de Lord Macaulay, "quanto o público britânico em um de seus periódicos ataques de moralismo". Parece que estamos no meio de um particularmente absurdo agora mesmo. Embora existam muitas questões de grande importância na vida pública em geral e mesmo algumas poucas na luta pela liderança entre os Conservadores, a obsessão da mídia é a tentativa de forçar David Cameron a fazer algum tipo de confissão sobre o uso de drogas. É ridículo e vergonhoso.
Cameron já disse o bastante sobre isso para satisfazer qualquer um com um devido interesse em seu passado e tanto quanto se podia esperar de qualquer figura pública, no entanto tem sido assediado por dias. Questionado, mais uma vez, no programa "Question Time" da BBC1, ele admitiu que, como muitas pessoas, ele fez coisas em sua juventude que não deveria ter feito.
"Eu me permito ter tido uma vida privada, antes de entrar para a política, na qual cometemos erros e fazemos coisas que não devíamos", disse ele. E prosseguiu, fazendo uma distinção perfeitamente razoável entre sua vida, antes da política e suas atuais responsabilidades. Para qualquer pessoa com a mente não deturpada, isso deveria ser tudo. Fica bem claro o que ele quer dizer.
Insistir em querer que ele diga mais – e eu fico impressionada com a quantidade de pessoas que se dizem liberais e libertárias que reclamam, aos gritos, que ele deveria – é por si só desonestidade. De fato, o que estamos vendo não é tanto um ataque periódico de moralismo, quanto é um, mais comum ainda, ataque de periódico de hipocrisia.
[...]
O uso recreativo de drogas não é, em si próprio, uma matéria de moral. Isso sempre foi um dos maiores prazeres e grandes consolações da espécie humana, encontrado em todas as civilizações. Várias drogas "recreativas" são legais na Grã-Bretanha, a despeito de seus riscos reais.
[...]
Sempre me pareceu que aqueles que se viciam, são impelidos a isso por outros problemas – alguns por suas personalidades dependentes, outros pela pobreza de suas vidas ou expectativas. Uma das grandes injustiças dessa vida que as pessoas mais inclinadas a se meterem em sérios problemas com drogas, são aquelas que já estão com algum outro problema sério e que a lei não parece preocupada em protegê-los.
Por isso é que eu, há vários anos, venho sendo firmemente a favor de descriminalizar as drogas. Eu penso que, a despeito dos altos riscos envolvidos – possivelmente, para alguns – isso poria fim ao tráfico [ilegal] de drogas, ao vício-apoiando-o-crime, a drogas contaminadas e ao vasto império do mal do tráfico ilegal de narcóticos.
[...]


Comentando rapidamente essas três matérias (auto-explicativas, a meu ver...). A primeira, sobre o infame Chefe da Scotland Yard, mostra que em alguns lugares do mundo o comportamento criminoso das autoridades não acaba, necessariamente, em "pizza". Mas também mostra que os "poderosos" são iguais, seja em Uganda, seja na Grã-Bretanha: querem todo o poder (inclusive o que a Lei não lhes confere) e não aceitam a responsabilidade por suas cagadas...

O segundo é uma outra faceta da mesma imbecilidade criminosa do governo britânico. O Tenente Kendall-Smith leva grandes chances de criar uma camisa de onze varas para o outro infame Blair. Mesmo que a Corte Marcial decida pela culpabilidade do Tenente, ele pode recorrer à Justiça Real e, como já foi dito, a posição do Advogado-Geral é de que a guerra do Iraque é ilegal, por ser baseada em mentiras comprovadas.

O terceiro, apesar de ser apenas um comentário sobre a disputa pela liderança do Partido Conservador, põe a nú toda a hipocrisia vitoriana dos britânicos e – já que eu estou falando nisso – de toda a subcultura WASP americana, na qual se apoia a camarilha do W. Bush.

Mas o mais importante é ver essas três matérias publicadas em uma mesma edição do The Sunday Times. É notável o quanto uma imprensa realmente independente pode esclarecer os cidadãos e mostrar que "o rei está nú".

Bem diferente de um certo país da América do Sul, onde a imprensa que adora se fazer de "independente", desavergonhadamente manipula a informação, para tentar conduzir a opinião pública na direção da "opinião que se publica", com apelações ridículas e estatísticas distorcidas.

O caso Jean Charles de Menezes, parece estar caminhando para uma punição exemplar das "otoridades" da Scotland Yard. Já o caso Celso Daniel...

12 outubro 2005

Mudei de idéia...

Este texto apareceu na Comunidade "Questões Militares - Brasil" do Orkut. Como o autor do post diz tê-lo recebido por email, eu vou, sem-vergonhamente, reproduzí-lo aqui:

MUDEI DE IDÉIA!!!! AGORA É SIM!!!

Antes, eu tinha certeza de que ia votar no NÃO e ninguém ia me convencer do contrário. Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NAO no Orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do SIM me convenceram. Vou votar SIM. Sabe por que? Vou dar 18 motivos:

1. Descobri que a chance de se sair bem ao reagir a um assalto é de uma em 288.345.774.324.500. As estatísticas provam que nos outros 288.345.774.324.499 casos, a vítima que reagiu morreu.

2. Descobri que a arma legal alimenta os bandidos. Todas aquelas AR-15, AK-47, granadas e bazucas que os traficantes do Rio usam foram roubadas de cidadãos honestos que compraram as armas legalmente. Da minha casa mesmo, por exemplo: Ano passado me roubaram quatro mísseis STINGER.

3. Descobri que todos os pais que têm arma de fogo costumam deixá-las carregada e engatilhada em cima do sofá da sala. Por isso que 94 milhões de crianças brasileiras morrem brincando com armas de fogo todos os anos.

4. Descobri que todos os assaltantes de casa têm superpoderes. Eles atravessam portas e paredes e se materializam imediatamente na sua frente e apontam uma arma para a sua cabeça enquanto você ainda está deitado, tornando impossível qualquer reação. Eles não perdem tempo e não fazem barulho arrombando portas.

5. Descobri que se eu vir ou ouvir algum bandido pulando a cerca e entrando no meu quintal, eu não vou conseguir afugentá-lo com um tiro para cima ou para o chão. Se ele ouvir o tiro, aí sim, é que ele vai ficar excitado e vai querer de toda forma entrar em casa e trocar tiros comigo. Eles adoram fazer isso.

6. Descobri que se o NAO ganhar, as armas de fogo vão imediatamente ficar 90% mais baratas e vai acabar a burocracia para a compra de uma. No dia seguinte à vitória do NÃO, qualquer pessoa (bandido ou não) vai poder ir numa loja de armas, comprar uma 45 e oito caixas de munição, já vai sair armado e vai para o bar mais próximo para arrumar briga e me matar.

7. Descobri que delegados e policiais civis, militares e federais - que são em quase totalidade favoráveis ao NÃO - não entendem N-A-D-A de violência e criminalidade. Quem manja mesmo do assunto são atores, sociólogos e dirigentes de ONGs internacionais.

8. Descobri que estrangeiros que lideram ONGs como a Viva-Rio têm muita experiência no assunto. Afinal, todo mundo sabe que a situação social, econômica e de criminalidade da França, Inglaterra e Estados Unidos (que é de onde eles vêm) é IGUALZINHA à realidade do Brasil. Não tenho a menor dúvida de que as teorias que eles têm vão funcionar direitinho aqui.

9. Descobri que 90% dos casos de homicídios são cometidos pelos chamados cidadãos de bem. Claro que isso é só dos homicídios ESCLARECIDOS, que são menos de 5% dos casos. Mas pela lógica, os outros 95% dos homicídios, que não são esclarecidos, também deve ser causados pelos cidadãos de bem.

10. Descobri que o governo quer que a gente vote sim. E o governo sempre pensa no nosso bem. Afinal, todo mundo sabe que a qualidade da saúde pública, ensino público, segurança pública, e etc vêm melhorando cada vez mais, dia a dia.

11. Descobri que se o SIM ganhar, não vão mais acontecer mortes banais. Maridos ciumentos só vão agredir as mulheres com travesseiros, torcidas organizadas vão se dar às mãos, facas e canivetes vão perder o fio, tijolos e paus vão ficar macios e os pitboys vão todos se converter ao budismo.

12. Descobri que até agora, o desarmamento voluntário já deu resultados. É claro que a queda nos atendimentos dos postos do SUS em São Paulo nos últimos 12 meses foi devido à diminuição do número de armas, e não devido a maiores investimentos em segurança e educação.

13. Descobri que o jovem é a principal vítima da arma de fogo. Claro que isso não tem nada a ver com o fato de o jovem ser o maior usuário de drogas, e nem o fato de que quase 100% dos envolvidos no tráfico de drogas têm menos de 30 anos (porque morrem ou são presos antes). Isso é só coincidência.

14. Descobri que todo mundo que tem arma de fogo é um suicida em potencial. E a única causa do suicídio é a arma de fogo, e não a falta de perspectivas, falta de um ideal, falta de um sonho a buscar ou então distúrbios mentais como a depressão.

15. Descobri que se algum bandido invadir a minha casa, basta-me ligar para o 190. A polícia sempre tem homens e viaturas sobrando e levará menos de 3 minutos para me atender.

16. Caso isso não aconteça, basta-me fazer o sinalzinho do "sou da paz" com as mãos e o ladrão vai saber que eu sou um sujeito legal, e então ele vai embora em paz sem levar nada e sem violência nenhuma. Eles sempre agem assim quando descobrem que você é da paz, e não um daqueles psicopatas malvados que são a favor do NÃO.

17. Caso o ladrão seja muito, mas muito malvadão, eu só preciso gritar por socorro. Em cinco segundos vão aparecer a Fernanda Montenegro, a Maitê Proença e o Felipe Dylon para me salvar e prender o bandido. Sem usar armas.

18. Se o SIM ganhar, o Brasil vai ser um país mais feliz. Que nem na novela das oito.

11 outubro 2005

Sabe qual é o problema com os imbecís?

É que eles não se acham imbecís! E eu não estou falando dos "corações de galinha" que vão votar "sim" no referendo porque têm "medinho" de arma de fogo. A coisa é muito mais séria.

Quando a imbecilidade se une à ganância, você ve coisas como uma matéria de seis páginas (de internet) na edição on line do New York Times (aqui — eu não vou me dar ao trabalho de traduzir seis páginas de sandices) falando das benesses da redução da Calota Polar Ártica. Vai facilitar a navegação do Ártico, trazer movimento para os portos da região e, o mais importante na cabeça desses consumistas de merda, os americanos: petróleo! Vai ser possível montar plataformas para exploração do petróleo ártico!

Puta que pariu! Tadinho do capeta: vai ter que arrumar um lugarzinho pior no inferno para acomodar esses infelizes que sabem que estão fudendo tudo para as próximas gerações, mas estão cagando e andando!

E eu aqui, me preocupando com o direito do brasileiro ter ou não uma arma de fogo... Não faz a menor diferença: tanto faz morrer assassinado por um bandido, como morrer afogado, quando o nível dos Oceanos subir e Araruama for riscada do mapa... (quem foi o engraçadinho aí atrás que gritou que "merda boia!"?)

É nessas horas em que a gente desanima da humanidade, da ciência e da religião... A primeira não presta, a segunda não sabe e a terceira não resolve...

Deus deve adorar os imbecís: fez um monte deles!...


P.S: por falar em imbecís, eu fui obrigado a botar aquele infeliz campo, onde você tem que digitar aquelas letrinhas tronxas que aparecem em um quadrinho, por causa dos imbecís que mandam spam disfarçado de comentário! Quosque tandem abutere patientia nostra?...

01 outubro 2005

Acidificação dos Oceanos e diminuição das calotas polares

Salve, Pessoal! Mais uma notícia, desta vez do Le Monde, dando conta das lambanças climáticas. La vai:


A acidificação dos oceanos ameaça a cadeia alimentar do Oceano Austral LE MONDE | 01.10.05 | 14h20 • Atualizado em 01.10.05 | 14h20

A acidificação dos oceanos vai desestabilizar, de hoje a 2030-2050, os ecossistemas marinhos? Sem dúvida, se acreditarmos em um estudo internacional publicado na quinta-feira 29 de setembro na revista "Nature" e realizado por uma dezena de laboratórios alemães, americanos ou, ainda, franceses. Segundo eles, o crescimento da taxa de dióxido de carbono na atmosfera vai provocar, em um prazo mais ou menos breve, uma acidificação dos mares tal que certos organismos com esqueletos externos não poderão nele subsistir. No decurso do século XX, o pH médio dos oceanos despencou de 0,1 unidade. Esta tendência vai se acelerar no decorrer do século XXI e é prevista uma baixa do pH de 0,3 a 0,4 unidades de hoje até 2100.

"Em função de diferentes cenários de desenvolvimento", explica Patrick Monfray, co-autor dessa publicação e pesquisador no Laboratório de Geofísica e Oceanografia Espaciais (CNRS, IRD, CNES e Universidade de Toulouse-III), "nós demonstramos que a acidez dos oceanos vai crescer até o ponto em que, nas altas latitudes polares, certos organismos dotados de conchas calcárias, vão estar em uma água tão ácida que ela será capaz de dissolver suas carapaças". Se as emissões de CO2 não forem dominadas (cenário chamado "Business as usual"="Negócios como os usuais"), esse pónto será atingido cerca de 2030, estima o Sr. Monfray. Se, ao contrário, a concentração de gás carbônico se estabilizar em 650 ppm (partes por milhão), chega-se a ele em torno de 2050.

Os organismos cujas conchas são formados de calcita não deverão ser os primeiros a serem afetados. Em contrapartida, aqueles com o esqueleto externo constituído de aragonita (CaCO3 ou carbonato de cálcio) estão particularmente ameaçados.

É notadamente o caso dos moluscos planctônicos chamados pterópodes. Ora, esses organismos se revestem de uma importância particular. "Eles formam um elo importante da cadeia alimentar do Oceano Austral", explica Patrick Onfray. "Potencialmente, isso pode gerar fenômenos em cascata em grande escala", que afetarão uma grande faixa de espécies (cetáceos, salmôes, etc.).

Estes fatos são ainda mais preocupantes já que, perdurando a tendência atual, o fenômeno vai atingir, em torno de 2100, não somente as altas latitudes, mas, igualmente, as zonas mais meridionais como o Pacífico Norte. A publicação destes trabalhos vem de encontro àquilo que diversas pesquisas recentemente puseram em evidência: importantes modificações na repartição da fauna planctônica.

ENXUGAR OS EXCESSOS

No Atlântico Norte, por exemplo, certos planctons migram para o norte, sob o efeito do reaquecimento das águas da superfície (ver matéria do Le Monde de 20 de setembro de 2004). Entre uma acidez crescente ao Norte e o aumento da temperatura mais ao Sul, a dinâmica dessas espécies será realmente profundamente perturbada a curto prazo.

Os recifes de coral – nichos de uma abundante biodiversidade – poderão sofrer também com a acidificação dos mares, acrescentam os pesquisadores. Ainda assim, este ponto continua em discussão. Um estudo controvertido, publicado em dezembro de 2004 na revista "Geophysical Research Letters", concluía que os corais poderiam, ao contrário, se benefeiciar do aquecimento. Com efeito, se a baixa do pH tende a reduzir o conteúdo de aragonita na água do mar (e, portanto, desacelerar os fenômenos de calcificação) o aumento da temperatura da água contrabalancearia esta tendência.

Mesmo se estas discussões permaneçam na comunidade científica, a acidificação dos oceanos é objeto de inquietudes crescentes. Porque ela conduz, por outro lado, à redução da capacidade dos oceanos em absorver o CO2 produzido pela atividade humana. Quanto mais o oceano ficar ácido, menos será capaz de enxugar os excessos produzidos pelo homem.

Em suma, explica o Sr. Onfray, este é um caso de "realimentação positiva", Ou seja, este efeito tampão do oceano não pode ser negligenciado porque as águas da superfície absorvem mais de um terço dos rejeitos de gás carbônico engendrados pela queima de combustíveis fósseis.


Stéphane Foucart

(Quadro anexo ao artigo)

Forte redução da calota glacial ártica

A calota glacial ártica ficou fortemente reduzida este ano e isso pelo quarto verão consecutivo, indicaram na quarta-feira 28 de setembro os cientistas americanos. Este fenômeno, atribuído ao aquecimento do clima vai, provavelmente, se acelerar. "Dado o baixo nível recorde dos gelos este ano, no fim de setembro, 2005 vai, praticamente com certeza, ultrapassar 2002 em ter a mais fraca calota de gelo no Ártico em um século", declarou Julienne Stroeve do Centro Americano de Dados sobre Neves e Gelo (NSIDC). "Neste rítmo, o Ártico não terá mais gelo, durante a estação do Verão, bem antes do fim deste século", acrescentou ela. A zona gelada do Oceano Ártico fica normalmente reduzida a seu mínimo em setembro, no fim do verão. Em 21 de setembro de 2005 a banquisa não tinha mais do que 5,32 milhões de km2, ou seja, a mais tênue superfície jamais medida pelos satélites, precisaram os cientistas em um comunicado. Os "experts" do NSIDC calcularam que a calota glacial do Ártico vai se reduzir em 8% em média, a cada decênio. – (AFP.)


Artigo publicado na edição de 02.10.05


Quando será que os idiotas vão ver que estão pondo fogo na própria casa???

30 setembro 2005

O dielma:

Tadinho do Papai Noel...

Salve, Pessoal! Como a falta do que fazer é muita e eu gosto de praticar minhas habilidades de tradução, lá vai mais uma de um artigo do The New York Times, da edição de ontem, sobre a diminuição das calotas polares. Leiam e vejam se observam a mesma coisa que eu...

29 de Setembro de 2005
Em uma tendência de derretimento, menos gelo disponível no Ártico
Por ANDREW C. REVKIN

A camada flutuante de gelo marinho no Oceano Ártico encolheu, neste verão, ao que provavelmente foi seu menor tamanho em pelo menos um século de registros feitos, continuando a apresentar uma tendência na direção de menos gelo no verão, conforme relatou ontem uma equipe de "experts".

Esta mudança é algo difícil de explicar sem atribuí-la, em parte, ao aquecimento global por interferência do homem, disseram os membros da equipe e outros "experts" sobre a região.

A mudança parece, também, estar inclinada a se tornar auto-sustentável: a maior superfície de águas abertas absorve mais energia solar que, de outra forma, teria sido refletida de volta ao espaço pelo brilhante gelo branco, disse Ted A. Scambos – um cientista do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo em Boulder, Colorado – que compilou os dados juntamente com a NASA.

"Os 'feedbacks' no sistema estão começando a tomar conta", disse o Dr. Scambos.

Os dados foram disponibilizados no site do Centro: www.nsidc.org.

As descobertas são consistentes com as recentes simulações computadorizadas que mostram que um acúmulo de emissões de gases associados ao efeito-estufa provenientes de chaminés e canos de escape, poderia levar a um Ártico profundamente transformado, lá para o final deste século, quando grande parte do Oceano que era preso na banquisa de gelo, vai se tranformar em águas abertas durante os verões.

As áreas de águas abertas no verão podem ser um benefício para as baleias e os bacalhaus e o recesso do gelo poderia criar atalhos nas rotas de navegação entre o Atlântico e o Pacífico.

Mas uma hoste de problemas está, também, pela frente. Uma das conseqüências mais significativas do aquecimento do Ártico serão fluxos aumentados de águas derretidas e icebergs, das geleiras e banquisas, e, com isso, um aumento acelerado nos níveis dos mares, ameaçando as áreas costeiras. A perda do gelo marinho também pode ser danosa para os ursos polares e os caçadores de focas Esquimós.

A calota de gelo do Ártico sempre cresce no inverno e encolhe no verão. A área média do mínimo, desde 1979 quando começou o preciso mapeamento por satélite, até 2.000 era de 2,69 milhões de milhas quadradas, um tamanho semelhante ao território dos Estados Unidos, sem o Alaska. A nova mínima de verão, medida em 19 de setembro, ficou 20% abaixo disso.

Antes de 1979, os cientistas estimavam o tamanho da calota de gelo com base em realtórios feitos por navios e aviões.

A diferença entre a área média de gelo e a área registrada neste verão foi de cerca de 500 mil milhas quadradas, uma área cerca de duas vezes o estado do Texas, disseram os cientistas.

Este verão foi o quarto de uma série em que a área da calota de gelo ficou bem abaixo da média histórica – disse Mark C. Serreze, um cientista sênior e professor na Universidade de Colorado em Boulder.

O Dr. Scambos disse que as sucessivas reduções da calota de gelo "tornam bastante certo que um declínio de longo prazo está em andamento".

Segundo o Dr. Serreze, o ciclo natural na atmosfera polar, chamado de "Oscilação Ártica" que contribuiram para redução do gelo ártico no passado, não parece ter sido um fator presente nos muitos últimos anos.

Ele disse que o papel da acumulação das emissões de gases associados ao efeito-estufa tem se tornado mais e mais aparente, com temperaturas crescentes no ar e no mar. Ainda assim, muitos cientistas dizem que não é possível estabelecer que parte das mudanças no Ártico são causados pelos níveis de dióxido de carbono e outras emissões de fontes humanas, e o quanto são as oscilações climáticas usuais.

O Dr. Serreze e outros cientistas dizem que maiores instabilidades podem estar pela frente e que a área da calota de gelo pode até aumentar em alguns anos. Mas os cientistas acharam poucos indícios de que outros fatores, tais como um aumento na nebulosidade no Ártico, em um mundo em processo de aquecimento, possa reverter a tendência.

"Com toda essa água escura aberta, você começa a ver um aumento na armazenagem de calor no Oceano Ártico", disse o Dr. Serreze. "Quando chega o outono e o inverno, isso torna mais difícil o crescimento do gelo e, na próxima primavera, você acaba com uma calota menor e mais fina. E fica mais fácil perder mais ainda no ano seguinte".

O resultado, disse ele, é que o Ártico está "se tornando um lugar profundamente diferente do lugar que nós nos acostumamos a pensar".

Outros "experts" em gelo e clima árticos discordaram de detalhes. Por exemplo, Ignatius G. Rigor da Universidade de Washington, disse que a mudança estava provavelmente ligada a uma mistura de fatores, inclusive as influências do ciclo atmosférico.

Porém ele concordou com o Dr. Serreze em que a influência dos gases associados ao efeito-estufa têm que estar envolvidos.

"A idéia do aquecimento global tem que ter um papel importante nesse cenário", disse o Dr, Rigor. "Eu penso que nós temos um estado climático diferente no Ártico agora. Todos esses 'feedbacks' estão começando a influenciar diretamente e realmente estão sumindo com o gelo no fim do verão".

Outros "experts" expressaram alguma cautela. Claire L. Parkinson, uma "expert" em gelo oceânico no Centro Goddard de Vôos Espaciais (da NASA) em Greenbelt, Mariland, dise que uma pletora de de mudanças no Ártico – inclusive temperaturas mais altas, derretimento dos gelos perenes e a reução da calota de gelo marinho – são consistentes com o aquecimento de origem humana. Mas ela enfatizou que o complexo sistema está, ainda, longe de ser completamente compreendido.

William L. Chapman, um pesquisador de gelo marinho na Universidade de Illinois Urbana-Chamapaign, disse que é importante ter em mente que o tamanho da calota de gelo pode variar tremendamente, em parte por causa das mudanças nos padrões de ventos, que podem fazer com que a calota de gelo se acumule de um lado do litoral ártico ou se afaste do outro.


Perceberam?... Diversos especialistas estão dizendo "é o efeito-estufa!" Os outros dizem: "é possível que seja o efeito-estufa..." O curioso é que os que dizem que é só "possível" são os dos Órgãos do Governo, como a especialista da NASA.

Isso tudo porque o imbecil chapado do W. Bush se recusa a admitir que tem que aderir ao Protocolo de Kioto e os caras querem manter seus empregos públicos...

Tadinho do Papai Noel: daqui a pouco, tudo que vai restar de sua fábica de brinquedos e de sua casa vai ser a piscina...

Mas o que ninguém está falando, com clareza, é das conseqüências do efeito-estufa. Em uma primeira etapa, as calotas polares vão se derretendo. Isso faz com que o nível dos mares suba (e lá se vai minha casa em Araruama, junto com a cidade...) e, também, aumenta a umidade da atmosfera (se vocês acharam as gêmeas Catarina e Katrina interessantes, aguardem o que vem por aí...). No final, o mundo inteiro vai ficar coberto por núvens. Aí começa a segunda etapa. Essas nuvens vão refletir a radiação solar de volta para o espaço e a temperatura geral da Terra vai mergulhar rapidamente. As chuvas vão continuar a cair, cada vez mais fortes e os invernos vão ficar cada vez mais rigorosos. E as geleiras vão se expandir mais uma vez, tornando todas as áreas temperadas da Terra inabitáveis e os Trópicos em uma área fria e seca.

Esse foi o quadro pintado por Louis Agassiz em 1837, assumindo que o efeito-estufa tenha sido causado por um ciclo particularmente violento de vulcanismo, para a Idade do Gelo que, por pouco, não fez perecer uma certa espécie de macaquinhos muito promissores...

Mas eu confio em Mamãe Natureza: ela nunca vai à loucura; vai à forra... O mundo inteiro vai sofrer com isso, mas quem vai para o brejo primeiro são as vacas sagradas... E o Primeiro Mundo vai ficar no dilema da cigarra da fábula: não cantou? Agora dance! (E seus arsenais nucleares podem ser usados como supositório: se usarem, as terras que eles precisam vão ficar inabitáveis, também...)

Quem semeia "Tempestades no Deserto", colhe furacões na Costa do Golfo...

27 setembro 2005

Estados Unidos: a próxima União Soviética?

Salve, Pessoal! Um amigo me mandou um link para uma matéria que é uma tradução de uma entrevista com um historiador e demógrafo, publicada originalmente pelo jornal francês Le Figaro (eu não sei como essa matéria me escapou, mas, felizmente, eu tenho bons amigos). A matéria é de conteúdo explosivo e, como esse amigo diz:
Esta entrevista com Emmanuel Todd expõe possíveis implicações profundas do despreparo estadunidense para lidar com o Katrina

http://www.truthout.org/docs_2005/091205H.shtml

Emmanuel Todd é historiador e demógrafo, na década de setenta publicou artigos prevendo, com precisão, detalhes de como se daria o declínio soviético nas décadas seguintes baseado em análise comparativa de dados demográficos da mortalidade infantil na URSS.

Recentemente ele escreveu um livro chamado 'Après l'empire" (depois do império), no qual sugere, apontando evidências demográficas e histórico-econômicas, o porvir de uma condição não-hegemônica dos EUA.



Como este amigo não publicou, ele mesmo este texto, preferindo mandar por email, eu vou tomar a liberdade de omitir minha fonte, apresentando apenas a tradução (da tradução — eu não localizei a matéria original no Le Figaro). Se ele quiser assumir a paternidade, sinta-se livre para fazê-lo. Lá vai:
Emmanuel Todd: O Espectro de uma Crise no Estilo Soviético
Por Marie-Laure Germon and Alexis Lacroix
Le Figaro

2ª feira, 12 de Setembro de 2005

De acordo com este demógrafo, o Furacão Katrina revelou o declínio do Sistema Americano.

Engenheiro de pesquisas no Instituto Nacional de Estudos Demográficos, historiador, autor de "Après l'empire" ("Após o Império"), publicado pela Gallimard em 2002 – um ensaio em que ele prevê o "desmoronamento" do sistema americano – Emmanuel Todd faz uma revisão para Le Figaro das sérias falhas reveladas pela tempestade.

Le Figaro - Qual é a primeira lição moral e política que se pode aprender da catástrofe provocada por Katrina? necessidade de uma modificação "global" em nosso relacionamento com a natureza?

Emmanuel Todd - Vamos nos precaver de uma interpretação extrapolada. Não devemos perder de vista o fato de que estamos falando de um furacão de intensidade extraordinária que teria porduzido danos monstruosos em qualquer lugar. Um elemento que surpreendeu a muitos – a erupção da população negra, uma grande maioria neste desastre – não me surpreendeu pessoalmente, já que eu realizei um grande estudo sobre os mecanismos da segregação racial nos Estados Unidos. Eu sabia, há muito tempo, que o mapa da mortalidade infantil nos Estados Unidos é sempre uma cópia exata da densidade das populações negras. Por outro lado, eu fiquei surpreso que os espectadores desta catástrofe subitamente se deram conta de que Condolezza Rice e Colin Powell não são ícones particularmente representativos das condições da América negra. O que realmente fez eco a minha representação dos Estados Unidos – como desenvolvido em Après l'empire – foi que os Estados Unidos ficaram desabilitados e ineficazes. O mito da eficiência e do super-dinamismo da economia americana estão em perigo.

Nós pudemos observar a inadequação dos recursos técnicos, dos engenheiros, das forças militares no local, para confrontar a crise. Isso levantou o véu sobre uma economia americana, percebida como muito dinâmica, beneficiária de uma taxa de desemprego baixa, creditada com uma sólida taxa de crescimento do PIB. Em confronto com os Estados Unidos, a Europa é tida como praticamente patética, esmagada pelo desemprego endêmico e golpeada com um crescimento anêmico. Mas o que as pessoas não queriam ver é que o dinamismo dos Estados Unidos é um dinamismo de consumo.

LF - O consumo doméstico americano é artificialmente estimulado?

ET - A economia americana está no coração de um sistema econômico globalizado e os Estados Unidos funcionam como uma notável bomba de circulação financeira, importando capital em um nível de 700 a 800 bilhões de dólares ao ano. Esses fundos, após a redistribuição, financiam o consumo de mercadorias importadas – um setor realmente dinâmico. O que tem caracterizado os Estados Unidos, por anos, é a tendência de inflar o monstruoso déficit das contas externas, que agora está perto dos 700 bilhões de dólares. A grande fraqueza desse sistema econômico é que ele não se apoia em uma fundação de real capacidade industrial doméstica.

A indústria americana foi sangrada até o fim e é o declínio industrial que, acima de tudo, explica a negligência de uma nação confrontada com uma situação de crise: para gerenciar uma catástrofe natural, você não precisa de técnicas financeiras sofisticadas. ou de advogados especializados na extorsão de fundos em nível global, mas você precisa de material, engenheiros e técnicos, bem como de um sentimento de solidariedade coletiva. Uma catástrofe natural em teritório nacional confronta um país com sua identidade mais profunda, com suas capacidades de resposta tecnológica e social. Agora, se a população da América pode muito bem concordar em consumir juntos – o nível de poupança doméstica é praticamente nulo – em termos de produção de material, de prevenção e planejamento de longo prazo, ela se provou desastrosa. A tempesatade mostrou os limites de uma economia virtual que identifica o mundo com um vasto video-game.

LF - É lícito relacionar o sistema americano de margem de lucro – esse "neo-liberalismo" denunciado pelos comentaristas europeus – e a catástrofe que atingiu Nova Orleans?

ET - A gerência da catástrofe teria sido muito melhor nos Estados Unidos do passado. Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos asseguravam metade da produção dos bens produzidos no planeta. Hoje em dia, os Estados Unidos se mostram com pontas soltas, atolado em um Iraque devastado que eles não conseguem reconstruir. Os americanos levaram um longo tempo para blindar seus veículos, para proteger suas próprias tropas. Eles tiveram que importar munição leve. Que diferença dos Estados Unidos da Segunda Guerra que, ao mesmo tempo, esmagou o exército japonês com sua frota de porta-aviões, organizou os desembarques na Normandia, reequipou o Exército russo com material leve, contribuiu magistralmente para a libertação da Europa e manteve as populações européia e alemã, libertas de Hitler, vivas. Os americanos sabiam como dominar a tempestade nazista com uma maestria de que hoje se mostram incapazes em uma única de suas regiões. A explicação é simples: o capitalismo americano daquela era foi um capitalismo industrial, com base na produção de bens; em resumo, um mundo de engenheiros e técnicos.

LF - Não seria mais pertinente reconhecer que, virtualmente, não há mais desastres puramente naturais, em uma definição rigorosa, em virtude da falta de moderação das atividades humanas? Não seria o caso de que o "American Way of Life" deva se auto-reformar? Por exemplo, aceitando as limitações do Protocolo de Kyoto?

ET - As sociedades e incorporações socias da Europa e dos Estados Unidos são radicalmente diferentes. A Europa é parte de uma economia agrícola muito antiga, acostumada a tirar sua subsistência do solo com dificuldade em um clima relativamente temperado, a salvo das catástrofes naturais. Os Estados Unidos são um tipo de sociedade inteiramente nova que começou trabalhando um solo virgem e fértil no coração de um ambiente natural mais hostil. Seu clima continental, muito mais violento, não constituiu um problema para os Estados Unidos enquanto eles desfrutaram de uma real vantagem econômica, isto é, enquanto eles detinham os meios técnicos para dominar a natureza. No presente, a hipótese de uma dramatização humana da natureza, nem é mais necessária. A simples deterioração da capaciade técnica de uma economia americana, não mais produtiva, criou a ameaça de que a Natureza faça nada mais do que retomar seus direitos (naturais).

Os americanos precisam de mais aquecimento no inverno e mais ar-condicionado no verão. Se nós formos, um dia, confrontados com uma penúria, não mais relativa, mas absoluta, os europeus vão se adaptar a ela melhor porque seu serviço de transporte é muto mais concentrado e econômico. Os Estados Unidos foram concebidos, com respeito ao consumo de energia e espaço, de uma maneira quase caprichosa, não bem pensada.

Não vamos apontar nossos dedos para o agravamento das condições naturais, mas preferencialmente para a deterioração econômica de um sociedade que tem que se confrontar com uma natureza muito mais violenta. Os europeus, como os japoneses, demonstraram sua excelência com respeito à economia de energia, durante os antecedentes "choques do petróleo". Era de se esperar: as sociedades européia e asiática se desenvolveram gerenciando a escassez e, ao final, várias décadas de abundância de energia vão parecer um breve parênteses em um dia de sua história. Os Estados Unidos foram construídos na abundância e não sabem gerenciar a esacassez. Dessa forma, eles agora são confrontados com o desconhecido. Os passos iniciais dessa adaptação não se mostraram muito promissores: os europeus têm estoques de gasolina, os americanos têm estoques de petróleo cru – eles não construiram uma só refinaria desde 1971.

LF - Então não é só no sistema econômico que você põe a culpa?

ET - Eu não estou fazendo um julgamento moral. Eu focaliso minha análise no apodrecimento de todo o sistema. Après l'impire desenvolve teses que, em seu todo, eram bem moderadas e que eu me sinto tentado a radicalizar hoje. Eu predisse o colapso da do sistema soviético com base no aumento das taxas de mortalidade infantil, durante o período de 1970 a 1974. Agora, os últimos números publicados sobre este tema pelos Estados Unidos – os de 2002 – demonstram um recrudescimento das taxas de mortalidade infantil para todas as, assim chamadas, "raças" americanas. O que se pode deduzir a partir disso? Em primeiro lugar, que devemos evitar o enforque estritamente racial na interpretação da catástrofe do Katrina e trazer tudo à conta do problema dos negros, em particular a desintegração da sociedade local e o problema dos saques. Isso constituiria um problema de esconde-esconde ideológico. O saque dos supermercados é só uma repetição nos escalões mais baixos da sociedade, do sistema predatório que está no coração do sistema social americano de hoje.


LF - O sistema predatório?

ET - Este sistema social não se assenta mais sobre a ética Calvinista dos "Founding Fathers" ("Pais Fundadores") e seu gosto pela poupança – mas, ao contrário, em um novo ideal (eu não ouso falar em ética ou moral): a busca da maior remuneração em troco do mínimo de esforço. Dinheiro adquirido rapidamente, por especulação e, por que não, por roubo. A gangue de negros desempregados que saqueia um supermercado e o grupo de oligarcas que tentam organizar o seqüestro do século das reservas de hidrocarbonetos do Iraque, têm um princípio de ação em comum: predação. As disfunções em Nova Orleans refletem certos elementos centrais da cultura americana presente.


LF - Você postula que o gerenciamento do Katrina revela uma preocupante fragmentação territorial, acrescida do pouco caso do aparato militar. O que devemos então temer no foturo?

ET - A hipótese do declínio, desenvolvida em Après l'empire, evoca uma possibilidade do simples retorno dos Estados Unidos ao normal, certamente associado a uma queda no padrão de vida de 15 a 20%, porém garantindo para a população um nível de consumo e de energia "padrão" no mundo desenvolvido. Eu só estava atacando o mito da superpotência. Hoje, eu tenho medo de ter sido muito otimístico. A inabilidade dos Estados Unidos em responder a uma competição industrial, seu grande déficit em bens de alta tecnologia, o recrudescimento das taxas de mortalidade infantil, a perda de eficiência (e prática ineficiência) do aparato militar, a persistente negligência das elites, incitam-me a considerar a possibilidade de uma real crise do tipo soviético nos Estados Unidos.

LF - Seria uma tal crise uma conseqüência da política da Administração Bush, que você estigmatiza por seus aspectos paternalísticos e de Darwinismo social? Ou seriam suas causas mais estruturais?

ET - O neo-conservadorismo americano não deve ser culpado sozinho. O que me parece mais chocante é a maneira como esta América que encarna o absoluto oposto da União Soviética, está ao ponto de causar a mesma catástrofe pela caminho oposto. O comunismo, em sua loucura, supôs que a sociedade era tudo e o indivíduo não era nada, uma base ideológica que causou sua própria ruína. Hoje, os Estados Unidos nos asseguram, com uma fé cega tão intensa como a de Stálin, que o indivíduo é tudo, o mercado é o suficiente e que o Estado é odioso. A intensidade da fixação ideológica é totalmente comparável à fixação do delírio comunista. Esta postura individualista e inequalitária desorganiza a sociedade americana para a ação. O mistério real, para mim, reside aí: como pode uma sociedade renunciar ao bom-senso e pragmatismo a um tal ponto, e entrar em um tal processo de auto-destruição ideológica? É um beco-sem saída histórico para o qual eu não tenho resposta e o problema não pode ser abstraído das políticas da atual administração somente. É toda a sociedade americana que parece estar se lançando em uma política de escorpião, um sistema doentio que termina se aplicando seu próprio veneno. Este comportamento não é racional, mas, ao mesmo tempo, ele não contradiz a lógica da história. As gerações pós-guerra perderam a familiaridade com a tragédia e com o espetáculo dos sistemas auto-destrutivos. Mas a realidade empírica da história humana é que isto não é racional.



Apavorante, não?...