20 julho 2007

Efeito Placebo


Notícia extraída da News @ Nature , diz o que já era meio óbvio. Eu comento no fim...

Revelado: como a mente processa o efeito placebo

Esperar por uma grande recompensa ajuda a recompensa a se realizar.

Michael Hopkin

Neurocientistas descobriram que pessoas que experimentam uma forte dose de prazer com a idéia de uma recompensa futura, são mais suscetíveis ao efeito placebo.

A pesquisa mostra como o efeito placebo, no qual os pacientes esperam um benefício de um tratamento médico, a despeito do mesmo não ter qualquer atividade terapêutica, confiam no "centro de recompensa" do cérebro — uma região que prevê nossas expectativas futuras de experiências positivas e que também está envolvida na prática de jogos de azar e vícios em drogas. Uma maior atividade nesta região do cérebro, chamada "nucleus accumbens", está ligada ao efeito placebo, mostra a nova pesquisa.

Este tipo de compreensão da mecânica de como o cérebro reage aos tratamentos com placebos, pode auxiliar os médicos a ampliar o efeito, argumenta Jon-Kar Zubieta da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, que liderou a pesquisa.

"Isto está levando à idéia de que se pode manipular o efeito placebo, para aumentá-lo para tratamento terapêutico", diz ele.

Ao contrário, reduzir ou eliminar as variações no efeito placebo pode aumentar a acurácia de testes médicos, que avaliam os efeitos de novas terapias, em confronto com os placebos. Reduzir as variações do efeito placebo entre diferentes voluntários, pode auxiliar a padronizar os resultados dos testes.

Grandes expectativas

Zubieta e sua equipe avaliaram o efeito placebo, dando nos voluntários uma dolorosa injeção de solução salina no queixo. Os pacientes eram, então, avisados de que teriam tomado, aleatoriamente, uma injeção de analgésico ou de placebo. De fato, todos os voluntários receberam um placebo. Mais tarde, alguns dos mesmos pacientes eram re-testados e nenhuma segunda injeção era oferecida.

Os participantes geralmente relatarem mais redução na dor quando receberam injeções de placebo, do que aqueles que não receberam qualquer tratamento de placebo, relatam Zubieta e seus colegas na publicação Neuron. Mas os voluntários mostraram significativas variações na força de seus efeitos placebo.

Os pesquisadores suspeitam que o efeito pode estar ligado ao centro de recompensas do cérebro, que é ativado quando uma recompensa (neste caso, liberação da dor) é esperada. Eles escanearam os cérebros de 14 de seus 30 voluntários, para monitorar a produção no "nucleus accumbens" de uma substância química, sinalizadora de atividade cerebral, chamada "dopamina", que é liberada em resposta à antecipação de uma recompensa.

A atividade no "nucleus accumbens" foi maior nos pacientes que esperavam um efeito placebo mais forte, foi o que descobriram os pesquisdores "Se seu sistema de dopamina não funciona muito bem, seu efeito placebo provavelmente vai feder", diz Zubieta.

Mais ainda, as pessoas que tendem a mostrar um forte efeito placebo, também têm expectativas mais altas por recompensas em geral, como demonstrado por um jogo em que lhes era dito que receberiam variáveis somas em dinheiro. Durante o jogo, seus cérebros eram escaneados para avaliar seus níveis de otimismo em que a recompensa fosse uma bem grande.

Amplificador do cérebro


As descobertas aumentam a possibilidade de que pacientes possam receber medicamentos eficazes para ativar ou amplificar o efeito placebo, embora Zubieta alerte que nós ainda não sabemos como fazê-lo. Já existem drogas que amplificam o sistema de dopamina do cérebro, mas que podem apresentar efeitos colaterais bizarros, inclusive tornar os pacientes em jogadores irresponsáveis, na medida em que seu centro de expectativa de recompensas entre em overdrive, ele frisa.

Uma maneira melhor para enfocar o problema pode ser encorajar os médicos a se demonstrarem exageradamente otimistas, quando forem contar aos pacientes sobre seus tratamentos, sugere Chris Frith, um neuropsicólogo do University College London. Isto deve amplificar a antecipação de recompensa e cura pelos pacientes. "Os médicos que são melhores, são aqueles que são mais iludidos pela eficácia de seu tratamento", diz ele.

Ainda não está claro como qualquer antecipação de recompensa possa, então, especificamente afetar o problema fisiológico sofrido pelo paciente. É possível que a antecipação de recompensas dispare a produção de analgésicos chamados "opiácios endógenos", por exemplo. Se for assim, pode ser possível para as pessoas controlar a liberação dessas substâncias químicas através do pensamento (e da fé) somente. "Será possível liberá-los pela vontade?" pergunta Frith.

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Bom... Agora vamos aos comentários...

O fato é que a pesquisa "descobriu" o que já se sabe, há tempos: a fé cura. A circunstância da liberação de dopaminas é um ponto novo e interessante (que comprova um efeito psicossomático). Mas não explica o próprio "efeito placebo", como o título do artigo quer fazer crer.

"Efeitos placebo" muito mais espetaculares são obtidos por diversas "pseudo-ciências" e por práticas religiosas, ou de concentração e meditação sem caráter religioso.

Infelizmente, não seria ético testar o "efeito placebo inverso": administrar uma droga eficaz, dizendo ao paciente que trata de um placebo ou de uma droga apenas parcialmente eficaz. Mas eu garanto que os resultados seriam igualmente surpreendentes.

O Daniel uma vez publicou uma matéria, intitulada "Say what?!..." (que deve ter se perdido no crash do HD dele), onde desancava um sujeito que disse que a matemática era "uma crença, como qualquer outra". Na verdade, o sujeito não estava errado: é muito mais fácil "acreditar" em fatos comprovados. O grande problema é acreditar em coisas que não se pode comprovar experimentalmente.

Mas, em essência, o presente artigo, e os recentes filme e livro "O Segredo", dizem a mesma coisa. O artigo, em uma abordagem científica; os últimos, em uma abordagem mística.

(Agora, leiam o artigo precedente...)

5 comentários:

Mauro Rebelo disse...

Uma vez li um cara falando sobre meditação. Apenas quando a dor da posição de meditação se tornou insuportável, ele conseguiu migrar para um estágio de abstração da dor. Na opinião dele, hoje temos de tomar aspirina porque desaprendemos a ligar e desligar esses mecanismos com nossa própria vontade. Acho que pode ser um pouco de exagero.

Shridhar Jayanthi disse...

Conversa de bar, mas eu ouvi dizer que stress aumenta a resposta inflamatória do corpo, então eu imagino que talvez seja possível reduzir a resposta inflamatória através de meditação. Mas eu acho que isso aí não é capaz de curar gripe, ou resolver dor física, no máximo resolver alguma enxaqueca ou uma daquelas tensões no ombro, seilá.

Mas é curioso como esse trabalho é um processo inverso deste aqui. Em um temos a bioquímica regulando a psicologia, no outro temos a psicologia regulando a química celular... Bonito isso.

João Carlos disse...

Mauro: Certamente, essas respostas a estímulos mentais não são iguais em todos.

Você pode ler nas entrelinhas que o "efeito placebo" é mais eficaz nas pessoas crédulas (otimismo é uma forma de credulidade). Como os cientistas são - por construção - céticos, provavelmente serão menos suscetíveis.

O que você descreve, é uma sensação conhecida por qualquer maratonista: há um determinado ponto no percurso (varia, de pessoa para pessoa) onde a fadiga e a dor insistem para você desistir. Se você insistir, deixa de sentir a dor e entra em um estado, meio que de embriaguez, que lhe faz esquecer a fadiga.

Mas eu concordo quando você acha exagero. Tomar uma aspirina não exige os anos de preparo que a meditação requer...

João Carlos disse...

Shridhar: Também não lembro onde ouvi isso pela primeira vez, mas os médicos são unânimes em constatar que o stress inibe o sistema imunológico. A meditação não é capaz de curar uma gripe (talvez os monges Buddhistas sejam capazes...), mas uma atitude de "paz interior", com certeza, aumenta nossa capacidade a resistir às infecções oportunistas.

E você lembrou muito bem o artigo "linkado". O que só vem a reforçar que as duas coisas são interligadas (aliás, se mens sana in corpore sano, não vejo por que não corpore sano in mens sana...

Maria Guimarães disse...

estresse causa inflamação no cérebro: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3091&bd=1&pg=1&lg=

queria saber mais sobre os efeitos fisiológicos da meditação. não tenho dúvidas de que existem.

agora, o efeito placebo ligado às regiões do cérebro onde atua o mecanismo de recompensa e afins... não chega a ser muito surpreendente.