Estes dois artigos lançam uma luz necessária sobre o technology gap que assola os países terceiro-mundistas, em especial o Brasil. O problema da Educação apresenta muitas facetas e não é, como parece a primeira vista, algo tão fácil de resolver.
Para dar um pouco de perspectiva histórica sobre o assunto, quando eu era um estudante do Curso Primário (atualmente chamado de 1º Grau, mas sem o 5º ano, o famoso "Admissão"), na década de 1960, o Brasil tinha mais do que a metade de sua população analfabeta. Nesses últimos 45 anos, diversos movimentos e iniciativas para erradicar o analfabetismo foram realizados e a proporção de pessoas totalmente analfabetas realmente caiu muito; e foram substituídos pelo que se denomina analfabeto funcional, um sujeito que desenha o nome e é capaz de, com muito esforço, ler placas de rua, alguns outdoors, mas não consegue ler um manual de instruções, consultar um dicionário, ou mesmo escrever algumas linhas em português claro.
Só que, enquanto nós lutávamos para conseguir que a população pudesse ter este mínimo de conhecimento, o progresso tecnológico passou a exigir mais do que a simples capacidade de garatujar o próprio nome na linha marcada com um x. (Até para gari estão exigindo o 2º grau completo — o que, convenhamos, é um exagero: para varrer ruas não é preciso sequer saber ler). Resultado: todo o esforço realizado durante 45 anos, praticamente não serviu para nada!
Por outro lado, como ressalta o primeiro articulista, o problema do declínio da qualidade da educação não é recente: ao contrário, é algo que vem dos tempos do Império. E não pensem que este problema se restringe ao Brasil: o escritor Robert A. Heinlein diz a mesma coisa a respeito dos Estados Unidos. A diferença é que, nos países de primeiro mundo, o enriquecimento das camadas do proletariado levou: um, a que elas se tornassem menos prolíficas; dois, a que elas tivessem acesso a um grau de escolaridade maior. Em suma: menos pobres e mais escolas de bom nível (mesmo que esse nível venha decrescendo). E, nas camadas mais elevadas do ensino, a disponibilidade de recursos nesses países atrai os melhores cérebros dos países
Outra faceta do mesmo problema é o Raciocínio Imediatista (conforme exposto no artigo de Scott Berkun, publicado neste BLOG em 31 de maio). Para dar um exemplo bem crú, como é que você vai convencer uma menininha de programa, que fatura até R$ 500,00 por noite, que ela deve se matar de estudar, passar em um vestibular e se formar professora, para ganhar um salário mínimo de R$ 300,00 por mês?!!! Claro que a pequena prostituta de 12 ou 13 anos, quando e se chegar aos 30, vai estar acabada para a profissão e continuará burra como uma porta. Aí, sim, ela vai se tornar manicure, balconista, preenchedora de bilhetes de passagem rodoviária, ou qualquer outro menial job a seu alcance...
Por sua parte, o Sistema Educacional também contribui para afastar os estudantes do conhecimento. Paul Simon foi particularmente genial ao por na letra de Kodachrome: "when I think back of all the crap I learnt in High School, it's a wonder that I can still can think att all". No velho site "Quermos Saber" do Instituto de Física da Universidade Federal do Ceará, um vestibulando de Direito perguntou "para que ele quereria saber o Número de Avogadro?". No site atual, na Seção de Química, um estudante de Física pergunta "por que a química de segundo grau dá tanto ênfase à decoreba?". Acompanhando os estudos de meu filho, no 2º grau, eu aprendí que a ponta de um osso se chama "epífise" (puxa! que sapiência!). O que passa por ensino de Língua Portuguesa é uma decoreba infeliz de funções sintáticas e estilos literários, e as provas, principalmente as de "interpretação de textos", são um puro exercício de sadismo de professores de português. [ Exemplo: a famosa frase de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso; viver não é preciso", pode ser interpretada de duas maneiras diferentes: "Navegar é necessário; viver não é necessário"; ou "A navegação é um ato de precisão (acurácia); a vida é incerta". E agora, José? Qual das duas interpretações o calhorada quer?] Quanto a História e Geografia... bom, deixa pra lá... Mas o fato é que toda a estrutura do ensino parece unicamente dirigida a dar emprego aos licenciandos desta ou daquela matéria, não a transmitir conhecimentos...
E, não podemos deixar de lado a questão política: eleitores esclarecidos provavelmente não elegeriam os capadócios, escroques e pilantras que compõem a "Classe Política" do Brasil. Então, quando a Senadora Heloisa Helena propõe que se ponha na Constituição o direito à pré-escola (para forçar o governo a olhar para essa importantíssima área da educação que sempre foi negligenciada), o Senado aprova por unanimidade e o governo se põe em marcha para barrar a Emenda na Câmara, por conta do controle dos gastos públicos! Venda o Airbus, Lula! Para de aumentar os juros, Meireles! Para de reter verbas e depois distribuí-las para comprar votos contra a CPI dos Correios, Palloci!
Em suma... Como dizia Capistrano de Abreu:
"A Constituição Brasileira só deveria conter dois artigos:
Art. 1° - Todo Brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara;
Art. 2° - Revogam-se as disposições em contrário."
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