27 setembro 2005

Corrupção e desvio de dinheiro público

Alô, Pessoal! Você que andava desanimado, achando que o Brasil é o lar dos corruptos, que a roubalheira da coisa pública é uma "claúsula pétrea da Constiuição" e que "no Primeiro Mundo isso não acontece", que "isso é coisa de subdesenvolvido" — Seus problemas acabaram! Seu "Personal Translator Tabajara" apresenta mais uma tradução de um artigo do famigerado New York Times, falando de... corrupção! Senão, vejamos:
27 de Setembro de 2005
Ex-Chefe de Distrito Escolar se declara culpado de Grande Roubo
Por PAUL VITELLO

MINEOLA, N.Y., 26 Set - O antigo Superintente das Escolas de Roslyn, uma figura antes reverenciada, cujas credenciais acadêmicas e contatos com os escritórios de Admissão da "Ivy League" (nota do tradutor: as Universidades mais tradicionais do Leste dos EUA) pareciam fazê-lo o guardião ideal para as aspirações das crianças de um distrito rico, declarou-se culpado, na 2ª feira, de roubar US$ 2 milhões do sistema escolar nos últimos seis anos.

Em um tribunal totalmente preenchido por irados pais e presidentes de Associações de Pais e Alunos ("P.T.A."), vários dos quais vaiaram quando ele entrou na Sala de Audiências, o antigo superintendente, Frank A. Tassone, 58, concordou em cooperar em uma ampla investigação criminal dos roubos no distrito por outros – uma suposta rede de desvio de recursos públicos, descrita pelo "Comptroller" Estadual Alan G. Hevesi como "o maior, mais notável, mais extraordinário roubo" de um sistema escolar da história americana.

Tudo somado, foram roubados cerca de US$ 11 milhões do distrito em um esquema que envolveu alguns dos administradores de mais alto escalão, de acordo com os Promotores. O Dr. Tassone concordou em devolver sua parte, US$ 2 milhões.

O Dr. Tassone é, até agora, o primeiro de cinco indiciados, inclusive seu companheiro Setphen Signorelli, 60, a resolver as acusações criminais contra si.

Em troca de sua cooperação, o Promotor Distrital Denis Dillon prometeu recomendar que o Dr. Tassone, ameaçado de até 25 anos de prisão por acusações de grandes desvios de fundos e fraude, receba, no máximo, uma sentença de 4 a 12 anos. O Dr. Tassone vai restituir o dinheiro de acordo com um calendário de pagamentos ainda a ser acordado com o escritório do Promotor Distrital.

Os residentes de Roslyn, na audiência, criticaram amplamente o acordo de "delação premiada". Muitos exigiram que o Dr. Tassone cumpra uma pena de 25 anos, não só pelo prejuízo que ele causou às finanças do Distrito, mas pelo impacto que seus crimes tiveram – e continuam a ter, após 16 meses de sua demissão forçada – no senso comunitário de Roslyn.

"Ele causou um grande dano a esta comunidade escolar", declarou Judi Winters, uma ativista cívica de longa data em Roslyn. "É uma questão moral, não uma questão de dólares". Tal como outros, ela descreveu uma comunidade dividida sobre a questão sobre o que deve ser um conselho escolar: fiscal da educação ou fiscal das finanças.

"Você fica com a impressão de que há um sentimento de 'turba irada' dirigindo a política dos conselhos escolares agora", disse Chris Messina, uma mãe. "Isso fez com que muitas pessoas se sintam relutantes a se envolver com o assunto".

Em uma declaração lida em um sussuro diante do Juiz Alan L. Honorof da Corte do Condado de Nassau, o Dr. Tassone pediu desculpas pelos danos que causou, embora muitos presentes na Sala de Audiências tenham reclamado que ele tentou passar a imagem de ser uma das maiores vítimas.

"Durante o último ano e meio", disse o Dr. Tassone, "eu tenho refletido diariamente sobre os erros que cometi nos últimos anos, após uma brilhante carreira de 35 anos na eduação pública. Esse erros capitais danificaram irreparavelmente, se não destuíram, minha carreira na educação pública. Eu não posso explicar adequadamente a dor que meus erros me causaram".

"Eu vou restituir o dinheiro às escolas de Roslyn e eu estou arrependido de meu fraco discernimento", disse ele. "Eu só posso esperar e rezar para que, algum dia, a comunidade de Roslyn se lembre o bem que eu fiz pelo distrito, bem como que achem em seus corações o perdão para mim e meus erros".

Os US$ 2 milhões que o Dr. Tassone admitiu ter roubado, pagaram férias, refeições, contas de lavandeira, mobília, tratamentos dermatológicos, aluguel de carros, investimentos imobiliários e despesas pessoais em uma média de US$ 20 mil por mês, em alguns anos. Em uma confissão separada, ele dise que apresentou "notas frias" no valor de US$ 219.000 em favor de seu parceiro, o Sr. Signorelli, pela impressão de manuais escolares.

Como parte de seu acordo de cooperação, espera-se que o Dr. Tassone deponha contra o Sr. Signorelli, com quem ele dividiu um apartamento em Manhattan por vários anos.

De acordo com o escritório do Promotor Distrital, o roubo de US$ 11 milhões foi realizado por um pequeno grupo de empregados do distrito de Roslyn, que inclue a Superintendente Assistente de Finanças, Pamela Gluckin, que é acusada de usar o dinheiro das escolas para pagar suas prestações de financiamento habitacional, aluguéis de carros, computadores pessoais e contas de água.

Em quase todos os aspectos, a habilidade do Dr. Tassone em fraudar o sistema escolar, parece ser, em retrospecto, uma faceta de sua habilidade em encantar, cair nas boas graças e forjar laços com conselhos escolares, companheiros da administração e, especialmente, com os pais, disseram os habitantes do distrito.

Ele mantinha sua porta aberta para visitantes não agendados, atendia a pedidos de favores, escrevia uma coluna regular para o jornal semanal local e dirigia um grupo de leitura dedicado às novelas de Charles Dickens, acerca de quem ele escreveu sua tese no Colégio de Professores da Univesidade de Colúmbia.

"Ele tinha todas as credencias corretas, o vocabulário certo", disse Judy Birnbaum, uma ex-presidente da Associação de Pais e Mestres da Escola Primária de East Hills. "Ele fez tantos favores às pessoas que, se alguém dissesse uma palavra contra ele, aparecia sempre alguém para defendê-lo: 'Oh, não. Não o Sr. Tassone. Ele não faria isto'".

Os pais ansiosos por conseguir a aceitação de seu filhos para a escolas da Ivy League eram reassegurados pelo Sr. Tassone, como relataram muitos pais, de que suas cartas de recomendação trariam grande ajuda a seus requerimentos.

Fosse ou não por sua intervenção, os 95% dos estudantes de Roslyn que se graduavam em seus cursos de 2° grau incluiam um grande número dos que eram aceitos pelas melhores Universidades do país.

O escândalo de Roslyn, que até agora implicou a Srta. Gluckin, dois outros antigos funcionários escolares e o diretor de uma firma de auditoria, Andrew Miller, tem um impacto significativo na supervisão estadual sobre os distritos escolares locais.

As auditorias estaduais sobre os distritos foi grandemente descontinuada em 1980, para economizar dinheiro. Porém, desde que a fraude de Roslyn foi revelada, a Secretaria de Finanças foi reinstada a conduir auditorias regulares em todos os 700 distritos escolares do estado fora da cidade de Nova York, cujas auditorias são conduzidas pela Controladoria Municipal.

Em Roslyn, uma comunidade suburbana a 20 milhas de Manhatan Leste, onde advogados, pequenos comerciantes e professores compõem uma parte substancial dos residentes, a raiva sobre o escândalo fica um pouco misturada com a vergonha de terem sido engazopados por pilantras.

"Eu sou uma professora", disse a Sra. Birnbaum. "Eu estava no comitê que entrevistou ele. Ele causava uma boa impressão. Sim, nós fomos tapeados e traídos".

Alguns pais começaram a circular uma petição para que o Sr. Tassone receba uma sentença mais dura. Ela será apresentada ao juiz na sessão de sentenciamento do Dr. Tassone, agendada para 29 de novembro.

Outros, entretanto, dizem que a reparação monetária do Dr. Tassone, sua cooperação na investigação que continua, e um mínimo de quatro anos na prisão estadual, parecem um pagamento justo por seu débito para com a comunidade.

"Não importa muito para mim se ele realmente está arrependido, ou só está dizendo que está", disse Rebecca Katz-White, uma moradora e mãe que assistiu à sessão ontem. "Eu sou uma antiga advogada de defesa criminalística que já esteve em um estabelecimento correcional. Eu acho que quatro anos em uma prisão é um tempo grande, muito grande".

Faiza Akhtar, em Roslyn, N.Y., contribuiu para este artigo.


Pelo menos, lá a "pizza" leva uns quatro anos para ser digerida... E não exite essa de "réu primário, com bons antecedentes", respondendo ao processo em liberdade, até que se esgote o último dos trocentos recursos possíveis.

Como se depreende, o problema do Brasil não é a corrupção (que esta existe em todas as partes): é a impunidade!

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