Eu fiz parte de um Serviço Profissional, a Marinha do Brasil, e conheço bem a situação. Desde minha passagem à reserva (em 1993), até hoje, a situação, que já era ruim, só fez piorar. A Marinha sempre mostrou isso, para quem quisesse ver, mas a midia sempre se eximiu de publicar as notas da Marinha (falar de militar é feio: eles foram ditadores...). Finalmente, um jornal publicou um extrato do que eles dizem ser um press-release de cinco páginas. Foi o Jornal "O Dia" do Rio de Janeiro, na edição de hoje, sob o título: "Marinha à míngua".
É o caso, que eu também já citei alhures, do Comandante da Guarda-Costeira dos Estados Unidos, defendendo seu orçamento perante o Congresso Americano: "Vocês estão tão acostumados à gente fazer muito, com pouco, que vão acabar querendo que a gente faça tudo, com nada!" Lá, pelo menos, o Comandante da Guarda Costeira pode ir ao Congresso defender seu Orçamento. Cá, no Brasil, o Orçamento da Marinha é enviado ao Ministério da Defesa, que, por sua vez, o manda ao Ministério do Planejamento que junta com os dos outros Ministérios, e manda para o Congresso em um bolo só. Dificilmente a Marinha (ou qualquer outra Força Singular) é chamada a dar explicações aos congressistas (navio não dá voto...).
Para se ter uma idéia da medida da ignorância com que as Forças Armadas são tratadas, uma vez o Serviço de Auditoria da Marinha (a controladoria interna que verifica a correção das contas — e, volta e meia, manda um comandante ou outro para o Tribunal) recebeu um telefonema de um setor qualquer do Tribunal de Contas da União (órgão do Congresso Nacional) perguntando: "para que a Marinha queria um trem?" Depois de muitos contatos com as Bases Navais, Arsenal da Marinha e todas as Unidades que poderiam, por algum motivo arcano, ter um trem em sua posse, o Serviço de Auditoria da Marinha respondeu ao Tribunal de Contas que a Marinha não tinha trem algum e perguntando em que relação de material aparecia o tal trem. Resposta recebida: "Como não? E esse tal "Trem da Esquadra?". Para quem nada sabe de expressões navais, Trem da Esquadra é o comando enquadrante dos navios que prestam apoio à esquadra: rebocadores de alto-mar; navios-oficina, petroleiros e outras embarcações de apoio. O termo pode parecer estranho, mas é tradição: as tralhas não-combatentes que qualquer Força é obrigada a ter, são conhecidas como "Trem de Guerra". Bastava a "otoridade" lá do Tribunal de Contas perguntar: "Que Unidade é essa: 'Trem da Esquadra'?"; não perguntar: "para que a Marinha queria um 'trem'?".
Muitos poderão estar se perguntando: "Afinal, para que o Brasil quer uma Marinha? Ou mesmo, Forças Armadas?" Minha primeira resposta para isso é que "Forças Armadas" são como um Seguro: você paga, rezando para nunca ter que usar!... Segundo, enquanto a América do Sul for o que é, é conveniente manter uma Força Armada pronta e adestrada. As nossas fronteiras com a Colômbia e o Peru são uma terra-de-ninguém, onde os governos colombiano e peruano não mandam nada. A Venezuela tem uma antiga reivindicação de tomar metade do terrirório da Guiana (para extender isso um pouco mais para o Sul e tomar uma parte de Roraima, não custa nada...). O Brasil roubou dois pedaços do território boliviano: o Acre e o saliente de Corumbá (que contém as jazidas de manganês de Urucum); a Bolívia pode, perfeitamente, resolver tomar de volta (olha só o que eles fizeram, agorinha mesmo, com os preços do gás natural — e olha que quem construiu o gasoduto foi o Brasil...) . Os uruguaios são um país que se tornou independente duas vezes: a primeira, de Portugal (como Província Cisplatina) e a segunda, da gente. Os paraguaios não têm nenhum amor pelos brasileiros: a fase final da Guerra do Paraguai foi, simplesmente um genocídio (o Paraguai começou a guerra com 5 milhões de habitantes; hoje, eles são pouco mais do que isso...). Quanto à Argentina... Bom, de um país que resolve encarar a Inglaterra por causa das Ilhas Malvinas, pode-se esperar qualquer coisa (e as recentes atitudes deles, em relação ao Mercosul, mostram que eles não estão dispostos a ver o Brasil assumir a liderança da América do Sul). Mas guerra? Que guerra?... Os holandeses achavam isso em 1940, até que acordaram com as tropas Nazistas nas suas ruas... A Suiça é neutra, mas tem um exército, uma força aérea e um sistema de mobilização de forças que foi copiado por Israel...
É uma situação de merda? É... Mas fechar os olhos para isso é suicídio. A Amazônia e o Pantanal são alvos cobiçados, inclusive pelas grandes potências militares. Se não fosse a Marinha, as frotas pesqueiras internacionais já teriam acabado com toda a vida marinha em nossas costas (alguém ainda se lembra da "Guerra da Lagosta"? Quando os franceses mandaram uma esquadra para proteger os navios lagosteiros deles que estavam acabando com as lagostas do Nordeste do Brasil?). Alguém tem alguma dúvida de que o Brasil precisa de uma guarda-costeira? Se tem, malandro, vai estudar um pouco de história; depois volta para a gente conversar...
Mas o Lulinha quer apenas o prestígio de dar pitaco no Conselho de Segurança da ONU... Afinal, não é ele quem vai para a guerra, né?...
Ah! Sim... E os salários dos militares, ó!... Sou integralmente solidário com todos os Servidores Públicos. Todos os salários estão pela hora da morte. Mas, na hora da morte, são os milicos quem vai na frente. Como dizia Rudyard Kipling:
"It's 'Tommy is this', and 'Tommy is that'
And 'Shut him out! The brute!'
But it's 'Thin red line of heroes'
When the guns beguin to shoot..."
And 'Shut him out! The brute!'
But it's 'Thin red line of heroes'
When the guns beguin to shoot..."
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