29 julho 2006

Estão procurando chifre em cabeça de cavalo...

Outra notícia do Jornal da Ciência, me deixou preocupado... Negros são apenas 33% na escola privada.

"Apenas??? Considerando que os negros foram trazidos à força para o Brasil, como escravos, e, após a "Abolição", nunca houve qualquer política de integração dos negros libertos à sociedade (com o racismo extra-oficial e mal disfarçado que predomina na sociedade), um terço dos estudantes de escolas privadas se declararem negros ou pardos é um fato digno de comemorações efusivas (a notícia dá conta de que cerca de 20% dos pesquisados se recusou a preencher o campo referente à cor no questionário).

Se alguma coisa essa pesquisa mostra – sem sombra de dúvida – é o emporbrecimento geral da classe média e que os negros e mestiços ("afro-descendente" é a PQP!... O falecido humorista Leon Eliachar (que era Caucasiano) se auto-denominava "Cairoca", porque tinha nascido no Cairo – e, que me conste, o Egito fica na África) estão, apesar de todo o racismo, ascendendo por seus próprios méritos na escala social.

Surpreendente? Nem um pouco... Eu mesmo cunhei o bordão: "Para três coisas não há substituto: dinheiro, juventude e competência". A "competência" é a chave da coisa.

O que me preocupa é esta recente "preocupação" com os negros ("consciência pesada", em dúvida...) e com iniciativas assistencialistas popularescas (Sim! eu estou falando do sistema de quotas nas Universidades!) que – para variar, só um pouco... – não são dirigidas ao verdadeiro problema: a falência dos Serviços Públicos, e tentam ludibriar o povão com paliativos discriminatórios.

Não se deve tratar de "negros", "pardos", "silvícolas", etc. Se deve tratar de brasileiros pobres, tenham eles o grau de melanina que tiverem. O resto, é demagogia barata!

7 comentários:

Maria Guimarães disse...

concordo com você, mas "demagogia barata" é um pouco demais. acho que discussões relevantes têm sido feitas sobre a questão do racismo no brasil. acho que as cotas devem ser sociais e não raciais. mas fazer as pessoas entenderem que o racismo é um problema real, eu assino em baixo.

João Carlos disse...

Maria. eu sou um velho rabugento que, há 55 anos, escuta as mesmas lega-lengas de discursos "igualitários", cujas propostas são sempre assistencialistas. Resolver o problema de igualdade de oportunidades (que é o essencial) ninguém quer... Ou antes, "Chi vó, non pó..."

Racismo é "bagagem cultural" que só se resolve com uma "miscigenação social" (entenda-se: em termos de convívio - convívio diário). Leis e decretos podem punir "discriminação", mas não "racismo". O "racismo" é enfiado nas cabecinhas das crianças, desde a idade da formação da "inteligência emocional", junto com outros preconceitos.

Eu sou racista! Conscientemente, eu me policio, principalmente porque tenho grande admiração por diversos amigos negros (dizem que essa frase é típica de racista...) mas meu subconsciente foi "programado" para achar a cultura negra "inferior". Eu só fui me dar conta do quanto eu era racista, ao lidar com essas pessoas e perceber como eu me sentia pouco à vontade nessa lida. (morra de rir: eu sou praticante da Umbanda...)

Uma das coisas que me revolta, é exatamente achar que "negros" ou "pobres" são "coitadinhos", que precisam de esmolas... O que se precisa (todos precisamos) é de oportunidades iguais para que cada um possa atingir suas plenas capacidades. E outra coisa que precisamos acabar - de uma vez por todas - é de pensar que o paradigma da humanidade é a civilização européia (e seus filhotes coloniais...)

Os negros, índios e mestiços não precisam de que sintam "peninha" de sua condição social inferior. Precisam da oportunidade de sair dessa condição, imposta pelo modelo colonialista europeu. E não deixa de ser uma contradição dizer na letra da Constituição que "todos são iguais perante a Lei", e, ao mesmo tempo, criar leis e mecanismos que tornam patente que não há essa igualdade.

Acabar com o racismo é tarefa para gerações e mais gerações... Mas, um dia, a gente chega lá!

Maria Guimarães disse...

estou mesmo morrendo de rir!
e concordo com você.
me lembrei do meu avô, um gaúcho com puro sangue alemão. ele uma vez me contou que foi criado com a idéia de que os não alemães eram inferiores. até que, adolescente, foi para porto alegre estudar numa escola onde tinha judeu, brasileiro, diversas classes de não alemães. e aí ele descobriu que tinham mentido pra ele! suponho que conseguiu se livrar da lavagem cerebral infantil, porque casou com uma "brasileira" e foi responsável pela primeira poluição no sangue ariano da família.

João Carlos disse...

Pois é, Maria... Entre os diversos amigos que eu deixei na Marinha, eu destaco, particularmente, três negros. O (atualmente) Almirante José Carlos Pereira da Silva (que foi meu instrutor em diversos cursos) e uma figura humana como poucas, o (atualmente) Capitão-de-Mar-e-Guerra Cid da Costa Pereira (Engenheiro Mecânico formado no IME, atualmente na reserva, exercendo Advocacia) e o (atualmente) Capitão-de-Mar-e-Guerra Rubens de Carvalho Rodrigues (que, filho de peão e lavadeira, na fronteira com a Bolívia, começou como Marujo, passou no vestibular da Escola Naval, proporcionou estudo para seus seis irmãos e uma vida melhor para seus pais e, com tudo isso, nunca teve uma atitude de desprezo por quem tinha uma origem social mais alta e, ainda mais importante, jamais esqueceu sua origem, sem se envergonhar ou se jactar dela).

Quantos caucasianos não têm nível suficiente para engraxar os sapatos de um Patrice Lumumba, um Leopold Senghor, um Desmond Tutu, um Martin Luther King...

Mas, quando eu fiz o curso primário, o modelo para o negro brasileiro era Henrique Dias, não Zambi dos Palmares... Não é à toa que Lima Barreto criou a "liga anti-football", em um país que veio a ter um Pelé.

Silvia Cléa disse...

OI, João e Maria!

Adorei os comentários de vcs e tenho aqui o meu "pitáculo" a dar:
Vou ocultar os nomes, por questão de privacidade...
Passei a conviver com dois irmãos, A e B, A é branco e B é negro. Quando saio com B, sinto os olhares do racismo brasileiro...coisa nunca experimentada em minha vida, anteriormente. É absurdo! Coisa que não vivencio, quando saio com A...que é muito mais pobre, inculto e, digamos, rude do que B!
Dessa forma, o que queria dizer para vcs é que, por mais que nos aventuremos a dizer que o preconceito brasileiro seja contra os pobres; admito que sim, mas que não deixa de existir com relação aos negros...lá isso e verdade!
[]s,

Veridiana Canas disse...

João!!! Primeiro vou comentar aqui sobre o Jornal da Ciência... apesar de ser o espaço "incorreto"...

Lembra q te disse q eu tinha cometido um erro no meu blog no texto sobre as células-tronco?... Pois é... meu erro foi JURIDICO acredita?...rs

Havia uma MP q proibia diversos tipos de pesquisas, inclusive com as CT´s embrionárias... e a "Lei nova" (de mar/2005) a revogou expressamente qdo tratou de organismos geneticamente modificados, seus derivados, clonagem e células-tronco...

As últimas, se embrionárias, podem ser objeto de pesquisa nos casos em que "embriões in vitro estejam congelados há mais de 3 anos" (pequena vitória da ciência né!)...

E, para permitir/negar/decidir sobre os procedimentos, pesquisas e materiais é competente o Conselho Nacional de Biossegurança, que foi criado com a Lei... ou seja, no fim, as decisões desses "Conselhos e afins" tornam-se vinculantes...

Pelo q eu entendi, na verdade, o CGEN, na decisão q vc publicou em parte, apenas isentou a pesquisa de determinados "pagamentos" e não das exigências legais de como ela pode/deve acontecer... É uma decisão administrativa, que teria força de lei ao "administrado interessado" e ao órgão da Administração Pública competente pra arrecadar tributos e/ou cobrar multas e outros valores da entidade q vai realizar a pesquisa.

Não encaro isso como "isenção de exigências legais", mas sim como "aplicação modificada" da lei, já que, se as exigências referentes aos métodos e critérios da pesquisa não estivessem atendidas, sua realização não seria sequer permitida!

Agora, vamos pensar pelo lado dos pesquisadores... QUANTOS/QUAIS PESQUISADORES, NO BRASIL, GANHAM (OU GANHAM BEM) O BASTANTE PROS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS?...

Se vista sob esse aspecto, a decisão do CGEN foi, ao meu ver, correta!!

Quanto ao poder emanado do povo nessa pretensa democracia que temos no Brasil... está errado no momento de ir pra urna... já que mostra que o povo brasileiro "nem sempre" (ou quase sempre não) toma decisões políticas corretas...rs

Se os candidatos e partidos, e a Justiça Eleitoral fossem menos "chatos" com campanhas e tudo mais, talvez nosso povo se interessasse mais por política e eleições, e acabasse encarando isso com mais responsabilidade...

Deixa eu parar de tagarelar pq ainda falta ler o texto de cima!...rs

Bjo!

Veridiana Canas disse...

Concordo com vc em gênero, número e grau. Determinadas atitudes governamentais e da própria população já me fizeram sentir vergonha por ser "branca" (e, NUNCA NA MINHA VIDA NEGUEI TER O SANGUE DE UMA BISAVÓ MOURA - que, muito bem, pode não ser considerada "branca")...

Não me conformo com o "auto-preconceito" que alguns negros têm em relação a si mesmos... e sou contra quotas para negros em faculdades, sou contra qualquer tipo de "protecionismo" favorável aos negros (quanto aos índios, eu ainda não tenho certeza do q penso... às vezes, me compadeço pelo fato dos "brancos" terem tomado sua terra, terem lhes transmitido doenças e acabado com, praticamente, 100% da sua cultura, num país q era "deles"... mas qdo me lembro que, no Mato Grosso p.ex., índios roubam carteiras e celulares de pessoas dentro de restaurantes e q essa conduta é tida como "normal" - e não como criminosa - fico com raiva...rs)

Se a competência é a forma de "subir na vida", se "todos são iguais perante a lei", se "Deus olha a todos com os mesmos olhos" e se a "lei do retorno" é mesmo "infalível", cada um tem o q merece... na medida da sua competência...

Brancos e negros não são mais ou menos "burros" uns q os outros... então, se tem quotas para negros em universidades, pq não fazem "quotas para brancos pobres"?

Argh...
Bjo!