02 setembro 2007

Cadê minha certeza que eu deixei aqui?...


Ah!... Como tudo era bom e simples, antigamente. Tudo em seus lugares certos. Um Deus "todo-poderoso" tinha criado a Terra, bem no meio de tudo que havia, posto um Sol para iluminar o dia e uma Lua para não ficar escuro demais de noite. E um monte de luzinhas cintilando naquele telhado para nos orientar durante as viagens e prover maneiras de adivinhar o que ia acontecer no futuro...

Os filósofos discutiam se primeiro existiu a idéia, ou se a idéia nasceu da constatação das coisas. Mas, em uma coisa todos eram unânimes: tudo está como sempre foi e nunca vai mudar. Existem coisas vivas que nascem, crescem, envelhecem e morrem. E existem coisas que não são vivas e não mudam nunca.

Qualquer um podia constatar: existiam coisas duras, com formas definidas, coisas moles com formas maleáveis, coisas que não dava para segurar nas mãos, como a fumaça e os vapores, e aquela substância misteriosa, roubada dos Deuses, que era assustadora, mas extremamente útil: o fogo.

A Natureza era razoavelmente previsível. Depois do calor do verão, começava o outono, vinha o frio do inverno e, na primavera, tudo o que parecia morto, ressuscitava. Isto é... quando os Deuses estavam bonzinhos... Se eles estivessem de mau humor, sempre havia como fazer umas cerimônias propiciatórias e, se não desse certo, bom... troca o sacerdote por outro...

Aí, começaram a aparecer uns chatos, metidos a espertinhos, que não se limitavam a especular sobre os misteriosos caminhos dos Deuses, mas achavam que tudo o que existia tinha que ter um "motivo", que tudo podia ser tratado como os carneiros no rebanho, contados, ou como as distâncias, medidas, ou como as cargas, pesadas. Aquilo que era domínio dos Magos, as relações numéricas ocultas, passou a ser objeto de "experiências". Até os monges que deviam saber mais sobre a onipotência divina, se puseram a fazer especulações perigosamente blasfemas: era possível descobrir os segredos divinos!

Um deles, o franciscano Roger Bacon, ousou mesmo desmentir o que era de conhecimento geral: nossos sentidos sempre têm razão!... Ousou afirmar que era necessário dissecar o que "todo o mundo sabia" e repetir as peripécias da Natureza em ambientes controlados por instrumentos de medição!

E, dái para a frente, foi um "salve-se quem puder". Um tal Galileu meteu as mãos em um instrumento que ampliava a visão e ousou olhar para o Céu! Não viu Deuses nem Anjos, mas veio com uma estória absurda de que a Terra não era o Centro do Universo... Que disparate!... Só faltava, agora, me aparecer um Charles Darwin e dizer que o homem não era criado à imagem e semelhança de Deus, mas um "macaco-que-deu-certo".

O próximo passo era inevitável: os Deuses eram desnecessários. Tudo podia ser explicado pelas interações entre minúsculas partículas invisíveis e as coisas não foram sempre iguais: todas mudam com o tempo.

E agora?... Depois que o tal do Einstein mostrou (lá para os comparsas dele) que nem o tempo era confiável, onde é que vamos parar?... Afinal, o que vamos ensinar para nossos filhos para que eles sejam cidadãos de respeito? Bom... Se os "Livros Sagrados" são duvidosos, só nos resta acreditar nas afirmativas dos sábios e aceitar esse novo "Deus", a "Ciência"...

Mas - que coisa mais difícil!... Os cientistas jamais chegam a uma conclusão definitiva... Quer dizer, então, que os átomos ("não divisíveis") não são a menor coisa que existe?... Como assim "o espaço é curvo"?... De onde veio esse universo que "explodiu" e continua se afastando (afastando do que?...)?... Espere um pouco: como assim? A tal da "evolução das espécies" nem sempre "evolui" para "melhor"?... Que raios quer dizer esse negócio de que uma onda é uma partícula e uma partícula é uma onda?... E essa tal de "incerteza"?... Quer dizer que eu, se bobear, posso, de repente, passar por dentro de uma parede e sair do outro lado?... Como não?... Você acabou de me dizer que um respeitável núcleo de Hélio faz isso toda hora e isso é a tal da "radiatividade", à qual eu estou tão acostumado naquelas fotografias dos ossos dentro do corpo e tenho tanto medo, porque é veneno...

Ah!... Sem essa!... Você quer que eu aprenda essas maluquices que você chama de "matemática" (matemática, para mim, é aquela chatice de "taboada"... 2+2=4, sempre... Heim?... Que negócio é esse de "na base dez"?...), para poder me enrolar...

Não meu amigo, eu sou uma pessoa prática! Quero certezas e segurança! Quero a tranqüilidade para ensinar meu filho, como meu pai me ensinou e o meu avô ensinou para ele... Esse negócio de "raciocinar" dá muito trabalho e trabalho é o que não me falta! Afinal, alguém tem que pagar as contas do armazém. E eu não vejo por que vamos gastar um dinheirão com essas "pesquisas científicas" que só trazem mais dúvidas e perplexidades, se há tanta miséria por aí...

O que?... Lá vem você com essa lenga-lenga de "se não fosse a ciência..."

Esse computador?... É... ele é muito útil!... Eu passo o dia no MSN e no Orkut (mas não conta pro meu chefe, tá?...) discutindo sobre um monte de coisas... Não, "ciência" não... Isso é coisa de quem tem tempo para perder, estudando. Quando eu quiser saber sobre ciência, eu abro a página de meu jornal preferido e leio as reportagens. Lá, tudo está bem claro, em termos que eu posso entender... quer dizer, quase sempre... Eu ainda não entendi direito esse negócio de células-tronco, mas não deve ser boa coisa porque o Procurador-Geral está processando (é assim mesmo que diz?...) a tal Lei de Bio-não-sei-que-lá...

Quer saber?... Eu preferia os bons tempos em que tudo o que se precisava saber, estava na tal da Bíblia. Meu vizinho diz que essa tal de "ciência" é "coisa do demônio" e que ele sabe as respostas para tudo. E quando não sabe, vai perguntar para o Pastor.

Sabe de uma coisa?... Está bem!... Eu fico muito grato por vocês terem inventado a eletricidade para eu poder ver TV, mas, me desculpe... agora é hora do futebol. Vamos deixar esse "papo-cabeça" para outra hora, tá?...

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