Na recente matéria "Duas Notícias Interessantes", eu desanquei o cientista sul-africano Paul Manger, por conta de uma matéria da Reuters, publicada em "O Globo on Line", por conta das declarações que ele teria prestado ao jornalista.
Sabiamente, Caio de Gaia, me chamou a atenção para o fato de que eu não deveria desancar um cientista, baseado unicamente em uma notícia de jornal. Com a prestimosidade dos lusitanos, não só correu a ler o paper original, como me enviou um exemplar do dito.
Sou forçado a admitir que, na publicação científica, o Dr. Manger não diz algo tal como "os golfinhos são tão idiotas que nem tentam fugir de suas prisões", embora possa tê-lo dito (ou não) en passant ao jornalista.
O trabalho do Dr. Manger é extenso (48 folhas), contém diversos dados estatísticos bem fundamentados e traça correlações significativas entre tamanho do corpo e tamanho do cérebro entre diversos tipos de mamíferos (bem como das curvas evolutivas das espécies, obtidas a partir de fósseis). Eu não sou biólogo, nem estatístico, mas o artigo do Dr. Manger foi recebido pela Cambridge Philosophical Society em 05/10/2004 e só foi aceito em 26/01/2006, após cuidadosa revisão. O que me leva a crer que os dados são significativos e corretos. (Embora a frase, atribuída por Mark Twain a Benjamin Disraeli, me venha à cabeça: "Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísitcas").
Um ponto que também me chamou a atenção é que o Dr. Manger se empenha em contradizer os trabalhos de P. L. Tyler (2000), J. C. Lilly (1962), B. Würsig (2002), S. Budiansky (1998), P. H. Forestell (2002), H. J. Jerison (1978)... e a lista é mais longa - estes são apenas os que ele cita na primeira página.
Bem, para resumir, a relação entre neurônios e glia pode ser siginifcativa, mas o nosso Dr. Manger, quando lhe convém, generaliza "cetáceos" (principalmente nas correlações tamanho do cérebro vs. tamanho do animal) e, somente quando os dados convém a sua hipótese, particulariza sobre esta ou aquela espécie de golfinho (notadamente quando se trata da necessidade de manter o cérebro aquecido durante o período de "sono" dos animais).
E nada como uma declaração bombástica a um jornalista, para atrair a atenção sobre um artigo que passou dois anos "na gaveta"...
Caio de Gaia tem razão: não se deve julgar o mérito de um trabalho científico apenas com base no sensacionalismo de um repórter. Mas a impressão que a notícia me deixou sobre a pessoa do Dr. Manger, apenas foi confirmada pelo artigo. Um "iconoclasta" à procura de notoriedade. E seu país natal apenas reforça minhas suspeitas.
Mas pode muito bem ser que eu esteja sendo preconceituoso...
Em todo caso, se eu tivesse pedido uma ilustração para o problema de comunicação entre os cientistas e o público desinformado, não teria uma melhor...
Atualizando em 24/08/06: minha amiga Veridiana Canas transcreve em seu Blog, uma reportagem, publicada na Revista "Veja" sobre recentes estudos sobre a linguagem dos golfinhos que, caso verídica, torna o caso do Dr. Manger mais perdido ainda. Quem quiser ler a transcrição, veja aqui.
Sabiamente, Caio de Gaia, me chamou a atenção para o fato de que eu não deveria desancar um cientista, baseado unicamente em uma notícia de jornal. Com a prestimosidade dos lusitanos, não só correu a ler o paper original, como me enviou um exemplar do dito.
Sou forçado a admitir que, na publicação científica, o Dr. Manger não diz algo tal como "os golfinhos são tão idiotas que nem tentam fugir de suas prisões", embora possa tê-lo dito (ou não) en passant ao jornalista.
O trabalho do Dr. Manger é extenso (48 folhas), contém diversos dados estatísticos bem fundamentados e traça correlações significativas entre tamanho do corpo e tamanho do cérebro entre diversos tipos de mamíferos (bem como das curvas evolutivas das espécies, obtidas a partir de fósseis). Eu não sou biólogo, nem estatístico, mas o artigo do Dr. Manger foi recebido pela Cambridge Philosophical Society em 05/10/2004 e só foi aceito em 26/01/2006, após cuidadosa revisão. O que me leva a crer que os dados são significativos e corretos. (Embora a frase, atribuída por Mark Twain a Benjamin Disraeli, me venha à cabeça: "Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísitcas").
Um ponto que também me chamou a atenção é que o Dr. Manger se empenha em contradizer os trabalhos de P. L. Tyler (2000), J. C. Lilly (1962), B. Würsig (2002), S. Budiansky (1998), P. H. Forestell (2002), H. J. Jerison (1978)... e a lista é mais longa - estes são apenas os que ele cita na primeira página.
Bem, para resumir, a relação entre neurônios e glia pode ser siginifcativa, mas o nosso Dr. Manger, quando lhe convém, generaliza "cetáceos" (principalmente nas correlações tamanho do cérebro vs. tamanho do animal) e, somente quando os dados convém a sua hipótese, particulariza sobre esta ou aquela espécie de golfinho (notadamente quando se trata da necessidade de manter o cérebro aquecido durante o período de "sono" dos animais).
E nada como uma declaração bombástica a um jornalista, para atrair a atenção sobre um artigo que passou dois anos "na gaveta"...
Caio de Gaia tem razão: não se deve julgar o mérito de um trabalho científico apenas com base no sensacionalismo de um repórter. Mas a impressão que a notícia me deixou sobre a pessoa do Dr. Manger, apenas foi confirmada pelo artigo. Um "iconoclasta" à procura de notoriedade. E seu país natal apenas reforça minhas suspeitas.
Mas pode muito bem ser que eu esteja sendo preconceituoso...
Em todo caso, se eu tivesse pedido uma ilustração para o problema de comunicação entre os cientistas e o público desinformado, não teria uma melhor...
Atualizando em 24/08/06: minha amiga Veridiana Canas transcreve em seu Blog, uma reportagem, publicada na Revista "Veja" sobre recentes estudos sobre a linguagem dos golfinhos que, caso verídica, torna o caso do Dr. Manger mais perdido ainda. Quem quiser ler a transcrição, veja aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário