Artigo publicado no "Le Monde" (on line), dá conta de uma nova ameaça ao meio ambiente: a extinção dos insetos polinizadores. Reparem bem na frase final do artigo.
O número e a variedade dos insetos polinizadores diminui na Europa de maneira importante
LE MONDE | 22.07.06 | 15h06 • Atualizado em 22.07.06 | 15h06
Os insetos polinizadores são indispensáveis à reprodução de plantas com flores que geram sementes, o que representa 80% do reino vegetal terrestre: voando de flor em flor para recolher o pólen (o elemento fecundante masculino), eles o transportam até o estigma de de uma flor fêmea, permitindo a fecundação. Ora, após alguns anos, os cientistas pensam que este serviço gratúito, oferecido pela natureza por 140 milhões de anos, está ameaçado pela baixa na biodiversidade.
Uma pesquisa realizada por Jacobus Biesmeijer e William Kunin (Universidade de Leeds, no Reino Unido) e uma equipe de pesquisadores britânicos, alemães e holandeses confirma, na revista Science de 21 de julho, que a ameaça é séria. Ao estudar diferentes zonas na Grã-Bretanha e nos Países Baixos, os cientistas constataram que as abelhas selvagens pagaram o tributo mais pesado, com uma baixa de 52% de sua diversidade, no primeiro caso, e de 67% no segundo, em comparação com a situação antecedente aos anos 1980. Em contrapartida, a situação é menos catastrófica para as moscas polinizadoras, cuja população diminuiu em 33% na Grã-Bretanha, mas aumentou em 25% nos Países Baixos.
Os pesquisadores também viram qual era a influência dessa situação sobre as plantas visitadas pelos insetos. Dessa forma, constataram que, na Grã-Bretanha, 75 plantas selvagens que precisam ser polinizadas por insetos, viram sua distribuição diminuir, ao passo que 30 outras, polinizadas pelo vento ou pela água, ao contrário, expandiram sua presença. Nos Países Baixos, somente as plantas polinizadas pelas abelhas selvagens foram reduzidas. Jacobus Biesmeijer e William Kunin, suspeitam, então, que exista uma ligação de causa e efeito entre o declínio dos insetos polinizadores e das plantas polinizadas, sem poder precisar qual é o elemento motor dessa situação: a evolução das práticas de cultura agrícola, a utilização de produtos químicos na agricultura ou a modificação climática? Eles estão inquietos porque «seja qual for a causa constatada, o estudo sugere enfaticamente que o declínio de algumas espécies pode deslanchar uma cascata de extinções localizadas entre outras espécies associadas».
Para Guy Rodet, entomologista no Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (Institut national de la recherche agricole = INRA) de Avignon (Departamento de Saúde das Plantas e Ambiente), este artigo é importante porque «é o primeiro a por em evidência, cientificamente, o declínio dos insetos polinizadores. E o faz com um grande número de dados e sobre uma longa escala de tempo». Os autores do artigo da Science, com efeito, trabalharam sobre um milhão de registros, feitos no passado por naturalistas, dos quais alguns remontam ao tempo da Rainha Vitória. Aplicando técnicas destinadas a tornar esses dados comparáveis entre si, os pesquisadores dividiram os Países Baixos e a Grã-Bretanha em quadrículas de 10 km de lado e compararam a diversidade dos insetos polinizadores antes e depois de 1980. Esta data foi estabelecida porque ocorreram grandes modificações na agricultura durante este período.
Este estudo foi realizado dentro do quadro do programa europeu Alarm, destinado a avaliar os riscos nos quais incorrem as biodiversidades terrestre e aquática. Uma pesquisa similar foi realizada na França, pela equipe de pesquisa sobre polinização entomófila do INRA-Avignon, liderada por Bernard Vaissière e que tinha como objetivo avaliar o declínio dos polinizadores, sobre um período de tempo muito curto. Dez localizações foram escolhidas na França, na Alemanha, na Polônia, na Suécia e no Reino Unido.
A baixa na diversidade dos insetos polinizadores pode ter diversos efeitos. Ela pode se traduzir, desde já, em «uma mudança na paisagem», como explica Guy Rodet, «porque há um risco de ver desaparecer diferentes espécies de plantas». Mais grave ainda, «nós podemos ter dificuldades em produzir frutas e legumes, se bem que se pode, em certos casos, usar insetos produzidos em criadouros», afirma Guy Rodet. «Mas para grandes superfícies cultivadas, como nos Estados Unidos, isto corre o risco de ficar muito caro».
Christiane Galus
Artigo publicado na edição de 23.07.06
Repararam na última linha? (NÃO? Pombas!... Eu avisei lá em cima!...) Quando falam em «grandes superfícies cultivadas», eu fiquei logo pensando no "avanço da fronteira agrícola brasileira" pelo cerrado adentro (isso, sem falar nas regiões desmatadas da Amazônia...)
Um comentário:
nessa questão das áreas cultivadas entra a questão de introduzir insetos novos em áreas onde a que não pertencem. ou seja, pôr na amazônia um polinizador de soja, que vai quem sabe resolver polinizar outras coisas também e se espalhar para as áreas de floresta, competindo com polinizadores locais...
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