Salve, Pessoal!
Depois de perder meu tempo durante uma semana, lendo os jornais fanceses em busca de explicações sobre os motins que continuam agitando a França, a despeito da invocação de um "Estado de Emergência" que data da guerra de independência da Argélia, eu acabei encontrando uma explicação coerente.... no Times de Londres: esta notícia publicada na edição de hoje. Lá vai a tradução:
Eu acredito que a melhor colocação foi feita Alain Duhamel, acima. A arrogância francesa não consegue adimitir que alguém, seja lá quem for, possa discordar da "evidente superioridade" do modelo gaulês. O igualitarismo republicano funciona assim: todos os homens são iguais – iguais aos franceses, é claro!... Se não forem, que tratem de se tornar!
E o pior é que essa megalomania foi a responsável pelas sucessivas derrotas francesas na Segunda Guerra Mundial e no esfacelamento do império colonial. Mas, como eu sempre me repito: o pior nos imbecís é que eles são imbecís...
O mais assustador, no entanto, é a acusação feita ao Partido Socialisata por Senni: repetir chavôes marxistas, quando na oposição; se comportar como qualquer outro direitista, quando no poder. A versão dublada em pt-br está sendo exibida atualmente em Brasília, para desespero dos multi-étnicos brasileiros...
Depois de perder meu tempo durante uma semana, lendo os jornais fanceses em busca de explicações sobre os motins que continuam agitando a França, a despeito da invocação de um "Estado de Emergência" que data da guerra de independência da Argélia, eu acabei encontrando uma explicação coerente.... no Times de Londres: esta notícia publicada na edição de hoje. Lá vai a tradução:
The Times 12 de Novembro de 2005
"A pressão vem crescendo por 30 anos. Tinha que explodir"
Por Charles BremnerÀ medida em que 2.000 policiais extras são trazidos para combater os motins em Paris neste fim de semana, um jovem muçulmano que cresceu no ambiente, conta como ele evitou o caminho fácil da violência e dos pequenos crimes para alcançar o sucesso nos negócios.
A próxima revolta nas terras francesas "será mais explosiva, eles usarão armas militares. Eles já têm Kalashnikovs e lança foguetes lá", diz um homem de 29 anos, nascido em Marrocos, da mais notória de todas as cidades satélite de Paris.
A previsão, dita com um sotaque árabe, não vem de um dos cabeças-quentes que fizeram badernas na noite passada.
A opinião é a de Aziz Senni, um dos raros bérberes, etnicamente Norte-Africanos, que conseguiu achar seu caminho para fora dos subúrbios e para o sucesso nos negócios.
O Sr. Senni era um bebê quando seus pais o trouxeram para a França e um lar em Val Fourre. O grande subúrbio de Mantes-la-Jolie, no Noroeste do Sena em Paris, é mais conhecido pelos sangrentos motins de 1991. Estes se tornaram o roteiro do filme "La Haine" ("O Ódio"), um filme de sucesso entre os jovens desesperançados dos subúrbios.
Junto com cinco irmãos mais moços, o Sr. Senni cresceu sob as vistas de um rigorososo pai ferroviário. "Les Gaulois", os franceses brancos, abandonaram os subúrbios. O Sr. Senni estava bem no meio da violência de 1990, mas aos 23 ele tinha conseguido escapar do círculo vicioso de desesperança.
Ele evitou o caminho comum de sobrevivência mediante pequenos delitos, obteve um diploma comercial e fundou uma companhia de transportes em Mantes.
O ATA, um serviço de franquia de taxi comunitário, agora opera em diversas cidades e o Sr. Senni atraiu a atenção do President Chirac e da mídia nacional, enquanto permanece nos subúrbios, onde ainda tem suas raízes.
Com um timing perfeito, ele conta sua história em um livro publicado na mesma semana em que dois garotos foram eletrocutados em Clichy-sous-Bois. Ele não ficou surpreso quando a tampa da panela de pressão explodiu em Clichy, em 27 de outubro, e inflamou os subúrbios ao longo do país.
"A pressão tem-se acumulado por 30 anos e as coisas estão muito piores desde a última vez. Tinha que explodir de novo", disse ele ao Times ontem.
O gatilho foi Clichy, mas a raiva foi alimentada pelas palavras insultuosas e as rudes táticas policiais de Nicolas Sarkozy, o Ministro do Interior, disse ele.
Os animos parecem ter-se acalmado, embora a policia esteja pronta para uma possível re-ignição durante este fim de semana.
A mensagem do Sr. Senni também é rude. Ele diz que as minorias devem usar seus próprios recursos para sair dos guetos. Seu livro se intitula "O Elevador Social está quebrado. Eu fui pelas escadas" (publicado pela editora Archipel).
"L'ascenceur Social" é a doutrina pela qual a República igualitária deveria ter promovido suas minorias ao nível de prosperidade geral, Quando as oportunidades de emprego em massa atingiram um patamar, a partir do final da década de 1970, o elevador parou, deixando os árabes étnicos e os negros residentes dos subúrbios no porão.
O Sr. Senni não é amargo. Com o entusiasmo de um jovem empresário, ele se declara orgulhoso de ser francês e um muçulmano moderado. Ele despreza o que ele chama de hipocrisia do modelo gálico falido.
"A França precisa de psicanálise. Ela ainda não consegue se olhar no espelho e entender quem é", diz ele. "A França ainda vive no início do século XIX, pensando que ainda é um país branco e fortemente rural. Ela não percebeu que suas crianças mudaram".
O pleito das gerações imigrantes tem sua fonte no que ele chama de uma mentira de estado. A França trombeteia seu modelo de igualdade sem distinções de cor, "enquanto Sarkozi e o resto lhe empurram na direção comunitarianismo", disse ele.
Este é o termo usado para condenar as comunidades que se mantém separadas, da mesma forma que os modelos multiculturais que existem em outros lugares.
"Você não pode fazer parte de uma comunidade", disse ele. "Se você tentar e for um muçulmano, eles associam você a al-Qaeda".
Ele reconhece as falhas do sistema "Anglo-Saxão", mas admira a maneira em que este é mais aberto às minorias.
Ele cita um primo, com curso de pós-graduação, que só conseguiu encontrar emprego como vendedor de aspiradores de pó.
"Ele veio para a Inglaterra, há três anos, e foi recrutado pela BP. Eles o puseram em um programa de aprendizado rápido e o mandaram para mais treinamento em Oxford. Agora ele está iniciando seu próprio negócio".
O Sr. Senni diz que a França deve fazer sua doutrina de igualdade funcionar, usando o estilo americano de ação afirmativa.
Uma tal discriminação positiva, oficialmente rejeitada, é necessária, segundo ele, para resgatar as minorias de escolas que limitam a maior parte dos alunos a treinamentos para profisões de baixo perfil, e de empregadores que rejeitam candidatos com nomes que soam estrangeiros.
A idéia, ainda rejeitada pela corrente majoritária política, agora está ganhando terreno.
Seu maior entusiasta é, paradoxalmente, o Sr. Sarkozy, um presidenciável que concorda com a maior parte dos pontos de vista do Sr. Senni, embora atice os ressentimentos com sua repressão policial.
A mensagem do Sr. Senni para os baderneiros é que ele entende sua raiva, mas que eles têm que rejeitar a violência.
"Eu digo a eles que um voto é mais poderoso do que um coquetel molotov".
Eles devem achar seus próprios líderes políticos, disse ele. Os partidos são regidos por uma elite que não entende os pobres, acredita ele. Ele só tem desprezo pelo Partido Socialista o qual, diz ele, alardeia velhas palavras de ordem do dogma marxista e não consegue ajudar os pobres quando está no poder. (Nota extemporânea do tradutor: qualquer semelhança com um certo partido da esquerda brasileira, será mera coincidência???)
"Nenhum político sabe o que é olhar para uma geladeira vazia e ter que dizer que: compras, só daqui a dez dias".
O que a França tem pela frente? Comentaristas sociais ventilam suas vistas
Laurent Joffrin, Editor da revista "Nouvel Observateur": "Uma vez que a calma tenha sido restaurada, será que a França vai aceitar a divisão, admitir que partes inteiras de seu território vivem em dissidência, com um cordão de homens de capacete em torno delas, e sujeitá-las, por conta da desesperança social, à vigilância com caminhonetes com luzes azuis ou a um toque de recolher que data da guerra da Argélia? Ou será que, através de novos esforços e medidas realísticas que consistiriam em uma ruptura com tudo o que vem sendo feito, vai se por no caminho de uma reunificação republicana? Uma porção de coisas já foi feita: e não funcionaram. Um novo capítulo deve ser escrito".
Michel Wieviorka, sociologista: "Os motins dos últimos dias sublinharam a indignação, a raiva, um profundo sentimento de injustiça e de rejeição".
"Eles nos lembram de que não resolvemos coisa alguma desde os anos 1970 e o primeiro de nossos "verões quentes": setores inteiros de nossa juventude são sacrificados em nome de nosso modelo de integração em decomposição, que se pretende baseado na República, mas que esquece igualdade e fraternidade para grande parte da população, e que se descreve como social, enquanto deixa esta mesma população lutando contra o desemprego, a exclusão e a pobreza".
Alain Duhamel, comentarista político: "A República Francesa queria mostrar ao mundo que, com seus valores seculares, seu sistema educacional, sua linguagem, sua história, seus princípios universais e seu Estado Forte, era capaz de transformar qualquer estrangeiro, de qualquer continente, qualquer que fosse a cor de sua pele e quaisquer que fossem suas crenças religiosas, em um verdadeiro Gaulês patriótico, com um bigode e uma tendência a resmungar".
"Essa assimilação metódica é uma das chaves da famosa, indiscutível excessão francesa".
"Outros países – os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Canadá – escolheram o caminho diferente do multiculturalismo e do comunitarismo. Eles aceitaram, eles encorajaram os imigrantes a se apegar a suas culturas, suas línguas, suas memórias, seus hábitos originais. Eles lhes deram uma margem de autonomia, de auto-organização. Eles admitiram, eles proclamaram, eles facilitaram essas diferenças".
"Na França, o cadinho republicano, este misterioso e singular receptáculo, tentou o oposto. De múltiplos imigrantes, ele tentou formar um único tipo de cidadão. Por um longo tempo, Paris observou os motins raciais e as lutas, nos países que optaram pelo comunitarismo, com um ar de zombeteira superioridade".
"Hoje, é sua vez de chorar sobre seu modelo em chamas".
Alain Etchegoyen, filósofo: "A República não está ameaçada por estas fagulhas de curta duração que acendem os fogos. Estas são cenas terríveis em palcos improvisados, mas o que ocorre nos bastidores é muito mais preocupador".
"A ditadura de curto período vai produzir uns poucos anúncios que serão seguidos de discussões semânticas".
"A miopia ameaça nossos governantes. Os assessores ministeriais sabem que não sabem coisa alguma acerca da vida diária dos distritos problemáticos. A maior parte de nossos intelectuais está melhor informada sobre a Chechênia do que sobre Clichy-sous-Bois".
Copyright (devidamente violado) 2005 Times Newspapers Ltd.
Eu acredito que a melhor colocação foi feita Alain Duhamel, acima. A arrogância francesa não consegue adimitir que alguém, seja lá quem for, possa discordar da "evidente superioridade" do modelo gaulês. O igualitarismo republicano funciona assim: todos os homens são iguais – iguais aos franceses, é claro!... Se não forem, que tratem de se tornar!
E o pior é que essa megalomania foi a responsável pelas sucessivas derrotas francesas na Segunda Guerra Mundial e no esfacelamento do império colonial. Mas, como eu sempre me repito: o pior nos imbecís é que eles são imbecís...
O mais assustador, no entanto, é a acusação feita ao Partido Socialisata por Senni: repetir chavôes marxistas, quando na oposição; se comportar como qualquer outro direitista, quando no poder. A versão dublada em pt-br está sendo exibida atualmente em Brasília, para desespero dos multi-étnicos brasileiros...
Um comentário:
Olá, João Carlos! Valeu pela tradulção!
Pensei a mesma coisa em relação a Segunda Guerra: a França de hoje, mais perdida que filho de prostituta em dia dos pais, parece estar em um estado de latência mental, exatamente como em 1940.
Incrivel é que nesses momentos os socialistas deveriam dar uma sacudida nas coisas; logo eles, tão ciosos de subverter tudo, acabam sempre iguais às demais classes políticas. Eu achava que isso era um mal brasileiro; enganei-me.
Enfim, vendo de fora a França parece estar tão desregulada que eu acredito que eles mesmo deveriam sentar e "discutir a relação" a fundo.
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