08 agosto 2008

Na Inglaterra, ser "verde", não é mais "fashion"

Notícia do The Times de ontem, revela que, nos atuais tempos “bicudos”, ser “verde” está fora de moda. Suddenly being green is not cool any more (De repente, ser verde não é mais bacana), é o título do artigo de Alice Thomson. O subtítulo é um pouco menos sombrio: À medida em que as restrições de crédito mordem o bolso, as políticas ambientais vão sendo atiradas à sarjeta. Porém, estranhamente, estamos nos saindo melhor para salvar o planeta.

Em resumo, o velho debate entre os que defendem “vamos gastar um pouco mais, mas ter uma comida menos tóxica e agredir menos o meio ambiente” e os tradicionalistas que argumentam que isso não passa de “frescura de alta classe média”, está sendo ganho pelos últimos, não porque tenham demonstrado que têm razão, ou, pelo menos, tenham demonstrado que a preocupação com o meio ambiente é baseada em exageros. O problema está no bolso do cidadão (sempre a parte mais sensível de sua anatomia...)

A um ano atrás, pesquisas mostravam que 15% dos entrevistados colocavam a conservação do meio ambiente entre suas principais preocupações. No mês passado, esse número caiu para 10%.

De acordo com Andrew Cooper, diretor da firma de pesquisa Populus: “Existe uma correlação direta entre como as pessoas percebem a situação econômica e a importância que dão ao meio ambiente. Quando os tempos estão duros, as pessoas se importam em pagar mais para apaziguar suas consciências.” Isto significa que menos pessoas estão comprando comidas “orgânicas”, quando podem pagar mais barato pela comum. E, com todos os preços dos alimentos subindo, o mercado para alimentos “orgânicos” está sofrendo, também, com as restrições de crédito. A demanda por esses produtos, que tinha crescido 70% de 2002 a 2007, agora está estagnada, de acordo com a consultoria Organic Monitor.


Até nos discursos dos políticos a conservação do meio ambiente está perdendo espaço. Quando a bicicleta do líder do Partido Conservador, David Cameron, foi roubada, o noticiário e os comentários não foram acerca de como ele era “verde” em usar uma bicicleta para ir ao trabalho; a ênfase foi posta no fato de que a sociedade britânica anda tão degenerada que não respeita nem a bicicleta de um VIP.

Gordon Brown também parou de discursar sobre seus painéis solares e do compostador na Escócia, e está tentando se dissociar das taxas municipais de lixo - muito embora essas tenham sido resultantes de planos do governo central para criar taxas para aterros sanitários


Os políticos não estão mais falando em multas para quem não fizer coleta seletiva de lixo para reciclagem; ao contrário, estão falando de incentivos fiscais para quem aderir.

E não é só o aperto econômico que está mudando a opinião das pessoas. Muitos estão cansados de “causas verdes” que acabam causando mais inconveniências do que benefícios. As pessoas não querem um monte de geradores eólicos ao longo das paisagens da Inglaterra, quando as usinas nucleares podem fazer mais pela redução da emissão de gases de efeito estufa [Nota remissiva: o Caio de Gaia já mencionou, neste post, que esses monstrengos eólicos não são as maravilhas que se costuma dizer]. Da mesma forma, os recentes efeitos sobre os preços dos alimentos causados pela onda de produção de biocombustíveis, não ajudaram muito. E sempre existe a questão dos impostos embutidos para financiar a conservação do meio ambiente: na verdade, estão estudando uma redução nos impostos sobre combustíveis a base de petróleo, cujo preço está afetando, principalmente, o preço das passagens aéreas.

Paradoxalmente, aponta a articulista, os britânicos estão adotando comportamentos que beneficiam o meio ambiente. Menos gente está comprando novos eletrodomésticos da “linha branca”. Menos comida tem sido jogada fora. As vendas de água mineral engarrafada cairam. As pessoas estão economizando, fazendo mini-hortas em seus quintais, estão deixando o aquecimento central desligado por mais alguns meses e dispensando um segundo carro para a família, em lugar de comprar um veículo elétrico. E, em lugar de “compensar a emissão de CO2” de suas viagens de férias, simplesmente não estão viajando.

E o artigo termina com a seguinte afirmação: “É a crise econômica que tornou a moda verde não-atraente - mas ela pode acabar se mostrando mais eficaz do que qualquer outra coisa para salvar o planeta”.



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