Um amigo (que eu não vou identificar, por motivos óbvios) me mandou essa:
A economia vulnerável da América
15 de novembro de 2007
Da edição impressa da The Economist
A recessão na América parece cada vez mais provável. Os mercados emergentes em expansão podem salvar a economia mundial?
EM 1929, dias após o "crack" da Bolsa, a Harvard Economic Society reconfortava seus assinantes: “Uma recessão grave está fora dos limites da probabilidade”. Em uma pesquisa, em março de 2001, 95% dos economistas americanos disseram que não haveria uma recessão, embora uma já tivesse começado. Hoje, a maior parte dos economistas não prevêem uma recessão na América, mas o lamentável registro das previsões desses profissionais não dão muito consolo. Nossa última avaliação (ver artigo) sugere que os Estados Unidos podem estar muito bem a caminho de uma recessão.
Certo, o PIB cresceu uns robustos 3,9%, em uma taxa anual, no terceiro quadrimestre. Certo, também, que revisões podem muito bem rever estes números para cima. Mas isso foi o passado. Sinais mais atuais sugerem que a economia pode despencar neste quadrimestre. No começo do próximo ano, a produção e os empregos podem estar encolhendo. A principal causa é a implosão do mercado imobiliário. Os experts disseram que os preços dos imóveis jamais poderiam cair por todo o país. Mas eles caíram, sim, em 5% nos últimos 12 meses. O investimento em moradias entrou em colapso, mas um estoque de casas não vendidas significa ue os preços ainda têm muito o que cair. Os gastos dos americanos devem sofrer um efeito negativo maior da queda dos preços das casas do que o do colapso da Bolsa em 2001. Com o preço das casas menor e condições de crédito mais apertadas como resultado da crise dos empréstimos subprime, as famílias não poderão mais tomar empréstimos contando com ganhos de capital para financiar seus gastos.
O petróleo mais caro deve apertar o orçamento das famílias mais ainda (não obstante a queda desta semana no preço do barril de petróleo bruto). A confiança dos consumidores já caiu vertiginosamente. Não deve demorar muito para que os gastos dos consumidores desabem, o que, por sua vez, vai prejudicar os lucros e os investimentos das firmas. O dólar fraco vai estimular as exportações, mas, consistindo em apenas 12% do PIB, as exportações são pequenas demais para compensar um enfraquecimento dos gastos dos consumidores, que responde por 70%.
Eu quero me libertarSerá que uma recessão na América vai arrastar o resto do mundo para o buraco junto com ela? As economias da Europa e do Japão reagiram fortemente no terceiro quadrimestre, mas parecem fadadas a diminuir o ritmo. Embora ambas possam ser capazes de rastejar por si próprias, nenhuma delas parece ser capaz de estabelecer um ritmo maior. Moedas fortiicadas vão prejudicar os exportadores em ambos os lugares. Mesmo os próprios mercados imobiliários fortes da Europa estão enfraquecendo e alguns de seus bancos sofreram efeitos colaterais das mazelas dos subprime da América.
As maiores esperanças de que o crescimento global possa permanecer firme reside, em lugar destas, nas economias emergentes. Na década passada, a idéia de que tanto pudesse depender desses locais sujeitos a crises seria terrificante. Entretanto, graças (e muitas) a reformas econômicas, suas taxas de crescimento anual subiram para o entorno dos 7%. Neste ano, elas vão contribuir com metade do PIB mundial, medido em taxas de câmbio de mercado, mais de três vezes mais do que a América. No passado, economias emergentes freqüentemente precisaram de ajudas emergenciais do mundo rico. Desta vez elas podem ser as salvadoras.
É claro que uma recessão na América vai reduzir as exportações das economias emergentes, mas elas estão menos vulneráveis do que costumavam ser. A importância da América como a locomotiva do crescimento global foi exagerada. Desde 2000 sua parcela de importações mundiais caiu de 19% para 14%. Seu vasto déficit na conta-corrente começou a diminuir, o que significa que a América não está mais arrastando atrás de si o resto do mundo. Entretanto, o crescimento nas economias emergentes se acelerou, graças, parcialmente, às demandas domésticas. Na primeira metade deste ano, o aumento nos gastos dos consumidores (em termos de dólares atuais) na China e na Índia acrescentaram mais ao crescimento do PIB mundial do que na América.
A maior parte das economias emergentes estão com uma saúde melhor do que nunca (ver artigo). Elas não são mais dependentes financeiramente do resto do mundo, porém têm grandes reservas cambiais externas — nada menos do que três quartos do total global. Embora existam algumas excessões notáveis, a maioria delas têm pequenos déficits orçamentários (outra mudança quanto ao passado), de forma que elas podem alavancar os gastos para contrabalançar as exportações menores, se tiver que ser assim.
Isto não significa que as economias emergentes vão crescer rápido o bastante para compensar toda a queda da produção americana. A maior parte delas vai exibir um desaquecimento no crescimento no ano que vem: por exemplo, a taxa de crescimento da China deve cair para “só” 10%. De forma que o crescimento global vai diminuir —o que, depois de cinco anos de uma média de quase 5%, próxima do maior patamar jamais observado, ele precisa fazer. Mas, graças ao vigor dos novos titãs, vai continuar acima de sua média de 3,5% dos últimos 30 anos.
Uma história de dois preçosA importância crescente dos novos gigantes mundiais não só vai alavancar o crescimento. Também vai afetar os preços relativos, notadamente os do petróleo e do dólar. E as conseqüências serão menos confortáveis para as nações desenvolvidas, especialmente a América.
O preço do petróleo tem subido principalmente por causa da forte demanda nas economias emergentes, que responderam por quatro quintos do aumento total do consumo de petróleo nos últimos cinco anos. Nas recessões americanas do passado, o preço do petróleo usualmente caiu. Desta vez é provável que ele se mantenha. Isto não só vai prejudicar as finanças dos consumidores ocidentais, como pode tornar a tarefa dos seus Presidentes de Bancos Centrais mais difíceis, combinando a pressão inflacionária com desaquecimento econômico.
O dólar enfraquecido — ultimamente na casa de US$1,50 por euro — ficará ainda mais fraco sem as enormes compras feitas pelos bancos centrais das economias emergentes. Este apoio agora está minguando. A China e outros estão colocando uma menor parcela de aumentos de reservas na moeda americana. E os países asiáticos e do oriente médio, cujas moedas são ligadas ao dólar, estão confrontadas com aumentos de inflação, mas a queda nas taxas de juros americanas torna mais difícil apertar sua própria política monetária. Eles podem ter que deixar suas moedas se valorizarem contra o verdinho doente, o que significa que eles vão ter que comprar menos dólares. Mais importante, na medida em que os investidores internacionais acordarem para o enfraquecimento relativo do poder econômico da América, eles seguramente vão se questionar sobre por que eles devem manter a maior parte de sua riqueza em dólares. O declínio do dólar já significa o maior calote da história, tendo varrido muito mais do valor dos investimentos estrangeiros do que qualquer economia emergente jamais conseguiu.
O vigor das economias emergentes é uma boa notícia para a economia mundial: para seu crescimento, ela tem muito menos necessidade de uma América forte. A má notícia para a América e que, por sua vez, isto pode significar que o mundo tenha menos necessidade do dólar.
Com a palavra os experts tupiniquins: e o Brasil que tem rezado tanto pela cartilha do FMI? Vai fazer supositório das enormes reservas cambiais em dólar, ou vai usar esses dólares para desarrochar a economia brasileira?...
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