08 março 2006

Dá para mudar o disco?

Salve, Pessoal!


Uma das coisas mais chatas na minha vida é o fato de eu ser um militar reformado. Após cursar o Científico no Colégio Estadual André Maurois, acabei por parar na Marinha de Guerra, mais exatamente no Corpo de Fuzileiros Navais, no período mais exacerbado da Ditadura Militar, com direito a guerrilha no Araguaia e diversos amigos de escola "do outro lado"...

É... A Ditadura Militar foi uma merda e, para mim, as duas piores merdas que ela fez foram:

1 - Transformar todos os militares em "prepúcio" da nação. Tudo o que há de mau no Brasil "é culpa da Ditadura", "é herança dos anos de chumbo" e outros chavões desgastados...

2 - Acostumou o povo brasileiro a ser irresponsável. Já que as eleições eram uma piada de mau gosto, os brasileiros se acostumaram a culpar um vago "eles" por sua própria incompetência e a só reivindicar "liberades", se esquecendo que, a essas "liberdades", correspondem muitas "responsabilidades".

Eu só me pergunto: quando é que o brasileiro vai "ficar adulto"? Os "Porões da Ditadura" foram desmantelados ainda no governo Geisel. O "líder sindicalista perseguido", acompanhado de seus "heróis da resistência", estão no governo, hoje. E, para citar um autor insuspeito, a "nossa Pátria Mãe" continua "adormecida, sem perceber que" ainda é "subtraída em tenebrosas transações" (para quem não reconheceu: "Vai Passar", Chico Buarque de Hollanda). Os "Napoleões Vendidos" podem ter desaparecido da cena (substituídos por outros "vendidos"), mas os "Barões Falidos e os Pigmeus do Boulevard" continuam desfilando com total desfaçatez.

A "esquerda libertária" se associou oportunisticamente com o que há de mais reacionário na direita e, quanto mais à esquerda, mais "lacaios do FMI" são. Esse epíteto era dirigido aos governos militares, até 1985...

Aí, quando um direitista como o Olavo de Carvalho acusa nossos "heróis da resistência" de terem ajudado o narcotráfico a se organizar, sempre aparece alguém para contestá-lo, nem que para isso tenha que lançar mão de disparates como invocar a "Convenção de Genebra" para acusar os "militares" (como se os Códigos Penais civil e militar não fossem suficientes), e como se, apenas por ser dito por um direitista, o fato não fosse verdade. Só falta dizerem que o José Dirceu e o Delúbio aprenderam a "fazer caixa 2" com a Intendência do Exército...

Um cidadão compra uma passagem aérea e descobre que a TAM fez "overbooking" do vôo para Brasília. Quando ele começa a fazer um escarcéu, a TAM convence dois passageiros a deixar o vôo e ceder os lugares. Mas como o cidadão é, também, o Comandante do Exército, a imprensa faz uma celeuma sobre "a prepotência dos militares". A prepotência da TAM não vende jornal... (pelo contrário: um anunciante deve ser respeitado a todo custo).

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, um Quartel do Exército é atacado por bandidos (com toda a certeza, treinados pelo próprio quartel, já que sabiam exatamente quando atacar e onde estavam as armas). O Exército reage à altura e começa a ocupar favelas, em busca das armas surrupiadas. Qual é a reação dos leitores de "O Globo"? Uma esmagadora maioria responde que o Exército deve continuar a ocupar os morros e favelas, mesmo depois de achar (se achar...) as armas... Claro: tanque na porta de favelado é solução para tudo... Imagino a urticária que deve ter dado nos editores...

E, no contraponto das fanfarras que saudam a ida ao espaço do primeiro astronauta brasileiro, começa a aparecer uma gritaria sobre os custos dessa aventura (que "está em cartaz" há quase dez anos) e piadinhas sobre "preferia o astronauta dos quadrinhos do Maurício de Souza" e que o Coronel Pontes vai "plantar feijãozinho" no espaço... E aí eu pergunto: será que nenhuma instituição de pesquisa científica ou tecnológica no Brasil tinha um experimentozinho menos babaca para ser feito? Essa viagem está programada há anos; só agora vêm arguí-la de "inútil"? Ah!... mas é um Coronel que vai para o espaço...

Militar é mau e perverso, torturador de velhinhas e criancinhas, só serve mesmo para ocupar favela com tanque. No primeiro tiro de canhão que derem, vão dizer: "monstros!...", "desalmados!...", "mataram não sei quantos trabalhadores!..."

Porra! Está mais do que na hora da sociedade civil tomar vergonha na cara! Acabem logo com as Forças Armadas e quando, no dia seguinte, todo o mundo estiver falando castelhano, a Vila Isabel pode desfilar de novo, saudando a, finalmente concretizada, unificação da América Latina. Com Simón Bolívar e tudo...

3 comentários:

Admin disse...

Não vivi a época da ditadura, mas já li bastante, escutei relatos e opiniões que divergem (e muito) dos parâmetros que foram forçosamente imputados sobre os militares e que perduram.
Servi o exército por um ano. Percebi a decadência e o descaso em que a instituição se encontra. A falta de perspectivas dos governantes e da sociedade civil em relação aos instrumentos de defesa. Tenho apenas 21 anos e nenhuma experiência de vida quando comparado ao senhor, mas consigo ver as coisas da mesma maneira. E busco, todos os dias, identificar onde estão estas máquinas de fazer fumaça que impede os cidadãos de ver onde pisam, de olhar para trás. É absurdo nível de ignorância coletiva que prepondera nos meios de comunicação (os recentes educadores)...
Será que tem conserto? Ou já estamos na fase da sobrevida social?

(Perdão pela tomada de liberdade, me chamo Bruno Seixas. Tenho msn e orkut
bseixas@hotmail.com
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17986337319902218750)

none disse...

João, achei muito bem colocado seu comentário sobre essa imaturidade civil. Não tenho experiência nenhuma com o exército, nem conheço ninguém que foi ou é militar. Então confesso que nunca pensei sobre nada disso que você mencionou aí. Agradeço pelo abre-olhos. Acho, no fundo, que essa deve ser parte do problema - a total ignorância e o destacamento dos civis para com tudo que há de militar num país como o Brasil.

Anônimo disse...

Ops, já fui militar de carreira também, servir alguns anos em um comando militar de área, me demiti, porquanto posso dizer que a maioria dos militares são tão podres quanto a maioria dos políticos e merecem a fama que têm. Militarismo, pelo menos no Brasil, é por definição desumano, um exemplo trivial disto é a diferenciação de alimentação (em qualidade e forma de preparo) que é fornecida: os soldados e cabos comem uma gororoba dos diabos, os sagentos e suboficiais comem um pouco melhor e os oficiais comem como se estivessem em um bom restaurante. É só um exemplo dos inúmeros disparates que devem conhecidos pelo autor deste blog... desse simples exemplo de discriminão se tira como deve ser o restante.