20 fevereiro 2007

Ciência vs, Religião?...



«Ciência sem religião é capenga.
Religião sem ciência é cega.»

Albert Einstein

«A fé é a esperança infundada
na ocorrência do improvável»

Henry Louis Mencken

«Se você fala com Deus, você está rezando.
Se Deus fala com você, você está maluco»

Ditado Popular

O tema deste mês no Roda de Ciência é um pouco delicado para mim: eu não só sou religioso, como pratico uma religião particularmente discutível, a Umbanda.

É... Eu acredito em espíritos, Orixás e todas essas coisas consideradas "coisa de gente de pouca cultura" e que - aparentemente - só são aceitas por pessoas de uma credulidade absurda.

Como é que alguém que se diz apaixonado por ciência consegue conciliar o indispensável ceticismo científico com a necessára credulidade do religioso?

Simples... Eu não misturo uma coisa com a outra. Não procuro explicar fatos científicos com "manifestações divinas", nem procuro entender os fatos ligados à experiência religiosa, com "explicações científicas".

Toda a vez que as religiões se meteram a "explicar" o Universo, quebraram a cara. Aliás, eu sou o primeiro a admitir que existe uma enorme quantidade de obras de suposta "inspiração divina", ou "psicografadas" por médiuns, que são de uma tolice e uma banalidade incríveis. Coisa de "quem ouviu cantar o galo, mas não sabe onde". E é bem fácil ser mistificado por essas asneiras simplistas: basta pegar em alguns termos pseudo-científicos - com base em termos científicos de difícil compreensão - e você vai ter algo que passa por "alta ciência". Nem os papers verdadeiramente científicos estão livres desse tipo de asneira.

O chato é que o reverso também é verdadeiro. Toda vez que a ciência se mete a "desprovar" a religião, acaba esbarrando em "efeitos placebo" que desafiam o "estado-da-arte". Tudo bem... A ciência verdadeira só se preocupa em registrar os fatos experimentais, tenham eles explicação conhecida ou não (vide o Efeito Mpemba) e procurar, dentro das limitações tecnológicas, obter as explicações mais plausíveis para os fenômenos observados.

Todo este blá-blá-blá sobre "ciência vs. religião" se deve a um ressurgimento da intolerância ignorante de fanáticos religiosos - mais exatamente de Cristãos Fundamentalistas e nos Estados Unidos - que insistem em fazer com que a ciência se encaixe em suas concepções pré-moldadas por "Escrituras Sagradas" e são tão arrogantes que pretendem ter percebido um "Intelligent Design" no Universo, porque o mero fato de que estamos aqui demonstra que a evolução do Universo passa pela existência do ser humano, e tomam tal constatação como "prova" de sua megalomaníaca certeza de que fomos "criados à imagem e semelhança de Deus"... embora qualquer análise um pouco mais isenta demonstre claramente que isso - nos próprios termos da religião que dizem professar - seja uma blasfêmia.

Por outro lado, os céticos impedernidos caem na esparrela e procuram demonstar o indemonstrável: a não-existência de algo. E o argumento é sempre o mesmo: a ausência de prova de existência... coisa que qualquer cético que se preze, sabe que não vale como prova.

Não estou aqui para fazer proselitismo religioso: não quero "converter" pessoa alguma. Inclusive acho que a maioria dos ateus é mais decente e merecedora do suposto "Reino dos Céus" do que a maioria dos religiosos. Não me consta que ateu algum tenha mandado alguém para a fogueira por professar uma religião... E - apesar de crer em um "algo maior" que pode ser chamado de "Deus" por falta de termo melhor - não entra em minha cabeça que este "Criador" tenha feito um universo com regras tão rígidas e "universais" (também por falta de termo melhor) e vá ficar quebrando essas regras, só para extasiar os caipiras de um planetinha xinfrim que orbita uma estrela de quinta, na periferia de uma galáxia perfeitamente medíocre...

Enquanto isso, vou continuar traduzindo o Physics News Update, sempre que não estiver fazendo minha macumbinha... E - se acharem que eu sou maluco - eu respondo o que Pai João Benguelê me disse: «Tá malucado, fiaco?... Malucado, mas feliz...»

(Quem quiser comentar, por favor, o faça aqui)