10 maio 2008

Como alimentar o mundo

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Traduzido da matéria de capa da Newsweek da semana passada:

Como alimentar o mundo

Abaixo, oito líderes na luta contra a fome oferecem planos de ação para a crise dos alimentos e idéias de longo prazo para erradicar a fome e alavancar a agricultura.

NEWSWEEK - Atualizado em: 12:49 PM ET May 10, 2008

Gordon Brown
Primeiro Ministro, Reino Unido

Todo dia, 25.000 pessoas morrem de causas relacionadas com a fome. E, quando os gastos com comida respondem por mais da metade dos gastos de uma família pobre, as altas de preços podem ser realmente devastadoras para milhões de pessoas que vivem no limite.

Para encontrar soluções para os problemas de curto e longo prazo que essas famílias enfrentam, eu recentemente realizei um encontro de notórios experts, cientistas, produtores de alimentos e revendedores em Downing Street.

O Reino Unido já prometeu £30 milhões em auxílio imediato para os países mais duramente atingidos pela inflação dos preços dos alimentos, bem como outros £25 milhões para aumentar rendas.

Mas o que o mundo realmente precisa é uma ação totalmente coordenada e comprometida da comunidade internacional — uma resposta mundialmente abrangente para responder a esta catástrofe que se desdobra. No mês passado, o Secretário Geral Ban Ki-moon anunciou a criação de uma força-tarefa para resolver isto no mais alto nível das Nações Unidas e o Banco Mundial também prometeu seu apoio. Estes são passos importantes. E eu escrevi ao Presidente do G8, o Primeiro Ministro Yasuo Fukuda do Japão, pedindo a ele para trabalhar em conjunto com o Banco Mundial, o FMI e a ONU para produzir um planejamento.

Nós precisamos uma revolução agricultural para alavancar a produção nos países mais pobres. E novas pesquisas e apoio para culturas de grande rendimento e resistência às condições climáticas, assim como uma revisão sobre os bio-combustíveis para nos auxiliar a entender seus impactos nos preços dos alimentos e no meio ambiente.

Nós precisamos assegurar um auxílio rápido do FMI e do Banco Mundial para ajudar os países que sofrem com o custo da importação de alimentos.

E, por ocasião do G8 em julho, nós devemos chegar a um acordo de comércio que abra os mercados dos países ricos e corte subsídios, para incrementar a produção de alimentos nos países pobres.

Nós estamos próximos de um acordo, mas será necessária uma real liderança do G8, da ONU, a União Européia, o Banco Mundial e o FMI, nas semanas seguintes, para assegurar o mesmo.

Robert Zoellick
Presidente, Banco Mundial

Para mais de 2 bilhões de pessoas, hoje, os altos preços dos alimentos são uma questão de luta, sacrifício e sobrevivência diária. Nós estimamos que a atual crise de alimentos pode afundar 100 milhões de pessoas mais ainda na pobreza, Isto poderia significar sete anos perdidos em nossos esforços para vencer a pobreza mundial. Além dos números, isto significa vidas roubadas e futuros abortados.

Os doadores devem agir agora para apoiar o pedido do Programa de Alimentos para o Mundo com cerca de $755 milhões para as ações de emergência. Sem este dinheiro, alguns vão passar fome; haverão mais motins causados pela fome e instabilidade política. Para essas pessoas, o sistema internacional terá falhado.

Mas existe aqui um desafio maior: vencer a fome e a desnutrição, a causa principal da morte de 3,5 milhões de crianças a cada ano.

Ministros de mais de 150 países agora endossaram uma Nova Política (no original "New Deal") para a Política de Alimentos Global. Nós precisamos transformar estas palavras em ação. Uma Nova Política necessita ações de curto, médio e longo prazos: apoio a redes de segurança tais como merenda escolar, alimentos por trabalho e programas de distribuição de dinheiro condicionais; uma produção maior de alimentos; uma melhor compreensão do impacto dos bio-combustíveis e a ação na frente comercial para reduzir os subsídios, declarados ou disfarçados, que causam distorções, proibições de exportações e barreiras alfandegárias.

De nossa parte, o Grupo do Banco Mundial está dobrando o valor dos empréstimos para agricultura na África para $800 milhões neste ano, criando um linha de crédito rápida para das apoio a países pobres e especialmente frágeis, e procurando como podemos usar o seguro para auxiliar os fazendeiros a gerenciar riscos tais como as secas. Junto com parceiros, estamos trabalhando para criar uma "revolução verde" para a África Sub-Saariana, ajudando os países a aumentar a produtividade e tirar os pequenos produtores do ciclo de pobreza.

Esta são todas questões críticas para a ação internacional. Mas, antes de mais nada, os doadores devem agir agora para levantar cerca de $755 milhões. O mundo pode pagar por isso. Os pobres e famintos não.

Jeffrey Sachs
Diretor do "Earth Institute" (Instituto da Terra), Columbia University

No cerne do desafio, está produzir mais alimentos para atender a crescente demanda mundial e assegurar que os pobres e vulneráveis tenham acesso a esses alimentos.

Em primeiro lugar, o mundo tem que, urgentemente, estabelecer um fundo especial para auxiliar os fazendeiros mais pobres do mundo, especialmente na África, a ter acesso a fertilizantes, sementes e irrigação em pequena escala. Em muitos dos lugares famintos e empobrecidos, a produção de alimentos pode ser dobrada ou triplicada em um par de safras. Todas as "revoluções verdes", tais como a da Índia nos anos 1960, começaram com auxílio especial para os agricultores empobrecidos.

Em segundo lugar, os Estados Unidos deveriam deixar de subsidiar o desvio de nosso milho para produção de etanol. Da mesma forma, a Europa deveria parar de subsidiar a mudança de plantações de alimentos para culturas de oleaginosas, tais com a canola, para uso em bio-diesel.

Em terceiro lugar, os governos pelo mundo afora deveriam auxiliar seus agricultores a tornar suas colheitas mais resistentes a choques climáticos, inclusive pela adoção de novas técnicas de irrigação "suplementar" em regiões que dependem das chuvas. Também deve ser promovida a criação de um seguro contra quebras nas safras.

Em quarto lugar, os orçamentos globais para pesquisas para a produção de alimentos, especialmente para as regiões tropicais e de terras áridas, deve ser aumentado. Existem grandes esperanças no desenvolvimento de variedades resistentes à seca em vários tipos de culturas.

Em quinto lugar, os países exportadores de alimentos devem evitar ou reverter as proibições de exportações de alimentos que exacerbam gravemente as crises nos países importadores de alimentos.

Em sexto lugar, a UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos deveriam ser apoiados de forma a poderem aumentar a alimentação básica para os extremamente pobres, refugiados, os velhos e doentes, através de programas emergenciais, programas de alimentação escolar e de suplementação alimentar.

Joachim Von Braun
Diretor Geral, Instituto de Pesquisa de Políticas Alimentares Internacional, Washington, D.C.

Uma família em Bangladesh que tenha um gasto diário típico de $5, tipicamente gasta $3 em comida. O recente aumento nos custos de alimentos básicos — alguns dos quais subiram 50 % — retiram $1.50 de seu poder aquisitivo. A conseqüência é a sub-nutrição.

Oitocentos milhões de pessoas no mundo apresentavam um déficit em sua alimentação antes da crise. Agora, são muitos mais. Sua reação é a frustração. Pessoas em mais de 30 países protestaram nas ruas.

Um programa de tripla ação é agora necessário. A curto prazo, os governos de países em desenvolvimento devem expandir programas de transferência de renda e alimentos, e programas de suplementação alimentar para a infância para as pessoas mais pobres — tanto nas áreas urbanas como rurais. Países que não têm estes programas, devem começar a implementar programas de trabalho para os pobres. Os países doadores deveriam expandir o auxílio para o desenvolvimento relacionado com alimentos.

O mundo precisa de uma reserva de grãos para acalmar os mercados. As reformas na política de comércio internacional já passaram da hora de estabelecer um campo de jogo nivelado para os agricultores dos países em desenvolvimento. As proibições de exportações deveriam ser paradas. Elas estão ferindo outros países que dependem da importação de alimentos. Bio-combustíveis produzidos a partir de cereais distorcem o mercado mundial de alimentos. A produção de bio-combustíveis que competem com a produção de alimentos deve ser parada.

O investimento na agricultura deve ser direcionado para o problema da baixa disponibilidade. Os governos dos países desenvolvidos deveriam aumentar seus investimentos em pequisas que se relevante para a produtividade em pequenas propriedades. Os países em desenvolvimento deveriam aumentar seus investimentos em infraestrutura rural e no acesso a sementes e fertilizantes para os agricultores. O montante de dinheiro necessário para esses investimentos é grande, porque esses investimentos foram negligenciados por muito tempo.

Esta é uma crise global. Ela precisa de uma resposta coordenada pelos países do G8, em conjunto com os grandes países, especialmente China, Índia e Brasil, e as Nações Unidas.

Muhammad Yunus
Diretor-Gerente, Grameen Bank

Todos os indícios mostram que a corrente crise não será temporária. A menos que sejam tomadas, imediatamente, ações firmes em escala internacional, a crise vai se aprofundar e se expandir em outras direções.

O aumento dos preços do petróleo a níveis sem precedentes, as mudanças climáticas que intensificam as secas, inundações e ciclones, a crescente popularidade dos bio-combustíveis e o esgotamento das reservas globais de alimentos, todos estes fatores se combinaram para causar a corrente escassez de alimentos e o inflacionamento dos preços. Um declínio na pobreza global em países grandes como a China, Índia, Indonésia e Bangladesh, que perfazem quase metade da população mundial, levou a um aumento do consumo de grãos em meio a essas pessoas com melhoria de renda, o que também fez com que os preços subissem. Isto atingiu os pobres e, particularmente, as crianças pobres , muito duramente.

Um plano de ação global deve ser posto em prática para assegurar o abastecimento de alimentos e financiamento para os países necessitados. A idéia da criação de um banco mundial de alimentos pode ser também explorada seriamente. O Secretário-Geral da ONU deveria liderar este esforço. Agências da ONU, tais como WFP, FAO, IFAD e UNICEF, bancos de desenvolvimento multilaterais, grupos de pesquisa como o CGIAR e companhias privadas do setor de produção de alimentos e grãos devem ser chamados a auxiliarem no preparo e implementação do plano. As metas comuns devem ser definidas de forma a que todos possam se mover rapidamente na direção correta.

Devem ser previstos financiamentos a maiores prazos para encorajar avanços tecnológicos do tipo "revolução-verde" na agricultura. Já é tempo, também, dos países ricos tomarem a frente, dando fim aos subsídios que distorcem o comércio.

A elevação dos preços do petróleo contribuiu significativamente para o aumento do preço dos alimentos. E vai continuar a fazê-lo. Nós precisamos de uma solução para a crise que seja conectada com os preços do petróleo. A conta do petróleo para cada país está ficando cada vez maior e, com esse aumento de preços, cada vez há menos dinheiro disponível para a importação de alimentos.

Dado que os preços mais altos do petróleo são uma grande parte do problema , eu proponho que cada país exportador de petróleo crie um fundo para a pobreza e agricultura, contribuindo com uma quantia fixa (digamos, $ 10) por barril de petróleo exportado. Isto seria uma pequena fração dos enormes lucros obtidos com a elevação dos preços do petróleo. Este fundo seria gerenciado pela nação contribuinte e seria devotado a vencer a pobreza, ampliar a pesquisa agrícola, apoiar empreendimentos sociais e melhorias em outras áreas, tais como saúde, emprego, melhoria das condições das mulheres, água potável de qualidade, tecnologia da informação, qualidade do solo e educação.

Josette Sheeran
Diretora Executiva, Programa Mundial de Alimentos da ONU (United Nations World Food Program)

A fome e a subnutrição estão avançando, impelidas pelos preços dos alimentos que sobrem agressivamente. Muitos consumidores sentem a "mordida", mas para aqueles que vivem com menos de um dólar por dia, isto significa uma catástrofe. Do Burundi ao Haiti e ao Afeganistão, os mais pobres dentre os pobres estão comendo bolos de lama e farinha que está azul de bolor, ou deixando de fazer refeições, algumas vezes por dias a fio. Mesmo antes desta crise, existiam mais pessoas famintas e subnutridas do que jamais houve — 850 milhões. Porém, agora, por volta de outros 100 milhões estão se juntando a suas fileiras.

O WFP é a força de linha de frente contra a fome, ajudando a proteger até 90 milhões de pessoas por ano da devastação da fome. Ele é tão eficiente quanto eficaz — nós nos orgulhamos de nosso padrão de 7% de custos administrativos. Mas, logo quando o mundo mais precisa mais de nós, nossas operações foram prejudicadas: as contribuições compram 40 % menos alimentos hoje do que há apenas 10 meses atrás. Em março, eu lancei um apelo emergencial para os líderes mundiais para que cobrissem essas perdas — agora estabelecidas em $755 milhões — de forma a que pudéssemos manter as rações para os milhões de famintos que conseguimos alcançar. Nós igualmente precisamos aumentar nosso orçamento para a operação de bases de $3.5 bilhões.

O mundo está se movimentando largamente para ajudar os países a quebrar o ciclo da fome em suas raízes. Muitos países, tais como o Malawi, Senegal e Ghana, tiveram grandes vitórias contra a fome e a subnutrição. Nós somos gratos aos generosos donativos que estão chegando, mas ainda temos caminho pela frente.

Também há urgentes chamados para ajudar milhões de pobres agricultores que estão plantando muito menos este ano porque não conseguem arcar com os custos recordes de fertilizantes e combustível. Quando o tsunami de 2004 devastou muitos milhões, o mundo deu $12 bilhões em ajuda rapidamente. Eu chamei esta crise de "tsunami silencioso" que não conhece fronteiras.

Ninguém quer ser dependente: nós precisamos ajudar os famintos a se ajudarem a si próprios. O WFP revolucionou o auxílio de alimentos, criando uma capacidade local, através de medidas como fazer 80 % de nossas aquisições de alimentos de agricultores no mundo em desenvolvimento. Nós podemos ajudar a levar alimentos àqueles que precisam deles, como fizemos recentemente em Myanmar — usando a rede do WFP de aviões, navios, helicópteros e, onde necessário, burros, camelos e elefantes. Mas também devemos tomar isto como um toque de alarme para que despertemos para agir agora para derrotar a praga da fome de uma vez e para sempre.

Jacques Diouf
Diretor-geral, Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (United Nations Food and Agriculture Organization)

A FAO pediu uma reunião de cúpula dos líderes mundiais, a ser realizada em Roma, de 3 a 5 de junho, para encontrar soluções para esta crise. Com a maior urgência, precisamos obter sementes e fertilizantes para os países mais vulneráveis, de forma a que eles possam melhorar suas colheitas este ano. Para isso serão necessários $1,7 bilhões.

Olhando mais à frente, precisamos reverter o quadro distorcido das políticas de comércio, ajuda e investimento que atrasaram o crescimento da agricultura em grande parte do mundo em desenvolvimento nas últimas duas décadas. A ocasião é ideal porque os altos preços finalmente tornaram atrativo investir em agricultura.

Nós precisamos encarar esta emergência não somente como uma ameaça às vidas e à subsistência das pessoas, mas como uma oportunidade de começar de novo na agricultura e ajudar mais de um bilhão de pobres agricultores a ter uma vida decente para si e suas famílias.

Isto significa fazer grandes investimentos em estrutura agrícola em países em desenvolvimento — irrigação acima de tudo, porque o controle do uso das águas é essencial. Serão também necessários mais estradas, comunicações e instalações de transporte e armazenagem, porque os agricultores jamais se beneficiarão dos altos preços se não conseguirem trazer seus produtos ao mercado.

É igualmente necessário um esforço continuado para promover pesquisa agrícola.

Não podemos deixar passar a oportunidade que agora temos de ajudar a criar uma renascença agrícola, melhorar a vida de centenas de milhões de agricultores e de planejar para o futuro. Fazer isto tornaria uma nova e potencialmente mais desastrosa crise inevitável nos anos vindouros,

Michael Pollan
Autor de "In Defense of Food: An Eater's Manifesto,"("Em defesa do alimento: o manifesto de um comedor") e de "The Omnivore's Dilemma" ("O dilema do onívoro"); "Knight Professor" de Jornalismo na UC, Berkeley

A crise mundial dos preços dos alimentos é o resultado direto da decisão, feita pela administração Bush em 2006, de começar a alimentar os automóveis americanos com grandes quantidades do milho americano, na forma de etanol. Esta decisão desastrada levou a uma inflação do preço do milho, que, por sua vez, levou os agricultores a plantar mais milho e menos soja e trigo — o que levou ao inflacionamento do preço de todos os grãos. Mas não se enganem: nós criamos uma situação onde os 4x4 esportivos americanos estão competindo com as pessoas que comem na África pelos grãos. Nós podemos ver quem está ganhando.

A maneira mais rápida de aliviar a pressão nos preços mundiais dos alimentos seria cortar os subsídios nos EUA para o etanol e diminuir as tarifas de importação do etanol do Brasil. Mas existem outros passos de longo prazo que ainda temos que dar, também, se quisermos assegurar alimentos para todos. A outra razão para que os preços dos grãos tenha disparado é que os preços do petróleo dispararam e a indústria agrícola se tornou fortemente dependente do combustível fóssil — para fertilizantes, para pesticidas, para processamento e para transporte. Hoje em dia são necessárias 10 calorias de energia de combustíveis fósseis para produzir uma caloria de energia de alimentos. Nós precisamos reduzir a dependência da agricultura moderna do petróleo, uma meta eminentemente atingível — afinal, a agricultura é a "tecnologia solar" original e agricultores que praticam "agricultura sustentável" nos mostraram como por nosso sistema agrícola de volta apoiado em luz solar. Por exemplo, quando você tira o gado de sua típica dieta de ração de grãos e permite que ele coma capim, estes hamburgeres põem menos pressão tanto no preço do petróleo, quanto no dos grãos.

Isto me leva ao terceiro e, provavelmente o mais árduo, fator por trás da inflação mundial dos preços dos grãos: o apetite crescente por carne em lugares como a China e a Índia. A maior parte dos grãos do mundo vai para alimentar animais, não pessoas, e a carne é um uso muito ineficiente desses grãos — são necessários 10 quilos de grãos para produzir 1 quilo de carne. Haveria grãos suficientes para todo o mundo se nós realmente os comêssemos e não usássemos para produzir carne. Reduzir o consumo mundial de carne — ou alimentar nossos animais de maneira diferente — deixaria mais grãos para os famintos no mundo.

Se resume a isto: as terras agricultáveis do mundo são um recurso precioso e finito; nós devíamos estar as usando para plantar comida para pessoas, não para carros ou gado.

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Não há como reproduzir estas opiniões dos "notáveis", sem aduzir algumas das minhas... (Então, se segura que lá vai chumbo!...)

Bom... O Gordon Brown, por tudo o que ele disse, perdeu uma excelente ocasião de ficar calado e não mostrar a besta quadrada que ele é... O palavrório de politiqueiro barato e provinciano dele pode ser resumido na velha frase-feita que se usava na Marinha: "Estamos agindo no sentido de providenciar para não pegar na hora de safar..." (quer dizer exatamente isso: bulufas!...) E o palavrório "simpático e solidário" dele é uma enorme hipocrisia: ele só está preocupado porque a comida na Grã-Bretanha subiu 30% nos três primeiros meses de 2008; o que significa que os pobres britânicos começaram a passar fome também!... Enquanto eram os pobres da Somália e do Haiti, ele cagou e andou nem percebeu o tamanho da crise...

O Zoelick, do Banco Mundial, parece que pegou os temas de campanha do Lula e xerocou... Só que o Lula, pelo menos, está dizendo a mesma coisa desde que era candidato. Resta saber por que o Banco Mundial só se deu conta disto agora...

O Sachs se resume a listar seis providências de caráter imediato, mas não analisa as causas dos problemas, nem aponta soluções de longo prazo. Parece receita de médico: tome esta meia dúzia de remédios e, se persistirem os problemas, volte para mais alguns exames...

O Von Braun já apresenta uma análise mais aprofundada (apesar do tom piegas...) Só que, como bom "europeu", se esquece de que as condições da agricultura não são as mesmas em todos os lugares. É muito fácil falar em "rever o impacto dos bio-combustíveis", e nem levar em consideração que os combustíveis fósseis são um recurso escasso, em poucas (e desonestas) mãos. Quando ele diz: "Os países em desenvolvimento deveriam aumentar seus investimentos em infraestrutura rural e no acesso a sementes e fertilizantes para os agricultores", parece que nem sabe que os "países em desenvolvimento", em sua grande maioria, não têm recursos para investir em coisa alguma. Vai falar disso no Haiti...

O Yunus é outra "gracinha"... "A culpa é dos preços do petróleo: vamos taxar a OPEP"... É!... O preço do petróleo não disparou porque os consumidores de petróleo gastam como se não houvesse amanhã e se meteram a "polícia do mundo", gastando o que não têm para fazer guerras de motivação para lá de duvidosa... A inflação do dólar não tem nada a ver com a crise... Ah!... Para com isso!...

Sheeran é a primeira que diz algo aproveitável. E o que ela diz é um argumento que eu já vi um Comodoro da Guarda Costeira dos EUA apresentar como defesa do seu Orçamento ao Congresso Americano: "Vocês se acostumaram tanto à gente fazer muito com pouco, que estão querendo que a gente faça tudo com nada". Quem está na linha de frente no combate à fome e à miséria sabe que só falta uma coisa: o dinheiro que se joga fora em armamentos sofisticados e exércitos enormes (que não contribuem em nada para resolver os problemas, mas fazem os otários dos países ricos "se acharem"...)

Diouf é outro que fala com a autoridade de quem está de mangas arregaçadas para resolver os problemas. Seu tom otimista de "encaremos a crise como uma oportunidade de aprimorar o mundo", pelo menos tem essa virtude.

Por fim, o Pollan que não tem que agradar ninguém, nem está pedindo verbas para políticos que detestam ouvir verdades acerca de sua incompetência, é quem mais fala claro. Pena que ele não decide nada...

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabens por seu blog... A analise crítica ficou curta e grossa.

Somel Serip disse...

João Carlos , olá !
A Natureza indica a solução para resolução a longo prazo para o problema de alimentação gerado pelo desequilíbrio populacional atingido !
Na natureza o animal "ensina" sua cria sobreviver sem a sua proteção. Os povos em estado natural ( por exemplo , os Índios Brasileiros ) , aos seus descendentes , ensinam , além da sua própria sobrevivência , o que for necessário para que a cultura da "Tribo" permaneça preservada ! Assim , é conseguido o equilíbrio populacional mesmo com a expansão demográfica !
A população " civilizada " , por ganância , abandonou os cuidados com o ensino da sua descendência e , assim , atingimos a explosão demográfica desequilibrada que gerou o desabastecimento alimentar!
Portanto , a longo prazo , através do ensino é que o povo "civilizado " irá possuir a necessária consciência para só gerar sua descendência quando as condições naturais permitirem !
Solução à curto prazo , a natureza também indica : uma cadela ao gerar muitos filhotes , não facilita o nascimento dos últimos pois , alem de serem os menos fortes , ela tem um limite natural para poder criar com êxito a sua prole !
Lógico que esta solução não se aplica à espécime humana civilizada ! Porém existe um tal chefe de governo que quer dar solução a crise alimentar , eliminando parte da população mundial por meio bélico !
Abraços à todos !
Somel Serip .
somelserip@gmail.com