18 outubro 2007

Oceanos tóxicos? (2)

Via EurekAlert, mais uma notícia inquietante, desta vez vinda do Conselho de Pesquisa da Austrália (Australia Research Council - ARC):

ALERTA DE ACIDEZ DOS OCEANOS

Os oceanos do mundo estão se tornando mais ácidos, com conseqüências portencialmente devastadoras para os corais e os organismos marinhos que constroem os recifes e fornecem grande parte do oxigênio respirável da Terra.

A acidez é causada pelo acúmulo gradual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e que se dissolve nos oceanos. Os cientistas temem que isso possa ser letal para animais com esqueletos calcários, que perfazem mais de um terço da vida marinha do planeta.

Oceanos Ácidos estarão entre os assuntos a serem explorados pelos principais cientistas de corais da Austrália no fórum público no Shine Dome em Canberra, amanhã. O fórum "O Futuro dos Recifes de Coral 07" acontecerá em 18 e 19 de outubro de 2007 e tem como anfitião o Centro de Excelência para Estudos sobre Corais do ARC (Centre of Excellence for Coral Reef Studies = CoECRS).

“Pesquisas recentes nos corais, empregando isótopos radiativos de Boro, indicam que o oceano ficou um terço de unidade de pH mais ácido nos últimos 50 anos. As pesquisas ainda estão no início e a tendência não é uniforme, mas certamente parece que a acidificação dos mares está se acumulando”, afirma o Professor Malcolm McCulloch do CoECRS e da Australian National University.

“Parece que a acidificação está acontecendo agora em questão de décadas, em lugar de séculos como se previa antes. Está acontecendo até mais rápido nas águas mais frias do Oceano Meridional do que nos trópicos. Está começando a parecer uma questão muito séria”.

Corais e plânctons com esqueletos calcários estão na base da cadeia alimentar marinha. Eles precisam de água do mar saturada com carbonato de cálcio para formar seus esqueletos. Entretanto, à medida em que a acidificação se intensifica, esta saturação decai, tornando mais difícil para os animais formarem suas estruturas esqueléticas (calcificação).

“A análise dos núcleos de coral mostra uma queda constante na calcificação nos últimos 20 anos”, diz o Professor Ove Hoegh-Guldberg do CoECRS e da University of Queensland. “Não há muita discussão sobre como isso acontece: ponha mais CO2 no ar acima e ele se dissolve nos oceanos”.

“Quando os níveis de CO2 na atmosfera chegarem a cerca de 500 partes por milhão, você tira a calcificação dos negócios nos oceanos”. (Os atuais níveis de CO2 atmosférico são de 385 ppm, um crescimento a partir dos 305 em 1960.)

“Não são só os recifes de coral que são afetados – uma grande parte do plâncton no Oceano Meridional, os coccolitoforideos, também são afetados. Estes dirigem a produtividade dos oceanos e são a base alimentar para o krill, baleias, atuns e nossos pescados. Eles também têm um papel vital na remoção do dióxidode carbono da atmosfera, que pode se tornar inviável”.

O Professor Hoegh-Guldberg afirmou que uma experiência na Ilha Heron, na qual se elevou os níveis de CO2 em tanques de ar contendo corais, mostrou que isto fez com que alguns corais parassem de formar esqueletos. Mais alarmante, ainda, algas vermelhas calcárias – a 'cola' que mantém as pontas dos recifes de coral unidas em águas turbulentas – começaram, mesmo, a se dissolver. “O risco é que isto possa começar a erodir a Grande Barreira de Recifes em larga escala” afirma ele.

“Esta questão é um pouco como um 'sleeper' [nota do tradutor: um agente inimigo ou terrorista disfarçado que entra subitamente em ação]. O Aquecimento Global é algo incrivelmente sério, mas a acidificação dos oceanos pode ser ainda mais”.

Outros assuntos no fórum incluem:

    • as mais recentes observações científicas sobre o "branqueamento" dos corais
    • a crescente praga de doenças nos corais
    • o gerenciamento dos recifes de coral da Austrália sob condições de mudanças climáticas
    • gerenciamento da resiliência nos recifes de coral
    • a proteção da qualidade das águas do mar das atividades terrestres
    • as "zonas verdes" vão ajudar a recuperar os cardumes de peixes na GBR?
    • a ameaça aos tubarões dos recifes e outros predadores maiores.

O fórum terá uma discussão pública patrocinada pelo Dr Robyn Williams sobre o futuro dos recifes de coral da Austrália, às 6 da tarde, em 18 de outubro, no Shine Dome, em Canberra.

Os recifes de coral da Austrália, particularmente a Grande Barreira de Recifes, os Recifes Ningaloo e a "Lord Howe Island World Heritage Area" são ícones nacionais de grande valor econômico, social e estético. O turismo na Grande Barreira de Recifes, sozinha, contribui com aproximadamente $ 5 bilhões anuais para a economia da nação. Rendas oriundas da pesca recreativa e comercial nos recifes tropicais da Austrália, contribuem com outros $ 400 milhões, anualmente. Consequentemente, o gerênciamento com base científica dos recifes de coral é uma prioridade nacional.

Globalmente, o bem-estar de 500 milhões de pessoas é estreitamente ligado aos bens e serviços oriundos da biodiversidade dos recifes de coral. Única entre as nações tropicais e subtropicais, a Austrália tem longos recifes de coral, uma pequena população de cidadãos relativamente ricos e bem educados, e uma infraestrutura bem desenvolvida. Recifes de coral é uma área onde a Austrália tem a capacidade, na verdade a obrigação, de reivindicar a liderança mundial.



Antes, eram só os mares do Hemisfério Norte... Precisa mais o que para constatar que a coisa está "preta"?...

2 comentários:

Lucia Malla disse...

Não, não precisa. Mas parece q boa parte da humanidade prefere viver em estado de denial eterno. Lastimável.

Obrigada por postar essa notícia. :)

João Carlos disse...

Pois é, Lúcia!...

Eu pensei logo em você, quando li esta notícia. Mas fiquei com pena de mandá-la por email... Parece que das opções apresentadas pelo Dr. Rajendra Pachauri, diretor do IPCC, já foi decidido: vamos ter um planeta muito danificado...